Galo e Ronaldinho: o clube que se encontrou no jogador e o jogador que se encontrou na torcida

Com uma chegada contestada em um time que estava se renovando, Ronaldinho mostrou que ainda podia ser fundamental em uma equipe e a torcida do Atlético-MG mostrou que é fundamental na carreira de um craque

Galo e Ronaldinho: o clube que se encontrou no jogador e o jogador que se encontrou na torcida
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Por Tainá Rezende

Foram 2 anos, 1 mês e 22 dias de contrato com o Clube Atlético Mineiro, o time que acolheu Ronaldinho Gaúcho como ninguém no momento mais difícil da carreira de um dos maiores jogadores do Brasil. Em meio à polêmicas com técnico e diretoria do Flamengo, Alexandre Kalil e Cuca resolveram enxergar o lado bom de contar com o futebol do meia e, sem se importarem com a alta reprovação da imprensa e dos torcedores, fizeram de R10 novamente um craque que levou o clube mineiro ao topo da América.

O telefonema que iniciou a história entre Galo e Ronaldinho Gaúcho

Após ter seu contrato rompido com o Flamengo em maio de 2012, Ronaldinho se encontrava sem clube e com uma péssima imagem no cenário brasileiro, tendo poucas chances de figurar entre os melhores times do Campeonato Brasileiro. Foi quando Cuca ligou para o presidente do Galo, Alexandre Kalil – que estava no Rio de Janeiro - e lhe comunicou que o camisa 10 de sua equipe estava sem clube e na mesma cidade que Kalil. Bastou uma simples reunião para que o gaúcho de Porto Alegre confirmasse que Belo Horizonte seria sua nova casa, onde mudaria novamente o seu status para craque.

No dia 4 de junho de 2012, o R49 (número que homenageava o ano de nascimento de sua mãe) foi oficialmente apresentado como jogador do Atlético-MG, aceitando receber quarto do que ganhava no Flamengo e com a chance de transformar o clube mineiro em uma equipe competitiva. Marcando seu primeiro gol diante do Náutico, em menos de 20 dias no clube e sendo muito elogiado por grandes atuações, Ronaldinho se tornou o jogador que mais tinha o carinho da equipe. Carinho este que transcendia os gramados e se espalhava pelos familiares do jogador, principalmente à mãe do jogador, que sofria um difícil momento no combate contra o câncer.

A primeira apresentação de gala de Ronaldinho com a camisa alvinegra veio diante do Figueirense, no Horto, quando o craque marcou seu primeiro hat-trick pelo clube mineiro e participou diretamente de cinco dos seis gols da vitória atleticana por 6 a 0. Na comemoração do primeiro gol, R49 se ajoelhou em campo chorando pelo falecimento de seu padrasto, contando com a homenagem da torcida ao jogador e à sua família. Ao fim da temporada, o Atlético-MG havia conquistado a vaga na Libertadores 2013 e a segunda colocação do Campeonato Brasileiro, onde disputou acirradamente o título com o Fluminense.

Torcida mostra carinho à mãe de R49. (Foto: Cristiano Monteiro)

Atlético-MG e R10 chegam ao topo da América

O contrato de Ronaldinho terminaria ao fim de dezembro de 2012, no momento em que o meia era alvo de muitas especulações de clubes brasileiros e estrangeiros, após a boa temporada no Atlético-MG. Em novembro do mesmo ano, Kalil confirmou que o camisa 49 continuaria por mais um ano defendendo o alvinegro de Minas Gerais, sendo a principal estrela do time na disputa da Copa Libertadores da América de 2013, ao lado de Bernard e companhia.

A identificação da torcida com Ronaldinho, que mudaria o número de sua camisa para 10, aumentava na mesma proporção de jogos que o meia fazia: a cada apresentação, R10 era mais ovacionado. A estrela do Galo não passava apenas por um bom momento e, sim, por uma realidade em que o futebol apresentado pelo gaúcho e pelo time mineiro era o melhor dos últimos anos. A conquista do Campeonato Mineiro, derrotando o Cruzeiro por 3 a 0 em casa e com o gol de pênalti de Ronaldinho no Mineirão, foi a apresentação de um time que buscava o topo do país nos pés do maestro do Independência.

A Libertadores chegou e a jornada do Atlético-MG na primeira fase da competição seria digna de um time que buscava impor o seu futebol. Os mineiros enfrentariam o brasileiro três vezes campeão do torneio (São Paulo), um argentino (Arsenal de Sarandí) e iriam até a Bolívia enfrentar a altitude e o The Strongest. O nome de Ronaldinho foi o mais comentado durante os três primeiros jogos do Galo pela competição em que o meia deu 4 assistências e ainda marcou um gol de pênalti, que colocava o clube mineiro na primeira colocação do grupo. O camisa 10 ainda foi o protagonista do inusitado gol da equipe diante do São Paulo, onde Ronaldinho pediu a água do goleiro tricolor, Rogério Ceni, e continuou perto do gol adversário esperando a cobrança de lateral que resultaria depois no gol de Jô.

O grande momento de R10 na Libertadores aconteceu na partida contra o Arsenal de Sarandí no Estádio Independência, quando o meia marcou dois gols, sendo primeiro de pênalti e o segundo de maneira magistral: com a bola dominada na ponta esquerda da grande área, Ronaldinho acertou uma espetacular cavadinha no ângulo direito do goleiro argentino. A confiança da equipe e o bom futebol mostrado pelo armador do alvinegro foram fundamentais para a virada do Atlético Mineiro no Morumbi, contra o São Paulo, pelas oitavas de final da competição. Ronaldinho marcou o gol de empate do Galo e sua comemoração gerou grande repercussão, pois o meia vibrava para a torcida mineira gritando: “Aqui é Galo!”.

A estrela e o futebol de Ronaldinho estiveram presentes com o Atlético-MG nas fases decisivas da competição, mas Victor, Tardelli e Bernard tomaram frente da equipe e levaram o clube mineiro à tão sonhada final da Libertadores. Após as boas atuações de Tardelli contra o São Paulo e Victor se tornando o herói do Independência após a defesa do pênalti a favor do Tijuana no último minuto de jogo, o camisa 10 tratou de deixar Bernard na cara do gol logo aos três minutos da semifinal contra o Newell's Old Boys. A última participação decisiva de R10 na Libertadores foi na cobrança de pênaltis contra o próprio Newell’s, onde Ronaldinho cobrou com maestria e deixou a decisão nas mãos de Victor, que colocou o Galo na final da competição.

O camisa 10 não teve uma atuação de gala nos dois jogos da final contra o Olimpia, mas dentro de campo passou a experiência de um campeão de Champions League e Copa do Mundo à seus companheiros de equipe. O tão sonhado título do Atlético-MG foi conquistado e o mais importante troféu da galeria do clube teve participação do jogador contestado por todos ao ser contratado. Foi o presente que R10 deu à torcida que o acolheu e fez encontrar o futebol que trouxe títulos e alegrias.

O ciclo chegou ao fim, mas Ronaldinho nunca será esquecido pelo Atlético-MG

Não há como deixar de lembrar do gaúcho dentuço ao falar do Atlético-MG e das conquistas que o meia alcançou no clube mineiro. Ronaldinho não foi apenas um atleta que aumentou o marketing da equipe de Alexandre Kalil: R10 foi um exemplo para o futebol, não só do Galo, mas do mundo. O jogador que se dava como acabado e cheio de confusões extra-campo mudou sua maneira de pensar sobre o futebol no Brasil e escreveu sua história em um time que necessitava de títulos expressivos.

O respeito de todas as torcidas diante de Ronaldinho era imenso, como vimos em vários jogos da Libertadores, principalmente contra o The Strongest, quando os jogadores do time idolatraram R10 após a partida na Bolívia. O jogador que já saiu aplaudido do Bernabéu (estádio do Real Madrid, rival em seus tempos de Barcelona), foi mais uma vez surpreendido ao encontrar torcidas que o respeitavam em toda a América do Sul e até no Marrocos. Mesmo com a dura derrota para o Raja Casablanca, os jogadores pareciam brigar entre si em busca de algum par de roupas do camisa 10 que havia acabado de ser derrotado pelos próprios.

E a identificação com a torcida do Atlético-MG pode ser explicada por momentos que o meia se mostrou genial em seus gols e jogadas. O gol no Campeonato Brasileiro contra o maior rival da equipe, onde Ronaldinho driblou todos os defensores do Cruzeiro e colocou a bola no canto esquerdo do gol de Fábio que pouco pode fazer. Os gols de falta contra Fluminense, Botafogo, Vitória e Raja. As atuações impecáveis contra o São Paulo, com direito ao famoso passe em que R10 olha para um lado e passa a bola por outro. O gol antológico contra o Arsenal de Sarandí.

O momento de deixar o clube foi certo, as condições de jogo do meia já não favoreciam a equipe e a missão de Ronaldinho já havia sido cumprida. O título da Recopa contra o Lanús marcou a festa de despedida do craque que se encontrou no Atlético-MG e que fez o alvinegro se encontrar com a glória. Por quase três anos, Ronaldinho deixou de ser gaúcho e foi legimitamente mineiro. Galo Mineiro.

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Sobre o autor
Tainá Rezende
Mineira e amante incondicional de tênis. Acredito que o esporte seja o maior meio para se tornar alguém melhor, e isso faz com que a cada hino tocado o arrepio e as lágrimas nos olhos me encham de orgulho, por ser fã de esporte.