São Paulo Futebol Clube e Estádio do Pacaembu: uma combinação de sucesso

Tricolor tem ótimo retrospecto no estádio municipal

São Paulo Futebol Clube e Estádio do Pacaembu: uma combinação de sucesso
cairesluciano
Por Luciano Caires Júnior

Antes mesmo do São Paulo Futebol Clube se tornar o "Tricolor do Morumbi", a casa que mais bem acolhia o clube era o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, ou, mais carinhosamente, Estádio do Pacaembu

Quando shows e reformas estão prestes a acontecer no Cícero Pompeu de Toledo, o torcedor já está acostumado a ir à segunda casa são-paulina acompanhar o time. E o histórico Tricolor no estádio empolga ainda mais. São ao todo 1016 partidas, 558 vitórias, 226 empates e 232 derrotas. Um aproveitamento fantástico de 62,34%. Com o gramado do Morumbi em reforma, o Pacaembu será novamente o palco são-paulino até meados de março.

Na próxima quarta-feira (10), o São Paulo decide sua classificação a fase de grupos da Libertadores da América, após o empate de 1 a 1 no Peru diante do César Vallejo. E um retrospecto que aumenta ainda mais o otimismo tricolor é que o clube nunca perdeu uma partida válida pelo torneio mais importante do continente no Pacaembu. Foram seis partidas pela competição, três vitórias são-paulinas e três empates.

Pelo Campeonato Brasileiro foram 57 partidas, 25 vitórias, 13 empates e 19 derrotas. Entretanto, foram em partidas pelo Campeonato Paulista que o São Paulo obteve suas maiores conquistas e seu maior aproveitamento jogando no Estádio do Pacaembu, principalmente na década de 40, nos primeiros passos da gloriosa história do tri-campeão mundial que começou conquistando o estado de São Paulo naquela época, com os títulos regionais de 1943, 1945, 1946, 1948 e 1949.

A estreia de Leônidas

Lêonidas da Silva, o Diamante Negro, foi, é, e sempre será um dos maiores ídolos de toda história do São Paulo. Foram 211 partidas e 144 gols marcados com a camisa tricolor, e o começo de toda essa linda trajetória tiveram início no Estádio do Pacaembu.

O jogador que foi anunciado pelo Tricolor no dia 1º de abril foi muito mais do que uma verdade vestindo o manto são-paulino. Lêonidas chegou ao São Paulo no dia 10 de abril de 1942, após ser negociado pelo Flamengo pelo valor de 200 contos de réis, um valor que perdurou por muitos anos como a contratação mais cara da história do Brasil.

Sua estreia ocorreu mais de um mês após sua chegada, no dia 24 de maio daquele ano, justamente contra o maior arquirrival tricolor, o Corinthians. Mais de 70 mil torcedores lotaram o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho naquela tarde de domingo para acompanhar um clássico com clima de final, é o maior público da história do estádio até hoje.

O Diamante Negro não marcou, mas participou diretamente das jogadas terminadas em gols, e apesar da desconfiança da imprensa paulista, ele mostrou logo no início que brilharia mais tarde com aquela camisa. Lola, Luizinho e Teixeirinha marcaram os tentos são-paulinos. Jerônimo, e duas vezes Servílio, já no fim da partida, marcaram os gols alvinegros daquele inesquecível 3 a 3.

Foto: Gazeta Esportiva

A maior goleada

Novamente na década de 40, o São Paulo e o Pacaembu estiveram em uma sintonia perfeita. Aquele 8 de julho de 1945 foi mais uma data marcante na história são-paulina. 

No ano em que o Tricolor se consagrou pela terceira vez campeão paulista, foi a primeira rodada do returno que ficou marcada. O São Paulo encarava no Pacaembu o Jabaquara, modesto time do litoral paulista. O resultado surpreendeu a todos e se mantém até os dias de hoje como a maior goleada da história do clube do Morumbi: 12 a 1 sobre o aurirrubro. Os redatores do jornal Gazeta Esportiva na época chegaram a escrever que estavam cansados de descrever os gols são-paulinos daquela partida.

Somente na primeira etapa foram seis tentos marcados. O famoso "vira seis acaba doze". O primeiro gol saiu logo aos 17', após falha do goleiro do Jabaquara, o saudoso atacante Remo inaugurou o placar. Na saída de bola mais um erro crucial, e Sastre serviu o nome do jogo, Leônidas da Silva, que arrancou e tirou com categoria do alcance de Joãozinho. O Diamante Negro também marcou o terceiro do São Paulo após grande jogada do paraguaio Barrios, o jogador que mais deu assistências naquele confronto. O quarto gol foi de Teixeirinha, também após a jogada do estrangeiro. Novamente Remo marcou o quinto, e Leônidas cravou seu hat-trick antes do jogo ir para o intervalo.

No segundo tempo Barrios cansou de servir os companheiros e marcou o sétimo antes dos dez minutos de partida. Aos 12' o golaço. Sastre encontrou Leônidas dentro da grande área, o centroavante cercado por três marcadores tocou sutilmente de calcanhar para marcar nada mais nada menos do que seu quarto gol no duelo. O São Paulo não segurou o ritmo, e os aurirrubros viram Teixeirinha marcar seu segundo gol no jogo e nono do tricolor. Novamente a equipe do litoral falhou na saída de bola, e Remo deixou o placar tricolor com dois dígitos. Minutos depois o árbitro assinalou um pênalti para os visitantes, concluído em gol por Gradim, tento de honra do Jabaquara. Teixeirinha após jogada de Leônidas também deixou seu hat-trick, e por último, Remo foi mais um a cravar quatro gols na partida e encerrou o massacre no Estádio do Pacaembu.

Foto: O Esporte

Gino derrota Lusinho: o último título no Pacaembu

São Paulo e Corinthians protagonizaram mais um jogo marcante no Paulo Machado de Carvalho. 

A atmosfera da partida era única. Um fato curioso era que São Paulo e Corinthians já haviam se enfrentado pelo Paulista daquele ano, o episódio do jogo em questão foi a entrada criminosa de Maurinho em cima de Alfredo, ex-jogador do São Paulo, que acabou tendo sua perna fraturada. Após o lance os rivais se provocaram o jogo inteiro, principalmente Gino e Luisinho, que por pouco não partiram para a violência. No dia seguinte o elenco tricolor foi visitar o ex-companheiro Alfredo no hospital, o que ninguém esperava é que Luisinho estava escondido atrás de uma árvore nos arredores do centro médico, o jogador alvinegro ao ver Gino saindo do local atirou um tijolo na cabeça do são-paulino e fugiu, sem que ninguém percebesse sua presença.

Com a rivalidade a flor da pele, e com Luisinho e Gino, os protagonistas das confusões anteriores em campo, as duas equipes se enfrentaram naquele 20 de dezembro de 1957 em um Pacaembu lotado. Quem vencesse a partida se consagraria como campeão regional daquele ano.

E com menos de vinte minutos de partida o primeiro gol. Gino, o mesmo que sofrera uma tijolada a poucos dias atrás, deixou Amauri livre de marcação na área, o meia de perna esquerda fuzilou Gilmar e abriu o placar. O Corinthians que era o mandante naquela ocasião se sentiu pressionado e se lançou ao ataque, porém, em uma roubada de bola o autor do primeiro tento, Amauri, deixou canhoteiro em ótimas condições para o atacante são-paulino ampliar para 2 a 0. Entretanto, logo na saída de bola Rafael recebeu sozinho e diminuiu o placar, momento eletrizante da partida.

A partir deste lance o Corinthians pressionou o São Paulo até os 35' da segunda etapa, quando em um contra-ataque novamente Gino serviu o companheiro Maurinho, outro envolvido na confusão do último clássico, o volante são-paulino entra na área e toca na saída de Gilmar, para sacramentar o título tricolor. Na comemoração Maurinho aponta a bola no fundo das redes para o arqueiro Corinthiano, neste instante, surge a maior confusão já vista no Paulo Machado de Carvalho, onde até a torcida atirou objetos em direção ao gramado.

Após a partida ser interrompida o jogo é retomado, mas nada mais poderia ser alterado: São Paulo campeão paulista e a crise instalada no rival. O maior artilheiro da história do Timão, Cláudio, encerrou sua carreira após o episódio, o técnico foi demitido e o presidente não foi reeleito.

Foto: Gazeta Esportiva

O 5 a 0 contra "La U"

Talvez o jogo mais marcante para o torcedor são-paulino na campanha do último título tricolor. O São Paulo vinha de jogos complicados pela Copa Sul-Americana naquele ano de 2012. Havia passado fácil pelo Bahia após duas vitórias por 2 a 0, porém, se classificou diante do pequeno LDU de Loja apenas com o gol fora de casa no Equador, tento marcado por Osvaldo, contando com um desvio fundamental do zagueiro adversário.

Nas quartas de finais veio o adversário teoricamente complicado. A Universidad de Chile. O clube chileno treinado na época por Jorge Sampoli era o atual campeão invicto da competição, e vinha com jogadores em ótima fase como Eduardo Vargas e Charles Aránguiz.

A partida de ida no Estádio Nacional no Chile mostrou a força do elenco são-paulino e a fragilidade do desfalcado time de Sampaoli. Luís Fabiano havia sido poupado para o jogo do Campeonato Brasileiro, seu substituto foi o imensamente criticado Willian José, entretanto o garoto ainda no primeiro tempo marcou duas vezes, sendo que o primeiro foi uma pintura, uma batida forte, seca, de perna esquerda sem chances para o goleiro adversário. 

Empolgada, 32 mil pessoas lotaram o Estádio do Pacaembu para o jogo de volta, e saíram satisfeitas com uma das partidas mais perfeitas do São Paulo nos últimos anos.

O camisa 10 Jadson, que mais tarde iria para o rival Corinthians, abriu o placar logo aos 4' de jogo, acabando com as chances do time chileno levar o jogo para os pênaltis. Na metade da primeira etapa foi a vez de Lucas arrancar do meio do campo, após uma sensacional jogada individual o garoto tocou na saída de Herrera para fazer o segundo, praticamente eliminando o time de Sampaoli. Em seguida foi a vez de Luís Fabiano marcar o dele, titular desta vez, ele recebeu um passe magnífico de Lucas, e na saída equivocada de Herrera o camisa 9 com muita categoria encobriu o goleiro adversário, levando o Pacaembu ao delírio com mais um lindo gol naquela noite de quarta-feira.

Na segunda etapa ainda deu tempo do zagueiro Rafael Tolói soltar a bomba de perna direita em cobrança de falta, a bola entrou no ângulo do gol chileno, era o quarto gol do tricolor. Aos 30' o lateral esquerdo Cortez fez bela jogada na linha de fundo, entrou na área e encontrou novamente Jadson para marcar o quinto e último gol da noite no Pacaembu. Foi a partida onde o São Paulo venceu e convenceu sua torcida que poderia ser campeão novamente após 4 anos na seca, o que realmente aconteceu ao vencer o Tigre da Argentina por 2 a 0 no Morumbi na final daquele torneio, mais um título inédito para o Mais Querido.

Foto: Getty Images