Publicado originalmente por Renata Mendonça

Em BBC Brasil, São Paulo

Foram mais de cinco anos para oficializar o duelo. São US$ 300 milhões só de bolsa para os dois pugilistas, além do esperado recorde de US$ 70 milhões de renda apenas com bilheteria - sem falar nos valores que virão do pay-per-view. É a invencibilidade de 47 lutas em uma carreira sem sequer uma derrota contra o prestígio de um colecionador de títulos mundiais.

O americano Floyd Mayweather e o filipino Manny Pacquaio, os dois maiores astros do boxe da última década, estarão frente a frente no ringue pela primeira vez na madrugada de sábado para domingo em Las Vegas, um evento chamado de 'a luta do século'.

"Essa luta foi proposta em 2009, então teve mais de cinco anos de expectativa para ela acontecer e isso ajuda a criar essa movimentação em torno dela", disse o comentarista de boxe da ESPN, Eduardo Ohata, à BBC Brasil. "Tem o fato do Mayweather estar invicto. Existe uma tendência de querer ver um cara que nunca perdeu, perder. Que nem o (Mike) Tyson, quando estava no auge, todo mundo começou a prestar atenção pra ver alguém ganhar dele."

Além dos números astronômicos e do ineditismo do confronto, ainda há a expectativa esquentada por polêmicas envolvendo os protagonistas fora do ringue.

Mayweather teve passagem pela cadeia e tem histórico violento de brigas em locais públicos e até agressões a ex-namoradas - ele foi preso por violência doméstica. Com uma fortuna estimada em US$ 1 bilhão, o 'Money', como ficou conhecido, é falastrão, provocador, e passou os últimos anos 'desdenhando' as vitórias de seu adversário do próximo fim de semana.

"Pacquiao é famoso porque está ligado ao meu nome. Quando se fala em Pacquiao, fala-se no cara que estão tentando colocar para lutar com Floyd Mayweather. Quando se fala em Floyd Mayweather, fala-se no maior de todos os tempos", disse ele em outubro de 2011, quando já se pedia um duelo entre os dois.

Do outro lado está Pacquiao, ou 'Pacman', um homem religioso, com ambições políticas - foi reeleito deputado em 2013 para o Congresso filipino - e que detém a patente de tenente-coronel reserva do Exército filipino.

Sobre a luta, ele não é tão polêmico quanto Mayweather, mas não deixa de alimentar ainda mais as expectativas do público para o duelo.

"O instinto assassino está de volta. Meus filhos me pediram essa luta contra o Mayweather. E isso faz esse combate o mais importante", disse, após confirmação do confronto.

Quatro cinturões

Os dois entrarão no ringue às 01h00 (horário de Brasília) para definir quem fica com os quatro cinturões em jogo – o do meio-médios da Organização Mundial de Boxe (que Pacquiao detém), o dos meio-médios do Conselho Mundial de Boxe e o dos médio-ligeiros da Associação Mundial de Boxe (ambos de Mayweather), além do cinturão feito de esmeraldas e diamantes para a própria luta, avaliado em US$ 1 milhão.

Tanto Mayweather, quanto Pacquiao dominam o boxe mundial há mais de uma década. Money chegou até a 'pendurar as luvas' em 2008, sem encontrar outros adversários 'do seu nível' que tivessem ao menos uma pequena chance de vencê-lo no ringue.

Mas a aposentadoria não durou muito, e ele retornou em 2009 a tempo de ver a ascensão e o auge de Manny Pacquiao, que até o início daquele ano, derrotou Oscar de la Hoya e Ricky Hatton, justamente as duas últimas 'vítimas' de Mayweather antes de se aposentar – o britânico Hatton, inclusive, estava invicto até enfrentar o americano.

Não demorou muito até que os fãs do boxe começassem a imaginar o que poderia acontecer se o 'imbatível' Mayweather encontrasse pela frente o então campeão de cinco divisões do boxe, Manny Pacquiao.

Em dezembro de 2009, Pacquiao chegou a fazer uma proposta formal de luta para o rival. Mas o combate foi por água abaixo após Mayweather insinuar que o filipino fazia uso de substâncias proibidas para melhorar seu desempenho e exigir dele testes antidoping mais rígidos.

Além disso, houve um período de baixa na carreira de Pacquiao, com as derrotas para Timothy Bradley em 2012 por pontos, e para Juan Manuel Marquez por nocaute.

No ano passado, no entanto, o possível duelo voltou à tona e, em fevereiro deste ano, finalmente foi confirmado.

"O Mayweather fez um contrato para receber US$ 240 milhões em seis lutas, mas para ganhar isso, elas tinham de ser boas. Ele fez três e o resultado não foi bom na venda de pay-per-view, aí ele foi obrigado a aceitar o desafio de encarar o Pacquiao", explicou Wilson Baldini Junior, jornalista esportivo especializado em boxe.

Números

Os números da 'luta do século' impressionam, a começar pelas bolsas dos dois pugilistas. Mayweather está ganhando US$ 180 milhões pelo confronto, enquanto Pacquiao vai faturar US$ 120 milhões.

Depois, há os valores do pay-per-view, que podem chegar a US$ 400 milhões nos Estados Unidos. Lá, a luta está custando entre US$ 90 e US$ 100 para os assinantes que quiserem assisti-la no sábado. São esperadas mais de 4 milhões de assinaturas no país.

O número de ingressos comercializados contrasta com as cifras gigantescas esperadas para a bilheteria. O número de entradas comercializadas não foi confirmado, sabe-se que não passaram de 1.000 e que se esgotaram em menos de 60 segundos.

Número pequeno se comparado a toda a expectativa da luta – os outros 16 mil lugares do MGM hotel serão preenchidos por patrocinadores e convidados -, mas o lucro esperado está longe de ser modesto: US$ 70 milhões. O preço dos ingressos variou de US$ 1.500 a US$ 7.500.

O que esperar da luta?

Para os especialistas, se há um lutador capaz de acabar com a invencibilidade de Mayweather, ele se chama Manny Pacquiao.

Ainda assim, a maioria adota cautela e prevê um duelo equilibrado entre o filipino, que tem como principal característica a agressividade, e o americano, que é mais técnico.

"O estilo do Pacquiao é bom pra ganhar do Mayweather, que tem dificuldades com lutadores que são extremamente agressivos", disse Ohata, que, no entanto, não aposta no filipino para o confronto.

"Se essa luta fosse cinco anos atrás, ela seria mais parelha e Pacquiao teria mais chance. Hoje existe uma vantagem do Mayweather."

Já para Baldini Jr., Pacquiao sairá vencedor. E para isso, ele dá a estratégia que deverá ser adotada pelo Pacman.

"Ele tem que atacar o tempo todo… não pode deixar o Floyd dominar a luta."

Na coletiva pré-luta, os dois lutadores fugiram de polêmicas. Mas pelas redes sociais, Mayweather já deu seu recado: "MGM (nome do local onde a luta acontecerá em Las Vegas): Mayweather gets Money", na tradução livre, "Mayweather ganha dinheiro".