Há 10 anos, a Fórmula 1 coroava um novo campeão. Literalmente novo. Ao chegar em 3º no Grande Prêmio do Brasil, em 25 de setembro de 2005, Fernando Alonso se tornava o campeão mais jovem de todos os tempos, com 24 anos e 59 dias (perdendo o posto para Lewis Hamilton em 2008, campeão com 23 anos e 301 dias - Hamilton ainda foi superado por Sebastian Vettel, em 2010, que virou campeão do mundo com 23 anos e 133 dias).

Depois de uma temporada quase impecável, superando as fortes McLarens de Kimi Räikkönen e Juan Pablo Montoya, o asturiano também virou o primeiro espanhol a vencer um título, e foi o primeiro piloto campeão pela Renault (a equipe francesa também venceu a disputa entre os construtores).

Naquele dia, Alonso também encerrava a maior dinastia da história da F1. Ao se tornar campeão, dava fim à sequência de cinco títulos seguidos de Michael Schumacher (entre 2000 e 2004). Era a primeira vez desde Mika Häkkinen, em 1999, que o alemão não conquistava um campeonato. O ano de 2005 também ficou marcado por ser o último dos poderosos motores V10, que deram lugar aos V8 em 2006.

Relembre abaixo como foi, corrida a corrida, a temporada de 2005 da Fórmula 1:

Temporada começa com passeio da Renault e problemas para a McLaren

O ano de 2005 prometia muito. A Ferrari, que havia ganho os últimos cinco campeonatos de pilotos (ambos com Michael Schumacher) e seis de construtores até então, parecia não estar muito segura do sucesso com o seu novo carro, o F2005. Com isso, outras equipes começaram a surgir. A Renault, que estava se consolidando como uma equipe forte, queria dar passos ainda mais largos e buscar de vez o título, e contratou Giancarlo Fisichella, então na Sauber, para substituir Jarno Trulli, que iria para a Toyota, e correr ao lado de Fernando Alonso.

Mas, quem realmente abalou os bastidores foi a McLaren, trazendo o carro que até hoje é o mais rápido da história da equipe, o MP4-20, e com uma dupla fortíssima: o finlandês Kimi Räikkönen, vice-campeão em 2003, e o colombiano Juan Pablo Montoya, vindo a peso de ouro da Williams. Dois brasileiros participaram daquela temporada. Rubens Barrichello, que faria a sua última temporada pela Ferrari, e o então jovem Felipe Massa, na Sauber. Massa viria a substituir Barrichello na equipe italiana em 2006.

Na primeira corrida, na Austrália, a Renault confirmou as boas expectativas e venceu a corrida, mas a surpresa geral foi com o vencedor. Mesmo com todo o favoritismo na equipe rondando sobre Alonso, Fisichella surgiu fazendo a pole-position e vencendo a prova, com Barrichello começando bem, em 2º, e Alonso em 3º. Os bons resultados da Renault e os problemas de Schumacher (abandonou após um toque com Nick Heidfeld) mostravam que o ano seria duro.

Ali, Alonso acordou de vez e encaixou uma ótima sequência de três vitórias, na Malásia, no Bahrein e em San Marino. Nesta última, Räikkönen liderava sem grandes problemas, mas abandonou com problemas em seu carro, tônica daquela temporada. Outro momento marcante foi a briga espetacular pela vitória, entre Alonso e Schumacher, que travaram a respiração dos fãs por várias voltas. Mesmo com o alemão muito agressivo, o espanhol segurou o ímpeto adversário e venceu na pista italiana, diante dos torcedores da Ferrari. Naquele momento, o mundo acreditava que o discípulo estaria enfim batendo o mestre.

Quem teve um começo de ano para jogar no lixo foi Montoya. O colombiano, que chegou com muita expectativa na McLaren, acabou machucando o braço em um jogo de tênis (há relatos de que ele estava jogando tênis sobre uma moto, o que nunca foi oficialmente confirmado), e ficou duas corridas fora, sendo substituído por Pedro de la Rosa no Bahrein e por Alexander Wurz em San Marino (Wurz conseguiu um pódio naquela corrida, chegando em 3º).

Räikkönen acorda, começa a vencer, mas é atacado pelo azar em Nürburgring

Foi na quinta corrida da temporada, o GP da Espanha, justamente na casa de Alonso, que Kimi Räikkönen acordou. O finlandês doutrinou, largou na pole e venceu com mais de 30s de vantagem para Alonso, que não viu sequer a cor prateada do carro da McLaren em um autódromo lotado em Barcelona. Na corrida seguinte, em Mônaco, mais uma vitória gigantesca de Räikkönen, que já ameaçava de vez e tirava a diferença do asturiano na liderança para 21 pontos.

O outro destaque positivo ficou com a Williams, que mesmo com vários problemas em seu carro e nos motores BMW, conseguiu colocar os dois pilotos no pódio: Nick Heidfeld foi o 2º, e Mark Webber, o 3º. Na Ferrari, o clima esquentou: Barrichello e Schumacher eram 7º e 8º, respectivamente, e receberam ordens para manter as posições, mas o alemão atacou no fim e ultrapassou, causando a ira do brasileiro.

Mas um dos momentos mais marcantes daquele ano ocorreu justamente na corrida seguinte, o Grande Prêmio da Europa, em Nürburgring, na Alemanha. Correndo em casa, Nick Heidfeld fez a festa do público e marcou uma surpreendente pole-position. Porém, com as diferenças de carros e estratégias, Räikkönen e Alonso pularam logo para a ponta. O que Kimi não imaginava era que a sua corrida acabaria de forma melancólica.

Na época, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) aprovou uma regra polêmica: os pneus não poderiam ser trocados nas corridas, exceto em caso de furo ou estouro. Ou seja, nas paradas, os pilotos apenas poderiam reabastecer seus carros. O pneu dianteiro esquerdo do finlandês começou a apresentar vibrações cada vez mais intensas no fim da prova, o que preocupava a McLaren.

Era uma questão de tempo para aquele composto estourar de vez. E ele estourou na primeira curva da última volta, fazendo Räikkönen perder a liderança (e quase atingir a BAR de Jenson Button). A vitória caiu no colo de Fernando Alonso, que venceu e abriu 31 pontos na ponta do campeonato.

Mas a vantagem voltou ao ponto de Nürburgring na corrida seguinte. No Canadá, Kimi aproveitou os empecilhos dos rivais (Alonso teve problemas na suspensão, Fisichella teve problemas hidráulicos, e Montoya foi desclassificado por ignorar a luz vermelha nos pits) e venceu, colocando de novo a diferença de novo na casa dos 21 pontos. O campeonato esquentava, mas a corrida seguinte fez ele pegar fogo mesmo nos bastidores.

Problemas com os pneus protagonizam um dos maiores vexames da história da F1 nos EUA

A Fórmula 1 foi para os Estados Unidos, no lendário Indianapolis Motor Speedway, para uma corrida que prometia ser histórica. E ela realmente foi, mas por motivos negativos.

Na sexta-feira de treinos livres, Ralf Schumacher bateu forte com sua Toyota na curva 13 (a primeira do oval do IMS, que era usada na F1), e foi vetado para a corrida de domingo. As investigações do acidente continuaram, e revelaram algo assustador. Os pneus da Michelin (na época, a categoria tinha duas fornecedoras, Michelin e Bridgestone) não estava aguentando as fortes pressões causadas pela velocidade na curva 13 e pela redução brusca de velocidade na curva 1, e como as trocas não eram permitidas, se nada fosse feito, mais pilotos poderiam se machucar.

Foram sugeridas soluções como a construção de uma chicane na curva 13, ou uma remessa nova de pneus Michelin vinda urgentemente da França, mas nada foi aprovado. Assim, apenas os carros com pneus Bridgestone largariam. O único problema era que apenas seis dos 20 carros tinham pneus da fornecedora japonesa (as Ferraris de Michael Schumacher e Rubens Barrichello, as Jordans de Tiago Monteiro e Narain Karthikeyan, e as Minardis de Christijan Albers e Patrick Friesacher).

Quatorze pilotos foram para os pits na volta de apresentação, e a Fórmula 1 viu um de seus maiores vexames acontecer naquele dia. Michael Schumacher venceu sua única corrida no ano (a única prova que nem McLaren, nem Renault venceram em 2005), Rubens Barrichello foi o 2º, e Tiago Monteiro fez muita festa, ao se tornar o primeiro português a ir ao pódio na F1, em 3º.

A Ferrari também polemizou: ao sair de sua última parada, Schumacher viu Barrichello atacar pela ponta em seu retrovisor, mas fechou a porta e o brasileiro saiu da pista na curva 1. Aquela teria sido o ponto final para Barrichello sair da equipe ao fim do ano, mesmo com mais uma temporada no contrato.

A categoria tentava juntar os cacos e se recuperar dos problemas, e foi para a França, casa da Renault e da Michelin. Fernando Alonso não decepcionou o público presente em Magny-Cours e venceu mais uma, aumentando a diferença no campeonato. Na Inglaterra, agora a casa da McLaren, de novo a equipe anfitriã venceu, com Juan Pablo Montoya superando as adversidades e enfim vencendo naquele ano.

O triunfo deu uma injeção de ânimo na McLaren, e na Alemanha, Räikkönen largou na frente, fez a volta mais rápida e tinha uma grande vantagem na ponta, mas sofreu com novos problemas (dessa vez, hidráulicos) e abandonou uma prova que liderava sem problemas. Alonso venceu novamente e abriu 36 pontos na liderança do campeonato.

Foi o suficiente para a McLaren conseguir uma ótima sequência de quatro vitórias consecutivas. Räikkönen venceu duas corridas seguidas, uma na Hungria, e outra no novíssimo GP da Turquia, novidade do calendário de 2005, Montoya venceu de ponta a ponta sem problemas na Itália, e Räikkönen voltou a vencer na Bélgica. Porém, Alonso foi 2º colocado em três dessas quatro provas, e saiu de Spa-Francorchamps com 111 pontos, contra 86 de Räikkönen. Com 25 pontos de frente, Alonso chegava em condições privilegiadas ao Brasil.

Alonso faz o necessário em São Paulo e conquista o primeiro título mundial

O campeonato chegava a Interlagos, antepenúltima corrida do ano, com um cenário favorável a Alonso. O espanhol precisava chegar em 3º, simplesmente ir ao pódio, para ser o mais novo campeão do mundo. Ele confirmou as expectativas e fez a pole-position, mas decidiu não correr riscos. Do outro lado da moeda, Montoya, que não tinha mais chances de campeonato, entrou com a faca nos dentes e assumiu a liderança logo cedo, partindo para uma vitória dominante. que foi a sua última na Fórmula 1. Räikkonen ainda foi valente e salvou um 2º lugar, mas não teve jeito.

Com a 3ª posição, Fernando Alonso se tornava, em 25 de setembro de 2005, o campeão mais jovem da história. Festa enorme dele, da Espanha (que passava a ter um campeão do mundo na F1), da Renault (que conquistava seu primeiro título) e de Flavio Briatore (chefe da equipe francesa, que consagrava um campeão pela primeira vez desde o bicampeonato de Michael Schumacher em 1994 e 1995 pela Benetton). Ao sair do carro, Alonso gritou e vibrou efusivamente, como se tivesse acabado de vencer uma guerra. Era o seu grande sonho se realizando.

Mas a temporada ainda não havia acabado. E reservou uma corrida épica pela frente. Logo depois do título de Alonso, veio o GP do Japão, penúltima etapa, em Suzuka, que foi espetacular. Na época, o sistema da classificação do sábado era de apenas uma volta para cada um. E, durante a sessão, a chuva apareceu, mandando alguns dos principais pilotos para o fim do grid.

Entre eles estava Kimi Räikkönen, apenas o 17º entre 20 carros. Mas, com uma boa estratégia e uma das melhores exibições individuais da história, o finlandês fez ultrapassagens de tirar o fôlego (como a sobre Michael Schumacher, por fora, na 130-R), e na última volta, por fora na perigosa curva 1, passou Giancarlo Fisichella e assumiu a ponta, partindo para uma vitória inesquecível. Na corrida seguinte, na China, que encerrou o calendário, Alonso dominou, largando na pole e vencendo sem dificuldade alguma, confirmando o título de construtores para a Renault.

Classificação do campeonato de pilotos de 2005 (dez primeiros):

1º - Fernando Alonso (ESP/Renault) - 133
2º - Kimi Räikkönen (FIN/McLaren) - 112
3º - Michael Schumacher (ALE/Ferrari) - 62
4º - Juan Pablo Montoya (COL/McLaren) - 60
5º - Giancarlo Fisichella (ITA/Renault) - 58
6º - Ralf Schumacher (ALE/Toyota) - 45
7º - Jarno Trulli (ITA/Toyota) - 43
8º - Rubens Barrichello (BRA/Ferrari) - 38
9º - Jenson Button (ING/BAR) - 37
10º - Mark Webber (AUS/Williams) - 36
13º - Felipe Massa (BRA/Sauber) - 11

Classificação do campeonato de construtores de 2005:

1º - Renault - 191
2º - McLaren - 182
3º - Ferrari - 100
4º - Toyota - 88
5º - Williams - 66
6º - BAR - 38
7º - Red Bull - 34
8º - Sauber - 20
9º - Jordan - 12
10º - Minardi - 7