Quando a Fifa anunciou que países como Colômbia, Bélgica e Suiça estariam entre os cabeças de chave da Copa do Mundo de 2014, todo o mundo fez previsões de um possível grupo da morte. Holanda, Itália, Inglaterra, Portugal e França, por exemplo, poderiam formar uma chave que faria grandes equipes brigarem entre si logo no início da competição.

Quis o destino que os dois campeões mundiais da lista se encontrassem no Grupo D. Itália e Inglaterra começam neste sábado (14) sua caminhada na Copa do Mundo, em um confronto em Manaus, às 19h. A partida, disputada na Arena Amazônia, trata-se do único confronto desta primeira fase entre seleções que já venceram o mundial ao menos uma vez.

Tanto a Squadra Azzurra quanto o English Team, se pudessem escolher, não fariam o confronto deste sábado. Não só pelo forte adversário e pelo grupo da morte (o Uruguai, bicampeão do Mundo, é o cabeça de chave do grupo que também conta com a Costa Rica), mas, principalmente, pelo local: em um gramado não animador e um calor fora do comum, a Arena Amazônia é, talvez, o pior cenário para qualquer time europeu no Brasil.

As duas equipes passaram as últimas semanas tentando se adaptar ao clima que encontrarão na capital do Amazonas. Enquanto a Itália fez toda sua preparação em Mangaratiba, no Rio de Janeiro, a Inglaterra treinou diversas vezes com várias camadas de agasalho, tentando simular as altas temperaturas. Preocupados com o físico, italianos e ingleses fazem o que deve ser uma das partidas mais truncadas da primeira fase deste mundial.

Da última vez que se enfrentaram, a vantagem foi azul: vitória, nos pênaltis, da Itália sobre a Inglaterra nas quartas de final da Eurocopa 2012.

Arena Amazônia está pronta para receber ingleses e italianos (Foto: Ben Stansall / Getty Images)

Azzurra: dúvidas na defesa e enfim esperança na frente

A Copa do Mundo de 2014 é uma das primeiras edições de mundiais aonde a Itália chega com um ataque mais bem preparado do que a defesa. Com diversas boas opções para o setor de frente, os dias de catenaccio parecem ter ficado para trás no comando de Cesare Prandelli. Mas, ao menos para a partida deste sábado, os destaques da Azzurra devem estar no meio-campo -- e os problemas no setor defensivo.

Ao treinar já na Arena Amazônia na última sexta-feira (13), o arqueiro e capitão Gianluiggi Buffon sentiu um incômodo no tornozelo, e pode se tornar um desfalque de última hora para Prandelli. Caso não possa jogar, deve ser substituído por Salvatore Sirigu. Antes, a Itália já havia sofrido uma baixa no setor: com lesão na coxa, o lateral Mattia De Sciglio já havia sido vetado da partida.

Sem o lateral do Milan, que na Azzurra atua na lateral esquerda, Prandelli tem duas opções: ou promover a entrada de Abate, colocando-o na esquerda, ou optar por formar a dupla de zaga com Andrea Barzagli e Leonardo Bonucci, passando o defensor Giorgio Chiellini para a ala esquerda.

Prandelli deve escalar a equipe em um 4-5-1, com o atacante Mario Balotelli isolado na frente. Titular absoluto, o camisa nove viu sua vaga ameaçada por Ciro Immobile, artilheiro da última Serie A, que se destacou na preparação. Só para o ataque, o treinador italiano ainda pode contar com Antonio Cassano, Lorenzo Insigne e Alessio Cerci.

Pirlo começa a se despedir da Azzurra (Foto: Buda Mendes / Fifa)

No meio, a grande esperança está em Andrea Pirlo. Aos 35 anos, o jogador da Juventus vive grande fase na carreira, e admitiu nos últimos dias que se aposentará da seleção italiana após essa Copa. Dono de uma excelente visão de jogo e com um incrível dom nas bolas paradas, deve ditar o ritmo da Azzurra em uma partida que promete forte marcação. Ao seu lado, dois extremos: o experiente médio Daniele de Rossi e o jovem promissor Marco Verratti, que ganhou a vaga do machucado Riccardo Montolivo. Mais a frente, já próximos à Balotelli, a armação fica por conta de Claudio Marchisio e Antonio Candreva.

Em entrevista coletiva antes da partida, Prandelli admitiu torcer pela recuperação de Buffon. Para o treinador, é importante que o goleiro e Pirlo, astros da Juventus e principais nomes da Azzurra, estejam em campo. "São rapazes que já passaram da marca dos cem jogos pela seleção, e quando chegam para se juntar à equipe, ainda têm o mesmo entusiamo da primeira vez que foram convocados. Eles sabem vestir a camisa da seleção como um símbolo. O comportamento deles dentro do grupo é sempre um exemplo para todos", afirmou.

Prandelli também fez questão de elogiar o polêmico gramado da Arena Amazônia. "Encontrei o gramado em ótimas condições, é muito bom. Estamos prontos", disse. Ao lado do treinador na coletiva esteve o meia Candreva, da Lazio. O meio-campista afirmou que detalhes como gramado e o clima não tirarão o foco da Itália. "As nossas preocupações são outras. Em partidas como essas, uma estreia em Copa do Mundo, questões como o calor e o gramado ficam em segundo plano”, ressaltou o atleta.

Prandelli tem problemas na defesa pra a estreia (Foto: Claudio Villa / Getty Images)

English Team: confiança interna, descrença geral

Pelo menos para grande parte da imprensa mundial, a Inglaterra chega ao Brasil totalmente desacreditada. Sem um time empolgante e em um grupo perigoso, os ingleses não sao tratados como favoritos ao título da Copa do Mundo. Certo? "Temos confiança em nós mesmos. Se tivermos sorte e se conseguirmos jogar o nosso futebol, claro que podemos ganhar a Copa. Ficaria surpreso se qualquer técnico, na véspera da estreia, dissesse que não", disse o técnico Roy Hodgson, na entrevista coletiva desta sexta-feira.

Confiante em seu elenco, Hodgson tem em mãos um time ofensivo e balanceado para a estreia de hoje. Outrora cmandados pelos vetereanos Frank Lampard e Steven Gerrard, hoje com 35 e 34 anos respectivamente, os ingleses veem sua linha de frente formada por uma nova geração de atletas, como os atacantes Daniel Sturridge (24 anos), Danny Welbeck (23) e o meio-campista Adam Lallana (26), além de Sturridge, Wilshere e Henderson. A estrela, porém, continua a ser o avante Wayne Rooney, que disputa sua terceira Copa.

Em seu terceiro mundial, Rooney ainda busca primeiro gol (Foto: Joel Auerbach / Getty Images)

Hodgson não quis adiantar o time, mas também sofre com problemas no departamento médico. Alex Oxlade-Chamberlain deixou o amistoso contra o Equador com dores no joelho, e deve ficar de fora. No meio, Welbeck e Gerrard abandonaram treinos mais cedo com incômodos, mas não devem preocupam. O camisa 4 foi confirmado e elogiado pelo treinador.

As principais dúvidas são no meio-campo. O treinador não definiu se Welbeck ou Sterling começam a partida ao lado de Rooney e Sturridge, por exemplo. Mais atrás, é provável que Henderson seja o escolhido para atuar ao lado de Gerrard, mas Wilshere corre por fora.

Com a confiança tão em alta dentro do English Team, nem mesmo o forte calor de Manaus assusta os ingleses. Palavras do capitão Steven Gerrard. "Sim, realmente está quente, e vai ser assim durante o jogo. Mas nosso preparo foi bom, e acho que podemos enfrentar essas condições climáticas", disse o jogador.

Gerrard e Hodgson estiveram na última coletiva (Foto: Ben Stansall / Getty Images)