Um jogo impossibilitado de ter a presença de público é algo comparável à morte em âmbito esportivo, guardadas as devidas proporções e situações. Apenas trabalhos fundamentais da emissora que detém os direitos de transmissão tiveram acesso, o que impediu a presença não apenas do torcedor, mas de grande parte da imprensa mundial. Como uma compensação, o que ocorreu em campo foi de encher os olhos. A história foi escrita em seus dois lados. No negativo, o silêncio de quem eleva o futebol a um nível singular. No positivo, o brilho de uma equipe que se fortalece a cada dia.
Em jogo disputado na tarde/noite desta terça-feira (10), Valencia e Atalanta protagonizaram uma partida de muitos gols. Melhor para os italianos, que novamente venceram em um duelo espetacular. Com todos os gols marcados por Ilicic, a equipe de Bergamo venceu por 4 a 3. Gameiro (duas vezes) e Ferrán Torres descontaram aos espanhóis. O confronto foi realizado no Estádio Mestalla, em Valencia/ESP, válido pelas oitavas de final da Uefa Champions League 2019-2020 e realizado com portões fechados devido ao surto de coronavírus que deixa a Europa em máximo alerta.
Intensidade desde o início
O Valencia tinha a dura missão de vencer por 3 a 0 ou por quatro gols de diferença, uma vez que foi goleado por 4 a 1 no primeiro confronto, disputado na Itália. Mas a situação ficou ainda mais complicada quando Diakhaby derrubou Ilicic na área e a arbitragem marcou pênalti. O próprio atacante cobrou no meio do gol e abriu o placar para a Atalanta. Sem poder estar no Mestalla, o torcedor valenciano se aglomerou nos arredores e incentivava o time espanhol, mesmo com o panorama mais difícil. Os mandantes foram ao ataque e Rodrigo quase empatou o jogo aos oito minutos, mas o goleiro Sportiello fez boa defesa no forte chute do atacante.
Mas o empate veio aos 20 minutos. Rodrigo recuperou a posse de bola no meio de campo e acionou Gameiro em lançamento. O centroavante precisou ser insistente. Na primeira tentativa, Palomino fez o corte parcial, mas a segunda tentativa resultou em bola na rede. A Atalanta não se intimidou com a vantagem e a pressão do Valencia. Muito pelo contrário, contou com o talento de Papu Gómez e Ilicic para continuar a levar perigo ao gol adversário, que respondia e fazia um jogo completamente aberto. Aos 40 minutos, Diakhaby colocou a mão na bola e, após revisão da arbitragem na cabine de vídeo, outro pênalti foi marcado. Ilicic mais uma vez foi à cobrança e mandou no canto direito de Cilessen para recolocar os bergamascos na frente do placar mais uma vez.
Segundo tempo frenético
Não tinha tempo nem para piscar os olhos no segundo tempo. Certamente algum detalhe foi perdido durante esse curto período. O Valencia ter voltado mais ofensivo deixou o jogo ainda mais franco. Mais necessitados por uma remontada, o time da casa pressionou nos primeiros minutos. Na primeira tentativa foi no cabeceio de Fernán Torres, mas Sportiello fez belíssima defesa. A resposta italiana foi com chute perigoso de Ilicic, que parou no travessão. Aos cinco, novo empate. Cruzamento de Wass na direita e Gameiro subiu e testou para as redes. A pressão valenciana era natural, assim como os espaços deixados ao contra-ataque adversário. Pressão controlada na defesa, ataque eficiente e bola na rede. Aos 21, Dani Parejo fez belíssimo lançamento para Ferrán Torres, que viu Sportiello sair da meta e o encobriu.
A vitória parcial de 3 a 2 deixava o Valencia com a classificação mais próxima da vista, mas longe do ideal. Era necessário fazer 5 a 2. Em vez de marcar mais dois gols, os espanhóis sofreram mais dois, pela inspiração de Ilicic. Era o dia do atacante esloveno ser o principal expoente da façanha histórica da Atalanta. Logo aos 25 minutos, em contra-ataque desenvolvido por Zapata, o centroavante foi acionado. Bola trazida ao pé esquerdo e indefensável para Cilessen.
Com o triplete e o 13º gol em 11 jogos disputados em 2020, Ilicic pediu substituição, mas não foi atendido. O resultado: mais um gol. Freuler tocou para o camisa 72, que finalizou no contrapé do goleiro para marcar o quarto tento na partida. Apenas Lionel Messi (duas vezes), Robert Lewandowski e Mario Gomez têm o mesmo feito. Mas apenas Ilicic tem o protagonismo de dar a um clube de 112 anos o capítulo mais lindo de sua história, que pode ainda ser ampliado.