Cria do Juventude, do Rio Grande do Sul, o brasileiro Rômulo Silva Santos, natural de Marabá-PA, se destaca há mais de nove mil quilômetros de seu país de origem, no longínquo futebol eslovaco. Atleta do Partizán Bardejov, que confere na segunda divisão da liga nacional, o atacante tem passagens por Braga, de Portugal, São José, do Brasil, e Senica, também da Eslováquia, onde esteve emprestado por seis meses.

Com dois gols em seis partidas disputadas pelo Bardejov, o jogador de 27 anos é destaque na categoria do pais. Em entrevista exclusiva à VAVEL Brasil, o atleta falou sobre sua carreira, as dificuldades enfrentadas nas categorias de base do Brasil e justificou à escolha de jogar na segunda divisão do futebol eslovaco.

Como foi seu início de carreira no Juventude e o que te motivou a sair do clube para buscar novos desafios no futebol europeu? E quanto à sua estadia na Europa e retorno ao Brasil, acha que teve dificuldades na adaptação?

Comecei como toda criança sonhadora. Com 12 anos, saí do Pará, de Marabá, com o sonho de jogar em um grande clube. Estive no São Paulo Futebol Clube por um mês, mas acabei optando em ir para o Juventude, porque como não tinha ainda o CT de Cotia, tinha que ficar treinando, saindo de casa quatro horas da manhã, pegando trem, indo pro Morumbi... isso foi em 2005. Acabei desistindo de jogar no São Paulo, por esse motivo, não tinha condições financeiras de pegar o ônibus, morava em Pirituba. No Juventude, cheguei e foi sucesso de primeira, todo mundo me abraçou e me acolheu muito bem, fiquei cinco anos.

Depois disso, vi vários amigos subindo, o profissional do Juventude estava numa fase não muito boa, precisando de dinheiro, quando veio o convite do Braga, de Portugal. Apesar de gostar muito do Juventude, acabei embarcando nessa aventura. Optei por Portugal pela língua parecida e pelo sonho de jogar na Europa. Estava com 17 anos,  assinei contrato de 3 anos com o Braga. Fui emprestado pro Tourizense, pro Vizela e pro Leixões, todos da segunda divisão do Portugal. Tive mais dificuldades em termo de estrutura e futebolisticamente, vim de um futebol mais rápido para um mais cadenciado. Muita força, posse de bola, tive um pouco de dificuldade pra me adaptar.

Depois de jogar o Paulistão Série A2 pelo São José, você embarcou para o futebol eslovaco. Como chegou até você esse interesse e o que te motivou a ir?

Chegou por meio de um companheiro de profissão e amigo, o jogador Leandro Negretti. Ele foi o primeiro a vir e me indicou. Acabei indo pra Eslováquia. Desde esse tempo estou sem empresário, correndo sozinho no futebol. O que me motivou a voltar pro futebol europeu depois de jogar a série A2 foi, principalmente, os atrasos de salário. No Brasil, jogadores que jogam em times que não estão na primeira ou segunda divisão passam muita dificuldade. Faltam coisas básicas. Muitos dirigentes só pensam no próprio bolso, não pensam no ser humano, no jogador. Jogadores de grandes clubes ganham muito dinheiro, mas isso é uma pequena fatia do futebol brasileiro.

Então o que me motivou mais foi isso, o calendário também, porque a maioria dos times que eu joguei tinha um projeto, mas acabavam não se classificando para as campeonatos nacionais. Então, acabava sempre desmanchando e trocando de time. Isso pro jogador não é legal. Você se adapta ao time, aos torcedores, depois tem que mudar. Fica pulando de galho em galho. Por aqui, queira ou não queira, todas as divisões tem o ano cheio. Isso é muito bom pro jogador. Ter sequência, ritmo, se adaptar. Isso me motivou.

Comparado a outros países do continente, o futebol da Eslováquia é desnivelado. Como você vê a diferença da forma de jogo, até fazendo um comparativo com o futebol brasileiro?

A comparação do futebol brasileiro com o eslovaco é que aqui você tem uma continuidade. Tem tempo pra mostrar seu futebol, se adaptar a cidade, ao clima, porque aqui tem temperaturas de -10°C, -20°C. Futebol é continuidade, você tem que ter uma continuidade pra mostrar seu futebol.

Você teve a oportunidade de jogar na primeira divisão da liga local, no FK Senica, emprestado por seis meses. O que você acha que faltou pra engrenar e para que o time comprasse seu passe?

Bom, eu cheguei na Eslováquia em um clube da segunda divisão, o FK Haniska, onde fui artilheiro. Aí acabei indo para outro grande clube da segunda, o Partizán Bardejov, e me emprestaram pro Senica, da primeira divisão. Fiz boas partidas, mas tive muitas lesões, porque troquei de divisão, era um futebol mais forte, mais rápido. Tive uma lesão de joelho, de contato mesmo. Acabou que o Senica não quis me comprar, então acabei voltando pro Partizan. Tinha mais dois anos de contrato. Fui emprestado um ano pra Malta, tive uma experiência no Senglea, e retornei pro meu clube, porque aqui alguns clubes da segunda divisão que visam subir pagam melhor que os da primeira, então pro jogador, financeiramente falando, é melhor jogar a segunda divisão. 

Como você avalia seu rendimento no Partizan e qual sua projeção para os próximos anos? Descarta uma volta ao futebol brasileiro?

Estou muito bem adaptado à Eslováquia, feliz no Partizan. Sobre meu rendimento, acho que pode melhorar. Fiz 6 jogos e 2 gols. Em porcentagem, acho que estou rendendo 60%, posso melhorar. O time teve uma mudança de treinador, de patrocinador, e agora estou jogando mais próximo da área. Acredito que os gols sairão com maior facilidade. 

Não descarto uma volta ao Brasil, é sempre bom estar em um lugar que é a nossa casa, nossa língua, nossa pátria. Porém essa situação no Brasil que eu já citei, do calendário, de ter muito jogador pra pouco clube e a organização ser péssima... somente se surgir uma situação muito boa pra mim e pra minha família eu volto pro Brasil. Mas estou feliz aqui, falo a língua e estou bem adaptado.

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