Episódios como o ocorrido na noite desta quarta-feira me fazem perder o pouco de esperança que ainda tenho na humanidade. É lamentável, deplorável e repugnante o que fez a torcida do Real Garcilaso com o volante Tinga, do Cruzeiro.
 
O jogo não estava sendo lá essas coisas. Fraco tecnicamente, gols de bolas paradas, a Raposa fazendo um péssimo segundo tempo e com a defesa vacilando nos dois tentos sofridos na derrota por 2 a 1. No entanto, era para ser uma bonita festa da torcida do Real Garcilaso, que tem apenas quatro anos de vida, mas chegou às quartas de final da última edição da Libertadores e vencia, logo na estreia, o time mais forte de seu grupo na edição atual.
 
Era.
 
Apesar da imagem do mesmo Tinga servir para divulgar a partida, o volante foi vítima de racismo em TODAS as vezes que tocou na bola. O que foi visto em Huancayo é um absurdo, uma aberração. É impressionante como alguns imbecis conseguiram importar o que existe de pior no futebol europeu. Com tanta coisa boa no futebol do Velho Continente, importaram logo o que existe de mais lamentável. E o que impressiona é que Tinga não foi alvo de atos racistas na Europa, mas foi na América do Sul.
 
Nada vai explicar uma atitude dessas de qualquer torcida. Nunca. Alguns extrapolam o limite de provocação pelo desejo da vitória. E é impressionante o número de fatores que tornam ainda mais inexplicável a atitude da torcida no Estádio de Huancayo.
 
O maior ídolo da história do futebol peruano, Teófilo Cubillas, craque que foi o camisa 10 do melhor Peru de todos os tempos e da melhor campanha da história da seleção peruana em Copas do Mundo, em 1970 - quartas de final -, era negro.
 
O Real Garcilaso e sua torcida devem ser punidos de forma exemplar pela Conmebol. É fácil achar os culpados. A televisão peruana filmou os imbecis algumas vezes ao longo da partida. No entanto, não acredito, infelizmente, que a entidade máxima do futebol sul-americano fará alguma coisa. A desconfiança, mais do que justificada, se dá pelos últimos casos em que a Conmebol nada fez ou ameaçou fazer e recuou. A morte do garoto Kevin e a punição mínima por briga de torcidas na arquibancada no jogo entre Peñarol e Vélez, na última Libertadores, são dois dos vários exemplos. É triste, mas a expectativa é de que a várzea vai imperar na entidade sul-americana mais uma vez, como de costume.
 
Para se ter ideia, enquanto prometeu analisar o caso via Twitter, a Conmebol sequer mencionou o acontecimento na matéria sobre a partida em seu site oficial.
 
Tomara que o Cruzeiro cobre providências da Conmebol e tome as suas. A punição deve ser exemplar: multa milionária, exclusão de competições sul-americanas por dois anos e banir os racistas que foram filmados dos estádios de futebol. Não existe e nunca existiu espaço para o racismo. Já passou da hora desse ato lamentável ter fim.
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Sobre o autor
Gabriel Pazini
Jornalista. Comentarista e colunista da TV O Tempo, TV Mídia Soccer, Vavel Brasil e Bundesliga Brasil. Ama futebol desde sempre.