Após um ano surpreendente, positivo e que rendeu todos os elogios para o clube, o Atlético Paranaense começou 2014 da pior maneira possível e buscará reverter o panorama no Campeonato Brasileiro. Mesmo com a brilhante campanha que a equipe protagonizou na temporada passada, ficando na terceira colocação do certame nacional e se tornando vice-campeão da Copa do Brasil, a saída de membros fundamentais do elenco abriu as portas para mais algumas apostas do mandatário Mário Celso Petraglia, que, a princípio, provaram-se ineficazes. 

Atletas, treinador, auxiliar, preparador físico… as mudanças no Furacão foram inúmeras, algo completamente contrário ao desejo da maioria da torcida, que já se mostra impaciente no início dessa nova fase. Mesmo com todos esses fatores e um plantel enxuto, a eliminação da Copa Libertadores já na segunda fase da competição foi um baque imensurável para a equipe de Curitiba, que procura formas para recuperar o bom desempenho - não só dentro de campo, mas também nos bastidores, já que contratações são mais do que necessárias - e voltar a colocar um sorriso no rosto do torcedor. 

Memória

O ano que mereceu uma página especial na história do clube foi 2001. Mas o que poucos destacam é o fato de que tudo começou em 1995, quando, nos primeiros passos sob a batuta do mandatário Mário Celso Petraglia, o Atlético conquistou o Campeonato Brasileiro da Série B - que teve o Coritiba como segundo colocado - e entrou num período de reestruturação e crescimento contínuo. Outra etapa percorrida pela agremiação se tornaria um diferencial e uma tacada certeira: a demolição do antigo Estádio Joaquim Américo, em 1997, para a construção da mais moderna cancha do país, a Arena da Baixada, em 1999. Dois anos depois, a campanha dourada do rubro-negro. A trajetória com Mário Sérgio na casamata começou da melhor forma e a equipe teve seu primeiro revés apenas na sexta rodada do certame nacional - esta, porém, que marcou o início de uma crise pelos lados do CT do Caju. Foram cinco jogos sem vitória, mas a má fase foi evidenciada no terceiro destes - um empate em 1 a 1 com o Santos, dentro de casa -, quando o polêmico treinador disparou: “Ou o Atlético acaba com a noite ou a noite acaba com o Atlético”. Não deu outra - para o bem. 

Duas semanas depois Geninho desembarcava na capital paranaense para dar outro panorama àquele grupo de jogadores. Literalmente pôs um fim às baladas que os atletas costumavam frequentar e, sem mexer na estrutura tática implantada por seu antecessor (3-5-2), construíu uma mentalidade de determinação e ofensividade. Sua estreia, uma boa vitória por 3 a 1 sobre a Portuguesa, deu gás para uma série invicta de 12 partidas e a conseqüente classificação ao mata-mata. Hora da figura de Alex Mineiro - que já vinha rendendo em alto nível - evidenciar seu futebol e ganhar um espaço na galeria de ídolos do clube. Nas quartas, o São Paulo de Júlio Baptista e companhia não foi páreo para a turma rubro-negra, que despachou os paulistas em confronto único, decidido pelo baixinho da camisa 9 e eternizado na memória pela implacável marcação de Cocito, o cão de guarda, sobre o jovem Ricardo, ou Kaká, que saiu de campo em lágrimas. 

Veio mais dificuldade pela frente. Nas semis, o Fluminense, única equipe que havia derrotado o Atlético dentro de seus domínios na competição. Mas os comandados de Geninho eram exaltados pela superação e, em uma partida de tirar o fôlego, Alex Mineiro marcou aos 44 minutos da segunda etapa para completar seu hat-trick, tirar o 2 a 2 do placar e levar o Furacão à grande decisão. Era o bastante para a equipe curitibana, ou para o centroavante que contagiava o país? Absolutamente não. Na finalíssima, o São Caetano, melhor colocado na primeira fase, também sentiu o gostinho da Arena da Baixada e voltou ao ABC Paulista com um 4 a 2 sofrido na bagagem - com direito a mais três gols do camisa 9. No Anacleto Campanella, onde, devido a força do torcedor visitante o rubro-negro se sentiu dentro de casa, Alex Mineiro marcou mais um, decretou o 1 a 0 e pintou o Brasil de vermelho e preto. 

Na última edição…

O Atlético protagonizou uma campanha que apenas por um motivo não pode ser chamada de irretocável: os resultados conquistados nas primeiras rodadas. Na época, o treinador era o mesmo e algumas peças que tornar-se-iam fundamentais mais pra frente ainda nem tinham dado as caras de forma concreta para a torcida. O dono da casamata, que mudaria em pouco tempo, era Ricardo Drubscky, que havia conquistado o acesso à elite no ano anterior, contava com um grande apoio e, indiscutivelmente, fazia a equipe jogar de forma atraente. Após uma pré-temporada diferenciada, onde a diretoria do clube abdicou do campeonato estadual e levou o elenco à Espanha para se preparar, ganhar um novo padrão de jogo e até mesmo trazer um reforço na bagagem - Fran Mérida, meia revelado pelo Barcelona e que pertencia ao Hércules, o Furacão encantava com a bola nos pés mas mostrava-se inefetivo como um grupo e, em sete rodadas, só havia conquistado uma vitória. Mas foi aí que apareceu a figura de Vágner Mancini - e, com ele, algumas outras -, que aproveitou das qualidades que era disposto e montou um time consistente e vencedor.

O nono compromisso do rubro-negro no certame era tratado como uma das mais difíceis missão: desbancar o Atlético Mineiro, então campeão da Libertadores, na fortaleza que se mostrou ser o Estádio da Independência. Até os 42 minutos da segunda etapa o previsto ia acontecendo, mas o futebol está aí para surpreender e a equipe paranaense virou a partida em dois chutes ao gol. Foi o ponto chave para a recuperação e, (muito) mais do que isso, para o embalo; foram 10 jogos sem uma única derrota no caminho e o pelotão de cima da tabela era o novo lugar do Furacão. Vieram mais resultados positivos e, no dia 08 de dezembro, o embate que ficou marcado não só pelos acontecimentos advindos de dentro das quatro linhas. Em meio à uma verdadeira guerra de torcidas nas arquibancadas e um clima tenso na Arena Joinville, o palco da decisão, o maestro Paulo Baier comandou o massacre dos mandantes sobre o Vasco da Gama, que garantiu a vaga na Copa Libertadores de 2014 e, de quebra, rebaixou o adversário carioca ao segundo escalação nacional. Uma campanha para ficar na memória.

O nome de 2013: Manoel

Se apontarmos dez equipes brasileiras, em nove o destaque estará no ataque. Entretanto, no Atlético Paranaense o cenário é - ou foi - outro; Manoel, zagueiro, foi o grande nome do grupo rubro-negro no ano de 2013. Muitos outros contribuíram enormemente em boa parte da temporada - leia-se Léo, Paulo Baier, Everton, Marcelo e Éderson -, mas o jogador mais consistente e eficaz sem dúvida alguma foi o defensor de 24 anos. Com uma qualidade acima do normal e frieza comparável à dos mais experientes e condecorados beques que o futebol nacional conheceu, o atleta, que defende as cores do Furacão desde 2006 como juvenil e 2009 como profissional, ganhou uma vaga na seleção do Brasileirão e foi apontado por muitos como uma alternativa à Seleção de Luis Felipe Scolari. 

A história de Manoel com o Atlético, porém, está próxima de chegar ao fim - ou ter uma pausa. Recentemente, o clube anunciou de forma oficial o afastamento do jogador, que treinaria individualmente e provavelmente seria negociado com outra equipe. Um baque que nem o mais confiante torcedor desejava, dadas as magníficas e seguras atuações do camisa 3 por todos esses anos. A derrota para o The Strongest, na Bolívia, que cravou a eliminação na Libertadores, tem boas chances de ter sido o último jogo do zagueiro pelo Furacão.

O início de temporada

Decepcionante por um lado, aceitável e até animador por outro. Infelizmente, o lado da lamentação era o principal a ser encarado no primeiro semestre de 2014. Com uma renovação completa no plantel, chegada de novos jogadores, comissão técnica inteiramente alterada e um nome de peso vestindo a camisa 30, o Atlético entrou na Copa Libertadores com o pensamento de, cumprindo as expectativas de todos - incluindo a imprensa -, passar com facilidade pela fase de grupos e embalar no mata-mata. O panorama, porém, foi bem diferente. Comandados pelo super criticado Miguel Angel Portugal, a equipe paranaense não teve culhão para se portar bem nos momentos decisivos e acabou sendo eliminada precocemente. O jogo que confirmou a desclassificação sumarizou o período do espanhol na casamata atleticana: insucesso e estagnação tática, ineficiência técnica e falta de motivação. A derrota por 2 a 1 para o surpreendente azarão The Strongest, na altitude da Bolívia, evidenciou todos os pontos que já vinham sido discutidos pela torcida. 

Por outro lado, o grupo sub-23 do Furacão não deu grandes decepções, no geral, ao torcedor. É claro que uma eliminação nas semi-finais - após abrir vantagem de dois gols no jogo de ida - foi e sempre será lamentada, mas se inserirmos tudo num contexto, a participação dos garotos no Campeonato Paranaense rendeu bons frutos a serem colhidos. Com direito a baile no time principal do Coritiba e triunfo na casa do Paraná Clube, o elenco comandado por Dejan Petkovic teve boas atuações e, sobretudo, deu oportunidade para algumas promessas apresentarem seu futebol em uma competição de nível profissional. Esse é o caso de, principalmente, Marcos Guilherme e Otávio, meias que contagiaram a torcida e foram selecionados para integrar a seleção da competição. Ambos tiveram seus saltos ao time principal anunciados na última semana e são grandes prospectos para o futuro do Atlético.

Quem comanda: Miguel Angel Portugal

Treinador do Atlético desde o início de janeiro, ainda não podemos cravar o que Miguel Portugal planeja, de fato, fazer com o elenco. Até porque sua passagem por Curitiba também pode estar próxima de um fim. Após as más atuações e a eliminação precoce na Libertadores, a torcida já começou a protestar a favor de sua demissão, mas o clube ainda não se pronunciou sobre o assunto. A princípio, seu esquema favorito é o 4-2-1-3, prezando pela ofensividade e transição veloz. O que vimos do comandante nos jogos da Libertadores, principalmente fora de casa - onde a organização era praticamente nula -, foi um pouco diferente, mas, em tese, podemos esperar um time atacante nos próximos meses.

Portugal, natural da Espanha, teve uma sólida carreira como meio-campista, se destacando ao vestir a camisa do Real Madrid por quatro anos. Ainda passou por Rayo Vallecano, Castellon, Burgos, Valladolid e Córdoba, antes de trocar a chuteira pela prancheta, em 1995. O ex-jogador continuou sua trajetória pelo país natal, chegando a um retorno ao time do Santiago Bernábeu, trabalhando com a categoria juvenil dos merengues. Já como treinador, passou por Toledo e Racing Santander, depois de também voltar ao Córdoba, e acertou sua ida ao Bolívar/BOL na metade de 2012. 

No clube boliviano, teve sucesso imediato e caiu nas graças da torcida. Em 2012/13, levou sua equipe à terceira colocação do Apertura e conquistou o título do Clausura. Já na temporada seguinte, ficou com o vice-campeonato do Apertura. Todavia, a carreira de Miguel não se limita aos treinamentos e preleções na prática, tendo em vista que o espanhol já escreveu dois livros a respeito da metodologia e filosofia do futebol. Ele também tem em seu currículo passagens pelo cargo de diretor esportivo do Córdoba, de 1990 a 1995, e secretário técnico do Real Madrid, em 2007 e 2008. 

Quem decide: Marcelo

Típico atacante que costuma infernizar a vida das defesas adversárias, Marcelo fez uma temporada pra ninguém colocar defeito em 2013 e tem tudo para repetir, ou até mesmo superar o nível em 2014. O jogador de 22 anos, nascido em Maringá, é mais uma cria da renomada categoria de base do Atlético, e certamente será peça fundamental para os planos do clube. 

Sua principal qualidade consiste na facilidade em deixar qualquer marcador pra trás, beneficiando-se da velocidade e da habilidade, antes de concluir ou dar oportunidade aos companheiros. Éderson, artilheiro do último Campeonato Brasileiro, sabe bem disso e tem muito a agradecer à Marcelo - que, por sua vez, contabilizou sete assistências na competição. Além da grande capacidade de criar jogadas, o atleta também tem poder de decisão e volta e meia dá uma de matador em frente ao gol. O caminho para brecar o Furacão começa em marcá-lo. 

Quem promete: Marcos Guilherme

Poderia muito bem falar de Nathan, meia da Seleção Brasileira sub-20 que tem talento de sobra e até poucas semanas atrás era tratado como a grande promessa para fazer o salto ao time principal em 2014, mas recentes imbróglios do jogador, seu pai e o clube fizeram com que o jovem ficasse de lado no CT do Caju. Quem não tem nada a ver com isso é Marcos Guilherme, que, por outro lado, começou o ano longe dos holofotes e já caiu nas graças da torcida, da imprensa e até mesmo de Miguel Angel Portugal.

O meia ofensivo de apenas 18 anos foi o grande destaque do sub-23 rubro-negro na campanha semifinalista no Campeonato Paranaense, presenteando a torcida com jogadas individuais de pura habilidade e participações coletivas, sempre mostrando muita inteligência, visão de jogo e, sobretudo, categoria e frieza em frente ao gol. Assim, fica fácil entender porque o camisa 10 marcou oito gols e, pra muitos, foi o melhor jogador da competição. Marcos já integrou o elenco principal no jogo contra o The Strongest, na Bolívia, e espera cada vez mais oportunidades de mostrar seu futebol no cenário nacional. 

O desafio

Devido à barbárie protagonizada pelas torcidas na última rodada do Brasileirão de 2013, na partida diante do Vasco, o Atlético foi punido em doze partidas e ainda teria de pagar uma multa de 140 mil reais. No início deste ano, de fato, ambas as quantias foram reduzidas, mas a dificuldade que a equipe pode enfrentar em tal período ainda deve ser considerada como uma grande pedra no caminho. Dos 9 compromissos impostos pelo STJD, quatro poderão ser realizados em Curitiba - muito provavemente na Vila Capanema, já que em algumas semanas a Arena da Baixada estará sob posse da Fifa -, mas com portões fechados. 

Se tal circunstâncias já podem representar complicações, nas demais cinco partidas a equipe terá de viajar no mínimo 100 quilômetros para entrar em campo, mesmo como mandante. Um fator que até poderia ser contado como fundamental é a presença do torcedor nas arquibancadas, mas recentes confirmações não trazem boas notícias. O clube anunciou que os embates diante de Cruzeiro e São Paulo terão como palco o Estádio Parque do Sabiá, em Uberlândia, e consequentemente receberá um público maior dos adversários. Se quiser aprontar no certame, certamente o Atlético terá de encontrar forças para alcançar bons resultados nessa fase.

Avaliação

Com todas as mudanças supra mencionadas, a provável saída do jogador mais consistente do elenco - Manoel - e um mau panorama devido à eliminação precoce na Libertadores, o Atlético inicia o Brasileirão apenas como um mero candidato a permanecer no meio da tabela. A qualidade, o espírito e a empolgação já não são as mesmas que contagiaram o país no último ano e o Furacão terá de superar diversas barreiras se quiser aprontar algo no pelotão da frente.