Fernando Prass, capitão palmeirense que teve a complicada missão de guiar o alviverde pelas turbulentas partidas da Série B, enfrentando torcedores, sempre com profissionalismo. Suas atuações regulares transmitiram confiança para o elenco e para torcida. Durante esse período, o arqueiro juntou contusões, deixando algumas vezes a equipe a deriva, mas bastava o retorno para que tudo seguisse bem. É com certeza, depois de São Marcos, o mais emblemático goleiro que defendeu as metas palestrinas.

Adriano Vizoni/FolhaPress

Chegada no clube depois de quatro temporadas no Vasco da Gama

O ano da segunda queda do Palmeiras foi traumatizante para os torcedores, um sentimento duplo de raiva e felicidade marcaram o ano de 2012. A felicidade pela conquista da Copa do Brasil, titulo que tirou o time do jejum de conquistas nacionais - algo que não acontecia desde 1998. Até aquele momento, a situação no Campeonato Brasileiro não era fácil, o clube estava na zona de rebaixamento e ali permaneceu até a ultima rodada. No meio do caminho Felipão foi demitido, o treinador em sua segunda passagem pelo Palestra Itália deu o ultimo título, mas acumulou jogos estressantes e o descontentamento da torcida. Ao final daquele ano, os palestrinos estavam com a tristeza de, novamente, ter que jogar a Segunda Divisão nacional.

Como de costume, após momentos turbulentos, o pensamento de reformulação começa a tomar força. Jogadores são dispensados, vilões são apontados. Todos são responsáveis pela situação. Também como é regra, o novo treinador começou a reconstrução do clube pela meta. No caso especifico do Palmeiras, o time teria que repetir o feito de 18 anos antes sem contratar um goleiro, era escolher um goleiro que não seria da famosa Academia, ou treinado pelo lendário Carlos Pracidelli e com a missão árdua de proteger a meta onde foi o santuário de São Marcos, o padroeiro do Palestra. O final de 2012 trouxe o nome de Fernando Prass, que saíra do Vasco da Gama depois de quatro temporadas como principal nome do elenco cruzmaltino.

O treinador na ocasião era Gilson Kleina, o nome de Prass era o segundo reforço do time para o ano de 2013. Dos reforços, o menos contestado. O goleiro chegou ao time com 34 anos, tendo a experiência de jogar a Série B em 2009, levantou titulo da Copa do Brasil em 2011, ambos pelo Vasco. As atuações seguras, caráter profissional e outras congratulações justificaram a compra do goleiro. Passaria pelas mãos dele a caminhada do Palmeiras para o retorno a elite. Em sua apresentação no clube, Prass comentou: "Sei dessa tradição do Palmeiras, já li muita coisa a respeito. Até pelas referências de goleiros que foram formados aqui. Não é nada anormal contratar um goleiro, apesar da escola. Venho para trabalhar e para somar com a qualidade de quem está aqui. Vou aprender com eles, e eles comigo. É uma troca. Venho de fora, uma outra escola, quem sabe não possa acrescentar alguma coisa aqui para formar outros goleiros?"

A moral do novo arqueiro foi aumentando, passados um mês de sua apresentação, ele já cobrava reforços e a medida que 2013 seguia, Prass se tornou uma referência para torcida. A confiança começou a ser estabelecida, a herança deixada pelas atuações de Bruno e Deola foram esquecidas, era a segurança que fazia o torcedor cobrar boas atuações do resto do time. Após um jogo pela Libertadores, Fernando Prass foi atingido por uma xícara, após uma derrota na Argentina para o Tigre, a torcida recepcionou o time no aeroporto com protestos. Mas, ele estava disposto a encarar toda a cobrança direcionada as atuações do clube: "O apoio da torcida faz muito a diferença. Na hora de uma lesão, você acaba passando por cima de tudo só para ver o apoio deles. É claro que vivemos momentos complicados, mas isso foi superado" falou na época.

Quando o goleiro precisou ser substituído, foi possível comparar a desigualdade dos arqueiros disponíveis. Emblemáticas falhas, como a Bruno contra o Tijuana, pelas oitavas de final da Libertadores, que gerou a desclassificação do clube. Momentos difíceis fizeram parte do primeiro ano do goleiro. Uma luxação na clavícula tirou o goleiro dos jogos decisivos fez a torcida entender que ele era uma das peças importantes para o sucesso do clube naquele ano. Prass ficou afastado por dois meses e as arquibancadas o queriam de volta, obrigando o treinador Kleina intervir por confiança ao reserva Bruno. Em seu primeiro ano, Fernando Prass jogou 55 partidas, participou do Campeonato Paulista, Libertadores e Campeonato Brasileiro Série B.

Fernando Prass começa atingir o auge no clube

Com o prosseguimento da Segunda Divisão, as atuações de Prass renderam um comentário sagrado. "É um grande goleiro. Já o acompanhava desde os tempos de Coritiba (de 2002 a 2005). É centrado, tranquilo e pega muito. Foi ocupando seu espaço dentro do clube e já virou ídolo. Não que os outros goleiros não tivessem capacidade, mas o Palmeiras precisava de alguém experiente depois que caiu e ele se encaixou muito bem no time. Até pela idade que tem, e pela forma como foi recebido aqui, acredito que ele deva permanecer até se aposentar" falou Marcos.

O Campeonato Paulista de 2014 confirmou o que os mais otimistas palmeirenses sabiam, o melhor goleiro da competição foi Fernando Prass. A campanha do time que parou nas semis, contra o Ituano após um jogo difícil em que Prass teve que ser substuído no decorrer da partida. Os bons resultados do time naquela competição eram, em parte, pelas boas atuações do arqueiro, como na partida frente ao XV de Piracicaba. "Ano passado também fiz uma grande partida aqui. Acredito no trabalho. É isso o que dá fruto. A sorte acompanha quem trabalha. A gente brinca que treina a sorte, então estamos treinando muito. Foi o jogo mais difícil do campeonato. Foram três ou quatro defesas complicadas" falou.

Gilson Kleina elogiava a fase, destacava a regularidade do goleiro que vivia o auge de suas habilidades, logo em sua temporada pelo Palmeiras. A torcida participava de enquetes populares e nome de Prass era tido como unanimidade e em meados de abril a imprensa cogitava até vaga na Seleção Brasileira. "Se estão me perguntando, é sinal de que estou conseguindo me manter em alto nível. Espero que venham coisas melhores pela frente, mas sem dúvida nenhuma posso comparar esse semestre aos melhores da minha carreira" explicou.

Contudo, começaria o Brasileirão e seria ali que as principais defesas seriam feitas. Contra o Criciúma, jogada de contra ataque pela direita e o atacante estava dentro da área para finalizar cruzado, Prass com joelho impediu o gol. A mira dos atacantes naquele jogo estava impecável, mas nada passou. Em mais um lance de perigo, o atacante conseguiu girar em cima do zagueiro do Palmeiras e chutou forte, no reflexo Prass põe pra escanteio. O time estreava com vitória.

A situação do Palmeiras no inicio da competição não inspirava confiança, o time era irregular e único jogador poupado das criticas era o goleiro. Porém, a partida contra o Fluminense, no Pacaembu foi um jogo que Conca jogava com liberdade para armar jogadas, as defesas do goleiro palmeirense foram essenciais. A derrota pelo placar minimo saiu barato. Na terceira rodada, o time iria até o Maracanã enfrentar o Flamengo e sofreria com a pior perda para aquele momento. Depois de uma grande defesa feita após um chute de Alecsandro, Fernando Prass cai no gramado com fortes dores no cotovelo, tendo que ser atendido as pressas. O goleiro foi encaminhado a um hospital e foi constatado fratura. A partir daquela data, eram cinco meses parado que daria inicio pior fase do time no ano.

O retorno a meta do time possibilitou uma esperança para a torcida. O ano do centenário estava prestes a ser marcado pelo terceiro rebaixamento da equipe. Com a contusão do goleiro, três nomes passaram pelas traves do Verdão. Fabio começou bem, mas com atuações irregulares e falhas foi substituído por Bruno, que não foi bem, logo veio Deola e ele estava em campo na pior derrota na competição, os 6 a 0 para o Goiás. O Palmeiras era o lanterna da competição e o descenso era iminente. Entretanto, já no segundo turno, Prass retornou a meta e o impacto de seu retorno trouxeram resultados importantes para o time conseguir a arrancada para permanecer na primeira divisão. Com a volta do capitão e goleiro titular, as vitórias contra Grêmio, Botafogo e Bahia deram folego a equipe.

No clássico contra o Corinthians, válido pelo segundo turno, a partida era disputada. Romarinho consegue a bola dentro da área e chuta, a queima roupa contra o goleiro do Palmeiras. Com uma troca de passes bem executada, Guerreiro recebe em profundidade, Prass sai do gol para fechar o angulo e consegue a defesa. A torcida vibrava como um gol. Eram momentos como aqueles que a torcida esperava durante aquela assustadora campanha no nacional.

No final daquele ano o alivio pela permanência na primeira divisão, trouxe novamente o sentimento de reformulação compartilhado por Prass que comentou, a respeito das mudanças que o time precisava fazer para o ano de 2015, quando participou do Arena Sportv: "Realmente, é algo difícil encontrar um perfil para a equipe, porque isso muda de treinador para treinador. Cada técnico que chega muda de jogadores, porque acha que determinados atletas se encaixam melhor com sua forma de jogar. Depois o clube dispensa esse treinador e chega outro, com outra filosofia. Aí os jogadores não conseguem entender essa outra filosofia. Eu falei da parte física, mas muitas vezes o mental é mais difícil. O psicológico trava e a perna pesa. O jogador treina, mas não consegue desenvolver em campo por causa da parte mental"

Trajetória na carreira

Em toda sua carreira, Fernando Prass buscou trabalhar para merecer uma vaga no elenco principal dos times por onde passou. Começando pelo Grêmio em 1998, onde saiu da base para elenco principal. Na época, o goleiro titular era Danrlei, ídolo do clube. Prass, então buscou suas chances no Vila Nova, time de Tulio Maravilha, para disputar o Campeonato Goiano em 2001. Pelo novo clube, conseguiu o destaque no estadual sendo o goleiro menos vazado e alcançando o titulo em cima do Goiás.

No Vila Nova, ele estava emprestado e o seu desempenho chamou atenção do Coritiba. Em 2002, Prass se transferia para o futebol paranaense em definitivo onde ficaria até 2005. No Coxa, o goleiro vestiu a camisa 211 vezes e foi bi campeão estadual em 2003 e 04. Mais uma vez conseguiu o recorde de goleiro menos vazado por três temporadas consecutivas e chamou atenção da União de Leiria de Portugal. Seria a saída do goleiro para o futebol europeu.

Entre 2005 e 2008, Prass esteve presente em 81 jogos pelo time de Leiria e na temporada 06/07 foi eleito o melhor goleiro da temporada portuguesa, pelo site "A Bola". O time fez uma campanha boa, terminando em sétimo na Liga Nacional.

De volta ao Brasil, Prass foi contratado pelo Vasco da Gama em 2009, no time que iria subir de divisão. Aos poucos o goleiro recém chegado foi se transformando em ídolo do time. Para os torcedores do Vasco, Fernando Prass é um dos melhores goleiros que passaram por São Januário, depois de Carlos Germano. No Cruzmaltino, ele ficou por quatro temporadas até rescindir o contrato e ser nomeado pelo Palmeiras.

Reprodução/Arquivo Pessoal

Projeção para 2015

Muita coisa mudou do ultimo Campeonato Brasileiro, a principal contratação do Palmeiras foi na parte administrativa. Nomes como Omar Feitosa, José Carlos Brunoro e outros foram saindo, veio Alexandre Mattos. A administração resolveu reformular com seriedade e trouxe 20 reforços para todas as posições, inclusive um goleiro reserva. Para o comando do time, Oswaldo de Oliveira. "Eram necessárias as contratações pelo desempenho ruim de 2014, porque saíram muitos jogadores. No ano passado tivemos muitos problemas com contusões e o time sentiu. Agora precisamos de quantidade e qualidade para estar preparado" - analisou o goleiro.

Ficha Técnica

Nome: Fernando Buttenbender Prass

Nascimento: 9 de Julho de 1978

Nacionalidade: Brasileiro

Altura: 1,91m

Clubes por onde passou: Grêmio (1998-2001), Vila Nova (2001), Coritiba (2002-2005), União de Leiria (2006-2008) e Vasco da Gama (2009-2012)

Títulos: Campeão Gaucho (1998), Campeão Goiano (2001), Campeão Paranaense (2003-2004), Campeonato Brasileiro Segunda Divisão (2009), Copa do Brasil (2011).