Foi num dia como este, há 20 anos, que o torcedor cruzeirense viveu, talvez, suas mais longas e fortes emoções em todos os 96 anos de história do Cruzeiro Esporte Clube. A Copa Libertadores da América de 1997 começou desacreditada, mas virou realidade após a reação de um time experiente e com bons jogadores. O resultado: os celestes comemoraram o bicampeonato após a vitória por 1 a 0 sobre o Sporting Cristal-PER, depois de empatar sem gols em Lima, capital peruana.

Ao todo foram 14 jogos, com sete vitórias, seis derrotas e um empate. Quatorze gols marcados e 12 sofridos; 27 jogadores inscritos, sendo 22 utilizados durante o torneio, e o artilheiro do time, Marcelo Ramos, com quatro gols.

A VAVEL Brasil quer prestar uma homenagem aos torcedores do Cruzeiro, não apenas aqueles que foram ao Mineirão no dia 13 de agosto de 1997, mas, também, aos que acompanharam pela televisão, pelo rádio, ou não quiseram acompanhar devido ao nervosismo, e também aos futuros cruzeirenses, que nasceram após aquela conquista e mantiveram a paixão pelo clube durante todos estes anos. Acompanhe conosco!

Jogadores postados antes da decisão contra o Sporting Cristal (Foto: Osmar Ladeia/Especial à VAVEL Brasil)

Mudanças na comissão técnica e no elenco: Cruzeiro reformulado para a Libertadores

No final de 1996, o Cruzeiro deixou escapar uma grande chance de ser campeão brasileiro ao ser eliminado pela Portuguesa de Desportos. O time celeste havia terminado a fase de classificação do Brasileirão em primeiro lugar e, mesmo assim, o título nacional ficou pelo caminho. A maioria dos jogadores ficou para 1997. Alguns reforços chegaram, mas a comissão técnica foi alterada. Levir Culpi deixou o Cruzeiro para fazer carreira no futebol japonês. Foi para o Cerezo Osaka.

A diretoria cruzeirense montou dois times, um para a Libertadores e outro para jogar o Campeonato Mineiro, o famoso "expressinho", que era comandado por Wantuil Rodrigues.

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Dentro de campo, foram contratados o goleiro Jean, ex-Bahia, o meia Elivélton, ex-São Paulo e Palmeiras, e os atacantes Reinaldo, ex-Atlético-MG, Palmeiras e Verona-ITA, e Alex, ex-América-MG. Deixaram o clube jogadores como o goleiro camaronês William Andem, os meias Luiz Fernando Flores e Uéslei, e os atacantes Paulinho e Edmundo.

Para o lugar do treinador, veio Oscar Bernardi. Sem muita experiência no cargo, a passagem do ex-zagueiro do São Paulo e da Seleção Brasileira durou apenas cinco partidas, com duas vitórias, um empate e duas derrotas. Um dos placares negativos foi na estreia da Libertadores contra o Grêmio, no Mineirão, por 2 a 1. O gol do Cruzeiro foi marcado por Ailton.

Diretoria age rápido e contrata Paulo Autuori

O Cruzeiro precisava de soluções rápidas para não fracassar na Libertadores. O presidente do Cruzeiro, Zezé Perrella contratou Paulo Autuori, que estava no Benfica-POR, e havia sido campeão brasileiro pelo Botafogo em 1995. Em linhas gerais, Autuori não tinha uma missão tão complicada, visto que na primeira fase ainda restavam cinco jogos para a definição do grupo, que ainda tinha Alianza Lima e Sporting Cristal, ambos peruanos.

Sporting Cristal foi adversário na fase de grupos e na decisão (Foto: Osmar Ladeia/Especial à VAVEL Brasil)

No entanto, as derrotas para a dupla peruana deixaram a situação do Cruzeiro complicada. O time celeste conseguiu três vitórias nas partidas que restavam no grupo e conseguiu a classificação para as oitavas de final.

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Com mais de um mês de descanso da Libertadores, que teve seu encerramento na primeira fase no meio de abril e só retornaria na primeira semana de maio, a diretoria celeste foi ao mercado e trouxe dois jogadores que se tornariam de grande importância na campanha. O zagueiro Wilson Gottardo, que trabalhou com o Autuori no Botafogo, e o retorno do atacante Marcelo Ramos, após passagem de um ano pelo futebol holandês.

Ainda durante a primeira fase, os jogadores e a comissão técnica ganharam ficaram quase duas semanas de folga, e aproveitaram a estadia em hotel-fazenda na cidade de Santa Rita do Passa Quatro, interior de São Paulo. Autuori utilizou do momento para conhecer o elenco e recuperar o time dentro e fora de campo.

Após o título, Paulo Autuori recebe o reconhecimento dos jogadores (Foto: Osmar Ladeia/Especial à VAVEL Brasil)

Mata-mata, time copeiro, gigantes em campo e o Cruzeiro chega a decisão da Libertadores

Logo no começo das oitavas de final foi percebida a evolução dos jogadores e do time em campo. Contra o El-Nacional, do Equador, o Cruzeiro perdeu a partida por 1 a 0, porém, decidiria em casa a chance da classificação. No Mineirão, dois gigantes apareceriam forte e seriam decisivos não só naquele momento, como também durante todo o mata-mata até a decisão.

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O primeiro foi Marcelo Ramos, que anotou dois gols e conseguiu reverter a vantagem do adversário. No entanto, nos acréscimos, o time equatoriano diminuiu o placar, levando a disputa para as penalidades. Nas cobranças de pênaltis, apareceu um novo gigante: Dida. O goleiro celeste pegou a quarta cobrança executada por Chalá, ídolo equatoriano. E o Cruzeiro eliminou o El-Nacional nas penalidades por 5 a 3. Veja abaixo.

Nas quartas de final o Cruzeiro teria pela frente o Grêmio. No Mineirão, bela vitória cruzeirense por 2 a 0, e a decisão da vaga seria no Estádio Olímpico. O time gremista, na época, campeão brasileiro, brigava pelo terceiro título da Libertadores, fato que ainda não havia ocorrido entre times brasileiro.

Na segunda partida, o Grêmio fez sua parte. Pressionou, lutou, foi aguerrido, mas, do outro lado tinha o Cruzeiro, que atuou na mesma sintonia. E foi aí que o terceiro gigante celeste apareceu: Fabinho. O volante sentiu uma lesão na etapa final. Mesmo sem condições de jogo, foi para área. Quis o destino que ele recebesse um cruzamento, e ele, livre de marcação, fez o primeiro gol cruzeirense. Sem ter o que perder, os tricolores se atiraram e conseguiram virar a partida, mas o placar de 2 a 1 era insuficiente. O time azul celeste era semifinalista da Libertadores. Veja abaixo.

Na semifinal, o Cruzeiro iria encarar o Colo-Colo-CHI. O time celeste fez a parte dele, com gol anotado por Marcelo Ramos. No entanto, poderia ter feito mais. No segundo tempo, o atacante Alex perdeu duas grandes chances de aumentar a vantagem para a partida decisiva.

No segundo jogo, a pressão foi grande dentro e fora de campo. O Cruzeiro chegou a estar perdendo por 3 a 1, placar que eliminava os celestes. Porém, surgiu o quarto gigante do time: Cleison. O atacante estava no lugar certo e na hora mais exata. Após a falta cobrada por Marcelo, o goleiro deu rebote, e o camisa 9 estava na área para completar e levar o jogo para as penalidades máximas.

Nos pênaltis, novamente brilhou a estrela do gigante Dida. Pegou duas batidas do time chileno. Por sua vez, o Cruzeiro converteu três cobranças e garantiu o passaporte para a grande final da Libertadores contra o Sporting Cristal-PER. Após o jogo, os chilenos, inconformados com a eliminação, partiram a briga que saiu do campo para a descida do vestiário celeste. No final, comemoração celeste em terras chilenas. Veja abaixo.

Suspensões, empate na ida, vitória com gol de pé direito de um jogador que é canhoto, e despedidas: Cruzeiro campeão da Libertadores

Poucos imaginavam que o Cruzeiro chegaria a final da Copa Libertadores da América. Após campanha irregular na primeira fase, a classificação para o mata-mata parecia lucro. Mas, eliminando cada adversário e mostrando superação, descobriu-se que o time celeste era maior do que se pensava.

Na grande decisão, os capitães tiram na moeda junto com o árbitro Javier Castrilli (Foto: Osmar Ladeia/Especial à VAVEL Brasil)

No primeiro jogo, em Lima, no Peru, o Cruzeiro chegava ao jogo com desfalque de Elivélton, expulso contra o Colo-Colo, no Chile. Com a suspensão, o meia ficou em Belo Horizonte disputando a fase de classificação da Copa Centenário com a equipe chamada de "expressinho". Sem o camisa 20, o time celeste perdeu muito pelo lado esquerdo do campo. Mesmo assim, conseguiu segurar os peruanos do Sporting Cristal, e trouxeram o empate sem gols para Belo Horizonte.

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No segundo jogo, a movimentação entorno do Mineirão ocorria desde as primeiras horas do dia. Tanta ansiedade pelo início da partida, fez com os ingressos fossem vendidos por atacado, resultado no público de mais de 95 mil pagantes, superando a marca de 106 mil presentes.

Torcida do Cruzeiro deu um show à parte no Mineirão (Foto: Osmar Ladeia/Especial à VAVEL Brasil)

Em campo, Paulo Autuori ganhava a volta de Elivélton, mas perdia Cleison. O camisa 9 foi expulso em Lima, e desfalcaria o Cruzeiro. Durante o jogo, o torcedor cruzeirense sofria com as chances claras de gol que foram desperdiçadas. Mal sabia que os celestes que passariam por algo ainda pior.

No segundo tempo, Dida fez duas defesas monumentais. A primeira após cobrança de falta de Solano, que o camisa 1 deu rebote. Em seguida, o brasileiro Julinho, a queima-roupa, chutou, e Dida defendeu com os pés. As intervenções foram tão importantes, que o narrador Galvão Bueno, da Rede Globo, disse, durante a transmissão, que "se o Cruzeiro for campeão, metade do título tem nome: Dida".

Elivélton, canhoto, marcou o gol do título com a perna direita (Foto: Osmar Ladeia/Especial à VAVEL Brasil)

Minutos depois, veio o alívio. Após cobrança de escanteio por Nonato, a zaga peruana cortou. A sobra foi de Elivélton que, com a perna direita, bateu forte o suficiente para tirar a bola do goleiro Balério, que não conseguiu segura-la. O detalhe é que Elivélton é canhoto e o gol foi marcado aos 30 minutos do segundo tempo, exatamente às 23h26.

Às 23h45 do dia 13 de agosto de 1997, o árbitro argentino Javier Castrilli apitou o fim da partida, e o Cruzeiro sagrou-se bicampeão da Copa Libertadores da América 21 anos após sua primeira conquista, contra todos os prognósticos, críticas e adversidades.

Expectativa dos reservas Jean e Marcos Teixeira, e do presidente do clube, Zezé Perrella, pelo fim do jogo (Foto: Osmar Ladeia/Especial à VAVEL Brasil)

A festa seguiu pela madrugada de Belo Horizonte, e perdurou durante toda a semana. Mesmo com o título, o técnico Paulo Autuori deixou o Cruzeiro para comandar o Flamengo, na vaga de Sebastião Rocha. Outro que se despediu do clube foi o meia Palhinha. Pouco mais de um mês antes da conquista da Libertadores, ele foi vendido ao Mallorca-ESP, por R$1,5 milhão de reais.

Festa dos jogadores no recebimento das medalhas de campeão da Libertadores (Foto: Osmar Ladeia/Especial à VAVEL Brasil)

Histórias que vieram a público, outras que ficaram nos bastidores, e muita determinação. Foi esta a cara do Cruzeiro, campeão da Libertadores de 1997.

Foto: Osmar Ladeia/Especial à VAVEL Brasil
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