A notícia chega a surpreender, mas a Sociedade Esportiva Palmeiras vestiu a camisa amarelinha para representar a Seleção Brasileira em amistoso comemorativo para a inauguração do estádio Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão.

"Foi uma festa quando soubemos que íamos jogar com a camisa amarela do Brasil, mas nunca imaginei que seria tão importante assim, que seria lembrado até hoje”, disse Ademir da Guia.

O amistoso foi marcado as pressas, e não daria tempo de se elaborar uma seleção, tão em cima da hora. O histórico Santos, de Pelé, era o clube que mantinha a maior quantidade de jogadores convocados com frequência, junto ao Botafogo de Garrincha. Porém, o time da baixada estava em excursão no exterior, assim a , até então CBD - Confederação Brasileira de Desportos (hoje, a CBF – Confederação Brasileira de Futebol) decidiu convidar o Palmeiras, a equipe que mais rivalizava contra o time do Rei do futebol e atual campeão Rio São Paulo, na época, o maior campeonato a nível nacional. E não foi apenas a convocação de jogadores, e sim todo o seu departamento de futebol, jogadores, comissão técnica, massagista, entre outros.

"Defender a Seleção é uma honra, mas defender a Seleção com seu time do coração... é uma emoção que não se esquece jamais", recorda Valdir.

O jogo seria contra tradicional Seleção do Uruguai, responsável pelo trágico “Maracanaço”. Os celestes vinham da classificação para a Copa do Mundo de 1966 de forma invicta e contavam com jogadores do Peñarol, campeões da Libertadores em 1960, 1961 e 1966, e do Nacional, vice-campeão da Libertadores em 1964 e 1967. Destaques para Manicera (que depois veio a jogar no Flamengo), Cincunegui (ídolo do Atlético-MG no fim da década de 60), Varela, González e Esparrago.

"O Uruguai era muito bom. Tinha o Hector Silva, que depois jogaria conosco em 1970. Mas o nosso time era muito entrosado e tinha muita técnica. Era difícil ganhar da gente”, comentou o Divino para  Uol Esporte.

As escalações estavam confirmadas. O Palmeiras... Ou melhor, a Seleção Brasileira vinha com: Valdir (que depois ajudou a formar grandes goleiros, como Zetti e Marcos), Djalma Santos (titular da seleção nas Copas de 1954 e 1958), Djalma Dias (zagueiro clássico, pai de Djalminha), Ferrari , Dudu (o verdadeiro “pitbull” daquele meio de campo), Ademir da Guia ( (na época, apenas um garoto de 23), Julinho Botelho(um dos maiores ídolo da história da Fiorentina), Tupãzinho e Rinaldo.                 

"Era um 4-2-4 típico. No meio campo, era o Dudu, que marcava muito, e eu, que ajudava um pouco quando o adversário estava atacando” lembra Ademir

O técnico era Filpo Nuñez, e por incrível que pareça, era argentino e se tornou o único treinador estrangeiro de toda a história da seleção, até o momento.

"Ele só ficou bravo porque na foto oficial do jogo, feita com os jogadores em fila, ele ficou por último e quase não aparece", relembrou Valdir, em entrevista ao Globoesporte.com.

Os bicampeões mundiais vinham postados com: Taibo; Cincunegui, Manciera e Caetano; Nuñes e Varela; Franco, Silva, Salva, Dorksas e Espárrago. O responsável pelo controle do confronto foi o brasileiro Eunápio de Queiroz. Se esperava um bom público para a inauguração do estádio, e aconteceu, cerca de 80 mil pagantes, renda de mais de 49 milhões de cruzeiros (moeda brasileira da época).


Palmeiras abre 2 a 0 no primeiro tempo

Teve início o amistoso, até então, equilibrado, mas aos 27 minutos, teve seu placar inaugurado. Depois do toque na Cincunegui dentro da área, o árbitro marcou a infração, muito contestada pelos Uruguaios. Rinaldo, que não tinha nada a ver com isso, e jogou a bola no fundo da rede, 1 a 0 para o Brasil-Palmeiras. O segundo tento também teve polêmica, aos 35 minutos, Rinaldo, autor do gol, cruzou para a área, Tupãzinho se desiquilibra e cai tocando a mão na bola, se levanta e finaliza abrindo 2 a 0. Os protestaram novamente, mais uma vez, sem sucesso.   

Palmeiras-Brasil guarda mais um na etapa final

Após o intervalo, Filpo Nuñez promoveu algumas alterações, saíram Valdir de Moraes, Valdemar, Dudu, Julinho, Tupãnzinho e Rinaldo. Entraram Picasso, Procópio, Zequinha, Germano, Ademar Pantera e Dario, respectivamente. O jogo perdeu o ritmo elevado da etapa inicial, mas teve um grande domínio do time canarinho/palestrino. Não foi à toa que Germano conseguiu deixar sua marca neste jogo histórico, aos 29 minutos, com um “chutaço” de fora da área, decretando o placar do jogo dos sonhos palmeirense.                                                                          

Do Brasil a fora, em todas as manchetes se via a superioridade do time brasileiro no confronto. No final da partida, o zagueiro Manicera e o jornalista Juarez Soares, elogiaram o time e deram um conselho para quando chegarmos a Inglaterra, na Copa de 1966: “Se vocês brasileiros quiseram ganhar a Copa na Inglaterra, é só colocar esse time aí. Ninguém vai aguentá-los. Ah, e reforça com o Pelé, claro. Mas não tira nunca esse Ademir do time”.

"Algo mágico, imensurável na época e nos dias atuais. Foi o dia em que um clube de futebol representou toda uma nação. Não sei se vai existir uma homenagem desse tipo algum dia. É algo que até hoje sou lembrado. E que o Palmeiras vai carregar para o resto de sua vida", lembrou Valdir Joaquim de Moraes.

Foi um jogo inacreditável, representar o país e ter uma grande vitória expressiva. Mas o Palmeiras não pode expor esse dia emocionante com a exposição da taça ganha naquele dia, já que a mesma ficou sobre cuidados da CBD (Confederação Brasileira de Desportos). Até que, depois de 23 anos, em 1988 foi entendido que o Verdão merecia a posse de sua conquista e a entregou para que possa ser mantida em sua sala de troféus.