"Essa é tua torcida, é a tua gente, que te apoia sempre não importa como estás. Pra vencer, tens que ser mais copeiro. Pra te ver: campeão do mundo inteiro. E dá-lhe, Tricolor, sou quem não te abandonou"

Bonitas linhas tracejadas pelas gargantas de quem esteve e está com o Grêmio. Aos gremistas do céu que cantam comigo. Um campeonato somente te peço. Mas não é qualquer campeonato que paira em oportunidade. É o Mundial de Clubes. A conquista máxima em vigor na existência. O equivalente ao título de 1983, entre o campeão da Libertadores da América e o campeão do continente europeu. Reparem na beleza do nome da competição sul-americana: Taça Libertadores da América. A libertação continental contra o domínio europeu.

Se fazia mais sentido no histórico de independência dos países latino-americanos, contra Portugal e Espanha, agora, dentro de campo, faz um grande sentido. O grande sentido de se libertar das amarras financeiras tão mais fortes do lado europeu. Os países lá são mais ricos economicanete, todos sabem. O futebol deles capta os recursos sul-americanos. A seleção brasileira praticamente reside e atua lá: Neymar, Philippe Coutinho, Firmino, Willian, Paulinho... os adversários da final, Marcelo e Casemiro. Brasileiros que jogam do lado espanhol. Na constituição e constelação do Real Madrid, uma seleção mundial.

O Grêmio representa a América do Sul. Quis acreditar em milagres para LDU, San Lorenzo, River Plate e Atlético Nacional recentemente. Outros deram certo, como foi o caso do Corinthians sobre o endinheirado Chelsea em 2012. Torcia mais timidamente, nada comparado ao momento de agora. O Grêmio como representante da América do Sul, o Grêmio de sua gente, de sua região, do pampa que tanto talento, ousadia, determinação e coragem unge e ruge na história do futebol. Dos portos uruguaios aos times de bairros argentinos, do Grêmio hoje tricampeão da Copa Libertadores da América.

O Grêmio que viveu o seu fundo de poço. O Grêmio rebaixado em 2004. O Grêmio que iniciou 2005 com o quadro social em 6 mil pessoas. 12 anos depois e são mais de 136 mil inscritos. Quantas histórias foram presenciadas neste meio tempo. A Batalha dos Aflitos. O pênalti derradeiro que Galatto defendeu, quando o Tricolor gaúcho contava com somente sete guerreiros em campo após o crime praticado pelo árbitro (que até foi preso anos depois). O gol de Anderson para o Grêmio voltar campeão daquela Série B que dava apenas duas vagas e foi decidida no mais longo segundo tempo possível. Inacreditável.

O Grêmio que tocou o céu em 2007. Um bravo grupo. Um grupo bravo. Eliminou São Paulo, Defensor do Uruguai e o Santos para chegar à final diante do mais poderoso Boca Juniors. O Olímpico se encheu em festa e devoção, em crença e obsessão. Não foi daquela vez. A Taça Libertadores da América teimaria em manter-se afastada. E qualquer outra taça assim se mantinha. Anos perpetuados em jejum que logo alcançou 10 anos, em meio a chacotas que partiam do principal rival e logo ganharam o país. E o Grêmio nada ganhava. E perdia prestígio e perdia esperança e acumulava trocas de treinadores e elencos, treinadores e elencos.

O Olímpico deu lugar para Arena. Arena contestada. Arena sem alma, Arena fria, Arena que persistia em derrotas em decisões importantes, como eram os últimos anos do Olímpico Monumental em uso. O jejum que era de 10 anos passou a 15. As piadas tornaram-se imperdoáveis, mas quem dançou por último foi o Grêmio. Ao meio de um ano, ao fim de um projeto, Roger não deu conta do grupo e dos resultados e veio Renato. Renato do longínquo 1983 presente na letra da incrível Anoiteceu em Porto Alegre, da banda Engenheiros do Hawaii.

Renato que captou tudo o que o grupo precisava, de renovação de esperança, de trocas pontuais e da sorte de nenhum guerreiro lesionado naquela hora. O Grêmio voltou ao topo da Copa do Brasil. A Copa que é do Grêmio desde sua origem em 1989 e, de lá para cá, ninguém tomou a liderança em conquistas tricolores. O Grêmio voltou para tentar a América mais uma vez. Eram sucessivas derrotas, sempre, sempre, sempre nas oitavas de final.

Mas Pedro Rocha, que resolveu a final da Copa do Brasil, resolveu aquelas oitavas de final de Libertadores. E Barrios resolveu nas quartas. E Grohe e Luan e Edilson resolveram na semifinal. E os não cotados a resolver, Jael e Cícero na ida da final. O contestado Fernandinho e novamente Luan na volta em Lanús. Arthur, o melhor da final, Luan o melhor da Copa, Geromel o melhor zagueiro e capitão da conquista. Renato, o verdadeiro chefe de um grupo. De um verdadeiro grupo.

Marcelo Grohe, o mais identificado com este texto. O gaúcho e gremista, o goleiro que chegou no Grêmio guri e foi se tornando um homem, responsável e amante do Tricolor. E após tantos tropeços, desde aquele janeiro de 2005 com 6 mil sócios até o dezembro de 2017 com 136 mil sócios. Marcelo Grohe reserva do Galatto nos Aflitos, reserva do Saja na Bombonera. Marcelo Grohe do Olímpico, de milagres na Arena, de milagre no Equador. Marcelo Grohe de tantas eliminações, eliminações, eliminações e glórias e glórias... agora glórias. Santuário. Redenção. Resiliência. As palavras do Tricolor, as palavras da salvação, dos Aflitos a Abu Dhabi, repitam: jamais nos matarão.

Obrigado, Romildo Bolzan.

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Sobre o autor
Henrique König
Escritor, interessado em Jornalismo e nas mudanças sociais que dele partem; poeta de gaveta.