Vários são os exemplos de jogadores que passaram pelo Cruzeiro e iniciaram sua trajetória com desempenhos ruins – sobretudo os volantes. Para não afundar muito na história celeste, basta se recordar de Marquinhos Paraná e Henrique: foram de desconfiados à identificados com o clube. O caso de Marquinhos Paraná é mais simbólico. Em 2008, quando chegou na equipe, foi vaiado nas primeiras partidas, mas, bancado por Adilson Batista, conquistou aos poucos a confiança dos cruzeirenses e se tornou peça fundamental entre os titulares, ficando no clube por quatro anos e disputando 226 jogos.

Não cabe aqui estabelecer um comparativo técnico entre Filipe Machado e os citados. No entanto, as primeiras impressões negativas direcionadas ao primeiro volante - que é novidade da Raposa para 2020 – podem gerar por consequência uma surpresa futura, assim como nos exemplos anteriores, por dois motivos: Machado tende a ter várias chances com Enderson e, sim, o volante tem potencial.

No plantel, hoje, Filipe Machado é o único, entre aqueles que devem sair na frente pela titularidade, fiel à posição de primeiro homem de meio-campo. Isso porque Ariel Cabral, Jadsom e Jean não são vistos propriamente como ‘cão de guarda’ – apesar de Jean exercer a função. É diante dessa realidade que o ex-jogador do Grêmio pode ganhar oportunidades, se for da vontade de Enderson Moreira em ter um especialista na função junto ao companheiro que sai mais para o jogo; outro fator que contribui na ideia de que o técnico irá utiliza-lo, é que ele tem 24 anos, idade dentro da faixa etária simpatizada pelo comandante, que declarou preferência em jogadores de 22 a 30 anos.

A possível sequência será crucial para que Filipe Machado mostre mais de suas virtudes. Virtudes estas previamente ilustradas em ‘spoiler’ nas partidas em que atuou. Antes de cita-las, vale lembrar que o volante ficou muito marcado por seu erro infantil na estreia - partida contra o Tupynambás - em dado momento onde a análise dos torcedores sob os jogadores carregava-se de desconfiança, devido ao cenário de crise e limites financeiros na montagem do elenco.

Por que Filipe Machado pode surpreender?

Na mesma partida em que falhou, quando o Cruzeiro venceu por 4 a 2 o Tupynambás, Machado liderou fundamentos de posse de bola (10,9%) e passes certos (91), segundo o Footstats. Os dados chamam a atenção porque o volante, de 24 anos, estava estreando com a camisa celeste e foi responsável direto pelo segundo gol do adversário, aos 15 minutos do primeiro tempo. O cenário era o ideal para que o estreante - que não é veterano – fosse tomado pelo nervosismo e falta de confiança no decorrer do confronto. Que nada! Além de ter sido o atleta que mais acertou passes no duelo e mais ficou com a bola, ousou em finalizar por quatro vezes de fora da área, o que reflete sua personalidade e facilidade em lidar com momentos difíceis.

Nas quatro partidas que atuou pelo Cruzeiro no Campeonato Mineiro, foi o 5° que mais finalizou ao gol (8), chutes estes caracterizados por média altura no canto. Além disso, também foi o 5° que mais deu assistências para finalização no torneio. Muito se deve por bolas paradas que cobrava.

A reunião de virtudes que envolvem personalidade, passes acertados, boas finalizações e bola parada sinalizam um volante versátil e promissor, com perspectiva de evolução diante de uma realidade de sequência permitida por Enderson. A principal qualidade exigida por essa posição – a marcação – ainda é mistério, e, sem essa virtude, difícil que o consolide. Mas, o fato é que Filipe Machado é novo, e isso torna seu desenvolvimento ainda mais possível, ao ponto de modificar as impressões do torcedor celeste.