Pensemos.... Quais seriam os motivos a levar o torcedor de uma equipe de menor expressão a desprezar fiéis de um time com histórico de títulos?  Ainda que este artigo traga como tônica o cruzeirense, certamente, a carapuça serviria aos demais seguidores dos outros 11 clubes considerados grandes do país.

Uma linha de raciocínio equivocada ficou clichê em alguns torcedores do Cruzeiro, que permaneceram militantes ao ceticismo do que se tornou a instituição de 9 milhões de amantes. Recordava eu do trágico ano de 2019, em que se negavam a acreditar que era possível o rebaixamento, se apoiando na seguinte narrativa: “O Cruzeiro não cai, tem time mais horroroso”.

O negacionismo é uma forma de encarar a realidade indesejada, na qual ficou explícita no cenário de pior crise sanitária já vivida: cansados estamos de presenciar opiniões que menosprezam a gravidade do coronavírus; alguns - até mais radicais - questionam sua existência; outros carimbam que tudo não se passa de uma farsa.

Por mais esquizofrênica que possa parecer a comparação - e guardada as suas devidas proporções e contextos -, perceba que a política e o futebol interferem negativamente na racionalidade do ser humano, tais quais se opõem diretamente à concepção tecnocrata de enxergar o mundo - esta não tão saudável em seu estado mais puro.

Parte considerável da torcida do Cruzeiro, no ano passado, decidiu colocar para escanteio a realidade escancarada de sua equipe - sob o cenário que flertava mais com o rebaixamento do que com a permanência.  Até as últimas cinco rodadas, muitos eram aqueles adeptos à tese de que “havia time pior” e, portanto, não visitaria a segunda divisão.

O negacionismo velado é sintomático em torcedor de time grande, que, mal-acostumado com o passado de títulos e a expressão de grandeza adquirida, nega inconscientemente o fato de sua equipe estar numa realidade distinta.

Tratava-se da pior crise financeira, política e futebolística de todos os tempos, quatro treinadores em um só ano e conflitos hierárquicos. Ainda assim, “o Cruzeiro não cai, tem time mais horroroso”. Pois bem, a realidade travestida de pesadelo foi escancarada e o Cruzeiro sofreu seu rebaixamento inédito.

Eram necessárias mudanças, não somente na Raposa mas também no aspecto comportamental do cruzeirense. O atual momento na Série B pareceu acontecer para testar se o torcedor aprendeu com o erro. O negacionismo velado, é verdade, se reduziu drasticamente, e desconstruiu a soberba celeste predominante que não acreditava assisti-lo ausentado da condição de favorito em um confronto com um adversário menos expressivo. 

Acredite, há aqueles que menosprezaram o Brasil de Pelotas – mesmo torcendo para o Cruzeiro de 2020.  “Se o Cruzeiro jogar o que sabe, sobe, a Série B tem muito time horroroso”, sustentou um fanático cruzeirense amigo meu.

Despistar a fragilidade do Cruzeiro alegando que basta vontade e um bom treinador para subir, é desvalorizar adversários que estão encaixados, que possuem bons jogadores e exercem um trabalho sério.

Não reafirme que o campeonato disputado pelo Cruzeiro possui times horrorosos sem colocar a Raposa no pacote. Encare a realidade técnica do seu clube. Ao mesmo tempo que é doloroso, é libertador.