Doping: os vários lados de uma mesma moeda

Para muitas situações, existem vários lados de uma mesma moeda. Para o doping, não é diferente. Existem os motivos por trás do consumo da substância, existe as opiniões médicas, as pessoas envolvidas e o impacto na sociedade pela revelação daqueles que trapacearam. Eles que eram heróis, mas viram vilões. Doping, para os especialistas, significa o uso de substâncias ou métodos que melhoram o desempenho do atleta e são contra as regras de determinada competição. Existem alguns tipos de doping, são eles:

Estimulantes: Reduzem o cansaço e aumentam a adrenalina;
Narcóticos: Diminuem a sensação de dor;
Esteroides anabólicos: aumentam a força muscular;
Diuréticos:  Controle de peso e mascarar doping;
Betabloqueadores: Diminuem a pressão arterial do atleta (Geralmente usados para competições de arco e tiro. Visam manter as mãos do esportista estável);
Hormônios: aumentam o volume a potência dos músculos;
Doping sanguíneo: transfusão de sangue do atleta nele mesmo que aumenta oxigênio nos tecidos.

O QUE LEVA O ATLETA A SE DOPAR?     

Pressão, no dicionário: substantivo feminino; 1. Ação de premer, de comprimir, de apertar. 2. Qualquer força que se exerce sobre algo. Porém, em alguns casos, pode ser a força necessária para tomar um comprimido. Viver numa batalha diária para tornar-se melhor e conseguir melhores resultados, quando existe um caminho mais rápido e, praticamente, sem esforços torna a opção do doping, no mínimo, tentadora. Ainda mais com pressão de empresários, treinadores, amigos, familiares e patrocinadores. Essa é a vida de muitos atletas e alguns dos motivos que eles acham para ingerirem substâncias proibidas.

Victor Vasquez, ex-treinador de goleiros do Sport Clube do Recife, e atual preparador de goleiros da seleção do Emirados Árabes Unidos de Futebol de Areia, diz que a vida de atleta, ao contrário do que muitos pensam, não é saudável. “Lógico que o doping passa a ser tentador pra muitos atletas, e na história muitos que conseguiram grandes êxitos, foi por conta do doping. A vida de atleta não é fácil, a pessoa passa por uma rotina que é desumana. Dizer que atleta leva vida saudável é mentira. São esforços absurdos. Fora isso, tem pressão de patrocinadores, fãs, mídia. E, em alguns momentos, você vai ficar realmente tentado e pode se “prostituir” via substancias ilegais”, afirmou Victor.

Mas existem outros motivos que possam levar os atletas a consumirem esses medicamentos ilegais. Por exemplo, falta de informação. Em alguns casos, os atletas não recebem informações suficientes de seus orientadores. Seja treinadores, médicos ou outros. Em vez de querer chegar ao topo, alguns usam para manter-se lá. É difícil passar cinco, oito ou dez anos de sua vida sendo bem-sucedido em um esporte e, com o passar do tempo, ver suas performances caírem drasticamente. Então, a solução que alguns desses atletas acham é o uso de drogas.

Para Victor Vasquez, outro caso é quando os atletas, ainda jovem consumem essas substancias. “Uma vez feito o uso do doping, o ganho é para a vida toda. Um competição sub-20 onde as não existem controles rigorosos de doping e, em alguns casos, nem existem. O atleta pode se beneficiar do uso dessas substancias”, disse o preparador de goleiros da seleção do Emirados Árabes Unidos de futebol de areia.

Arsène Wenger, treinador do Arsenal, esteve na mídia recentemente para expor seus pontos de vista. Em jogo da Uefa Champions League, um jogador do adversário, Dínamo de Zagreb, Arijam Ademi, foi pego no antidoping no jogo contra os Gunners em que a equipe de Wenger perdeu por 2 a 1. Ele defende que, no caso do futebol, tanto jogador como clube devem ser culpados.  “Existem duas razões para o jogador fazer uso de doping. Primeiro, iniciativa pessoal. Isso significa que ele esconde do clube que ele está usando essas drogas porque ele tem medo de perder o lugar dele. Porque ele quer impressionar. Ele tem uma razão pessoal para melhorar sua performance. Ou é organizado pelo clube para dopar alguns de seus jogadores pois eles não estão preparados, não são bons o suficiente ou tem uma competição importante para jogar”, afirmou o treinador francês, em entrevista ao jornal Mirror.

Wenger, técnico do Arsenal (Foto: Getty Images)
Arsène Wenger, treinador do Arsenal (Foto: David Ramos/Getty Images)

DE HERÓI A VILÃO

A reincidência dos casos de doping no ano das Olimpíadas do Rio de 2016, preocupam as pessoas. Recentemente, no caso de Maria Sharapova, a tenista Russa de 28 anos, foi pega em janeiro no ‘Aberto da Austrália’. A substancia consumida por Sharapova foi Meldonium, droga usada para melhoria do desempenho do coração e atlética. Vale ressaltar: após a divulgação que a tenista foi pega no exame antidoping, as vendas dessa droga aumentaram em 50% na Rússia. Além do caso famoso de Lance Armstrong, outros como o de Anderson Silva e uns mais recentes como o da velocista Ana Claudia Lemos, brasileira, recentemente pega no teste para Oxadrolona(Anabolizante).

O caso de Lance Armstrong foi exemplo que chocou o mundo nos últimos anos. O ciclista passou de herói para vilão em 2013, quando detectado uso de substancias ilegais após anos de sucesso do ciclismo. O atleta foi bem-sucedido no esporte por mais de 10 anos, até no ano de revelação que ele usava de métodos e drogas que iam de encontro com as normas do ciclismo. Esse é um exemplo de que com a evolução da tecnologia e os métodos de testes, os dopings serão revelados com maior frequência. Muitos casos como de Lance aconteceram. Uma hora, o atleta era herói. Porém, quando descobria-se que ele estava sob influência de substancias ilegais, viravam vilões. “No esporte, você sofre quando não ganha. Então, ao menos, você quer saber que seu adversário não trapaceou. Muitos heróis que nós celebramos em outros esportes eram, na verdade, trapaceiros”, afirmou Arsène Wenger.  Victor Vasquez segue na mesma linha do treinador do Arsenal.  “Na história muitos que conseguiram grandes êxitos, foi por conta do doping. E só após as conquistas foram descobertos os casos”, afirmou Victor.

ESCÂNDALO RUSSO DE DOPING

 Na Rússia, além do caso de Sharapova, Aleksandr Markin, jogador de vôlei da seleção russa, também foi pego com a mesma substancia consumida pela tenista.  O que aumenta a crise Russa de doping.  Fora os dois, Mariya Savinova, Ekaterina Poistogova, Anastasiya Bazdyrvera, Kristina Ugarova, Tatjana Myazina foram pegos no exame antidoping.Fora estes nomes, outros 30 atletas russos da legião do atletismo foram suspensos. Arsène Wenger considera preocupante a situação atual da Rússia. “Considerando a Rússia, nós não sabemos a verdade ainda a verdade completa. Então temos que ser um pouco cautelosos. Se foi organizado em uma escala grande, é, claro, inacreditável”, disse o treinador francês. 

EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA: PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS

A evolução da tecnologia está ai. Quem quiser e tiver a capacidade econômica, pode usar de sua gama de possibilidades, que é enorme. Por um lado, isso pode ser usado para o bem. Para o aprimoramento de exames e métodos que melhorem os treinamentos para que os atletas não caiam no delírio e consumam remédios ou drogas ilegais. Por outro as drogas podem evoluir também. Cada esporte tem seu método, porém, para Arsène Wenger, o método de urina, usado no futebol, está ultrapassado.

“Eu quero testes mais profundos. Testes melhores, porque o que testamos [no futebol] é superficial. Não estou satisfeito com o nível dos testes, porque acredito que deveriam ser feitos testes de sangue. Exame pela urina é superficial. Não são profundos o suficiente para dizer se existe ou não doping no futebol” ¸ alegou o treinador francês. “Houveram 740 jogadores na copa do mundo e não teve um caso de doping? Um pouco surpreendente. Espero que seja verdade, mas acho que para ter absoluta certeza sobre isso, os testes deveriam ser mais profundos. Por exemplo, agora se tem três testes após o jogo. Se um dos jogadores estava sob efeito de doping, o resultado do jogo não muda. Para que o resultado mude, é preciso que, ao menos, dois jogadores sejam pegos. Mas quais as chances de pegar em três testes, dois jogadores? Já que são 18 jogadores envolvidos na partida”, declarou Wenger.

HÁ O INTERESSE DAS GRANDES FEDERAÇÕES DE REVELAR CASOS DE DOPING?

Junto com a evolução tecnológica, a quantidade de dinheiro envolvida nos esportes aumentou drasticamente. No caso do futebol, particularmente, são muitos euros envolvidos nas competições de clube. Então, um caso de doping de um jogador famoso e com muitos fãs, afetaria o bolso das pessoas envolvidas? As pessoas perderiam o interesse? Qual seria o tamanho do choque? Pois, já que existem exames mais avançados, porque não faze-los?

Para o treinador do Arsenal, um caso de doping é uma grande história no momento, mas não muda profundamente o esporte. “As consquencias no esporte são mínimas. Não muda o público que vai ao estádio no próximo jogo. Seria muito ruim por um tempo, mas, para mim, o que importa é a justiça”, disse o treinador.

Para Victor Vasquez, o futebol por ser um esporte coletivo, não sofreria muito. “O jogador talvez sofra dependendo do apelo que a mídia aborde sobre a situação, mas o futebol, por ser um esporte que envolve 22 jogadores em uma partida, não sofreria”, disse o preparador de goleiros da seleção do Emirados Árabes Unidos. 

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