A cada fim de época está aberta a temporada de caça aos balanços. Ao quarto ano finalmente Jesus ressuscitou. Após três épocas a investir milhões e duas a bater na trave – nos instantes finais – os encarnados não tremeram e finalmente voltaram aos títulos. A superioridade foi gritante e apenas o guerreiro Sporting de Leonardo Jardim conseguiu dar luta à equipa da Luz. Com a casa arrumada e mesclando reforços desconhecidos e baratos com jovens da formação, os leões demostraram que é possível com organização e comprometimento lutar por títulos. Mérito total para a direcção e equipa técnica.

O FC Porto que apesar do bicampeonato no pós-Villas-Boas vinha sofrendo com saída e má reposição de peças-chaves, sem o trabalho meritório do mal amado Vítor Pereira acabou por descambar. Paulo Fonseca desnorteado e rodeado de um plantel desequilibrado não resistiu às exigências de um clube habituado ao sucesso. A aposta no timoneiro natural do Barreiro não foi feliz e nem Luís Castro – resgatado à equipa B – conseguiu reverter a situação

A grande desilusão da época, a par dos dragões, foi o Sporting de Braga. Com uma equipa madura e reforços de qualidade, esperava-se mais no regresso do titulado Jesualdo Ferreira à Pedreira. Os alunos não absorveram os ensinamentos do professor que acabou por ceder o lugar ao emotivo Jorge Paixão. O ex-treinador do Farense bem tentou mas não conseguiu incutir a sua garra à equipa que ficou num mísero 9º posto. Na Amoreira o fantástico trabalho da direcção e do treinador Marco Silva solidificou a posição do Estoril no futebol português. O 4º posto assenta como uma luva a um conjunto que espalhou qualidade técnica, futebol positivo e voltou a valorizar diversos futebolistas.

Percurso grandioso de Silva no Estoril (Foto: Estoril)

Uma palavra de apreço para o Marítimo de Pedro Martins (vai ser substituído por Leonel Pontes), o Nacional de Manuel Machado e o Vitória de Setúbal de José Couceiro: lançaram bons talentos, praticaram futebol positivo e mostraram mais uma vez que vale a pena apostar em jogadores portugueses.

Nas últimas posições, a confusão que foi a temporada do Olhanense precipitou uma descida previsível. O pequeno Paços não suportou o peso de uma vida europeia e caiu pelas tabelas. Ainda tem chance de redenção, veremos o que dirá a liguilha. Independentemente de se manter na primeira liga, trocar a Champions pela luta pela manutenção, é sempre um fiasco.

Em relação às subidas de destacar o regresso do Moreirense – apenas um ano depois da despromoção – do Penafiel – há quase uma década afastado dos grandes palcos – e do histórico Boavista, promovido na secretaria. No final de cada temporada, é de praxe, escolher o onze do ano. Vou desenhá-lo, consoante a minha opinião, acrescentando alguns bónus: Craque, Revelação, Treinador, Golo, Defesa e Frase do Ano.

Gr: Ricardo (Académica) - Patrício finalmente teve uma defesa segura a protegê-lo e não foi tão exigido; Eduardo fracassou redondamente; Oblak e Helton apesar das boas prestações estiveram muito tempo ausentes. O guardião academista voltou a exigir-se em grande plano, rendeu diversos pontos à Briosa e apesar de ter sido esquecido ao longo da época por Paulo Bento, está prestes a rumar ao Dragão num negócio que premeia uma temporada de grande nível.

Ld: Cédric Soares (Sporting) - A época passada foi um dos mais desastrosos atletas do Sporting. A chegada de Leonardo Jardim mudou o rumo dos leões e do jovem lateral. Melhorou defensivamente, foi decisivo no processo ofensivo, ganhou cotação de mercado e inclusive chegou de forma merecida à selecção nacional.

Le: Jefferson (Sporting) - A má temporada de Alex Sandro e a afirmação tardia de Siqueira suportam a escolha do lateral brasileiro. Foi talvez a contratação mais eficaz dos leões: barato, regular e com pé afiado para fazer assistências. Foi um dos indiscutíveis de Jardim e a opção certa para finalmente encerrar o vazio deixado por Insúa.

Dc: Luisão (Benfica) - Qual vinho do Porto, quanto mais velho melhor. Fez talvez a sua melhor temporada em Portugal. Aos 33 anos, espalhou classe, qualidade posicional e liderança. Muito se falou de Ezequiel Garay, mas o Girafa foi claramente o melhor elemento da defesa de betão encarnada.

Dc: Ezequiel Garay (Benfica) - Juntou à qualidade técnica e de saída de bola habitual, uma pontaria à «La Jardel». A sua fusão ao capitão Luisão foi plena e bem-sucedida. Apesar da grande temporada do compatriota Marcos Rojo, o título pende a seu favor.

Mdc: William (Sporting) - Havia Matic e Fernando mas só deu William. Qualidade técnica e capacidade física de sobra que tornaram um pseudo-dispensável no principal jogador do renascido Sporting. Com cotação em alta e Mundial à porta é melhor os leões irem-se preparando para a despedida do Príncipe de Alvalade.

Mc: Enzo (Benfica) - Intensidade, qualidade técnica, pressão e poder de finalização. O argentino esteve em todo lado e foi o motor do campeão Benfica. Apesar de ser quase sempre segunda escolha, merecia entrada directa no onze argentino que irá ao Brasil. Veremos se finalmente os tubarões europeus abrem os olhos para o talento do box-to-box encarnado.

Mc: Adrien (Sporting) - Mais um que passou de dispensado a indiscutível com Leonardo Jardim. Apesar de não ser lembrado por Paulo Bento é o médio português em melhor forma e com mais golos na temporada. Os verde-e-brancos não jogaram nenhuma final, mas Adrien participou de várias: espalhou agressividade e intensidade em cada partida como se fosse a última da sua carreira.

Avd: Rodrigo (Benfica) - Finalmente Rodrigo! Todos os anos e mais alguns prestes a explodir e finalmente o menino fez-se homem. Uma meia época em cheio (grande dupla com o artilheiro Lima), com golos, assistências e muito futebol. Veremos aonde vai parar o hispano-brasileiro que se Scolari estivesse atento já poderia estar no Mundial de canarinha vestida.

Foto: Isabel Cutileiro

Ave: Gaitán (Benfica) - Decisivo. Assim se pode definir Nicolas Gaitán esta temporada. Espalhou a classe habitual e em momentos chaves foi a par de Rodrigo o atleta mais preponderante dos encarnados. Golos, dribles e lances de antalogia que lhe deveriam valer um bilhete para o Brasil mas “apenas” devem render uma transferência milionária.

Foto: Isabel Cutileiro

Pl: Derley (Marítimo) - É verdade que Jackson foi o melhor marcador da temporada, mas o futebol que apresentou está longe do seu valor real. Derley na primeira época em Portugal foi ganhando a titularidade aos poucos e apesar de alinhar numa equipa de dimensão limitada fez quase tantos golos como o internacional colombiano. Velocidade, potência e faro de golo que lhe devem valer um salto na carreira.

Craque do Ano - William (Sporting) – Quase impossível não escolher o menino insubstituível que transformou o miolo leonino. Escondido no distante futebol belga, o trinco português brilhou nos testes da pré-época e mudou por completo a época do futebol nacional. Carregou um modesto conjunto verde e branco para uma luta desigual com qualidade e caracter. Passou de dispensável a indiscutível e hoje está nas bocas do mundo, num caso raro de felicidade e talento.

Treinador do Ano - Leonardo Jardim (Sporting) – Pegou num plantel repleto de gente nova e contratações suspeitas, juntou algumas peças que testou na pré-época e formou com um grupo humilde e barato uma equipa coesa que apesar de jovem se bateu como gente grande contra equipas de outro campeonato. Um desafio que o consolidou como um dos melhores treinadores portugueses da actualidade e que brevemente lhe irá abrir as portas do estrangeiro novamente.

Revelação do Ano - Rafa (Sporting de Braga) – No verão passado ninguém percebeu a guerra pública entre Sporting e Braga pelos serviços deste menino. Uma época depois, o mistério está desvendado: Rafa exala talento. De desconhecido no Feirense a internacional A foi um instante. A pérola da Pedreira esbanjou potencial e não deve durar muito mais tempo no clube de António Salvador.

Golo do Ano: Alan no Belenenses x Sporting de Braga - Quem sabe nunca esquece e Alan é um especialista quando o assunto são grandes golos.

Frase do Ano: Jorge Jesus: «Não joga o Matic, joga o Manel!» – Foi esta a resposta de JJ em relação ao substituto do gigante sérvio. A moda pegou e o grupo de fãs do inexistente Manel arrastou-se para as redes sociais e angariou adeptos de todos os emblemas. O invisível Manel é actualmente uma unanimidade entre os lusitanos nas escolhas de Paulo Bento e chegou até a ser convocado para um jogo do Benfica por uma jornalista desinformada.

VAVEL Logo
Sobre o autor