Quando, na onda de euforia encarnada, o Benfica se abeirava do título de campeão nacional, já os adeptos adivinhavam que a cobiça mais que evidente dos clubes endinheirados iria fazer mossa no plantel campeão - essa premonição (lógica) era um dado adquirido, agora consumado. O que não pressentiram os simpatizantes benfiquistas foi a autêntica debandada do onze campeão.

Janeiro deu o mote inicial: Rodrigo e André Gomes, vendidos a um fundo de investimento misterioso, seriam os primeiros a  abandonar o barco encarnado. A brilhante época benfiquista terminou e os rumores insistentes sobre a saída de Garay, esteio da defesa encarnada, intensificavam-se: o jogador acabaria mesmo por sair, para o Zenit milionário de Hulk, Witsel e Danny. Três saídas expectáveis mas que viriam a ser transformadas numa diáspora bem maior que a prevista.

Siqueira, emprestado pelo Granada, viria também a abandonar o clube, sem que tivesse existido acordo para a permanência a título definitivo do lateral esquerdo, que ingressou no campeão espanhol Atlético de Madrid. Chegou a falar-se num desacordo de verbas, mas o jogador negou ter sido abordado para continuar no clube da Luz - de referir que o valor estipulado para a compra do seu passe fixava-se em 7 milhões de euros. Sílvio ainda é incógnita: pouco se sabe sobre a possibilidade do lateral português continuar de águia ao peito.

Muitas dúvidas e poucas garantias

A essas quatro saídas juntaram-se as vendas de Markovic (ingressou no Liverpool) e de Oblak, que surpreendentemente deixa orfã a baliza da Luz depois de ter apaixonado os adeptos com a sua gélida segurança entre os postes. Seis ao todo, o que retira ao onze tipo do Benfica campeão nada mais nada menos que 5 jogadores, todos eles de qualidade indiscutível - isto se no onze não considerarmos a presença de André Gomes...

Para adensar a dúvida quanto ao Benfica da época vindoura, as notícias que para Portugal voam, vindas do estrangeiro, dão conta do acentuado interesse de grandes clubes noutros jogadores encarnados, também eles titulares: Enzo poderá estar com um pé fora do clube, fortes que são as probabilidades de reforçar o Valência, algo que nem sequer o internacional argentino negou, apesar de ter renovado contrato neste defeso.

Também Gaitán poderá sair do clube que representa há já quatro anos, dadas as tentativas do Atlético de Madrid para negociar o extremo argentino, a pedido do treinador Simeone. A imprensa espanhola refere mesmo que o jogador de 26 anos poderá rumar aos «colchoneros» incluído no negócio da transferência de Oblak. Artur, guardião que perdeu a titularidade para o esloveno, também deverá estar de partida, não sendo aposta de Jorge Jesus para 2014/2015.

No sector atacante, Cardozo poderá  juntar-se a Rodrigo na partida. O ponta-de-lança paraguaio não foi opção regular no Benfica campeão 2014/2015, vendo o seu espaço largamente diminuído nas escolhas de Jesus, o que deverá ser suficiente para 'forçar' o Tacuara a trocar de clube, permitindo ao Benfica algum encaixe financeiro - tanto o jogador como o seu agente já afiançaram que o futuro passará pela saída do Benfica.

Entradas não deslumbram...por enquanto

A apreensão tem tomado conta do juízo dos adeptos encarnados, algo que será apenas normal tendo em conta que o plantel irá ficar desnudado de alguns dos seus melhores activos, casos de Garay, Markovic, Oblak ou Rodrigo. Mas, além dessa debandada, os adeptos têm assistido com igual apreensão às contratações da Luz - Djavan, Luis Felipe, Anderson Talisca, Derley, César, Victor Andrade, Loris Benito e Candeias (contratações para o plantel principal).

Nenhuma delas enche, à partida, as medidas aos simpatizantes. Apenas Derley (por ter mostrado na época passada veia goleadora no Marítimo) parece ser alvo de alguma concórdia - de resto, os benfiquistas olham para a política de contratações da direcção encarnada com desconfiança, muito devido ao desconhecimento relativo à maioria dos jogadores que agora chegam. 

Desconstrução do Benfica campeão?

A pergunta poderá soar precipitada mas reflecte o racional medo da massa adepta encarnada: estará o Benfica a desmantelar o corpo do onze campeão? De facto, tal parece ser, aparentemente, inquestionável - somente na defesa, este Benfica perde 3 dos 5 elementos que compunham o sector: Oblak, Garay e Siqueira. Ainda para mais, poderá estar de volta o temor das balizas, exorcizado definitivamente por Oblak, que agora reacende, com a partida, o complexo «fantasma Roberto».

No eixo central da defesa, a saída de Garay será tremendamente difícil de colmatar, pelo menos com a mesma qualidade e classe que o internacional argentino oferecia ao jogo recuado das «águias». Logo pela base defensiva abana o novo Benfica, que terá de absorver de modo eficaz as saídas, regenerando o sector a tempo de entrar na nova época pronto para defender o título de campeão e atacar, como tanto desejam os benfiquistas, o bi-campeonato que prove a perda da hegemonia portista: estará este Benfica no bom caminho?