Atlético de Madrid e Real Madrid se enfrentam neste sábado (24), em Lisboa, pela final da Uefa Champions League 2013/14. Será a primeira final entre dois clubes da mesma cidade, na história da maior competição de clubes da Europa. Personagem em ambas as equipes, a imagem de Luís Aragonés, além de ser um treinador vitorioso, foi sempre associada à de um homem sem meias palavras e que atraía a polêmica por onde passasse.

Ídolo como jogador e treinador do Atletico, além de rápida e apagada passagem pelo Real, o nome de Aragonés é bastante ligado à conquista da Eurocopa 2008, como treinador da Espanha. Foi o segundo título europeu espanhol, após o primeiro conquistado em 1964, e o primeiro de uma série de três títulos que colocaram a Fúria como principal seleção do mundo, sendo a Euro 2008, Copa do Mundo 2010 e a Euro 2012.

"Gostaria que a seleção tivesse um nome, uma identidade. Tal como o Brasil é a canarinha ou a Argentina é alviceleste, gostaria que a Espanha fosse La Roja"

Foram com estas palavras, pouco tempo depois de assumir o comando da equipe espanhola, que Aragonés iniciou a época de ouro da Fúria.

A carreira como meio-campista

Como jogador, iniciou sua carreira no Getafe, clube do subúrbio da capital espanhola, em 1957. Um ano depois, transferiu-se para o Real Madrid, equipe que já havia conquistado o respeito dos adversários tanto dentro quanto fora da Espanha. No entanto, não conseguiu se firmar nos merengues e foi emprestado a diversas equipes: Recreativo Huelva, Hércules e Real Madrid Castilla.

Após ser vendido ao Oviedo em 1960, onde fez boa campanha, o meio-campista defendeu o Bétis no ano seguinte. Foi no alviverde de Sevilha que o atleta começou a dar um grande passo em sua carreira, marcando 33 gols em 86 partidas. Suas atuações chamaram a atenção do Atlético de Madrid, que o comprou em 1964.

Nos colchoneros, Aragonés atuou por dez anos: de 1964 a 1974, onde conquistou três campeonatos espanhóis: 1966, 1970 e 1973; duas Copas do Rey: 1965 e 1972; além de ser finalista da Uefa Champions League, em 1974, vencida pelo Bayern de Munique, da Alemanha.

No jogo diante dos bávaros, no Estádio do Heysel, em Bruxelas, Aragonés inaugurou o placar, mas o Bayern empatou com Schwarzenbeck, forçando um segundo jogo. Dois dias depois, a equipe alemã venceu por 4 a 0, com Uli Hoeness e Gerd Müller marcando dois gols cada. Nada que apagasse a boa campanha dos alvirrubros.

A temporada de 1974 seria a última de Luis Aragonés como jogador de futebol. Após pendurar as chuteiras, foi logo promovido ao cargo de técnico do time pelo qual se aposentou, ainda aos 36 anos de idade.

Um treinador marcante

Como treinador do Atlético, clube por onde passaria várias vezes na sua carreira, Aragonés venceu logo na primeira temporada, uma Copa Intercontinental, disputada contra os argentinos do Independiente. Mais tarde, viria a vencer o campeonato espanhol de 1977 e três Copas do Rey, em 1976, 1985 e 1992. Em sua última passagem pelos colchoneros, em 2001/2002, zapatones ajudou o time à conquistar a segunda divisão do campeonato espanhol e, consequentemente, a volta à elite.

Além do Atlético de Madrid, clube que treinou em quatro ocasiões, Aragonés treinou o Bétis, o Barcelona - onde ganhou uma Copa do Rei, em 1988 - Espanyol, Sevilla, Valência, Oviedo, Mallorca, além do Fenerbahçe, da Turquia, logo após o título europeu com a Fúria, onde foi campeão turco em 2009 e levou o time de Istambul às oitavas-de-final da Champions League. O clube turco, porém, foi o último trabalho de Don Luis como técnico.

“E ganhar, e ganhar, e ganhar, e voltar a ganhar, e ganhar, e ganhar, e ganhar, e isso é o futebol, senhores.”

No ano de 2004, Luis Aragonés chegou ao cargo de treinador da Seleção Espanhola. O aproveitamento à frente da Fúria foi bastante expressivo: 70,37%, com 32 vitórias, 12 empates e apenas quatro derrotas em 54 confrontos. Conquistando um recorde de 25 partidas consecutivas de invencibilidade e ajudou a formar a base do selecionado, cujo plantel é considerado o melhor dos dias atuais. Não à toa conquistou a Eurocopa de 2008. Na final, os espanhóis bateram a Alemanha por 1 a 0 em Viena, com o gol da vitória sendo marcado pelo atacante Fernando Torres.

Além do próprio Torres, vários são os jogadores que continuam defendendo a seleção da Espanha atualmente: Casillas, Sergio Ramos, Iniesta, Xavi, David Silva, Xabi Alonso, entre outros.

Aragonés e as polêmicas

O treinador também se envolveu em polêmicas. Em 2004, já no primeiro ano no cargo de técnico da Espanha, ficou nos holofotes por ter feito comentários de teor racista, direcionados ao atacante francês Thierry Henry.

Aragones se aproximou do atacante espanhol Jose Antonio Reyes, que jogara com Henry no Arsenal, e gritou: "Alguns jogadores têm que ver as coisas de maneira mais clara. Diz para aquele negro de m**** que você é melhor que ele. Diga a ele por mim. Você é melhor."

Aragonés incentivando o meia Reyes, que atuava com Henry na época (Foto: Getty Images)

Aragonés afirma que foi uma brincadeira para preparar psicologicamente Reyes: "Sou um cidadão do mundo", disse Aragones à Radio Marca. "Alguns dos meus melhores amigos são negros, incluindo aqueles da infância. O fato de ter feito uma brincadeira para motivar um jogador não tem nada a ver com racismo. Não sou racista."

Reyes também disse que os comentários de Aragones foram feitos em tom de incentivo. "Ele estava rindo e não era nada importante", disse o atacante. "Foi um momento de descontração durante um dia pesado de treinamento. Estas são coisas que deveriam ficar no campo de treino. Luis e eu sabemos de quem estávamos falando e não há mais nada sobre isso."

Em setembro de 2006, após o fracasso na Copa do Mundo da Alemanha, onde a Espanha caiu por 3 a 1 nas oitavas de final diante da França, que viria a ser vice-campeã, Aragonés tomou uma de suas decisões mais polêmicas, se não a maior: deixou de convocar o atacante Raúl González, então com 29 anos, um dos maiores ídolos do Real Madrid, bem como do futebol espanhol, para a Fúria.

Dividindo intrigas e admirações entre os amantes do futebol, a certeza que fica é que o maior legado deixado por Luis Aragonés em vida, é a atual geração espanhola. Afinal, foi ele quem deu o pontapé inicial e começou a plantar os frutos que são colhidos ainda hoje por Vicente del Bosque. Depois da Eurocopa de 2008, a Espanha obteve o inédito título da Copa do Mundo em 2010 - 1 a 0 sobre a Holanda, na prorrogação - e ainda reconquistou a Euro dois anos mais tarde - 4 a 0 sobre a Itália na decisão.

Zapatones em sua última passagem pelo Atlético de Madrid, em 2002 (Foto: Reprodução/Atlético)

Em dezembro de 2013, Zapatones veio a público afirmar que a sua carreira ainda não tinha terminado, depois de especulações nesse sentido: "A idade vai-nos retirando aos poucos, mas eu ainda estou na ativa. Não me retiro". Declarou o treinador, afirmando até que teria um convite de uma seleção.

Em fevereiro deste ano, Luis Aragonés faleceu em Madrid, aos 75 anos, em decorrência de complicações no sangue. A nota de falecimento foi divulgada pelo médico Pedro Guillén. Don Luis, como era apelidado, estava internado desde o ínicio do ano no hospital Centro, na capital espanhola. O Atlético de Madrid, clube por onde destacou-se como treinador e jogador, decretou luto em sua nota de pesar aos familiares.

Torcida do Atlético acendeu velas pela morte do eterno treinador (Foto: Gonzalo Arroyo Moreno/Getty Images)