Quando Neymar foi expulso na derrota do Barcelona para o Málaga, em 8 de abril, se falava que ele ao menos estava garantido no clássico deste domingo (23) contra o Real Madrid, visto que haveria apenas mais um compromisso antes do duelo no Santiago Bernabéu. Mas no dia seguinte, a imprensa espanhola já dava como certa uma punição extra ao camisa 11 por ter aplaudido ironicamente o árbitro na saída de campo. A sanção de três jogos foi confirmada dias depois, e virou dor de cabeça para o técnico Luis Enrique, a comissão técnica e a torcida blaugrana.

A temporada barcelonista é turbulenta. Desde o começo, a equipe demonstra dependência exagerada do trio MSN, vencendo inúmeras partidas na base da individualidade dos craques sul-americanos. Enquanto Messi e Suárez mantém o nível de atuações e números de gols desde o início das competições, Neymar viveu altos e baixos. O ex-jogador do Santos encarou um raríssimo jejum de bolas na rede, apesar de ser presença constante nas tramas ofensivas culés.

Fato é que o período de contestações foi chegando ao fim gradativamente frente a opinião pública, e o camisa 11 passou a ser figura cada vez mais importante na dinâmica de Luis Enrique quando o treinador passou a utilizar o esquema 3-4-3 no lugar do desgastado 4-3-3. Com isso, uma série de mudanças desencadeou uma responsabilidade maior de Neymar no jogo azul-grená.

Se com o 4-3-3 Lionel Messi partia da direita para o meio e este espaço lateral não era ocupado por ninguém - visto que Sergi Roberto nunca fui um jogador da posição e nunca foi capaz de gerar a amplitude antes gerada por Dani Alves -, o 3-4-3 inicialmente dava a Rafinha a função de jogar aberto pela direita. Desta forma, Messi passou a figurar mais no centro. E é exatamente aí que entra de vez o papel do brasileiro.

Atuando aberto pela esquerda, Neymar virou peça-chave nas transições defesa-ataque do Barcelona, colocando o time no campo rival com facilidade ao realizar conduções extraordinárias rente a linha lateral do gramado, até mesmo desde a própria área. Com campo aberto, Ney teve mais liberdade para fazer combinações com Suárez, Iniesta e Messi, todos mais próximos na região da intermediária. Por várias oportunidades, o atleta de 25 anos ofereceu passes de gol aos companheiros, e também viu crescer o próprio número de tentos anotados.

Se Luis Enrique pretendesse mandar o 3-4-3 a campo no Bernabéu, Neymar poderia perfeitamente desenvolver boa parte de suas jogadas no espaço entre Carvajal e Luka Modric, tendo sempre o apoio já citado - de Iniesta, Suárez e Messi. Sendo assim, Zinedine Zidane precisaria ocupar este espaço muito provavelmente sobrecarregando Casemiro, que seria a principal arma para deter Lionel pelo centro, gerando um desequilíbrio no já instável sistema defensivo do Real Madrid.

Sem Ney, a enorme tendência é que Lucho, em seu último clássico comandando o Barça, volte ao 4-3-3 e deixa escancarados todos os problemas já apresentados pela equipe durante a atual temporada. A responsabilidade de Lionel Messi aumentará substancialmente, e a falta de amplitude pelos lados dificilmente será resolvida contra um Madrid em grande fase do ponto de vista técnico e mental. Para piorar a situação, Rafinha e Arda Turan estão lesionados. A tendência é que Paco Alcácer - uma peça que é capaz de atuar pelo lado mas que não conta com os recursos do brasileiro - comece entre os 11.

No elenco blaugrana, quem mais se parece em estilo de jogo a Neymar é Denis Suárez. Porém, o espanhol contratado de volta ao Villarreal é um dos atletas da equipe principal que menos recebeu minutos até o momento, e, seguindo a lógica, Luis Enrique não deve colocar o jovem para substituir um craque que ainda não é o grande nome deste Barça, mas que tem ganhado cada vez mais confiança para, por ora, maquear os diversos problemas apresentados pelo Barcelona.

Outra possibilidade é uma ousadia de Luis Enrique diante de um adversário que marca gols há mais de 50 jogos seguidos. O treinador já declarou que não permanece para 2017/18 e pode até mesmo aparecer com um XI diferente do habitual. Escalar uma linha defensiva com Mascherano, Piqué, Umtiti e Jordi Alba para defender melhor a área perante a fortaleza ofensiva merengue é uma alternativa.

Assim, Sergi Roberto, que vem apresentando seguidas conduções-chave na transição ofensiva, pode ser peça fundamental em uma região mais adiantada do campo. O autor do gol histórico contra o PSG poderia fortificar o preenchimento de espaços no centro e formar um meio extremamente associativo com Busquets, Iniesta e Rakitic, tendo Messi livre para flutuar pelos lados ou entre as linhas, além de Suárez na frente. É esperar para ver.