Neste domingo (28), a gigantesca história de Francesco Totti com a camisa da Roma teve seu desfecho. Depois de vencer o Genoa por 3 a 2 e garantir vaga na fase de grupos da Uefa Champions League, o Olimpico de Roma continuou lotado. Tudo pelo adeus ao ídolo, que deu uma volta inteira na pista de atletismo do estádio, ao lado da família, tendo tempo para se despedir de todos os presentes na casa giallorossa, levando o público às lágrimas.

Chorando, o Capitano recebeu, das mãos do presidente James Pallotta, uma camisa emoldurada, do modelo utilizado nos jogos do Derby Della Capitale deste ano, com número e nomes dourados. Na moldura, uma mensagem da Roma ao camisa 10: "E para agradecer, só posso lhe dar tudo que tenho: a camisa, as cores, o amor, a fidelidade. O que sou. O que somos. Te amo, Francesco. Para sempre, a AS Roma"

No centro do gramado, que tinha uma imensa camisa 10 com seu nome, Totti discursou. Desde o início, avisou aos torcedores que talvez não conseguisse terminar de ler a carta que havia preparado. No fim, o ídolo conseguiu arrancar ainda mais choro dos presentes e também uma grande comemoração, quando relembrou o título italiano da temporada 2000/01, conquistado no mesmo estádio, com vitória por 3 a 1 sobre o Parma no último jogo. O Capitano, craque daquele time, marcou o dele.

Sob gritos de "Un Capitano, c'é solo un capitano" (um capitão, é só um capitão), Francesco também insinuou que, além de encerrar sua passagem de 28 anos pela Roma, contando o tempo em que ficou nas categorias de base, estaria encerrando sua carreira, apesar de ter deixado seu futuro em aberto numa publicação em suas redes sociais, falando em "querer um novo desafio".

Confira a carta lida por Francesco Totti na íntegra:

"Obrigado, Roma. Obrigado a minha mãe, meu pai, meu irmão, meus parentes e meus amigos. Obrigado à minha esposa e meus três filhos. Queria começar do final, das despedidas, porque não sei se vou conseguir ler essas linhas. É impossível sintetizar 28 anos em algumas poucas frases. Queria fazer isso com um poema ou uma música, mas eu não sei escrever nenhum dos dois. Ao longo dos anos, tentei me expressar com os pés, o que tornou tudo mais simples para mim, desde que era uma criança.

Falando de infância, sabem qual era meu brinquedo preferido? Uma bola, claro. E continua sendo até hoje. Em algum ponto da vida, você cresce. Isso é o que me disseram e é o que o tempo decidiu. Maldito tempo. Em 17 de junho de 2001, todos queríamos que ele passasse mais rápido. Não podíamos esperar para ouvir o árbitro apitar o fim de jogo. Ainda tenho arrepios quando lembro disso. 

Hoje, o tempo tocou no meu ombro e disse: "Temos que crescer. A partir de amanhã, você será um adulto. Tire esses shorts e as chuteiras porque, começando hoje, você é um homem. Você não pode mais aproveitar o cheiro da grama, o sol no seu rosto quando você vai em direção ao gol adversário, a adrenalina te consumindo, a alegria de comemorar". Nos últimos meses, me perguntei por que estou sendo acordado deste sonho.

Imagine que você é uma criança tendo um sonho bom e sua mãe te acorda para ir à escola. Você quer continuar sonhando, você tenta voltar ao sonho, mas nunca consegue. Dessa vez, não é um sonho. É a realidade. E eu não posso mais voltar. Eu quero dedicar essa carta a todos vocês, as crianças que me apoiaram. Às crianças de ontem, que cresceram e são pais das crianças de hoje, que talvez gritem "Tottigol". Gostaria de pensar que, para vocês, minha carreira foi um conto de fadas.

Agora realmente acabou. Eu vou tirar essa camisa pela última vez. Vou dobrá-la, ainda que não esteja preparado para dizer "isso é tudo". E talvez nunca esteja. Me perdoem por não dar entrevistas e não deixar clara minha intenção, mas não é fácil apagar as luzes. Eu estou com medo. Não é o mesmo medo que você sente quando está pronto para bater um pênalti. Dessa vez, eu não consigo ver como o futuro é pelos buracos da rede. Me deixem ter medo.

Dessa vez, sou eu que preciso de vocês e do amor que sempre demonstraram por mim. Com o seu apoio, eu vou conseguir virar a página e me jogar numa nova aventura. Agora é hora para agradecer a todos os técnicos, companheiros de time, diretores, presidentes e todos que trabalharam ao meu lado durante todo esse tempo. Agradeço aos torcedores e à Curva Sud, uma luz de guia para todos os romanos e romanistas.

Nascer romano e romanista é um privilégio. Ser o capitão deste time foi uma honra. Vocês são, e sempre vão ser, a minha vida. Não vou mais lhes entreter com meus pés, mas meu coração estará sempre com vocês. Agora, vou descer as escadas e entrar no vestiário que me acolheu como uma criança. Agora eu saio como um homem. Estou orgulhoso e feliz de ter dado a vocês 28 anos de amor. Eu amo vocês"