Não foi um torneio dos mais badalados, mas serviu como o pontapé inicial de uma fase vitoriosa e da supremacia mais duradoura que um time da Cidade Maravilhosa conseguiu impor sobre os seus adversários em mais de cem anos de história. Chamava-se Relâmpago pelo motivo óbvio que o próprio nome já sugere. Disputado em apenas duas semanas, reunia a nata do futebol da capital do país: Vasco, Flamengo, Fluminense, Botafogo e América. Criado no ano anterior, com o intuito de angariar rendas logo depois do início da temporada, conseguiu relativo sucesso no seu objetivo principal, o que estendeu sua existência ao ano de 1946, quando foi jogado pela última vez.

O Vasco ainda era um time em formação, dirigido pelo uruguaio Ondino Viera, que aos poucos foi moldando uma equipe que seria por muito tempo a sensação do futebol brasileiro e sul-americano. Na primeira rodada, um empate diante do time das Laranjeiras. Apesar do tropeço, foi um resultado a ser comemorado, já que o time perdia por 2 a 0 até mais da metade do segundo tempo, e mesmo depois de ter desperdiçado um pênalti (Lelé cobrou e Batatais defendeu), conseguiu forças para chegar à igualdade. Jair e Cordeiro foram os autores dos gols do Vasco neste 2 a 2.

Na segunda rodada, uma goleada por 4 a 0 para cima dos Diabos Rubros mostrava que o time estava se acertando e que os Três Patetas (trio proveniente do Madureira, formado por Lelé, Isaías e Jair) estavam mais entrosados do que nunca. Jair abriu o placar na etapa inicial e, no tempo derradeiro, Isaías, Cordeiro e Lelé fecharam o marcador.

Na peleja seguinte, o Almirante atropelou o Glorioso, única equipe que ainda não havia perdido ponto na competição. A vitória por 3 a 0 não deixava dúvidas sobre a superioridade do time de São Januário, que agora só teria pela frente o time Rubro-Negro, bicampeão carioca. Djalma e Chico assinalaram ainda no primeiro tempo e novamente Chico, na etapa final, fez o terceiro.

A goleada contra o Rubro-Negro

Tendo apenas o Fluminense como único candidato eliminado da disputa da taça, o Gigante da Colina dependia apenas de si próprio para garantir o título. Para isso, teria que tão somente vencer o Flamengo, que além do apoio dos seus admiradores, contava com a torcida de Botafogo e América que se enfrentariam no confronto que fecharia o torneio.

E como quase todo embate envolvendo esses dois clubes, não foi jogo fácil. O Rubro-Negro saiu na frente com Perácio, aos 15 minutos do primeiro tempo. Chico empatou aos 10 minutos da etapa final, mas logo em seguida, seis minutos depois, Vevé recolocou o rival em vantagem. Foi então que surgiu o espírito vencedor que acompanhou o Club de Regatas Vasco da Gama por quase uma década. Em onze minutos apenas, uma reação incrível transformou uma derrota de 2 a 1 em uma goleada por 5 a 2.

Lelé, Djalma, Isaías e Jair fizeram a festa da torcida Cruzmaltina, que desde 1936 não comemorava uma vitória em uma competição de pontos corridos. Era o Expresso da Vitória que surgia, exibindo técnica, habilidade e garra, sempre que necessário fosse.

FICHA TÉCNICA

VASCO 5 X 2 FLAMENGO

Data: Domingo, dia 19 de março de 1944

Estádio: General Severiano

Árbitro: José Ferreira Lemos, o Juca da Praia

Gols: Perácio (FLA),15 min./1º T; Chico (VAS), 10 min./1ºT; Vevé (FLA), 16 min./1ºT; Lelé (VAS), 31 min./1ºT; Djalma (VAS), 34 min./1ºT; Isaías (VAS), 37 min./2ºT; Jair (VAS), 41 min./2ºT.

VASCO: Yustrich, Zago, Rafagnelli; Alfredo II, Ely, Argemiro; Djalma (Cordeiro), Lelé, Isaias, Jair e Chico. Técnico: Ondino Viera.

FLAMENGO: Jurandir, Artigas, Gualter, Biguá (Djalma), Bria, Quirino, Nilo (Jacyr), Zizinho, Tião, Perácio e Vevé. Técnico: Flavio Costa.

DB

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