Após seis anos, Peter Siemsen deixa a presidência do Fluminense. Com pontos positivos e negativos em sua trajetória, o advogado esteve à frente de momento importantes da história recente do clube, tal como o rompimento com a Unimed e a saída de Fred. Com enorme número de admiradores e críticos, é inegável que deixa um legado em Laranjeiras.

Peter Eduardo Siemsen foi eleito presidente do Fluminense Football Club no dia 1 de outubro de 2010, em sua segunda tentativa, uma vez que fora derrotado por Roberto Horcades, em 2007. No entanto, Peter, que representava a chapa "Novo Fluminense" só assumiu de fato a presidência no dia 15 de dezembro, em cerimônia oficial.

Antes de comentarmos as atitudes tomadas com a sua chegada à presidência do clube, devemos observar o contexto. Após dois mandatos de Roberto Horcades - que entregava seu cargo como campeão brasileiro - alguns problemas assombravam as Laranjeiras. O principal deles, a questão financeira.

Peter é carregado por apoiadores após resultado da eleição (Foto: André Durão/Globoesporte.com)

Atentos à uma iminente crise financeira, o cenário era favorável a nova administração que, apesar dos problemas com o governo e com antigos funcionários do clube (entre eles, jogadores), contava com o aporte financeiro da Unimed o que lhe garantia a presença de salários astronômicos, além de grandes treinadores. Diante deste cenário, Peter assumiu o clube com uma filosofia exclusiva: controlar e equacionar as dívidas do clube.

Para seu primeiro ano de gestão, Peter tinha - logo de cara - um desafio: a Libertadores. No entanto, em meio à disputa da competição, a estranha saída de Muricy Ramalho roubou a atenção, trazendo ao clube um clima de insegurança e de preocupação para o restante do ano. Para o lugar de Muricy, Enderson Moreira foi chamado (de modo quase que interino, uma vez que o clube aguardava a chegada de Abel Braga).

O insucesso na Libertadores e o terceiro lugar no Brasileirão daquele ano não foram os únicos fatores de destaque em questão. A temporada 2011 marcou uma tentativa, por parte da diretoria, de diminuir a influência da Unimed dentro do clube, fato que contribuiu para o aumento da tensão com um dos principais nomes internos do clube: Celso Barros.

Em 2012, no entanto, manteve o cenário em questão. Desta vez sob o comando de Abel Braga, a equipe iniciou o ano com a conquista do Campeonato Carioca e finalizou-o com o Brasileirão. Um ano que sempre estará na memória da torcida tricolor. Apesar disso, o cenário político em questão já não se mostrava tão estável e os conflitos tornaram-se constantes.

Como relata Marcelo Saviolli em seu blog, de 2011 à 2013 as receitas do clube aumentaram em R$ 60 milhões, fato que demonstrava a importância do modelo de gestão implementado por Peter Siemsen. Naquele ano, fatores como a venda de Wellington Nem para a Ucrânia ajudaram projetos como o Sócio-Futebol e a reforma de Xerém, passo extremamente importante para o desenvolvimento do clube.

Da água pro vinho, Xerém tornou-se referência em estrutura (Foto: Ralff Santos/FluminenseF.C.)

Apesar de manter os pagamentos dos atletas em dia, a equipe começou a dever, desta vez, no que se refere ao futebol dentro das quatro linhas. Em 2013, a salvação vinda nos tribunais evidenciaram um ano terrível dentro de campo e que por pouco não terminou com um rebaixamento. Os cenários de economia e futebol eram completamente diferentes e isso começava a incomodar o torcedor.

Apesar do momento delicado vivido em 2013, Peter conseguiu a sua reeleição e iniciou o seu segundo mandato com um dilema: mudar a política interna do clube. Ao longo de todo 2014, o estreitamento das relações com a Unimed passaram a incomodar a cooperativa que não gostava do fato de não ter mais a mesma influência interna de tempos passados. Este e outros fatores internos acarretaram no temido rompimento da parceria.

Após 15 anos, o Fluminense retornava ao 'mundo normal' dos clubes de futebol e não contava mais com o aporte financeiro gigantesco oferecido pela Unimed e, com isso, a sua permanência na divisão de elite e a possibilidade de reestruturação do clube passaram a ser questionadas - não apenas pelos torcedores - mas também pela mídia. Após o ocorrido, a história recente tricolor passou a ser contada com o pré e pós-Unimed.

O tão temido 'Pós-Unimed'

A saída do principal patrocinador limitou em mais da metade a capacidade de investimento do clube em jogadores e fez com que tivesse que se livrar de alguns deles. Nomes como Conca, Wagner, Carlinhos, Bruno, Rafael Sóbis entre outros não seguiram nos planos da diretoria devido ao alto salário e a impossibilidade de renegociação. No entanto, a espinha dorsal do time foi mantida com Cavalieri, Gum e Fred como principais nomes.

O término no meio da tabela no Brasileirão de 2015 e a trágica derrota nas semifinais da Copa do Brasil foram duramente criticadas pela torcida, que posteriormente haveria de aceitar o fato de que o time precisaria de um tempo para se reestruturar dentro de uma nova realidade. As contratações feitas com o orçamento bem limitado também não agradaram e nem mesmo Fred foi poupado das críticas. 

No entanto, um ponto positivo deve ser ressaltado no ano de 2015, o início da construção do Centro de Treinamento Pedro Antônio Ribeiro da Silva, ou o CT da Barra como é chamado. O CT que está em fase final de construção, é o principal legado deixado pela gestão Peter Siemsen juntamente com o terreno e o projeto de um estádio para o clube.

O Messias, Pedro Antônio, batiza o Centro de Treinamento tricolor (Foto: Nelson Perez/Fluminense FC)

No mais, outros pontos cruciais para a história recente do clube foram feitos em 2016 como o projeto Flu Europa que consiste na compra de 77% do STK Samorin, clube da segunda divisão eslovaca que a partir de agora atende pelo nome de STK Fluminense Samorin; e a parceria com o Michael Johnson Performance, passo importante no desenvolvimento físico dos atletas tricolores de Xerém.

Sendo assim, após seis anos, podemos concluir que a administração de Peter Siemsen foi benéfica ao Fluminense no que se refere ao financeiro do clube e um legado concreto é deixado para seu sucessor. Entretanto, os problemas de relacionamentos com jogadores e treinadores foram fatores negativos unidos ao mal rendimento da equipe dentro das quatro linhas.