2017 foi um ano especial para o Grêmio Porto Alegrense. O clube gaúcho disputou frente em todas as competições possíveis e saiu campeão com a taça da Libertadores da América. Apesar disso, é necessário frisar que foram campanhas de destaque no Campeonato Brasileiro e na Copa do Brasil. Com um futebol envolvente, apontado pela maioria como o mais bonito do Brasil na temporada, o Grêmio encantou o continente e chegou em dezembro para disputar o Mundial de Clubes. A coroação de um ano em que novamente conseguiu dar alegrias ao torcedor e, através do tri da América, igualar o feito de São Paulo e Santos, os clubes brasileiros mais vezes campeões na história da Libertadores.

O início de ano

Grêmio fez ótimas atuações no estadual, mas Novo Hamburgo foi campeão.
(Foto: Lucas Uebel)

A ressaca não era pouca. Afinal de contas, o título da Copa do Brasil em dezembro de 2016 encerrava um longo jejum. Eram 15 anos sem uma taça de tamanho respeito. As comemorações se estendaram no final de ano no Rio Grande do Sul e o janeiro voltava sonolento. A diretoria tinha a missão de aproveitar os contratos maiores e procurar reforços. O objetivo do ano estava traçado desde o início: a Copa Libertadores da América.

A espinhal dorsal do time parecia mantida: Marcelo Grohe como goleiro, Edilson na direita, Geromel e Kannemann na certeira dupla de zaga, com Marcelo Oliveira na esquerda. O capitão e volante Maicon ocupava o meio. Jailson ganhava a disputa de Michel, vindo do Atlético Goianiense, campeão da Série B, entre os volantes. No meio, o renovado e reencontrado Ramiro, arma de Renato Portaluppi. Luan, craque do time, ganhava sequência. Pedro Rocha e Miller Bolaños fechavam um poderoso ataque.

A primeira baixa ocorreu logo após a renovação de contrato para até o final de 2018: o meia Douglas. Estourado do joelho, o jogador precisou passar por cirurgia. Ele encerrava 2016 como o melhor jogador da Copa do Brasil, dono de assistências e ritmo de jogo invejáveis, apesar da idade mais avançada. A recuperação da lesão não seria fácil.

Outro problema foi que Miller Bolaños encaixava no time somente no Campeonato Gaúcho. Lesões, convocações para seleção do Equador e principalmente problemas extracampo, com erros da própria torcida ao criar um ambiente desfavorável ao atleta por conta de boatos, fizeram com que perdesse espaço e, ao meio do ano, fosse cedido por empréstimo ao futebol mexicano do Monterrey.

De nomes que vieram a somar ao elenco, houve os laterais Léo Moura e Bruno Cortez. Léo Moura foi duramente criticado por conta de sua idade: 39 anos. Apesar disso, se mostrou voluntarioso e esforçado desde a chegada. Foram boas atuações quando recebeu oportunidade. Bruno Cortez foi além. Tomou conta da lateral-esquerda que era de Marcelo Oliveira.

Com Renato Portaluppi chefiando o grupo, não houve problemas de vaidade para interferir na positividade do elenco. Mas a torcida sentia que as contratações estavam insuficientes para objetivos maiores. O ataque quase apresentou dois nomes: Kayke e Gabriel Fernández. Ambos chegaram ao clube, realizaram exames e não assinaram, foram dispensados. Apenas mais tarde, quando a pressão por nomes no ataque já cantava na Arena, Lucas Barrios deixou o Palmeiras e veio ser o fazedor de gols prometido pelo presidente Romildo Bolzan.

Começo avassalador no Brasileiro

Bruno Cortez marca o gol da vitória sobre o Bahia (Foto: Lucas Uebel / Grêmio)

O Grêmio entrava ao meio do ano com boas frentes nas competições. As de menores peso eram o Campeonato Gaúcho e a Primeira Liga. O Gauchão terminou para o Grêmio na fase semifinal, quando o campeão Novo Hamburgo conseguiu empatar ambos os jogos e levar a melhor nos pênaltis para ser campeão sobre o Internacional. Na Primeira Liga, mesmo com reservas o Grêmio chegou às quartas de final e somente em agosto viria a ser eliminado pelo Cruzeiro.

No Brasileirão e na Libertadores, as coisas iam como planejadas. O Corinthians fez um primeiro turno espetacular, fora da curva, inédito em termos de campanha e somente por isso o Tricolor não conseguiu manter a caça à liderança. Há de se levar em consideração as rodadas em que o Grêmio utilizou time reserva. Em uma derrota para o Sport Recife e em outra para o Palmeiras, para analisar somente o primeiro turno. De resto, o Tricolor encantava em grandes atuações e somava três pontos na maioria dos jogos.

Porém, no confronto direto, o Corinthians levou a melhor na Arena do Grêmio. Saiu na frente no placar e Luan desperdiçou pênalti na chance do empate. Contratempos na temporada.

Na Copa Libertadores, pelo contrário, a fase de grupos foi tranquila, com o Tricolor passando em primeiro lugar na chave e com a terceira melhor campanha no geral. Superou duas vezes o Zamora, empatou e venceu seus confrontos com o Guaraní do Paraguai e venceu e perdeu (com erros de arbitragem) nos duelos com o Iquique do Chile.

Saída de Pedro Rocha

Nas oitavas da Libertadores, o Grêmio superou o Godoy Cruz da Argentina em ambos os jogos. O atacante Pedro Rocha foi o destaque do mata-mata, com uma assistência e dois gols no agregado dos jogos. O problema das grandes atuações de PR32 foi o interesse dos estrangeiros. O Spartak Moscou queria levar Luan, mas o camisa 7 não aceitou a proposta e a direção russa então quis o veloz jogador da banda esquerda.

Pedro Rocha deixou o Grêmio em momento importante da temporada e o torcedor voltava a se preocupar. Ele havia melhorado muito suas finalizações e estava sendo encarado como o garçom do time, tamanho o número de servidas, de assistências. Um problema para Renato Portaluppi, que optou inicialmente por uma sequência a Fernandinho. Mesmo com Everton pedindo passagem, foi mesmo Fernandinho quem herdou a posição para seguir titular na equipe.

À essa altura, o Grêmio que comemorou o penta da Copa do Brasil em 2016 estava com planos firmes para reconquistá-la. Passou no mata-mata sobre o Fluminense nas oitavas e sobre o Atlético Paranaense nas quartas de final. Com definições na Copa do Brasil mais cedo, os duelos das semifinais seriam contra o Cruzeiro. O Grêmio estava invicto com quatro vitórias em quatro jogos. Ainda somou o resultado positivo sobre os mineiros na ida, em gol de Lucas Barrios. Mas Pedro Geromel saiu lesionado da partida e preocupou a todos.

No jogo da volta, ele não atuou na defesa, mas mesmo assim o Cruzeiro apenas igualou em vantagem em 1 a 0. Nos pênaltis, melhor para os donos da casa no Mineirão. Marcelo Grohe praticou boas defesas, mas os desperdícios dos tricolores deram a classificação para Raposa.

Foco total na Libertadores

Grêmio encerrou Brasileirão com reservas (Foto: Lucas Uebel)
Grêmio encerrou Brasileirão com reservas (Foto: Lucas Uebel)

Mas foi frisado antes no texto que o objetivo maior era a Libertadores, não é mesmo? Pois então. O Grêmio poupou jogadores em rodadas do Brasileirão para decidir as copas, desde as semifinais da Copa do Brasil. Isto foi criticado pela imprensa, que pouco avalia a questão exaustiva do calendário brasileiro. O próprio Flamengo finalizou o ano com 83 jogos disputados, mais de 20 partidas além dos que mais atuam em outros países.

Todavia, com o foco aqui no Grêmio, o Tricolor seguiu poupando no Campeonato Brasileiro e permitindo a abertura de vantagem do Corinthians, que liderava absoluto, sem os gaúchos conseguirem pressioná-lo e nem os demais times, como Santos, Palmeiras ou Flamengo.

Para enfrentar o Botafogo em setembro, pelas quartas de final da Libertadores, havia duas baixas que agravavam a situação do Grêmio: Pedro Geromel e Luan. Bressan deu conta na defesa e o ataque não marcaria no Rio de Janeiro, na sustentação de um 0 a 0 com ótima atuação do volante Arthur, um dos destaques da temporada em seu primeiro ano com os profissionais.

Na volta, Lucas Barrios marcou o gol da vitória tricolor por 1 a 0, classificando o Grêmio para a semifinal. Tempo para preparação de Geromel e Luan. O camisa 7 fez um capítulo à parte na ida da semifinal. Dois gols para coroar um grande placar de 3 a 0 em Guayaquil, em uma das melhores atuações tricolores na temporada. Com direito a uma defesa absolutamente monumental praticada por Grohe.

No jogo de volta da semi, o Grêmio entrou em fogo baixo, ritmo mais lento, houve a derrota para o Barcelona por 1 a 0, mas nada que atrapalhasse a caminhada do tri. À esta altura, o Corinthians disparava para ser realmente o campeão brasileiro, mas o Grêmio queria a América e faltavam só mais dois desafios.

A final sobre o Lanús para coroar temporada

Tudo em jogo. A alegria do torcedor, os investimentos lá do início da temporada, a reconquista da América, a possibilidade de disputar novamente o Mundial de Clubes, ainda com abertura de vaga para Recopa Sul-Americana. O Grêmio soube driblar a pressão. O primeiro jogo foi mais tenso, diante de mais de 55 mil torcedores na Arena, o Tricolor encontrou dificuldades para romper a sólida defesa do Lanús. O organizado time de Jorge Almirón suportou a igualdade até aos 37 minutos do segundo tempo, quando Edilson lançou, Jael escorou e Cícero chutou para as redes: 1 a 0, em gol com participação dos ingressantes do banco de reservas, na escolha certeira de Renato Portaluppi.

Na volta, alta expectativa. Ruas lotadas em Porto Alegre. Mais de 6 mil gremistas na Argentina. Mais de 30 mil na Arena. O futebol foi de gala. Fernandinho, em contra-ataque, fez 1 a 0. Luan, aos 41 do primeiro tempo, pintava de vez a América em tricolor. Golaço de reprisar eternamente. Sand apenas descontou para o Lanús e garantiu para si a artilharia da Libertadores. O título era do Grêmio com aquela nova vitória.

Aos 39 anos, Léo Moura experimentou o gosto do título da América pela primeira vez. O goleiro Marcelo Grohe, há 12 anos de profissional do Grêmio, experimentou sua maior glória. Geromel e Kannemann novamente na dupla de zaga vencedora. Bruno Cortez e Edilson resgatando firmes suas carreiras. Arthur eleito o melhor jogador da final, em temporada indiscritível como debutante dos profissionais. Os jogadores todos dando conta do recado, mesmo com as ausências dos lesionados Maicon e Douglas durante o ano. Luan foi eleito o melhor jogador da competição e foi o vice-artilheiro geral, com sete gols.

É o encerramento do ano magnífico do Grêmio, mais uma vez organizado pelas mãos do comandante Romildo Bolzan na presidência, com Renato com respaldo para armar o time, contratar e passar suas instruções, com o grupo unido e querendo realmente ser vencedor. O Mundial de Clubes trouxe uma esperança distante, lá em Abu Dhabi, para poucos dos milhões de gremistas conferirem do estádio, mas com muitos corações envolvidos em busca de mais uma taça a nível global.

O Tricolor bateu o Pachuca na semifinal por 1 a 0, gol marcado por Everton e chegou à decisão, mas não foi páreo à seleção mundial do Real Madrid, o clube mais vezes campeão do mundo e europeu. O Tricolor fez um jogo de sustentação, mas acabou vazado em falta cobrada por Cristiano Ronaldo no segundo tempo. Apesar disso, o torcedor reconheceu o saldo positivo, a ótima temporada em premiações e conquistas. É o Grêmio de 2017 de planejamento, organização, vontade, companheirismo e resgate de suas mais singelas tradições continentais.