O São Paulo convive com as dívidas financeiras desde a gestão de Carlos Miguel Aidar, que renunciou em outubro de 2015 e deixou a missão para Leco, atual presidente. O mandatário completa um ano de cargo nesta quarta-feira (18), mas está segurando as pontas após a saída de Aidar. 

Contestado em sua gestão pela falta de títulos, o presidente tenta reorganizar o clube financeiramente para desfazer o rombo deixado pela antiga gestão. Em dezembro de 2015, o Soberano tinha uma dívida de R$ 178,9 milhões. No último levantamento feito no domingo (15) foi concluído que houve uma redução de em torno 50%, sendo a atual dívida de R$ 92,9 milhões

Em entrevista ao UOL Esporte, o diretor-executivo de finanças, Elias Albarello, falou sobre os números atuais das finanças do Tricolor e comentou também sobre a contribuição que a venda de jogadores teve para o superávit. 

Os cortes no São Paulo aconteceram. Gastos excessivos foram cortados, funcionários, contratos renegociados, além do essencial, que foi a venda de atletas.

“O que vendemos, que esteve na casa dos R$ 180 milhões brutos e R$ 160 milhões líquidos, não entra no fluxo de caixa. Entra, sim, no balanço. Vendeu, registra. Mas o dinheiro só entra a longo prazo, com parcelas de até três anos. É verdade que vendemos acima do previsto pelo orçamento, mas isso também nos permitiu não sair no mercado para captar R$ 70 milhões que estavam previstos. Conseguimos impedir a criação de novas dívidas e amortizamos as que já existem e pagávamos R$20 milhões somente de juros. Agora estamos na casa dos R$10 milhões. A redução é grande, mas ainda precisa mais. Com esse valor poderíamos contratar um grande jogador”, explicou. 

Segundo o diretor, a meta é mudar isso. Com as dívidas zeradas no fim do próximo ano, toda a renda captada com a venda de atletas será direcionada apenas para o futebol, seja para contratar ou para manter algum atleta. 

“Meu grande objetivo pessoal e meta como executivo é desvincular a gestão do futebol. Principalmente a parte financeira. Não podemos depender de vendas de jogadores para cobrir despesas da gestão e da administração do clube. O futebol tem que viver com o que é oriundo do futebol. Estamos perseguindo esse objetivo e temos condições de atingir. Teremos de montar times bons, investir em jogadores como está acontecendo agora com o Éverton, para os resultados melhorarem, assim como os contratos e os públicos no Morumbi”

Albarello falou também sobre a meta de arrecadação neste ano e explicou como será distribuído, para que não prejudique nenhuma área do clube neste momento de restruturação. 

“A meta de acabar com a dívida no fim de 2019 é conhecida pelo conselho, bem como a meta de vender R$ 100 milhões neste ano e aplicar 50% em compras, 35% na dívida e 15% em outras despesas. Isso é importante para reduzir os encargos financeiros e ainda investir no futebol. E o time melhorando como está, com a diretoria trazendo novos patrocínios e receitas, como está fazendo, não tenho dúvidas que alcançaremos os objetivos dessa gestão desvinculada”

O São Paulo gasta muito, mas vende muito também. Saídas como a de Pratto e Buffarini geraram alta receita ao clube. A meta é que mais dois jogadores saiam para o valor de R$ 100 milhões seja atingido ou até ultrapassado. 

“Pode ser maior, até pelo investimento já feito e o que pode ser concluído com o Everton e eventualmente mais reforços. Isso tem um impacto. Fala-se muito em vender Rodrigo Caio e Cueva após a Copa do Mundo. Pode até ser um sonho deles, algo que respeitamos, mas não temos controle. O Rodrigo mesmo já recusou propostas e outras aparecem sem esperarmos, como a do Maicon ano passado. Tem o Militão sendo especulado na Inglaterra (Manchester City). Eu não vejo nome, vejo os recursos. E a diretoria de futebol tem ótimo relacionamento conosco para discutir, diferentemente do que se via antes”

O diretor também que o clube tem um futebol, financeiramente, semelhante aos times de ponta. E ainda comentou sobre Nenê, que veio com baixo investimento, e sobre as tentativas para manter Hernanes

“Hoje nosso futebol custa o mesmo que outras equipes de ponta, entre R$ 10 e R$ 11 milhões por mês. E há muita diferença entre comprar e manter um jogador. Primeiro que esses questionamentos muitas vezes são seletivos, pegam quem ainda não deu certo para comparar. Mas e o Nenê, que veio sem investimento e está jogando acima das expectativas? O valor do Hernanes por mês serviria para manter vários jogadores. E nós tentamos, informo aqui, de tudo para mantê-lo. Você pode até pagar a multa, mas e o salário? É muito alto! É natural que para ter um desempenho melhor seja preciso investir em jogadores assim, mas o processo é lento”, contou. 

(Foto: Rubens Chiri/Saopaulofc.net)
(Foto: Rubens Chiri/Saopaulofc.net)

Sobre a contratação de Éverton, Albarello comentou que era discutido a necessidade do investimento e, graças as cotas de TV, tinha o valor para apresentar e abrir a negociação com o meia do Flamengo

“Discutíamos a necessidade de investir mais em um jogador e aí apareceu a oportunidade com o Everton. O nome vem da Barra Funda, mas uma vez definido, a gente tinha o valor para apresentar (com o auxílio do que foi pago de luvas pela Globo por direitos de transmissão em TV aberta e pay-per-view). É bom não saber o nome, para não atrapalhar. Segredo existe até abrir a porta da reunião. Procuro não saber o nome do jogador, só quando chega o contrato ou quando vaza na imprensa”

(Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)
(Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)

Por fim, ele comentou sobre a imprevisibilidade, irracionalidade do futebol. Falou também que há de se desenvolver soluções sem as rendas que vem de dentro do campo e falou sobre melhorias no Morumbi

“O futebol tem elementos que não são tão racionais. O jogador tem momentos, o time tem momentos, o mercado tem momento. É difícil ter uma previsibilidade. Não posso depender da venda de jogadores para fazer benfeitorias no clube, no estádio. Converso com bancos e fundos imobiliários para investimentos no clube social e em melhorias no Morumbi, que tem quase 60 anos e precisa disso. Tenho que desenvolver soluções sem o futebol, por mais que os resultados do futebol ainda influenciem. Uma partida ruim influencia politicamente no clube, que envolve muita paixão, situação, oposição e grupos políticos. O que tentamos fazer é desenvolver ferramentas que independam do futebol em campo e nos recursos. Quando desvincularmos, teremos um time melhor e uma gestão mais perene”, finalizou.


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