A expressão é alemã e entrou no dicionário futebolístico para caracterizar o tipo de jogador que procura insistentemente o espaço vazio, buscando bolsas de ar que permitam desentupir o jogo, explorar zonas mortas da marcação táctica e fugir da atenção defensiva adversária - Raumdeuter significa «investigador de espaços» e foi empregue pelo germânico Thomas Muller para se auto-caracterizar: o avançado do Bayern assim se intitulou e inovou uma peculiar tarefa técnico-táctica.

Nos dias que correm, a inteligência posicional - aliada à constante busca do espaço - é uma das mais mortíferas armas do manancial atacante das grandes equipas, que, para serem sólidas em termos globais, necessitam de instruir os seus avançados a serem autênticos batedores, vigilantes das áreas cegas dos oponentes. As mais proficientes equipas da Europa rendem-se hoje aos avançados trabalhadores que, por serem multifacetados, desempenham um rol variadíssimo de acções.

Hoje, o papel clássico (e ortodoxo) do ponta-de-lança está declaradamente ultrapassado: a norma do desenvolvimento táctico obriga os intérpretes do ataque a serem esforçados trabalhadores em prol do colectivo, seja buscando a bola em zonas afastadas da área, seja manobrando combinações (nas faixas ou pelo miolo), amarrando marcações e vigiando as brechas da defesa contrária. Muller, outrora extremo, fá-lo com poucos, brilhante que foi a sua adaptação a perímetros mais ofensivos - que o diga a selecção portuguesa...

O papel do Raumdeuter consiste precisamente em vigiar os espaços, aproveitar clareiras e desenvolver jogadas de ataque que possam descompensar os sistemas e criar situações propícias para que o golo possa surgir - mais que marcar o tento, o Raumdeuter persegue a oportunidade e tenta servir os colegas, tal e qual uma ave de rapina pronta a investir contra a presa, ou, no âmbito futebolístico, contra o palmo de relvado por reclamar. Capaz de se deslocar para as faixas (ou a partir delas surgir), o Raumdeuter torna-se numa ameaça imprevisível devido à sua vasta amplitude de acções ofensivas.

Lima é, no campeonato português, um dos jogadores que melhor personifica tal inovador papel; a sua excelente perícia de «investigador dos espaços» é uma das maiores armas do ataque do Benfica. Sapiente na forma como fareja o espaço em branco, atento às movimentações defensivas e esforçado nas imparáveis desmarcações que realiza, Lima é um avançado «todo-o-terreno» que, além de afrontar a concentração defensiva do adversário, é um jogador de equipa fenomenal, capacitado para surgir no espaço e servir os colegas ou concretizar em frente à baliza.

Na sua paleta de movimentações, não é raro vermos Lima a trabalhar nas faixas, arrastando marcações ou buscando pisar os terrenos vazios. Seja a descer no terreno para auxiliar manobras a meio-campo, seja nos corredores laterais para permitir que Salvio, Gaitán ou Maxi perfurem, o incansável brasileiro trabalha para que os colegas vejam a baliza e por várias vezes é ele a criar o golo. Emparelhado com um avançado subtil e letal, Lima torna-se duplamente mais dinâmico e perigoso. Jonas, «partner in crime», sabe mexer com o jogo e muito beneficia da dinâmica entre ambos.

Saberá a defensiva do Sporting parar as intermináveis derivações de Lima, auxiliadas pela acutilância técnica de Salvio, Gaitán (caso jogue), Ola John, Jonas, Talisca e companhia? Marco Silva exigirá ao quarteto uma atenção redobrada e a William Carvalho uma permanente vigilância zonal que não permita muitas veleidades a Lima e seus parceiros de ataque. Após o apito inicial, os dados estarão lançados: será o assombroso ataque encarnado o pesadelo leonino ou...nem por isso?