Muito do sucesso do Real Madrid finalista da Uefa Champions League se deve a a temporada incrível de Cristiano Ronaldo, melhor jogador do mundo. As boas atuações do portugês também tem de fundo um grupo de jogadores que vivem grandes fases, como Angel Di Maria, Luka Modric, Gareth Bale e Karin Benzema. Um time forte e compacto, mas que também deve muito ao comandante merengue: Carlo Ancelotti.

Contratado no início da temporada, o italiano montou a equipe que enfrenta o Atlético de Madrid em Lisboa, no próximo sábado, na disputa pelo título da Champions League. Campeão da Copa del Rey pelo Real, Ancelotti chegou até a final para alcançar um recorde: se tornará um dos quatro treinadores que mais disputou finais da maior competição de clubes do mundo.

Após um início sem conquistas de renome treinando Reggina, Parma e Juventus, a carreira de Ancelotti deu uma virada em 2001, quando foi contratado pelo Milan, clube que defendeu em suas últimas cinco temporadas como treinador, até o início da década de 90. E foi em Milão que os principais títulos vieram, incluindo duas Champions League. Após oito anos, deixou o San Siro para treinar o Chelsea, onde também conquistou títulos, e depois o Paris Saint-Germain, se tornando campeão francês.

Em 2013, foi escolhido como o substituto de José Mourinho no comando do Real Madrid. Tratado pelo presidente Florentino Pérez como 'o homem certo' para treinar o clube, Ancelotti chegou ao clube falando em fazer história, e garantiu, desde sua primeira entrevista como treinador merengue, que a corrida pela Champions seria sua prioridade.

Ao chegar em sua quarta final de Uefa Champions League, Carlo Ancelotti iguala o recorde de outros lendários treinador. Miguel Muñoz, treinador espanhol, é o detentor da melhor atuação: conquistou quatro torneios com o próprio Real Madrid, na década de 60. Além dos espanhóis, os outros treinadores foram Alex Ferguson, que em quatro finais pelo Manchester United venceu duas, e também o italiano Marcello Lippi, que chegou em quatro finais com a Juventus, vencendo uma.

Perto da famosa e famigerada 'décima' do Real, Ancelotti prova, mais uma vez, ser um dos treinadores mais competentes do mundo. Mesmo que não alcance a glória no Estádio da Luz, o italiano já está consolidado entre os grandes.

Início da carreira

Após se aposentar em 1992, se despedindo do futebol com um scudetto vestindo a camisa do Milan, Ancelotti já acenava que seria treinador. Seu primeiro trabalho veio três anos depois, quando treinou o Reggiana na Serie B, conquistando um acesso.

Depois, foi ao Parma, clube que havia começado a carreira como jogador. Na tmeporada 1996/97, conquistou o segundo lugar da Serie A italiana, em um time que possuia futuras estrelas, como Buffon, Cannavaro, Thuram e Crespo.

Sua boa passagem pelo Parma mostrou aos italianos que Ancelotti era capaz de treinar grandes equipes. E, da Emilia-Romagna foi direto para Turim, onde foi escolhido o treinador da Juventus. Substituto de Marcello Lippi na Velha Senhora, continuou a mostrar suas credenciais, e, apesar de não conquistar títulos, teve uma boa passagem pelo maior vencedor italiano.

Milan: títulos e coroação da carreira

Em 2001, o Milan buscava um substituto para Fatih Terim, e viu em seu ídolo Ancelotti a melhor opção. E foi um casamento de incríveis felicidades: ao todo, foram oito títulos nos oito anos anos que o treinador esteve no banco de reservas do San Siro.

Em sua primeira temporada, Ancelotti levou o Milan às semifinais da Taça Uefa. No ano seguinte, as primeiras conquistas: primeiro a Coppa Italia e, depois, a glória máxima da Uefa Champions League. A sexta taça europeia do rossonero de Milão foi conquistada nos pênaltis contra a Juventus, ex-equipe de Ancelotti -- depois de passar pela arquirrival Internazionale nas semifinais.

Para a temporada 2003/04, o treinador recebeu a contratação do brasileiro Kaká, vindo do São Paulo. Com um time já recheado de estrelas, levou o Milan ao título da Serie A, que não vinha desde 1999. Em uma incrível temporada do atacante Shevchenko, foram 25 vitórias em 34 partidas, e 11 pontos de vantagem para a vice-líder Roma. Na ocasião, a equipe de Ancelotti foi duramente eliminada da Champions League pela Real Sociedad, com uma sonora goleada por 4 a 0, fora de casa.

No ano seguinte, o Milan até seria vice-campeão italiano, atrás da Juventus, mas a maior frustração da carreira de Ancelotti estava datada para o dia 25 de maio de 2005, em Istambul. Depois de uma campanha eliminando Manchester United, Internazionale e PSV, o rossonero de Milão chegou até a final da Uefa Champions League para enfrentar o Liverpool. E abriu o placar logo com um minuto de jogo, com Maldini. Ainda no primeiro tempo, Crespo marcou dois e Ancelotti foi para o intervalo com uma vitória de 3 a 0.

Quis o destino que, no segundo tempo, o Liverpool empatasse a partida. Em uma atuação apática, o Milan foi presa fácil para os ingleses, e praticamente assistiu o 3 a 3. Com o psicológico abalado, a equipe de Ancelotti viu dois de seus principais jogadores (Pirlo e Shevchenko) perderem pênaltis na decisão, dando o título para os reds. Em toda sua carreira, Ancelotti nunca teve uma noite tão ruim quanto sua segunda final de Champions League.

A desolação de Ancelotti em Istambul (Foto: Filippo Monteforte / Getty Images)

Na temporada seguinte, duas frustrações. Primeiro uma eliminação para o Barcelona, na semifinal da Champions. Depois, devido a descoberta de um esquema de manipulação de resultados denominado 'Calciopoli', viu o Milan correr risco de rebaixamento pela participação no caso. Promotores chegaram a pedir que o clube fosse rebaixado, mas apenas a Juventus caiu para a Serie B italiana. O rossonero foi condenado a começar o próximo campeonato com menos oito pontos.

Desacreditados e criticados pela imprensa, Ancelotti e seus comandados tiveram sua força colocada em dúvida durante a temporada. Foi em 2007, porém, que o treinador deu a volta por cima, e alcançou sua terceira final de Champions League em 2007. Após passar por Celtic, Bayern de Munique e Manchester United, o adversário da decisão seria, mais uma vez, o algoz Liverpool.

Dida, Oddo, Nesta, Maldini, Jankulovski, Ambrosini, Gattuso, Pirlo, Seedorf, Kaká e Inzaghi foram os 11 inicias de Ancelotti, que, dias antes do duelo, havia declarado que não aguentaria uma nova derrota para o time inglês. Em Atenas, dois gols de Pippo Inzaghi deram ao Milan o título, vingando a derrota de dois anos atrás. O rossonero alcançava seu sétimo título, e Ancelotti se tornou bicampeão da Uefa Champions League tanto como jogador quanto como treinador.

O Milan tornaria a vencer a Uefa Supercup e, meses mais tarde, sagraria-se campeão mundial. Nas duas temporadas seguintes, campanhas muito aquém do que o time normalmente alcançava. Assim, em 2009, Milan e Ancelotti acordaram o fim do casamento que durou quase oito anos. Ao todo, foram 419 partidas no comando da equipe do San Siro, com 237 vitórias, 101 empates e 81 gols sofridos.

Chelsea: double conquistado e fracassos na Europa

O primeiro destino fora da Itália foi Londres. Seduzido pela promessa de Roman Abramovich de tentar buscar a primeira Uefa Champions League do Chelsea, Ancelotti foi até a Inglaterra em 2009. Logo no início, o primeiro título. Campeão da FA Cup da temporada anterior, o Chelsea disputou a Community Shield contra o Manchester United e, após o empate em 2 a 2, a conquista veio por uma vitória por 4 a 1 nos pênaltis.

Ao longo da temporada, uma sofrida eliminação: duas derrotas para a Internazionale de José Mourinho, e Champions League ficaria mais um ano longe do Chelsea e também de Ancelotti.

Apesar de ficar longe do objetivo principal, a temporada foi inesquecível para os Blues. Com uma impedosa goleada por 8 a 0 sobre o Wigan, o Chelsea coroou uma excelente campanha e levantou o título da Premier League. Foram 27 vitórias e absurdos 103 gols marcados, como os 29 do artilheiro Drogba e 17 assistências de Lampard. Além disso, o treinador italiano (que sempre teve bom retrospecto contra rivais) conquistou 100% de aproveitamento contra as outras três principais equipes da Inglaterra: Arsenal, Liverpool e Manchester United.

Menos de uma semana depois, Carlo entraria para a história do Chelsea. O gol de Drogba na vitória por 1 a 0 contra o Portsmounth deu aos blues o novo título da FA Cup seu primeiro double (conquistas da copa e do campeonato) da história. Mesmo sem a Champions League, Ancelotti estava em festa em Londres.

Italiano comemora o double, ao lado de John Terry (Foto: Shaun Botterill / Getty Images)

A segunda temporada, no entanto, foi frustrante. O Chelsea perdeu jogadores importantes, e teve uma péssima sequencia entre o fim do ano de 2010 e o início do ano seguinte. Foram quatro derrotas e três empates seguidos, que fizeram Ancelotti ser duramente criticado pela dura imprensa inglesa.

O clube até se reforçou, com as chegadas de Fernando Torres e David Luiz, mas as campanhas continuaram fracas. Quando a equipe foi eliminada, nas quartas de final pelo rival Manchester United, já se esperava que o fim da temporada não seria boa para o treinador.

O vice-campeonato da Premier League não foi o suficiente para que Abramovich quisesse manter Ancelotti no cargo. Após o fim do campeonato inglês, o italiano foi demitido em 22 de maio.

PSG: dinheiro e projeto interrompido

A traumática saída de Londres fez com que Ancelotti se tornasse objeto de desejo do Paris Saint-Germain. Recém comprado por um grupo do Qatar, o time os seis primeiros meses da temporada 2011/12 comandado por Antoine Kombouaré.

Carlo foi contratado na metade da temporada, e viu os parisienses se tornarem um dos maiores investidores do continente europeu. Mesmo assim, os resultados não foram bons. O PSG já havia sido eliminado pelo modesto Dijon na Coupe de la France e ainda na fase de grupos da Uefa Europa League. Depois, vieram a eliminação da Coupe de France para o Lyon e o segundo lugar da Ligue One.

A segunda temporada, no entanto, reservava o que o 'novo PSG' poderia oferecer de melhor. O clube tirou do Milan os astros Thiago Silva e Ibrahimovic, além de contratar Lavezzi, Verratti e van der Wiel. Os parisienses dominaram totalmente a França, e foram campeões da Ligue One com 25 vitórias. As frustrações, no entanto, voltaram a aparecer: eliminação para o modesto Evian na Coupe de France e para o Saint-Étienne na Coupe de la Ligue.

O pior, no entanto, foi a eliminação para o Barcelona, na Uefa Champions League. A vaga chegou a ficar próxima de Paris, mas os dois empates fizeram Ancelotti ser eliminado de mais uma competição europeia.

Com mais dinheiro em caixa e um futuro promissor, Ancelotti sempre falou do projeto do PSG e que gostaria de permanecer em Paris. Um convite, no entanto, fez o treinador mudar de ideia.

Ancelotti comemora o título da Ligue One (Foto: Xavier Laine / Getty Images)

Real Madrid: a busca pela décima

O Real Madrid vinha de uma frustrante temporada no comando de José Mourinho -- onde nenhum título foi conquistado. A diretoria merengue, então, foi até Carlo Ancelotti. O italiano aceitou deixar o PSG para comandar os espanhois, e chegou acompanhado do assistente técnico Zinedine Zidane. Quando apresentado, foi elogiado por lendas merengues e até por rivais, como Johan Cruyff -- ídolo do Barcelona. "O Real Madrid tem grandes jogadores, eles só precisam entender como jogar como um time. E Ancelotti vai fazer isso acontecer. Ele jogou e treinou no topo, então sabe muito bem o que se passa no vestiário", disse.

Johan Cruyff: "O Real Madrid tem grandes jogadores, eles só precisam entender como jogar como um time. E Ancelotti vai fazer isso acontecer"

O treinador deixou descontentes de fora, como Kaká, Higuaín e Albiol, promoveu um rodízio entre Casillas e Diego López, e começou a usar jovens no elenco, como Carvajal, Isco, Morata, Jesé e Illarramendi.

Auxiliado pela fase incrível de Cristiano Ronaldo, o Real Madrid de Ancelotti manteve bons números. A equipe venceu o Barcelona na final da Copa del Rey, com gol de Gareth Bale, no primeiro título do italiano na frente dos merengues. No campeonato nacional, o Real até brigou pelo título, e ficou até as últimas rodadas nas primeiras posições da La Liga. Tropeços em momentos decisivos, no entanto, deixaram o time de fora da briga pela conquista na última rodada.

Foi na Uefa Champions League que a equipe teve seus melhores momentos. Foram 12 jogos até a final, com dez vitórias e apenas uma derrota (para o Borussia Dortmund nas quartas de final, após ter vencido o primeiro jogo). Ao todo, foram 37 gols marcados, uma média de mais de três tentos por partida.

Durante o torneio, foram vitórias contra Galatasaray, Copenhague e Juventus na fase de grupos. Até a final, foram duelos contra alemães. Primeiro, goleadas contra Schalke 04 e Borussia Dortmund. Depois, na semi-final, uma atuação épica contra o atual campeão Bayern de Munique: impedosos 4 a 0, em plena Allianz Arena, e classificação para a final, onde enfrentarão o rival Atlético de Madrid.

Em 59 jogos na temporada, foram 45 vitórias, oito empates e seis derrotas, com 156 gols marcados e apenas 48 sofridos pela máquina de Ancelotti, o Mr Champions League.

Ancelotti venceu a Copa del Rey e ficou com o terceiro lugar na La Liga