Em 1996, quando a Fifa optou por realizar a Copa do Mundo de 2002 na Ásia e, pela primeira vez com uma divisão de sedes em dois países, o principal argumento era o de desenvolver o futebol local. O Japão, um dos escolhidos, já tinha uma liga bem consolidada há algum tempo, mas a Coreia do Sul, dividiu a responsabilidade com os japoneses, ainda era uma desconhecida no cenário do futebol.

O Mundial de 2002, seja nas sedes japonesas ou nas coreanas, impressionou pela beleza e pela modernidade dos estádios, além de ficar marcado por um desempenho razoável do Japão. A grande zebra da Copa, porém, foi a Coreia do Sul, que, a despeito de uma ou outra ajuda da arbitragem, conseguiu chegar até as semifinais, quando foi derrotada pela Alemanha.

Doze anos depois, a Coreia continua sendo referência em estrutura. Os estádios continuam muito bonitos e, embora não sejam sucesso de público, quase nenhum deles virou "elefante branco". No entanto, dentro de campo, as coisas não vão bem. Depois da euforia de 2002, os bons resultados desapareceram e os sul-coreanos tentam, no Brasil, voltar a surpreender o planeta e mostrar que, no futebol, a Ásia é muito mais que estádios modernos e impactantes.

Dez novos estádios para a Copa do Mundo de 2002

O número de sedes da Copa do Mundo de 2002 foi o maior de todos até hoje. Vinte cidades - dez japonesas e dez coreanas - foram escolhidas para receber os 64 jogos do Mundial. As coreanas Seul, Daegu, Busan, Incheon, Ulsan, Suwon, Gwangjou, Jeonju, Daejeon e Jeju se uniram as japonesas Yokohama, Saitama, Shizuoka, Osaka, Miyagi, Oita, Niigata, Ibaraki, Kobe e Sapporo na organização do maior campeonato de futebol do mundo.

Para evitar grandes deslocamentos, na primeira fase os países participantes jogaram apenas no Japão ou apenas na Coreia. O Grupo A da então atual campeã do Mundo e da Eurocopa, a França, o Grupo B, o Grupo C do futuro campeão Brasil e o Grupo D de uma das anfitriãs, a Coreia, foram jogados em terras sul-coreanas. Já as chaves E, F (o "grupo da morte" com Suécia, Inglaterra e Argentina), G e H (onde esteve o outro anfitrião, Japão) foram jogadas em campos japoneses.

Nas oitavas de final, cada país ficou com quatro jogos, mas, como à época um sorteio definia quais grupos se cruzariam no primeiro mata-mata, os primeiros deslocamentos internacionais começaram a acontecer. A Alemanha saiu do Japão para ir até a Coreia enfrentar o Paraguai, assim como a Irlanda para enfrentar a Espanha. O México fez o mesmo deslocamento para enfrentar os Estados Unidos, ao passo que a Itália foi eliminada pelos sul-coreanos depois de sair do Japão. Em contrapartida, Dinamarca, Senegal, Brasil e Turquia fizeram o caminho inverso para enfrentar, respectivamente, Inglaterra, Suécia, Bélgica e Japão.

Novamente evitando grandes deslocamentos, a Coreia do Sul sediou todos os jogos do lado esquerdo da chave até a semifinal, enquanto o Japão ficou com as partidas do lado direito. Na Coreia, a Alemanha bateu os Estados Unidos e os sul-coreanos despacharam a Itália, para depois caírem para os alemães. Como a final foi disputada em Yokohama, no Japão, restou para os coreanos a disputa de terceiro lugar, em Daegu, onde os anfitriões foram derrotados pela Turquia por 3 a 2. Doze anos depois e longe dos olhos do mundo, os estádios coreanos continuam sendo utilizados pelos clubes locais:

Seul World Cup Stadium (Seul): localizado na capital sul-coreana, foi inaugurado em dezembro de 2001. Com capacidade para 66.806 torcedores, recebeu três jogos do Mundial, incluindo a abertura, quando a França foi surpreendentemente derrotada por Senegal por 1 a 0. Recebeu também outra partida da primeira fase (Turquia 3 a 0 na China) e a semifinal em que a Coreia do Sul foi derrotada pela Alemanha por 1 a 0. Hoje, é a casa do Seoul FC, cinco vezes campeão nacional (as últimas duas vezes no novo estádio, em 2010 e 2012). É um dos clubes que se salvam na crise de público que vive a K-League, campeonato nacional de futebol. Os sul-coreanos preferem dar atenção aos campeonatos europeus e a média de público do Seoul, que já chegou a ultrapassar os 30 mil torcedores por jogo, é uma exceção. Em 2012, com uma média de 27.962 torcedores por partida, o clube foi o 17º do Mundo que mais atraiu os seus fãs ao estádio, embora tenha ficado atrás de clubes de outras ligas asiáticas, como a chinesa e a japonesa.

Daegu World Cup Stadium (Daegu): localizado em Daegu, quarta maior cidade da Coreia, foi inaugurado em maio de 2001 e tem capacidade para 68 mil torcedores. Na Copa, recebeu três partidas da primeira fase, incluindo uma da Coreia do Sul, o empate em 1 a 1 com os Estados Unidos. Também recebeu a disputa de terceiro lugar, onde os coreanos caíram por 3 a 2 para a Turquia. Também chamado de Blue Arc, ou Arco Azul, é a casa do Daegu FC, pequeno clube sul-coreano fundado especialmente para ocupar o estádio e que atualmente disputa a segunda divisão local. Nessa temporada, o estádio já recebeu quatro jogos.

Busan Asiad Stadium (Busan): Busan é a segunda maior cidade sul-coreana, perdendo apenas para a capital Seul, e ganhou, em julho de 2001, um estádio para 56 mil torcedores, que recebeu, antes da Copa do Mundo, os Jogos Asiáticos de 2002. No Mundial, foram apenas três jogos, todos na primeira fase, incluindo a vitória do selecionado local sobre a Polônia por 2 a 0 e o empate sem gols entre França e Uruguai. É o palco dos jogos do Busan I'Park, que já conquistou quatro campeonatos nacionais e uma Liga dos Campeões da Ásia, mas ainda não foi campeão no novo estádio. A torcida não costuma se fazer presente no Busan Stadium e o público costuma girar sempre em torno dos 3500 torcedores.

Incheon Munkak Stadium (Incheon): com uma população que saltou, em 121 anos (data de construção do porto da cidade) de 4700 para 2,5 milhões de habitantes, Incheon ganhou seu novo estádio em dezembro de 2001. Com capacidade para 52.200 torcedores, o Incheon Stadium recebeu três partidas da primeira fase, incluindo a derrota da França para a Dinamarca por 2 a 0 (que selou a eliminação francesa) e a vitória sul-coreana sobre Portugal por 1 a 0. Casa do Incheon United, raramente recebe mais de 10 mil torcedores em suas cadeiras. O clube foi fundado em 2003 justamente para evitar que o campo se tornasse um "elefante branco". Em setembro de 2014, receberá os Jogos Asiáticos, principal competição do continente.

Ulsan Munsu Football Stadium (Ulsan): fora do grupo das maiores cidades da Coreia do Sul, Ulsan ganhou um estádio em abril de 2001, quando a Coreia do Sul venceu o Brasil por 1 a 0 em um amistoso. Uma das sedes da Copa das Confederações de 2001, quando recebeu três dos 16 jogos do torneio (incluindo a disputa do terceiro lugar, com vitória australiana sobre o Brasil), foi palco de dois jogos da primeira fase da Copa do Mundo, as estreias de Uruguai (com derrota para Dinamarca) e Brasil (com vitória sobre a Turquia). Também abrigou a vitória da Alemanha sobre os Estados Unidos nas quartas de final. Um dos pioneiros do futebol local na era em que empresas bancavam e davam nomes aos clubes coreanos, o Ulsan Hyundai FC, patrocinado por uma das maiores montadoras de carros do mundo, com sede em Ulsan, ocupa atualmente o estádio que também é chamado de Big Crown, ou Grande Coroa. O Ulsan tem dois títulos sul-coreanos (o último já no novo estádio) e uma Liga dos Campeões Asiática, conquistada em 2012, também na nova casa. 

Suwon World Cup Stadium (Suwon): o estádio de Suwon para a Copa do Mundo de 2002 foi inaugurado em maio de 2001 para a Copa das Confederações, em que foi palco de três partidas, incluindo a semifinal em que a França derrotou o Brasil. Na Copa do Mundo, foram três jogos na primeira fase, incluindo a vitória do Brasil por 5 a 2 contra a Costa Rica. Encerrou sua história no Mundial nas oitavas de final, com a vitória da Espanha sobre a Irlanda por 1 a 0. Também conhecido por Blue Bird ("Pássaro Azul"), o estádio recebe os jogos de um dos mais tradicionais times sul-coreanos, o Samsung Bluewings. Fundado em 1995, ganhou quatro campeonatos e duas copas nacionais (sendo que apenas dois destes seis títulos foram antes da inauguração do Blue Bird) e duas Ligas dos Campeões da Ásia, em 2001 e 2002.

Guus Hiddink Stadium (Gwangju): inaugurado em setembro de 2001, o estádio de Gwangju mudou de nome depois da Copa do Mundo. Depois de receber dois jogos na primeira fase, o então Gwangju World Cup Stadium foi o palco da vitória da Coreia do Sul sobre a Espanha nos pênaltis, nas quartas de final. Então, o holandês Guus Hiddink, treinador da Coreia, passou a dar nome ao estádio em que a Ásia conquistou, pela primeira vez, vaga em uma semifinal de Copa do Mundo. Depois de algum tempo sem utilização, o campo de Gwangju ganhou um dono em 2010, o Gwangju FC, que atualmente está na primeira divisão da K-League.

Jeonju World Cup Stadium (Jeonju): uma das menores cidades da Coreia do Sul a receber jogos do Mundial, Jeonju teve seu estádio inaugurado em setembro de 2001 e abrigou três jogos da Copa: dois na primeira fase e a vitória dos Estados Unidos sobre o México nas oitavas de final. É lá que joga outro dos mais fortes times sul-coreanos, o Jeonbuk Hyundai Motors. Fundado em 1994, foi comprado pela Hyundai em 1997 e começou a crescer. Desde que passou a jogar em dos palcos da Copa de 2002, o Jeonbuk venceu duas vezes o Campeonato Sul-Coreano, duas vezes a copa local (único título que possuía antes da casa nova), uma vez a Supercopa da Coreia e uma vez a Liga dos Campeões da Ásia. 

Daejeon World Cup Stadium (Daejeon): também chamado de Purple Arena ("Arena Roxa"), o estádio de Daejeon foi inaugurado em setembro de 2000. Menor estádio da Copa de 2002, com capacidade para 41 mil pessoas, recebeu dois jogos da primeira fase e a vitória da Coreia do Sul sobre a Itália por 2 a 1 nas oitavas de final. Recebe os jogos do Daejeon Citizen, modesto clube local que tem uma média de público relativamente satisfatória, com algumas partidas alcançando quase 10 mil torcedores.

Jeju World Cup Stadium (Jeju): chamado de "o estádio mais bonito do mundo", o Jeju Stadium sempre esteve cercado de polêmicas. A escolha de uma cidade com apenas 500 mil habitantes e sem nenhum clube de futebol, localizada no extremo oriente da Ásia e que chamava a atenção apenas por seus pontos turísticos, não foi muito bem aceita à época. Na Copa do Mundo, a beleza do estádio chamou a atenção nos três jogos que ele recebeu na primeira fase, incluindo a vitória do Brasil sobre a China por 4 a 0. No entanto, ao final do Mundial, o estádio perdeu totalmente sua utilidade. Nos quatro anos seguintes, foi utilizado apenas uma vez, em 2005, para jogos de um torneio que reunia os campeões nacionais de Japão, China e Coreia do Sul em um campeonato de três jogos. Dois anos depois, foi palco de nove jogos da Copa do Mundo Sub-20, mas, depois disso, simplesmente não era mais utilizado.

Com uma manutenção cara, ele chegou a sofrer um terremoto que danificou sua cobertura e só ganhou um dono em 2007. Um dos grandes clubes da Coreia, o Bucheon United se tornou Jeju United em 2005, provocando protestos da torcida local. Desde que começou a ocupar o elefante branco sul-coreano, o Jeju ainda não conquistou o público local. Recebendo uma média de apenas sete mil torcedores por partida nas últimas temporadas, ele não impede o estádio arcar com um déficit de 150 mil dólares mensais. Hoje, o Jeju Stadium virou um ponto turístico que atrai a atenção principalmente dos turistas chineses. O fato de ser projetado para receber exclusivamente jogos de futebol impede a realização de eventos como shows ou mesmo os Jogos Asiáticos.

Depois da euforia, a decepção: a sequência de resultados ruins da seleção sul-coreana

É bem verdade que a Coreia do Sul contou com a ajuda da arbitragem na Copa do Mundo de 2002. Nas oitavas de final, a Itália teve um gol legítimo anulado já na prorrogação, que à época era disputada no sistema chamado de "gol de ouro", onde quem marcasse primeiro vencia. Nas quartas de final, o feito se repetiu em dose dupla com a Espanha. De todo modo, a campanha dos comandados de Guus Hiddink foi sensacional. Chegar na semifinal e fazer jogo duro com a Alemanha era muito mais do que qualquer um poderia imaginar no início do campeonato.

Até por isso, as expectativas em torno dos sul-coreanos cresceram muito. De uma hora para outra, a seleção da Coreia do Sul virou a grande potência do continente, promessa de grandes resultados em um futuro recente. As coisas, no entanto, não andaram bem assim. Os resultados nas categorias de base não são ruins, mas também não chamam muito a atenção. O futebol local de clubes cresce, mas ainda está apoiado em jogadores estrangeiros. Como dito anteriormente, os grandes campeonatos europeus atraem muito mais os torcedores locais, o que dificulta o surgimento de novos jogadores.

No início deste ano, o Santos anunciou uma parceria com clubes sul-coreanos para promover um intercâmbio que pode ser útil aos dois países e, no caso sul-coreano, justificar a euforia que tomou conta do país depois da Copa do Mundo de 2002.

Campanhas modestas na Copa da Ásia: quando a Coreia enfim levou a Ásia a semifinal da Copa do Mundo, a melhor campanha da equipe na Copa da Ásia havia sido um vice-campeonato em 1980 e 1988, quando perdeu para Kuwait e Arábia Saudita respectivamente. Assim, a equipe chegou ao torneio de 2004, disputado na China, como a maior favorita ao título. Apesar do empate com a Jordânia na estreia, os sul-coreanos avançaram em primeiro lugar no Grupo C após vencerem Kuwait e Emirados Árabes Unidos. Na sequência, os favoritos enfrentariam o Irã pelas quartas de final. Os coreanos foram surpreendidos pelo gol iranianio que saiu aos 10 minutos. Aos 25 minutos, a partida já estava 2 a 2. A Coreia ficou novamente atrás no placar, conseguiu mais uma vez a igualdade, mas o Irã conseguiu a vitória por 4 a 3, eliminando precocemente a Coreia do Sul.

Três anos depois, o torneio foi disputado em quatro países: Indonésia, Tailândia, Vietnã e Malásia. Embora não fosse mais a grande favorita, a Coreia ainda era uma das maiores postulantes ao título. Na primeira fase, uma campanha irregular com empate com a Arábia Saudita, derrota ante o Bahrein e vitória sobre a Indonésia classificaram os sul-coreanos em segundo lugar. Reencontrando o Irã nas quartas de final, a Coreia empatou em zero a zero nos 120 minutos de bola rolando e se classificou com uma vitória por 4 a 2 nos pênaltis. Na semifinal, o adversário foi o surpreendente Iraque. Favorita, a Coreia do Sul não conseguiu marcar e foi decidir novamente nas penalidades, mas, agora, sem o mesmo sucesso. A derrota por 4 a 3 foi mais uma decepção para os coreanos que, depois de outro empate sem gols, derrotaram o Japão na disputa pelo terceiro lugar ao vencerem por 6 a 5 nos pênaltis.

Quatro anos mais tarde, os sul-coreanos desembarcaram no Catar em busca do primeiro título de sua história no torneio. Depois de bater Bahrein e Índia e ficar no empate com a Austrália, a Coreia, pelo saldo de gols, avançou mais uma vez em segundo lugar. Pela terceira vez, o adversário nas quartas de final foi o Irã e, dessa vez, a vitória veio na prorrogação, 1 a 0. Na semifinal, novo embate com os japoneses e novamente a decisão foi nos pênaltis. Um gol para cada lado no tempo normal, um para cada lado na prorrogação e, nos pênaltis, faltou pontaria para os sul-coreanos, que perderam todos os seus três penais e foram derrotados por 3 a 0. O prêmio de consolação foi conquistar novamente o terceiro lugar com um triunfo sobre o Uzbequistão por 3 a 2.

Longe do protagonismo nas Copas do Mundo: quando a Coreia do Sul chegou na Copa do Mundo de 2006 poucos acreditavam em uma campanha que repetisse o feito de 2002. Ainda assim, dividindo o Grupo G do torneio disputado na Alemanha com França, Suíça e Togo, era esperada uma classificação para as oitavas de final. Na primeira partida, os asiáticos fizeram sua parte e venceram Togo por 2 a 1. Na segunda partida, os coreanos arrancaram um empate com a França e ficaram com boas chances de classificação. Precisando vencer a Suíça no último jogo, os sul-coreanos foram derrotados por 2 a 0 e deixaram o Mundial ainda na primeira fase.

Quatro anos depois, com sua campanha na Copa de 2002 quase esquecida, os sul-coreanos deram sorte. O sorteio das chaves do Mundial da África do Sul colocou a equipe asiática no Grupo B, ao lado da Argentina e das fracas Nigéria e Grécia. Depois de vencer os gregos por 2 a 0, os coreanos foram goleados pela Argentina por 4 a 1, mas conseguiram a classificação com um empate em 2 a 2 com os nigerianos. Nas oitavas de final, os asiáticos voltaram a ser azarões ao encontrarem o Uruguai. Os sul-americanos saíram na frente, mas, já na segunda metade da segunda etapa, a Coreia do Sul empatou. Aos 35 minutos do segundo tempo, porém, Luis Suarez fez o gol que definiu a classificação uruguaia, eliminando os coreanos que, definitivamente, voltavam a ocupar o papel de coadjuvantes em Copas do Mundo.

Coreia apresenta bons resultados recentes nas Olimpíadas: o torneio de futebol masculino das Olimpíadas permite a participação apenas de jogadores sub-23, com três exceções permitidas. Longe de ser a mais importante dos Jogos Olímpicos e longe de ser o torneio mais importante do futebol mundial, a competição tem sido palco de bons desempenhos do futebol sul-coreano. Em 2004, nos Jogos de Atenas, a Coreia ficou em segundo lugar no Grupo A, com cinco pontos, após empatarem com a anfitriã Grécia e a africana Mali e derrotarem o México. Nas quartas de final, a Coreia do Sul fez jogo duro com a forte seleção do Paraguai, mas foi derrotada por 3 a 2.

Quatro anos depois, a campanha já não foi tão boa assim nos Jogos de Pequim. No Grupo D, os sul-coreanos até venceram Honduras na última rodada, mas por terem empatado com Camarões e perdido para a Itália, deixaram a competição já na primeira fase. Nos Jogos de Londres, em 2012, a Coreia voltou a aparecer com destaque. No Grupo B, os asiáticos estrearam com empate em 0 a 0 contra o México e conseguiram a classificação após vencerem a Suíça e empatarem com o Gabão. Nas quartas de final, a Coreia enfrentou a anfitriã Grã-Bretanha e, após empate em 1 a 1 no tempo normal, conseguiu vencer por 4 a 3 nos pênaltis. Assim, bastava vencer um de seus dois últimos jogos para sair de Londres com uma medalha. Na semifinal, não deu. Derrota por 3 a 0 para o Brasil. Porém, na disputa pelo terceiro lugar, uma vitória por 2 a 0 sobre o seu rival Japão, garantiu uma muito comemorada medalha de bronze para a Coreia do Sul.

A boa fase no futebol de clubes

A ideia de desenvolver o futebol da Coreia do Sul com a Copa do Mundo de 2002 parece ter sido bem sucedida. O futebol sul-coreano teve o início de sua era profissional em 1983, mas só começou a alcançar bons resultados a nível continental quando as grandes empresas do país passaram a investir nos clubes, já na década de 90. Até então, a Coreia tinha apenas um título da Liga dos Campeões da Ásia, em 1986, com o Daewoo Royals. A Coreia conquistou o torneio continental em 1996 com o Seongnam Ilhwa, em 1997 e 1998 com o Pohang Steelers e em 2001 e 2002 com o Samsung Bluewings.

A partir de 2003, o torneio ficou maior, ganhou maior importância e passou a ser estruturado nos moldes da Uefa Champions League ou da Copa Libertadores. Nos primeiros anos, apesar do crescimento absurdo do futebol sul-coreano depois da Copa do Mundo, o título não veio. A K-League, que é o campeonato nacional, apresentava uma grande evolução. O investimento das empresas não parava de crescer e a liga local já atraía jogadores de grandes centros do futebol mundial, como o Brasil. Evidentemente, não eram contratados grandes craques, mas jogadores de algum destaque no futebol brasileiro e sul-americanos começavam, na década de 2000, a se deslocar para a Coreia do Sul.

O primeiro título dos sul-coreanos na Champions League asiática se deu em 2006, com o Jeonbuk Motors. A boa fase continuou com títulos do Pohang Steelers em 2009, do Seongnam Ilhwa em 2010 e do Ulsan Hyundai em 2012. Na última edição, em 2013, o Seoul FC foi finalista, mas acabou derrotado pelo chinês Guangzhou Evergrande, que contava com Darío Conca. Neste ano de 2014, já foi encerrada a fase de oitavas de final e restam dois times da Coreia do Sul no torneio: o Pohang Steelers e o Seoul FC, que se enfrentam nas quartas de final, que será disputada somente em agosto.

A nível Mundial, os resultados são relativamente satisfatórios. O Pohang Steelers em 2009 e o Seongnam em 2010 foram até a fase semifinal do Mundial de Clubes. O Pohang terminou em terceiro lugar após derrotar o Atlante do México nos pênaltis e o Seongnam terminou em quarto, derrotado pelo Internacional na disputa pelo terceiro lugar. Apenas o Jeonbuk Motors em 2006 e o Ulsan em 2012 foram eliminados nas quartas de final. O Jeonbuk venceu o Adelaide United, da Austrália, por 3 a 0 na disputa pelo quinto lugar, enquanto o Ulsan caiu para o Sanfrecce Hiroshima, do Japão, por 3 a 2.

Contraste entre estrutura e técnica

A campanha na Copa do Mundo de 2002 mostrou que o futebol sul-coreano estava no caminho certo e preparado para uma grande evolução. Tinha chamado a atenção do Mundo, conquistado o respeito de quem gosta de futebol, quebrando um pouco o estereótipo de que asiáticos não sabem jogar bola e, de quebra, tinham uma estrutura invejável, aliada a um enorme potencial econômico.

O terreno estava preparado, mas faltou competência para saber usá-lo. A parte técnica foi o grande empecilho de um país que evoluiu bastante taticamente, mas que ainda não tem a habilidade necessária para ir longe. É uma situação totalmente contrária, por exemplo, a dos países africanos, que tem um grande potencial individual, mas não possui muita inteligência tática ou uma estrutura que lhe permite alçar voos mais altos.

Na Coreia, os poucos resultados que não decepcionam, mas que também não chegam a ser espetaculares, se dão por um ou outro destaque esporádico ou através do acaso, do imprevisível com que o futebol trabalha a todo momento. Aos poucos, a Coreia do Sul praticamente volta ao estágio em que se encontrava antes da Copa de 2002 e precisará, sempre amparada pela sua forte estrutura, repensar e recomeçar um trabalho a longo prazo para, no futuro, voltar a mostrar que pode ser tão competente no campo como é fora dele.

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