O ex-treinador Arrigo Sacchi completa 70 anos nesta sexta-feira (1º), logo no dia da mentira. O que está longe de ser uma fraude é o legado futebolístico deixado por ele, um fascinado pela vitória e um louco pela estética do jogo. Comandante da última equipe bicampeã do maior torneio de clubes da Europa - o Milan, nas temporadas 1988/1989 e 1989/1990 -, Sacchi concedeu uma longa entrevista ao jornal La Gazzeta dello Sport nesta sexta, falando sobre quase tudo.

A entrevista completa foi publicada apenas na versão física do jornal, mas as respostas de Arrigo obviamente não ficaram presas a um pedaço de papel. Como a questão das referências de Sacchi: "Meus ídolos? Primeiro, os times - Real Madrid, Hungria e Brasil. Depois os jogadores - Di Stéfano, Schiaffino, Pelé. No fim dos anos 1960, trabalhava na fábrica de calçados do meu pai, estava na Holanda a trabalho. Foi quando me apaixonei pelo futebol total", falou.

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"O protagonista era o time, não o indivíduo. Ver os jogos do Ajax era como ir a um concerto, música harmoniosa", ressaltou Sacchi. O Parma, clube que projetou o técnico, também esteve na pauta: "No Parma, tínhamos um time jovem. Eu pedia velocidade e movimento, pressão e linha de impedimento; e muita atenção. Ganhamos a terceira divisão com sobras", comentou ele. Em relação ao convite do Milan, à época presidido por Silvio Berlusconi, Sacchi deu os detalhes.

Foto: Getty Images
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"Enfrentei o Milan - com o Parma - em amistoso e na Copa Itália. Jogamos bem, Berlusconi se impressionou. Então ele me disse: 'Vou te acompanhar por todo o campeonato'. Depois, me chamou para o Milan", revelou. "Berlusconi me defendeu diante de todos, deixou claro que eu era parte do projeto e que, sem mim, não iriam adiante. Foi decisivo".

"Quando trouxemos Carlo Ancelotti, ele [Berlusconi] me disse: 'Não posso comprar um jogador que tem 20% de invalidez no joelho'. Eu respondi: 'Ficaria preocupado se a invalidez fosse no cérebro'. Ele foi comprado", contou o treinador. "O papel do treinador é responsabilizar os jogadores e transmitir sua crença. O jogo comanda, os jogadores o interpretam", opinou.

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"O adversário mais difícil? Maradona. Único, irreptível. Antes de enfrentar o Napoli, em janeiro de 1988, disse aos meus jogadores algo simples, rústico: 'Não deixem a bola chegar até ele, ou então nos castiga'. Defesa alta, linha de impedimento no meio-campo. Vencemos por 4 a 1". A beleza do futebol, é claro, não poderia ficar de fora: "O futebol nasce da mente. Michelângelo dizia que os quadros se pintam com o cérebro, as mãos são apenas instrumentos. O mesmo vale para o futebol, sou obcecado pela beleza e harmonia".