Estou aqui para falar de mim. Mas não só de mim, e sim de tudo o que passei até chegar ao topo. Minha jornada nunca foi fácil em nenhuma de minhas conquistas, mas essa eu preciso destacar com um pouco mais de ênfase pois além de ser mais recente, creio que mexeu demais comigo, e com vocês também.

Eu não estava bem. Eu mesmo sabia disso, além de todos os outros que me apontavam o dedo. Eu quase fui rebaixado pela terceira vez em minha história. 2002, 2012 e 2014, logo após retornar à primeira divisão. Eu realmente não queria viver isso novamente. Não tenho culpa total, pois não sou sozinho. Vários homens vestiram minha camisa e me levaram em seu peito, mas nem todos me carregaram como eu merecia ser carregado. Porém, depois muito esforço e sofrimento, me reergui e permaneci na elite do futebol brasileiro, que é o meu lugar.

A partir daí fui muito questionado. Muitos dos homens que me representavam foram embora. Alguns ficaram e muitos outros entraram. Apesar de tudo, fiquei na minha. Sem alarde ou muitos holofotes. Surpreendi no campeonato estadual. Diante do meu maior rival, avancei para a final. E melhor ainda: na casa dele! Ninguém esperava, mas eu sabia que conseguiria chegar ali. Se tinham alguns contra mim, eu tinha certeza que milhares estavam comigo, mesmo que em muitos cantos distantes. Eles fizeram a diferença.

O jogo da final, diante de mais um rival não teve um desfecho que os que estavam comigo queriam. Nem como eu queria. Fui eliminado nos pênaltis e não pude dar a alegria que tanto queria aos que me incentivaram. Mas eu sabia que não iria ser em vão todas as coisas que estavam acontecendo.

No campeonato nacional fui muito instável. Consegui ficar entre os quatro primeiros colocados por um tempo, mas decaí e encerrei meu trajeto no meio da tabela. Mas meu foco era outro: a Copa do Brasil.

O caminho foi duro, tive várias pedreiras para enfrentar. Na fase eliminatória, meu maior fardo foi o ASA de Arapiraca. No primeiro jogo, eu estava há três partidas sem balançar as redes. Os milhares estavam impacientes, e eu jogando em casa. Não podia sair dali sem a vitória, mas infelizmente não consegui e o placar zerado se manteve. Mas no jogo de volta eu precisava de uma resposta positiva, mesmo fora de casa. Eu fiz de tudo. E graças ao Gabriel Jesus, consegui sair de lá com a vitória no placar mínimo.

Me falavam que eu não passaria das eliminatórias. E passei. Questionaram meu elenco, meu técnico e minha qualidade. Eu sei que não era o melhor em todos esses quesitos, mas acreditava em mim, porque sabia que aqueles milhares estavam comigo. Os outros que não estavam? Me fortaleciam.

Os outros me diziam que eu era fraco, que não chegaria em lugar algum, mas com muita luta eliminei grandes nomes do futebol brasileiro e cheguei à final diante daquele mesmo time que enfrentei no campeonato estadual. Mas eu era outro.

Os outros me diziam que cheguei ali por pura sorte, que não seria fácil. Sorte? Talvez. Sorte de campeão, quem sabe… E eu mais do que ninguém sabia o desafio que me esperava. Realmente não seria fácil. Só que aqueles milhares estavam comigo.

Os outros me diziam que o adversário era favorito, que tinha mais qualidade e um time mais forte. Eu não precisava deles. Eu tinha os meus milhares comigo. Qualidade? Tudo bem, não era muito o meu ponto forte, mas o esforço compensou. Time forte? Pode ser que o meu não era lá essas coisas, mas sabia que eles dariam conta do recado pois além deles, tinham mais os milhares que estavam comigo, e também com eles.

Os outros me diziam que a final já estava ganha pelo adversário por aquele gol que ele marcou em sua casa, que a vantagem era dele e que eu não conseguiria virar o jogo, afinal, eu não tinha qualidade. A vantagem? Se desfez. Dudu marcou um tento e tudo ficou igual. E ainda fez mais um. O título estava não só na minha, mas nas nossas mãos. Mas o rival tinha qualidade. Balançou as redes e tudo se igualou novamente. Decidiríamos nos pênaltis mais uma vez. Eu sei, já vi esse filme antes, mas o desfecho seria diferente. Eu sabia que seria.

Os outros me diziam que eu já tinha perdido uma decisão de pênaltis contra o rival da noite, mas já não estavam mais tão desacreditados e duvidando de mim. Eu tinha no gol Fernando Prass, que defendeu um pênalti. Mas a salvação não veio das suas mãos, e sim dos seus pés. Última cobrança e meu goleiro converteu. E eu consegui. Nós conseguimos.

Agora os outros não me dizem mais aquelas coisas. Eles se lembraram que apesar de tudo, sou grande, mereço respeito e que sim, estou vivo e na luta. Mas não estou sozinho. Devo tudo isso aos milhares que sempre estiveram comigo em todas as circunstâncias, mesmo quando eu não pude dar a eles o que mereciam, mesmo quando deixei a desejar.

Eu sou o que sou, gigante e campeão, graças aos milhares que, mesmo de longe, nunca me deixarem só. Eu sou a Sociedade Esportiva Palmeiras, e a Sociedade Esportiva Palmeiras é cada um de vocês que se entregaram dentro e fora de campo para esse título virar realidade. Nós somos o Palmeiras, desde sempre e para sempre.

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Sobre o autor
Natália Furlan
Uma profissional em construção. Sou um rascunho, uma prévia, um esboço. Sigo em busca da excelência, da primazia, da imponência.