Menino da Vila, santista e cruel. O torcedor do Santos criou expectativas desde cedo, aproveitou o bom futebol e até fez música para o atacante Gabriel, um dos principais jogadores criados na base do clube alvinegro. 

Aos 19 anos, Gabigol é um dos principais jogadores do futebol brasileiro. Atacante canhoto, forte finalizador e com técnica apurada, o camisa 10 do Santos coleciona fãs pelos gols e jogadas plásticas, mas também desafetos pelo estilo de jogo e pela marra em campo. Seja qual for a opinião pública, é inegável que o jogador é um dos grandes nomes da atual geração, e que será peça fundamental no esquema de Rogério Micaele na Seleção Brasileira que disputará os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, a partir do próximo mês.

Possível titular no time canarinho, Gabriel vestirá a camisa 9 na briga pelo Ouro. Isso era impensável para o jovem que, dez anos atrás, via o pai contar moedas e pedir dinheiro emprestado para pagar suas passagens até o treino da equipe de futebol do salão do São Paulo. O tempo passou, ganhou o apelido e Gabigol se tornou a maior promessa da base santista desde Neymar. Agora, jogará ao lado do ídolo na Olimpíada.

Ensaiando uma possível despedida do Santos, os jogos do Rio de Janeiro podem ser as últimas partidas do atacante em solo brasileiro. Uma proposta da Juventus já está nas mãos dos representantes de Gabriel, que não esconde a vontade de atuar na Europa. Antes, porem, tem uma missão clara: marcar os gols para dar o título inédito ao futebol brasileiro.

Camisa 10 do Santos é um dos principais jogadores do futebol brasileiro (Foto: Ivan Storti / Santos FC)
Camisa 10 do Santos é um dos principais jogadores do futebol brasileiro (Foto: Ivan Storti / Santos FC)

Da infância dura e do fustal no São Paulo ao status de promessa santista

O início da carreira de Gabriel foi unindo o futsal com uma infância humilde e cheia de necessidades -- como a de muitos craques do futebol brasileiro. Criado na favela do Montanhão, na cidade de São Bernardo, região metropolitana de São Paulo, o jovem deu os primeiros chutes no time de futebol de salão do São Paulo, enquanto os pais Valdemir e Lindalva, lutavam contra as dificuldades. "Pegávamos dinheiro emprestado para o Gabriel treinar. Já vimos gente morrer na nossa frente. Eram com frenquências [mortes], bandidos matando bandidos. Foi difícil no começo, mas depois fizemos muitos amigos e o bairro se tornou um lugar gostoso", afirmou Valdemir, pai do atacante, em entrevista ao portal UOL, em 2015. Valdemir contava moedas de seu trabalho como metalúrgico para custear o transporte do filho aos treinos. 

Tudo mudou quanto, aos nove anos, já acostumado a brilhar pelo Tricolor, Gabriel fez todos os gols da vitória por 6 a 4 sobre o Santos, justamente seu time de coração, em um amistoso. Quem viu o garoto jogando foi Zito, bicampeão mundial pelo Peixe e um dos maiores ídolos da história do alvinegro, e também responsável por levar Robinho e Neymar ao time. Prontamente indicou a criança ao Santos, que ficou impressionado com seu talento e não mediu esforços para levar toda a família do atacante para a baixada santistas. E foi lá que Gabriel começou sua carreira no futebol de campo, brilhando nas categorias de base santistas.

O jovem ganhou o apelido de Gabigol para diferenciar-se de outros com o mesmo nome, e, sempre com idade abaixo dos colegas de categoria, foi artilheiro dos Campeonatos Paulista Sub13 e Sub15. Em 2012, artilheiro do Campeonato Brasileiro Sub17, o atacante foi 'escondido' pelo Santos até completar 16 anos e, enfim, assinar seu primeiro contrato profissional. Já agenciado desde seus 13 pelo empresário Wagner Ribeiro, o mesmo de Neymar, Gabriel ainda cursava o ensino médio no colégio quando teve sua primeira multa rescisória acordada em R$ 131 milhões.

O curioso é que Gabigol nunca disputou uma Copa São Paulo de Futebol Júnior, principal torneio de base do país. Iso porque o atacante subiu da equipe Sub17 direto para o time profissional do Peixe, com apenas 16 anos, em 2013 (naquele ano, o Santos foi campeão da Copinha, com sua geração 1993). Mesmo após ter estreado no time principal, Gabriel chegou a ser inscrito no torneio de 2014, mas não chegou a ser convocado. O artilheiro era muito acima da média para continuar em torneios juniores.

Desde cedo, Gabriel atraiu olhares e virou xodó das categorias de base santistas (Foto: Divulgação / Santos FC)
Desde cedo, Gabriel atraiu olhares e virou xodó das categorias de base santistas (Foto: Divulgação / Santos FC)

Santos, sempre Santos: no eterno time do coração, protagonismo desde cedo e destaque imediato

Se Gabigol era tratado pelo Santos como sua maior jóia das categorias de base desde Neymar, quis o destino que a dupla tivesse seus extremos no mesmo dia. Apesar de ter atuado em um amistoso, a estreia oficial do jovem atacante pelo Peixe foi no dia 26 de maio de 2013, no empate sem gols contra o Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro. Curiosamente, a despedida do hoje jogador do Barcelona -- e possível companheiro de ataque na Seleção Olímpica. A comparação foi inevitável, mas o próprio Gabigol, que naquela tarde vestiu a camisa 18, foi enfático. "Ninguém vai ser o novo Neymar. Ele é único no Santos. Eu quero procurar meu espaço, fazer gols e ajudar a equipe", disse, em entrevista para a TV Globo. E o futuro seria grandioso.

Não demorou muito para Gabriel estourar. Se em 2013 foram apenas quatro jogos como titular e dois gols marcados, no ano seguinte o atacante começou com tudo: com 18 anos recém-completados, terminou o ano como artilheiro da equipe na temporada, com 21 gols em 56 partidas, além de um dos goleadores máximos da Copa do Brasil. Em 2015, números idênticos: 21 gols em 56 jogos e nova artilharia da Copa do Brasil, mas com o título Paulista conquistado e a confirmação de que não se trataria apenas de uma eterna promessa.

Em 2016, já com o posto de um dos melhores jogadores do futebol brasileiro, Gabigol já anotou 12 gols, foi novamente campeão estadual e se tornou o terceiro jogador mais jovem a marcar 50 vezes pelo clube -- atrás, apenas, de Pelé e Coutinho. Ao todo, são 56 gols e 25 assistências em 152 jogos oficiais pelo Santos. O último tento aconteceu justamente na despedida para a disputa dos Jogos Olímpicos, mas pode ter sido a última vez que Gabriel vestiu a camisa do Santos. Com gigantes europeus de olho, é bem possível que o atacante não volte ao time do coração depois da busca pelo ouro no Rio de Janeiro.

Tratado como joia, Gabriel brilha pelo time do coração (Foto:  Alexandre Schneider / Getty Images)
Tratado como joia, Gabriel brilha pelo time do coração (Foto: Alexandre Schneider / Getty Images)

Na Seleção, coadjuvante na base e estreia na Copa América Centenário

Pelo grande potencial que mostrou desde os primeiros passos da carreira, era natural que Gabriel figurasse em todas as seleções de base. Ele, no entanto, não chegou a brilhar com a camisa canarinho. Sua primeira competição oficial foi o Mundial Sub17 de 2013, e as lembranças não são boas: apesar de ter mercado um gol no torneio, foi reserva no time de Alexandre Gallo e perdeu um dos pênaltis na eliminação brasileira para o México.

Seu único título com a Seleção aconteceu em 2014, quando marcou três gols no Torneio Internacional Cotif, campeonato amistoso. Em 2015, titular da campanha do Brasil no Sul-Americano Sub20, foi titular em apenas três jogos e marcou um gol no quarto lugar do Brasil. Desde então, foram apenas amistosos com a Seleção Olímpica, até o primeiro chamado para o time principal: em março de 2016, foi convocado por Dunga para substituir justamente Neymar, suspenso, nas eliminatórias na Copa. 

A primeira vez que entrou em campo pela Seleção Brasileira foi na Copa América Centenário. Gabigol estreou ao substituir Jonas no empate em 0 a 0 contra o Equador, e, no jogo seguinte, também substituiu o atacante do Benfica na goleada contra o Haiti: na goleada por 7 a 1, marcou seu primeiro gol. Com a boa atuação, foi titular de Dunga no confronto decisivo contra o Peru, mas, sem boa atuação, foi substituído por Hulk e não ajudou o Brasil a evitar a derrota por 1 a 0 e a eliminação ainda na primeira fase na competição continental.

Na goleada contra o Haiti, o primeiro gol pela Seleção principal (Foto: Rafael Ribeiro / CBF)
Na goleada contra o Haiti, o primeiro gol pela Seleção principal (Foto: Rafael Ribeiro / CBF)

Jogos Olímpicos: camisa 9 e a chance de brilhar

Gabigol sempre foi tratado com bom prospecto para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Desde cedo brilhando pelo Santos, mostrando boas características e marcando gols, o atacante foi titular em toda a preparação, normalmente dividindo o ataque com Gabriel Jesus, do Palmeiras, e Luan, do Grêmio. Agora, no entanto, o técnico Rogério Micaele usou duas de suas três de para jogadores acima de 23 anos para convocar atletas de frente. Com Neymar e Renato Augusto titulares, algum dos jovens avantes vai sobrar.

Gabigol deve sair na frente, e, ao menos, iniciar a competição como titular. Ao menos são o que mostram os primeiros treinos do time, com o gremista abaixo da dupla dos times paulistas. O santista, por ter facilidade em atuar em qualquer das posições de ataque, deve ser a referência do ataque brasileiro, até porque foi convocado pela seleção principal para a Copa América Centenário. Não à toa, recebeu a camisa 9 do time olímpico, e será um dos principais trunfos brasileiros na briga pelo ouro inédito.

Ao lado de Neymar, Gabriel deve ser titular da Seleção Olímpica (Foto: Lucas Figueiredo/Mowa Press)
Ao lado de Neymar, Gabriel deve ser titular da Seleção Olímpica (Foto: Lucas Figueiredo/Mowa Press)

Futuro: assédio da Juventus e possível ida para Europa

O assédio de gigantes do futebol europeu e as recentes entrevistas sugerem que Gabigol não deve voltar à Vila Belmiro após os Jogos Olímpicos. A cada dia, surgem novas notícias sobre o interesse de novos clubes, dispostos a pagar milhões pela contratação do jovem atacante de 19 anos.

Nos últimos dias, as principais apurações dão conta de uma proposta da Juventus, da Itália, de aproximadamente 20 milhões de euros. Haveria, no entanto, um impasse com o jogador, que teria que abrir mão de sua parte na negociação (40%) para poder assinar com o time italiano, isso porque há uma cláusula em seu contrato que o Santos precisaria aceitar uma oferta superior a 18 milhões e o atacante tivesse essa opção -- o alvinegro possui mais 40% e os outros 20% são da Doyen Sports. 

Vale lembrar que o Barcelona tem prioridade na compra de Gabriel, conforme estabelecido entre espanhois e brasileiros no acordo pela negociação de Neymar, em 2013 -- o Barça, no entanto, até agora não sinalizou uma proposta. Além da Juve, equipes como Chelsea, Paris Saint-Germain e Borussia Dortmund manifestaram interesse no atacante. A tendência é que o principal Menino da Vila após a geração de Neymar e Ganso não atue mais pelo Santos, e deixe saudades na Vila Belmiro. Não sem antes ser uma das principais forças do Brasil nos Jogos Olímpicos.

FICHA TÉCNICA - GABRIEL
Nome: Gabriel Barbosa Almeida
Clube: Santos
Posição: Atacante
Nascimento: 30/08/1996
Títulos: Campeonato Paulista (2014, 2015)
Artilharias: Copa do Brasil (2014, 2015)

Em seu último jogo pelo Santos antes de se apresentar à Seleção, Gabigol mostrou seu amor pelo clube (Foto: Ivan Storti / Santos FC)
Em seu último jogo pelo Santos antes de se apresentar à Seleção, Gabigol mostrou seu amor pelo clube praiano (Foto: Ivan Storti / Santos FC)
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Sobre o autor
Caíque Toledo
Jornalista metido a entendedor de futebol, tênis, Formula 1 e futebol americano.