Uma partida marcante entre Botafogo e Grêmio. Parece familiar? Mas não, não é sobre o confronto da próxima quarta-feira (13) pela Libertadores. O ano era 2012, 11ª rodada do Campeonato Brasileiro, o Alvinegro Carioca recebia o tricolor gaúcho no, ainda, Estádio Olímpico João Havelange, dia da estréia do holandês Clarence Seedorf. Mas o que tinha tudo pra ser uma noite de festa, foi jogado por água abaixo. Os comandados de Vanderlei Luxemburgo fizeram um jogo perfeito e voltaram para o Rio Grande do Sul com os três pontos na bagagem.

O gol de Marcelo Moreno e a grande partida de Zé Roberto, tomaram um pouco do brilho a estréia do holandês, que mesmo com a derrota, foi elogiado por suas condições físicas e técnicas. Durante a primeira etapa, Clarence foi o melhor jogador em campo, verticalizando e dando dinamismo aos ataques do Botafogo na partida, mas não conseguindo furar o bloqueio da equipe gaúcha.

Na largada do segundo tempo, o Grêmio abriu o placar e se fechou ainda mais. O craque acabou sendo substituído aos 24 minutos de segundo tempo pelo treinador Oswaldo de Oliveira, sendo ovacionado pela torcida presente ao estádio. Mas a tentativa do técnico não surtiu efeito, e o alvinegro foi derrotado em casa.

"A gente não merecia perder esse jogo. Foi em um lance muito estranho que o Grêmio fez o gol. Mas foi um jogo muito equilibrado. A torcida foi fantástica com a gente, o time jogou para ganhar, a gente procurou tirar o melhor, mas não deu. Para a próxima, é trabalhar mais, eu principalmente para entrar em melhor forma", destacou o holandês ao sair de campo no final da partida.

O legado de Seedorf

Toda contratação traz consigo uma expectativa, quando a contratação é de um jogador europeu multicampeão e de qualidade a nivel mundial, nem se fala. Desde sua badalada chegada no Aeroporto do Galeão, recepcionado por cerca de mil e quinhentos torcedores, em 6 de Julho de 2012,  ao seu último jogo, contra o Criciúma, na última rodada do Brasileirão de 2013, Seedorf atraiu os holofotes por onde passou. Portais de todas as partes do mundo, passaram a acompanhar a trajetória do craque e cobrir o clube de General Severiano.

O holandês fez 81 jogos com a camisa 10 do Botafogo, marcando 24 gols. Conquistou o Campeonato Carioca de 2013, sendo eleito o melhor jogador da competição, e foi o comandante da boa campanha do Glorioso no Campeonato Brasileiro, onde acabou conquistando a vaga para a Copa Libertadores do ano seguinte. Mas nem só de futebol foi a passagem de Seedorf pelo Rio de Janeiro, o jogador trouxe o profissionalismo europeu ao vestiário alvinegro. Líder dentro e fora de campo, Clarence agregou tecnicamente e taticamente. Um meia clássico, que passou por clubes como Ajax, Milan e Real Madrid, desfilou seu futebol de alto nível nos gramados brasileiros durante pouco mais de um ano. Tempo suficiente para ser ídolo e inspiração para torcedores e jogadores - por exemplo, a relação do craque com o atacante Vitinho, onde se tratavam como pai e filho.

"Meu sócio-torcedor pulou mais de 100%, isso é representativo. Mas tenho de falar da chancela que ele deu à base. Vi gerações surgirem e desaparecerem sem chancela. O Botafogo pôde subir garotos com o Seedorf, convivendo com ele no dia a dia. Esse é o ganho maior de todos. Não é a toa que hoje temos mais de 16 atletas da base no elenco. Essa foi a maior contribuição e vai se perpetuar a outras gerações. O que é bem feito não é perdido", afirmou Mauricio Asssumpção, presidente do Botafogo na época, durante a coletiva de anúncio da aposentadoria do jogador.

A aposentadoria foi anunciada durante a pré-temporada de 2014, quando o jogador foi convidado pelo Milan para ser treinador, após a demissão de Massimiliano Allegri pelo clube italiano. Seedorf aceitou o desafio e pôs fim a sua grande carreira de sucesso, encerrada em grande estilo, e embarcou rumo ao San Siro.

"Vou parar de jogar futebol depois de 22 anos. Foi uma noite difícil, mas estou satisfeito com o que fiz na minha carreira, no que fiz com o Botafogo. Objetivo de voltar a sonhar, a entrar na Libertadores após 17 anos. Minha felicidade de poder ter deixado também em campo resultados importantes. Carioca foi um começo. Não acabou mal. Conseguimos a vaga na Libertadores que o clube merece, o grupo que estou deixando aqui merece. Gostaria de agradecer a todos. Agradeço o projeto do Botafogo e desejo o melhor. Que possa manter a autoestima, melhorar e manter o que a gente construiu. Muitos times poderiam ser melhores tecnicamente que o Botafogo, mas por causa da nossa cabeça fizemos melhor. Vou seguir o Botafogo à distância. Obrigado por essa convivência, muitas coisas positivas, agradeço ao Rio, ao Brasil, a todos vocês que estão aqui e aos que não estão. Me abraçaram daquela forma. Estou feliz e satisfeito, não tenho arrependimento. Posso me aposentar tranquilo. Poderia jogar muito mais, treinar mais. Ver a garotada treinando me motivava. O Brasil, que me abraçou, não vou esquecer nunca mais, acho que dei algo importante, que fiz isso e por isso estou tranquilo para fechar. Não é um adeus, vamos nos encontrar ainda. Essa experiência nesse um ano e meio me fez crescer muito e me ajudará no meu próximo passo, que será como treinador do Milan. Queria fechar de maneira elegante e correta. Muito obrigado de novo a todos", finalizou.