A Seleção Brasileira terá, nesta terça (10), contra o Chile, seu último compromisso pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2018. O duelo no Allianz Parque vai representar o encerramento da participação do Brasil no torneio, mas o momento para um dos atletas da Canarinho é de abertura de nossas possibilidades e perspectivas: o meia Fred, do Shakhtar Donetsk, que voltou a ter chances na Seleção.

O jogador da equipe ucraniana foi lembrado pelo técnico Tite em uma convocação que representa muito para a sua carreira. Fred esteve longe dos gramados nos primeiros semestres de 2016 e 2017, cumprindo suspensão por doping, períodos nos quais recorreu ao acompanhamento de diversos profissionais. Em entrevista à VAVEL Brasil, o meia do Shakhtar afirmou que quer se manter entre os escolhidos de Tite.

Fiquei muito feliz com a notícia, claro, foi muito bem recebida. Digamos que fiquei nas nuvens. É muito gratificante poder voltar a vestir a camisa da Seleção, que conta com os melhores jogadores, todos de um nível muito alto. Tenho certeza de que farei o meu melhor para que o Tite fique satisfeito com o meu trabalho, para que eu possa ser mantido no grupo. Até a lista final, todos têm chances de disputar a Copa e farei de tudo para estar nesse grupo”, disse.

Foto: Matthew Lewis/Getty Images

A cada convocação, o grupo de Tite vai tomando mais corpo, e nomes antes não chamados dificilmente surgem dentre os convocados. Para Fred, no entanto, o fato do treinador gaúcho tê-lo chamado agora abre portas para sua presença dentre os selecionáveis na Copa de 2018.

Jogar uma Copa do Mundo é o sonho de qualquer jogador. Como disse, vou trabalhar demais e dar o meu melhor em cada treino para ser mais uma opção para servir a Seleção. O Brasil voltou a ser Brasil, é de novo respeitado e temido, e não tenho dúvidas de que chegará à Rússia como um dos fortes candidatos ao título. Precisamos voltar a dar esse orgulho para o nosso torcedor”, enfatizou.

Punição e afastamento

Na Copa América de 2015, após a eliminação do Brasil para o Paraguai nas quartas de final, Fred foi pego em exame antidoping por ter feito uso do diurético hidroclorotiazida. No fim do mesmo ano, o meia foi punido pela Conmebol com um ano de suspensão em sistema retroativo, ou seja, o jogador teria que ficar longe dos gramados até o dia 27 de junho de 2016 - já considerando todo o período antecedente, em torneios ligados à entidade do futebol sul-americano.

No entanto, essa punição chegou até a Fifa, que o proibiu de atuar em competições oficiais de qualquer lugar do planeta. Isso inviabilizou o primeiro semestre de 2016 de Fred em seu clube, ficando afastado dos campos pelo Shakhtar Donetsk. O meia retornou aos gramados na metade do ano passado, mas recebeu outra punição, cumprida no primeiro semestre deste ano.

Fred foi pego em exame antidoping em 2015 (Foto: CBF/Divulgação)

"Foi uma confusão. Quando [a notícia da suspensão] saiu, foi ruim, muito complicado. Estava na Ucrânia, e o pessoal da CBF me ligou. Não é uma notícia boa, que todos querem ouvir, mas cumpri a suspensão e estou pronto para voltar", afirmou sobre a notícia do fim de 2015.

Fred foi punido por um ano e não jogou no primeiro semestre de 2016. Depois, recebeu mais uma, o que o deixou sem poder jogar no primeiro semestre de 2017. Esses dois períodos foram justamente as partes finais das temporadas do Shakhtar (o calendário europeu é diferente do brasileiro), quando tudo se desenrolava de forma mais definitiva.

Em termos práticos, o atleta acabou ficando de fora dessas etapas do "ano competitivo" do time ucraniano, ficando impossibilitado de colher os frutos do que tinha começado em campo. "Perdi o bicho (risos). É difícil olhar daqui o pessoal sendo campeão e a gente não podendo ajudar. Agora, felizmente isso acaba, vou jogar a temporada toda e espero chegar o mais longe que a gente conseguir na Champions", disse.

Acompanhamento de profissionais

No primeiro semestre deste ano, Fred foi acompanhado por profissionais de várias áreas: o professor L. Carlos Cameron, da Unirio, o fisioterapeuta Ricardo Vidal, os preparadores físicos Túlio Horta e Leonardo Fagundes, o fisiologista Adriano Lima, entre outros. À reportagem, ele abordou esse período.

"Para mim foi excelente, porque em grupo acaba dando mais atenção para um ou outro, trabalhos iguais para todo mundo, e aqui não. Foram trabalhos específicos para mim, mais direcionados ao que preciso, e isso foi muito importante. Cheguei aqui em fevereiro. Joguei os primeiros jogos lá, dois pela Liga Europa e um pelo Campeonato Ucraniano. Está sendo sensacional porque é um trabalho novo, com excelentes profissionais. Um trabalho muito bem feito, com ótimos resultados", opinou.

A decisão de buscar pelos profissionais partiu do próprio jogador. "Foi do nosso lado mesmo, minha mãe e meu irmão. A gente sabia que não poderia deixar passar essa oportunidade, ficar de fora, porque era uma oportunidade de fazer trabalhos aqui para me manter bem fisicamente", apontou.

Fred participou de amistosos enquanto não pôde atuar pelo Shakhtar (Foto: Arquivo pessoal)

Todo esse trabalho foi inspecionado por especialistas, que traçaram análises acerca das respostas de Fred aos treinamentos. Além de atividades específicas de acordo com as áreas de cada profissional, o meia participou de jogos amistosos, dentre outras tarefas que objetivaram a manutenção de seu condicionamento físico. Todo esse acompanhamento, na visão dos profissionais, é pioneiro, devido ao empenho e união de um grupo grande.

Para um deles, o preparador físico Leonardo Fagundes, foi um período em que conseguiram otimizar os treinos de Fred. "O apoio de uma equipe multidisciplinar nos ajudou muito na busca pelo alto rendimento. Conseguimos especificar ao máximo as necessidades e carências do atleta, além de potencializar as suas qualidades durante os treinamentos", afirmou.

Retorno ao Shakhtar Donetsk

Livre das punições pelo doping, Fred voltou este semestre ao Shakhtar, e tão logo já foi chamado por Tite. Nesta temporada, desde quando retornou de fato, em 29 de julho, participou de dez dos 11 jogos da equipe até então. Em todas as partidas nas quais atuou, ficou em campo do início ao fim, com exceção de uma, que foi o duelo contra o Manchester City, pela Champions League – ainda assim, foi substituído aos 46 do segundo tempo.

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O fato de ter ficado o primeiro semestre deste ano afastado poderia complicar o seu retorno, fazendo com que o processo acontecesse de forma gradual. No entanto, Fred voltou defendendo um bom condicionamento físico.

Fico muito feliz de poder jogar todas as partidas e de ser um dos homens de confiança do treinador. Tudo fruto de um trabalho forte que fiz enquanto estava no Brasil, que me capacitou para poder atuar os 90 minutos. A parte física e a técnica vão melhorando com os jogos”, apontou.

Fred foi titular do Shakhtar na partida contra o City, pela Champions (Foto: Matthew Lewis/Getty Images)

Além de seu principal torneio nacional, o Shakhtar está disputando a Champions League. No torneio continental, o time ucraniano venceu o Napoli e perdeu para o Manchester City, em um grupo que tem ainda o Feyenoord. “A Champions é uma grande vitrine, um excelente campeonato, o maior de todos. Poder disputar mais uma edição, agora nessa minha volta, é muito especial. Serão só grandes jogos, ainda mais por termos caído numa chave com equipes fortes”, analisou Fred.

Formação, janela e projeção

Fred começou nas categorias de base do Atlético-MG, mas se transferiu para o Internacional. Apesar do começo da sua formação ter se desenhado ainda no clube alvinegro, foi no time colorado que o jogador teve maior projeção, subiu ao profissional e despertou a atenção de outros clubes. Ele comentou o fato de sua "janela" ter sido feito no time gaúcho, apesar de a formação ter começado no Galo.

Fred foi revelado pelo Internacional (Foto: Divulgação/Internacional)

"Tive uma base muito boa no Atlético e sou agradecido a eles. Mas com 16 anos tive uma proposta do Inter, fui com apoio do meu empresário e da minha família. Lá ainda peguei uma parte da base, mas foi onde me profissionalizei. Um clube a quem devo muito, um clube muito grande, é o Inter. Foi o melhor para mim ir pra lá. Sou torcedor das duas equipes, torço muito pelo Atlético, tenho amigos lá. Também torço muito pelo Inter, porque fiquei seis anos no clube e me identifiquei", contou.

O meia tinha a chance de permanecer na base do clube mineiro e almejar por uma possível ascensão ao grupo profissional, mas acabou indo para o time colorado. "Eu não tinha contrato com o Atlético, e o Inter chegou com uma proposta profissional. Tive a oportunidade de ir, então conversei com minha família e meu empresário. Não hesitei e fui. Lá me profissionalizei, foi um clube que me abraçou. Minha ida para o Inter foi muito importante", relembrou.

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