Botafogo e Vasco irão se enfrentar nesse domingo (8) no Maracanã, na decisão do Campeonato Carioca. No entanto, ambas as torcidas foram surpreendidas na última terça-feira (3): o clube cruz-maltino, mandatário do campo, anunciou que não haverá venda de ingressos online e nem nas bilheterias do estádio no dia da partida

Os pontos de venda para botafoguenses e vascaínos não-sócios serão apenas nos estádios de São Januário e Nilton Santos, que acontecerão até domingo ás 13h. Dessa forma, torcedores que virão de áreas mais distantes do Rio encontrarão certas dificuldades para adquirir seus ingressos, uma vez que não poderão comprar na hora e nem via internet. 

A decisão do clube, pouco comum em jogos desse porte, gerou um imenso frisson nas redes sociais e uma grande indignação por parte dos torcedores que moram fora da cidade. Segundo eles, já existe uma dificuldade de se locomover aos jogos por questões de distância e segurança, tornando a questão da venda dos ingressos para a final bastante complicada.

A VAVEL Brasil conversou com alguns dos torcedores que serão prejudicados com a mudança e ouviu seus depoimentos sobre o caso. Confira abaixo!

"Residir fora do Rio tem suas peculiaridades e seus 'perrengues', quando falamos em lazer e pensamos em esporte, vivemos o grande desafio: além da distância, estamos à mercê dos transportes públicos que é de conhecimento geral a grande dificuldade. Já fui em jogos em que a SuperVia confirmou trem extra e chegou no momento simplesmente não tinha. Quando pensamos em ingresso, vem outra dor de cabeça, em pleno 2018 não há vendas na Internet, quem trabalha faz como? Arrisca e aguarda até o final de semana para saber SE haverá disponibilidade de ingressos, isso é um tanto inadmissível." - Bruna Alves, moradora de Mesquita-RJ.

 
"Bom, pra essa final as dificuldades já vêm desde o início, na compra mesmo do ingresso, devido a falta da venda online. Não temos postos de venda na Baixada Fluminense, principalmente aqui por Nova Iguaçu, isso é um fator que já desestimula bastante, pois o posto de venda mais proximo é no Estádio Nilton Santos. Ou seja, pra quem trabalha, estuda, tem uma vida aqui pela Baixada só consegue comprar ingresso talvez no sábado, sendo que não terá venda na hora do jogo. Acho que a principal preocupação do Carioca em geral, mas principalmente de quem é da Baixada Fluminense, é a questão da violência. Particularmente eu tenho muita dificuldade em ir em jogos que terminam após umas 19h por exemplo, pois como costumamos dizer 'a volta é triste'. Único ponto de salvação é ter meu pai que também vai pros jogos e acabo voltando de carro com ele, o que ultimamente também vem se tornando bastante perigoso. Além da violência cotidiana, tem a violência do futebol também, eu por exemplo há algum tempo tenho andado de trem de casaco por cima da camisa do Botafogo, porque já houveram diversas situações em que ocorreu "invasões" de "torcedores" de outros clubes no trem, jogos que nem envolvia o outro clube. A gente fica até mais "ligado" em certas estações, pois sabemos quais estações correm mais riscos de entrar torcedores rivais. Enfim, se torcedor de um clube no Rio morando fora da capital, há muito contratempos, o principal é no deslocamento entre casa e estádio." - Victor Hugo Vitorino, morador de Nova Iguaçu-RJ.

Estou indo domingo ver o jogo entre Botafogo e Vasco, vou chegar por volta de 10 horas da manhã. Hoje foi dada a notícia de que não haveria venda online de ingressos, eu comprei minha passagem desde semana passada, então eu estou indo sem ingresso. Vou correr de risco de chegar na sede e ter fila grande, ingresso esgotado, se eu não conseguir, infelizmente vou ter que apelar para cambista, afinal já gastei quase 400 reais de passagem aérea e eu não consegui achar ninguém pra comprar ingresso pra mim.
É uma medida extremamente retrógada. Não existe isso de não vender ingresso pela internet nos dias de hoje, ainda mais com tantas pessoas que vem de fora. Conheço pessoas que estão vindo de Cuiabá, então eu acho que isso é uma medida que o Botafogo podia interferir junto à FERJ, devia ter em regulamento disponibilizar a venda via internet. O Botafogo fez isso no primeiro jogo e funcionou super bem, o Botafogo sempre trata os visitantes bem, sempre tem venda disponível, guichê, mas a gente não vê isso quando somos visitantes.
Acredito que cabe ao Botafogo fazer uma interferência junto ao FERJ pra poder viabilizar a venda, porque o anúncio caiu como uma bomba aqui. Participo de mais de 30 grupos de Whatsapp no Brasil todo e tem muita gente saindo de longe e, por um absurdo desses, não vão conseguir comprar ingresso. É um absurdo
” - Daniel Carneiro, morador de Belo Horizonte-MG.

"Falar de futebol é falar de povo, falar de massa. Eu, como morador da Baixada Fluminense, território periférico, e apaixonado pelo Botafogo, me sinto prejudicado por políticas públicas de transporte e segurança. Esses impedem nosso acesso frequente aos estádios e nos privam de nossa paixão. É inviável para o trabalhador e para o estudante, comparecer a jogos com horários tão adversos. Os transportes acabam, a segurança não é dobrada em áreas de risco e a madrugada baixadense é um perigo frequente e conhecido. O medo é frequente e ir pra estádio requer estratégia e planejamento, o que é ridículo, por que nossa intenção é o lazer. Esse é o retrato do sucateamento dos serviços públicos e elitização de um patrimônio histórico do Brasil: o futebol." - Bernardo Abreu, morador de Nova Iguaçu-RJ.

"Como botafoguense e apaixonada por futebol, uma das coisas que mais gosto de fazer é ir ao estádio acompanhar meu time. Mas, a verdade é que nós temos mais coisas indo contra do que a favor a nossa presença nos estádios, muita coisa nos impede: dinheiro de ingresso e transporte, os transportes públicos, violência na cidade, brigas de torcida e em muitos casos, a distância. Ir ao estádio tem se tornado cada vez mais difícil, algo que é uma diversão e paixão dos brasileiros, tá ficando cada vez mais de difícil acesso. Sou ST e costumo ir na maioria dos jogos que posso, uma das vantagens do sócio é de não precisar comprar ingresso e isso facilita demais pra mim, já que moro longe do estádio e dos pontos de venda. Na final do carioca, com o mando de campo do Vasco, a responsabilidade da distribuição dos ingressos é deles e fizeram tudo pra dificultar o torcedor. Não tem venda online pra nenhuma torcida, só pros sócios do Vasco. Não terá venda no Maracanã no dia do jogo. E os pontos de venda são na cidade do Rio, quem mora em lugares como São Gonçalo, Região dos Lagos, Baixada, Petropólis ou até mesmo em outros estados e querem ir ao jogo, não vão conseguir comprar ingresso." - Natália Cremonez, moradora de São Gonçalo-RJ.

"Como moradora da Baixada eu enfrento dificuldade muitas vezes desde a compra do ingresso até a volta pra casa depois do jogo. Para essa final do campeonato carioca o problema começou com a venda de ingresso sendo apenas em pontos físicos no Rio, sendo alguém que mora distante isso implica em um gasto a mais e inesperado, nem sempre temos condição de fazer esses sacrifícios. O dia de ir ao estádio é algo totalmente dedicado a isso, não apenas por estar com a cabeça no jogo, mas também por precisar fazer todo um planejamento entre as atividades pessoais e o tempo gasto no trajeto, que é grande. O transporte público também é uma dificuldade, principalmente quando necessário mais de uma condução como é o meu caso. A volta pra casa é a parte mais complicada, mais ainda se o jogo for a noite onde o transporte nem sempre ajuda, é perigoso e quanto mais afastado do Rio a gente mora, mais tarde a gente chega. Geralmente quando o jogo termina tarde eu prefiro dormir na casa de alguma amiga que more mais perto, acaba sendo mais seguro do que voltar para casa. Acredito que todas essas barreiras sejam motivos para o desanimo do torcedor em comparecer ao estádio e isso se reflete em um público cada vez menor." - Alana Cassano, moradora de Nova Iguaçu-RJ.