Diferentemente de anos passados, o Botafogo chega ao Campeonato Brasileiro carregando o título de campeão carioca, que pode dar uma energia a mais na trajetória do alvinegro na principal competição do país. Após um começo de temporada abaixo do esperado, o time se recuperou e, com a chegada de Alberto Valentim, mostrou uma estabilidade.

Começo de ano conturbado e crescimento

Após a saída de Jair Ventura, que fez um trabalho muito positivo à frente da equipe, o Botafogo resolveu apostar na fórmula dos treinadores criados no próprio clube e efetivou Felipe Conceição, ex-atacante e assistente técnico. Com uma proposta de jogo por meio dos toques de bola e de propor o jogo, os torcedores da equipe de General Severiano depositavam suas esperanças no Tigrão – como era conhecido em seus tempos de jogador.

(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)
(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)

A aposta, porém, não deu nada certo e aquilo que parecia promissor se tornou um verdadeiro fracasso: um Botafogo sem padrão tático, que pouco conseguia produzir dentro de campo e que colecionava resultados negativos, como, por exemplo, a eliminação na primeira fase da Copa do Brasil, quando foi derrotado pela Aparecidense por 2 a 1, jogando com uma formação totalmente diferente daquela que vinha sido apresentada, dando adeus precocemente da segunda competição nacional mais importante do futebol do país.

Chegava ao clube Alberto Valentim. Enfrentando um ambiente conturbado e tendo que lidar com pressão vinda de grande parte dos torcedores, o treinador, desde o primeiro dia de trabalho, tentou criar um padrão de jogo para a equipe. Investindo nas mesmas ideologias de seu comando no Palmeiras, o Botafogo se tornou uma equipe muito perigosa com as jogadas pelos lados do campo e, mostrando uma grande melhora, levou a equipe a um heroico título Carioca, ao vencer o Vasco na disputa de pênaltis, após vencer a partida aos 49 minutos do segundo tempo.

Campanha em 2017

O desempenho do Botafogo no Campeonato Brasileiro do ano passado é uma perfeita metáfora sobre o 2017 em si da equipe, que teve um grande desempenho até o segundo terço da temporada, fazendo boas campanhas na Taça Libertadores, eliminando equipes de muita importância no continente durante o torneio e sendo eliminado para o Grêmio, que se sagraria campeão posteriormente, e na Copa do Brasil, onde foi semifinalista.

Com o sucesso e avanço nessas outras duas competições, o Campeonato Brasileiro se tornou o segundo plano do Botafogo, que, não conseguindo contar com um elenco numeroso, não manteve uma equipe competitiva durante grande parte do começo da competição. Apesar disso, a equipe de Jair Ventura conseguiu se estabilizar da metade para frente da competição, ficando sempre os seis primeiros colocados na tabela, o que garantiria uma vaga na Libertadores de 2018.

Na reta final da competição, porém, a equipe de General Severiano não voltou a apresentar um bom futebol, tropeçou em muitos compromissos e acabou perdendo o espaço na competição internacional na última rodada. Com as campanhas de recuperação de Chapecoense e Vasco, que venceram a maioria dos seus compromissos no último terço do torneio, o alvinegro terminou o Campeonato Brasileiro no décimo lugar.

Aposta em jovens e elenco mais encorpado

Como dito anteriormente, o elenco curto foi um dos principais problemas do Botafogo em 2017. Dessa maneira, o presidente Nelson Mufarrej, em seu primeiro ano como homem-forte do clube, resolveu encorpar o esquadrão, contratando jogadores para as posições mais carentes em meses passados. Além disso, um perfil mostrado pelos dirigentes do clube foi a preferência de apostar em jovens jogadores, destaques em clubes de menor expressão, que podem dar algum tipo de retorno do no futuro e evoluir com a camisa do time de General Severiano.

Para o meio-campo, Luiz Fernando e Renatinho, que se destacaram por, respectivamente, Atlético-GO e Paraná no ano passado, chegaram para oferecer mais criatividade e poder de fogo, já que os dois têm boa qualidade na parte de finalizações. Além deles, o volante Marcelo, que estava no futebol israelense, também foi contratado.

Rodrigo Aguirre foi a principal contratação da temporada (Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)
Rodrigo Aguirre foi a principal contratação da temporada (Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)

Um dos principais problemas da equipe no começo da temporada foi as laterais. Tanto Gilson, pela esquerda, quanto Arnaldo, na direita, não conseguiam mostrar boas atuações. Quando Alberto Valentim chegou, a primeira contratação que fez foi Moisés, que se tornou um dos destaques da equipe, tomando conta da lateral-esquerda. Completando os defensores, o zagueiro Yago também foi contratado, via empréstimo do Corinthians, mas ainda não jogou.

O ataque foi o principal “alvo” da temporada. Kieza, após um ano em baixa no Vitória, chegou para a disputar a camisa 9 com Brenner, Leandro Carvalho, um dos destaques na campanha que levou o Ceará de volta para a primeira divisão do Brasileirão, se tornou uma opção de velocidade, mesmo não tendo nenhum momento de destaque. E, por fim, a principal contratação do clube na temporada, o uruguaio Rodrigo Aguirre, que está recuperando seu condicionamento físico e deve estrear com a camisa alvinegra nas primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro.

Ausência de João Paulo

Em 2018, João Paulo passou, definitivamente, a ser utilizado como volante. Na posição, viveu seu melhor momento com a camisa do Botafogo, sendo responsável por grande parte da criação de jogadas, além da cobertura de espaços na fase defensiva. Assumindo a faixa de capitão, o ex-jogador do Santa Cruz, que chegou ao alvinegro em 2016, se tornou o melhor jogador e referência da equipe de General Severiano.

(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)
(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)

Em uma partida pela Taça Rio, segundo turno do Campeonato Carioca, João Paulo sofreu uma dura entrada de Rildo e rompeu a tíbia e fíbula. Com a perda de seu principal jogador, que está fazendo trabalhos aos poucos, mas não tem previsão de retorno, Alberto Valentim tem uma dor de cabeça na posição. No restante do Campeonato Carioca, Marcelo assumiu a posição de volante, porém, diferentemente de João Paulo, é um jogador marcado pela força defensiva.

O que esperar?

Apesar do título do Campeonato Carioca, o Botafogo ainda é uma equipe em construção e que possui alguns problemas, principalmente na parte defensiva. A evolução, porém, é notável e a tendência é esse gráfico continuar subindo. Diante de um país repleto de bons elencos, como Grêmio, Cruzeiro e Palmeiras, a luta do alvinegro é longe do título, mas, assim como em 2016, podem acabar lutando por uma vaga na próxima Taça Libertadores.

Sem condições de brigar com as equipes do primeiro escalão do Brasil em termos de número do elenco, a prioridade do Botafogo deverá ser a Copa Sul-Americana. Mesmo assim, pode ser possível jogar a competição internacional e se manter na parte de cima da tabela – assim como aconteceu em grande parte do campeonato do ano passado.

Escalação

Destaques

Joel Carli

(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)
(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)

O argentino ficou barrado do time titular por muito tempo, já que Valentim prezava por uma defesa que oferecesse mobilidade e velocidade. Desse jeito, porém, o Botafogo estava sofrendo com a bola aérea e, por isso, Joel Carli, referência da equipe desde 2016, retornou ao onze inicial e, de lá, não saiu nunca mais.

Mesmo com a reserva, sempre respeitou Marcelo Benevenuto – que era o titular – e o restante da equipe. Retornou, assumiu a faixa de capitão na final do Campeonato Carioca, já que Rodrigo Lindoso estava suspenso, e foi coroado com um gol no último minuto, que levou a partida para os pênaltis, que posteriormente garantiria o título carioca e a primeira conquista de sua carreira. Merecedor, levantou a taça de campeão ao lado de Jefferson e João Paulo e reafirmou seu status de xerife no elenco.

Gatito Fernández

(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)
(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)

Jefferson é o grande ícone do Botafogo. Quarto jogador que mais vestiu a camisa do clube, o goleiro está vivendo o último ano de uma carreira praticamente dedicada ao alvinegro. Desde o ano passado, porém, o arqueiro de 35 anos reconhece que seu companheiro, Gatito Fernandez, está passando por uma fase melhor e, cumprindo com sua liderança, não questiona a presença do paraguaio no gol – muito pelo contrário, apenas passa força e aconselha o estrangeiro.

E não é para menos. Gatito transmite uma grande segurança em baixo das traves, tendo o reflexo como sua principal qualidade. Além disso, ficou rotulado como um dos maiores pegadores de pênalti do futebol mundial – chegando, após a final contra o Vasco, a 11 cobranças defendidas com a camisa alvinegra. Dessa maneira, o paraguaio se credencia como o segundo destaque alvinegro neste Campeonato Brasileiro.

Fique de olho

Luiz Fernando

(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)
(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)

Vindo do Atlético-GO, teve um começo tímido sob o comando de Felipe Conceição. Jogando pelo lado esquerdo, não conseguiu apresentar nenhuma boa atuação. Com a chegada de Alberto Valentim, foi deslocado para a direita e, aos poucos, foi se encontrando na equipe. Foi decisivo nos clássicos na reta final do Campeonato Carioca, contribuindo com gols e assistências e mostra que está cada vez mais adaptado.

Moisés

(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)
(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)

Chegou ao Botafogo após uma temporada ruim no Corinthians. Foi emprestado pela equipe do Parque São Jorge e tomou conta completamente da posição no Botafogo. É um lateral-esquerdo de muita força física, muito forte defensivamente e que está conseguindo mostrar uma boa produção ofensiva, sempre dando opção nos ataques do alvinegro e arriscando bons dribles utilizando seu corpo.

Último ano de Jefferson

É impossível falar de Botafogo e não lembrar de Jefferson. Chegou à sua segunda passagem no clube em 2009, sob desconfiança. Teve grandes atuações e seu contrato renovado, sendo um dos grandes responsáveis pelo título do Campeonato Carioca de 2010, quando defendeu um pênalti cobrado por Adriano. Se manteve como referência da posição no país durante anos, defendeu o Brasil em Copa do Mundo e, no melhor momento de sua carreira, não abandonou o alvinegro na segunda divisão do futebol brasileiro.

(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)
(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)

Jefferson é o Botafogo. Não há personificação mais perfeita que essa. O goleiro, que está na luta contra as lesões desde 2016, chegou aos 35 anos e anunciou, em deveras oportunidades, que está passando, muito provavelmente, pela última temporada de sua carreira. Como citado anteriormente, o legado do atleta está em, literalmente, boas mãos, já que Gatito é uma das referências da equipe.

Alberto Valentim e os renascimentos

Em 2017, Valentim recebia, até então, a chance de sua carreira quando foi convidado a assumir o Palmeiras após uma conturbada saída de Cuca, que não conseguiu render à expectativa da torcida. Sob o comando de Alberto, a equipe alviverde mostrava sérios problemas defensivos, mas teve uma singela melhora no ataque, já que os melhores momentos de Keno e Dudu foram sob o comando do treinador, que assumiu na reta final do Campeonato Brasileiro.

Mesmo assim, ele foi avisado de que não seria mantido no cargo em 2018, com a chegada de Roger Machado, atual treinador do Palmeiras. Resolveu deixar a equipe, já que queria seguir sua carreira como treinador e não voltar a ser um auxiliar, posição que assumiria caso ficasse no time paulista. Resolveu seguir sua carreira e tentar recomeça-la.

(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)
(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)

Alguns meses depois, Felipe Conceição era demitido do Botafogo, que passava por um momento muito ruim na temporada. Foi algo instantâneo: um clube e um treinador passando por momentos difíceis mas que nunca deixaram de acreditar que seria possível melhorar. Alberto Valentim assumiu a equipe de General Severiano sob muita desconfiança, com a terra totalmente arrasada. Sofreu com lesões e suspensões, mas conseguiu criar um padrão e melhorou o Botafogo.

Mesmo com alguns problemas defensivos, Alberto Valentim conseguiu dar uma cara ao Botafogo: uma equipe com um jogo forte pelos lados do campo, com Luiz Fernando e Léo Valencia sempre buscando uma jogada com o atacante, tendo Renatinho como a base de um 4-1-4-1 que varia para um 4-2-3-1, já que o ex-atleta do Paraná é importante no jogo de pressão alta no campo adversário, sendo o primeiro a avançar para combater o zagueiro da outra equipe.

Estádio Nilton Santos: a casa do Botafogo

Em 2017, a torcida do Botafogo encheu o Estádio Nilton Santos em uma grande campanha de Libertadores. Em 2018, três mil torcedores foram ao ‘Niltão’, apoiar a equipe, sábado, em um treino aberto aos fãs. Em todas essas oportunidades, o alvinegro conseguiu sentir aquilo que era transmitido pelos adeptos e, posteriormente, teve êxito dentro das quatro linhas: chegou até as quartas de final da competição internacional e foi campeão carioca.

(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)
(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)

O Estádio Nilton Santos é a maior conexão entre torcedores e jogadores. Apesar da baixa média de público no campeonato estadual, os fãs, quando estão presente, conseguem fazer uma boa atmosfera, que é refletida na atuação da equipe dentro de campo. No Campeonato Brasileiro, essa energia será importante, já que o alvinegro estreia em casa, contra o Palmeiras, na segunda-feira (16).