INTRODUÇÃO

"Aflição, medo e decepção", algumas palavras que fizeram parte do dicionário do Fluminense, que foi do céu ao Inferno várias vezes na temporada 2018.

Se o torcedor em Janeiro tinha medo, após perder praticamente todos os titulares de 2017, o sentimento no final do ano de 2018 é de alívio pela permanência na Série A, mas que em 2019 pode ser ainda pior.

O ano começou com Abel Braga permanecendo no cargo de técnico e com Paulo Autuori chegando ao cargo de diretor de futebol. Os dois primeiros meses foram tensos, com eliminação precoce na Taça Guanabara e as saídas conturbadas de Henrique Dourado e Scarpa.

Após duas semanas sem jogar, Abel conseguiu formar uma equipe sólida, no esquema 3-5-2, que deu certo, levando o time ao título da Taça Rio. Em contrapartida, o time perdeu a vaga na final do Campeonato Carioca sofrendo um gol do Vasco no último minuto e perdeu a vaga cedo demais para o Avaí na Copa do Brasil.

Após um bom começo no Campeonato Brasileiro, o Fluminense bateu a Chapecoense pela primeira vez na história e dormiu na liderança do Brasileiro, mas o clima político começou a interferir no trabalho, a equipe perdeu força e Abel pede demissão, com Paulo Autuori saindo do clube após cinco meses.

Marcelo Oliveira foi contratado, alguns jogadores importantes na temporada chegaram (Digão e Everaldo), o técnico jamais agradou, mas ainda sim acabou levando o Fluminense até a semifinal da Copa Sul-Americana, vencendo até na temida altitude de Quito.

A crise financeira no fim no mês de Outubro contribuiu com a queda de rendimento do time, alinhado a lesão grave de Pedro, que até então era o ponto forte do Fluminense. Com elenco limitado, o time não conseguiu focar nas duas competições que disputava, no Brasileiro parou nos 40 pontos e na Sul-Americana foi eliminado de forma apática para o Atlético Paranaense.

O protesto contra o Presidente Pedro Abad e o grupo político FluSócio durou o ano inteiro, tanto nas redes sociais, como nas arquibancadas e em reuniões do conselho nas Laranjeiras.

O Fluminense se salvou da queda no Campeonato Brasileiro na última rodada, sem técnico, vencendo o América Mineiro, evitando o pior.

Se em Janeiro o Fluminense nem tinha um time titular formado, em alguns momentos do ano mostrou valentia quando seus melhores jogadores estavam à disposição, mas uma peça fora era o bastante para o time ruir.

O ano poderia ser melhor, mas no fim, terminou como iniciou em Janeiro na Flórida Cup, sem saber se haverá um time para a próxima temporada.

MELHOR MOMENTO DA TEMPORADA

Após um início de trabalho com dois zagueiros e muitas mudanças no time titular, o técnico Marcelo Oliveira optou por utilizar o esquema que Abel Braga adaptou na conquista da Taça Rio, com três zagueiros (Digão, Ibañez e Gum).

Após vencer a Chapecoense em Santa Catarina, o time conseguiu vencer o Deportivo Cuenca na altitude do Equador, golear o Paraná em casa por quatro gols de diferença, algo que não acontecia no Brasileirão desde 2014 e superou o Nacional no Uruguai, indo para a semifinal da Copa Sul-Americana, numa vitória épica, com uma bela recepção da torcida no aeroporto na volta.

Até então, o time estava em nono no Campeonato Brasileiro, distante da zona de rebaixamento e próximo do G-6, além de grandes chances na Competição internacional.

PIOR MOMENTO DA TEMPORADA

Logo após eliminar o Nacional no Uruguai, o Fluminense conseguiu fazer o mais difícil: Ficar nove jogos sem marcar um gol. Foram seis derrotas e dois empates, marcando seu último gol do ano apenas na despedida, na vitória contra o América Mineiro.

Com planejamento falho, o time utilizou titulares contra o Vasco no Maracanã, poucas horas depois de vencer no Uruguai. Quatro dias depois foi massacrado pelo Atlético Paranaense no jogo da ida da Copa Sul-Americana, mas se salvou por ter sofrido apenas 2 x 0, criando expectativa e esperança nos torcedores para o jogo da volta que aconteceria 20 dias depois.

Goleada sofrida para o campeão, dois empates contra times que brigavam contra ele pela zona no Maracanã e vaias das torcidas, além de atuações pífias como visitantes, Marcelo Oliveira não tinha mais o time em mãos, além da diretoria não cumprir seu papel, o clube acabou levando uma aula no jogo da volta no Maracanã e foi eliminado pelo Atlético Paranaense em um Maracanã com bom público.

Richard e Júlio César salvaram o Fluminense de uma catástrofe, de um time que, em um mês mudou sua postura, de um time de guerreiro para um grupo de jogadores abatidos e frágeis tecnicamente e emocionalmente.

DESTAQUE

O grande artilheiro da base tinha uma grande missão em 2018: Ser artilheiro nos profissionais substituindo o artilheiro do Campeonato Brasileiro 2017 (Henrique Dourado). A vida de Pedro não foi tão fácil no Fluminense.

Após passar em branco nas primeiras partidas da Taça Guanabara e com a diretoria buscando atacantes como Kleber Gladiador e Gigliotti, Pedro foi amadurecendo em seus primeiros meses como titular nos profissionais, ainda mais com Abel Braga confiando no jogador.

Pedro fez um excelente segundo turno de estadual, foi vital no título da Taça Rio diante do Botafogo e foi artilheiro da Estadual com sete gols.

No Brasileirão começou decidindo contra Cruzeiro e São Paulo, depois foi marcando seus gols, fez gols em todos os rivais em 2018, chegando a metade da competição como artilheiro e na Copa Sul-Americana seus gols foi levando o tricolor para as fases finais.

O jovem foi convocado por Tite após a Copa do Mundo, mas não chegou a atuar por se lesionar gravemente na semana seguinte, na derrota para o Cruzeiro no Mineirão.

O atacante encantou torcedores de outros clubes e reforçando a máxima de artilheiros que o Fluminense teve nos últimos anos. Gols de letra, peito, cabeça, exímio batedor de pênaltis, o Fluminense poderia sonhar ainda mais alto se Pedro não se machucasse seriamente.

 

QUEM DECEPCIONOU

Se em sua chegada em 2017, Sornoza encantou ao lado de Orejuela, em 2018 o meia foi totalmente o oposto, sendo reserva em alguns jogos com Marcelo Oliveira.

Os passes curtos precisos foram esquecidos e a apatia tomou conta de suas atuações na temporada. Apesar de marcar o gol mais bonito do time em 2018, contra o Defensor numa batida de escanteio, o meia teve números baixos em finalizações, gols e assistências.

Sua permanência para 2019 é difícil, mas o ano de 2018 mostrou que Sornoza poderia ser o diferencial para o time, decepcionando a torcida.

OS TREINADORES

Abel Braga

Após um 2017 doloroso, com a morte trágica do seu filho, o técnico viu no Fluminense forças para continuar e resolveu permanecer no clube, mesmo sendo sondado por outros clubes.

Foi determinante na chegada de Paulo Autuori, mas pegou um elenco muito jovem, no qual teria que trabalhar arduamente para tirar algo de positivo naquele grupo.

Após testar novo esquema na Flórida Cup, o time foi mal na Taça Guanabara, mas se sagrou campeão na Taça Rio jogando bonito. Na semana seguinte foi derrotado para o Vasco e terminou sua chance de ser campeão estadual pelo Fluminense, como conseguiu em 2005 e 2012.

No Brasileirão, Abel levou o time a liderança da competição, mas estava incomodado com a parte interna do clube. Promessas não cumpridas, salários atrasados, saída de Autuori, jogadores insatisfeitos e derrotas atrás de derrotas, sua permanência durou até o último jogo antes da parada para a Copa do Mundo, na derrota para o Santos no Maracanã.

Marcelo Oliveira

Um nome que não era visto com tanta confiança pela torcida era o de Marcelo Oliveira. Após ser campeão nacional com o Cruzeiro, seus últimos trabalhos não agradaram e a torcida ainda tinha uma gratidão por Abel Braga.

Após receber alguns reforços, Marcelo conseguiu um tempo para treinos durante o Mundial da Rússia, mas seu início foi regular. O time foi passando de fase na Sul-Americana, no Brasileiro vencia algumas partidas, mas o time não tinha um padrão de jogo.

Após as lesões de Pedro e Gilberto, que eram os melhores jogadores do time no ano, o técnico se viu mudando de esquema, atuando com três zagueiros. Com o trio defensivo, o Fluminense melhorou e Marcelo Oliveira chegou ao seu melhor momento após eliminar o Nacional no Uruguai.

O mês de novembro foi tenebroso, o técnico não conseguiu vencer mais pelo Fluminense, mudando de esquema, de jogadores, substituindo de forma confusa em muitas partidas, sendo chamado de “Burro” por torcedores no Maracanã.

Sua demissão veio após a derrota e a eliminação na semifinal da Copa Sul-Americana. O técnico não deixará saudades nos torcedores.

O que esperar de 2019

Olhando de forma regressiva de Dezembro até Janeiro de 2018, a impressão que fica é que não há comando, muito menos ambição no Fluminense. A gestão é frágil, a torcida está saturada e não há patrocínio, muito menos dinheiro no caixa.

Sem técnico até o atual momento e com poucas opções boas no mercado, a tendência é a torcida ser consciente da fragilidade do elenco e não se iludir em 2019. A torcida será o melhor jogador do time em 2019, portanto não pode abandonar o clube em um momento tão delicado.

Com jovens promessas da base vendidas, Pedro certamente se transferindo após voltar de lesão e jogadores com identificação com a torcida como Gum se despedindo, a briga para não cair em 2019 parece ser inevitável.

A base será muito utilizada, mas para isso será necessário paciência, algo que o torcedor tricolor perdeu há tempos.

O scout terá que agir com inteligência na contratação de peças baratas e que podem ser vitais na formação da equipe, caso contrário, Kaykes e Junior Dutras da vida só darão mais dor de cabeça e desesperança aos tricolores.

Até 2019!

Fotos: Flickr Fluminense e Getty Images