Lateral-esquerdo do Atlético-MGLeonan nasceu em Engenho Velho/RS e tem sido o orgulho da cidade há alguns anos. Ele está entre os atletas que saíram de casa muito cedo em busca do sonho de ser um jogador profissional. Há dez anos, a jovem promessa alvinegra, que completa 21 anos nesta sexta-feira (28), partiu para Porto Alegre, cidade na qual iniciou sua trajetória nas categorias de base do Grêmio. Lá, permaneceu até a categoria juvenil.

Entrevista: Fã de geologia, lateral Leonan analisa início no Atlético-MG e mira fazer história

Anotação de Leonan sobre o teste no Grêmio (Foto: Acervo Pessoal)

Do Grêmio, o garoto foi para o Caxias. A permanência durou um ano e meio, até que todo o projeto das categorias de base do time grená foi afetado em virtude de alterações na gestão. Leonan, então, foi para o Marcílio Dias, de Santa Catarina. Ele teve oportunidade como profissional, disputando o Estadual e o Brasileiro Série D. Porém, não finalizou a temporada no time catarinense porque foi para o Atlético.

Na casa da mãe há uma parede destinada às conquistas de Leonan (Foto: Acervo Pessoal)

À VAVEL Brasil, a mãe de Leonan, Rose Valandro, comentou acerca da trajetória do garoto até chegar à equipe profissional do Atlético-MG. Ela relembrou os perrengues que o jogador passou no início da carreira, falou sobre a simplicidade do atleta e garantiu: “Como mãe, posso dizer que meu sonho está realizado”.


Confira a entrevista de Rose Valandro à VAVEL Brasil

VAVEL Brasil: Quando criança

Rose Valandro: Leonan foi criado em uma cidade com menos de 1500 habitantes (Engenho Velho-RS). Ele gostava de brincar de carrinho, jogar bola, ir ao rio pescar. Nunca havia ficado fora de casa. De repente, o cônsul do Grêmio levou ele e mais alguns meninos para fazer um teste no time. De todos os garotos que foram, somente ele ficou. Quando disseram que ele tinha passado, achei que era para quando ele tivesse mais idade.

VB: Ida para Porto Alegre

Rose: No sábado, ele teve a resposta e na terça-feira tinha que estar lá. Era pegar ou largar. Eu tinha meu trabalho e não podia abandonar. Levei-o para a casa de uma prima, porém ele tinha que pegar quatro ônibus para chegar até o CT onde eles treinavam. Ele ficou alguns dias e uma amiga da minha cidade morava a duas quadras do centro de treinamento e nos disponibilizou o apartamento dela. Então, nos revezamos. Até o fim daquele ano, eu, o pai e a irmã ficávamos com ele. De onde moramos a Porto Alegre são 380 Km.

VB: No ano seguinte

Rose: Ele foi morar na concentração das categorias de base e pelo menos uma vez ao mês eu ia vê-lo e saber como estava na escola e no time, sempre acompanhando. Tivemos que alugar um apartamento perto do estádio, e o aluguel era caro. Larguei meu trabalho e fui morar com ele, não tinha como deixar uma criança de 13 anos morando sozinha. Eu fazia doces e salgados, vendia algumas coisas e trabalhava até como diarista para agregar renda para nos mantermos. Ele sempre pegou a ajuda de custo que recebia do clube e com ela pagávamos parte do aluguel.

VB: Simplicidade

Rose: Os amigos dele tinham celular, tênis, roupas e bonés da moda. Ele não tinha. Porém, nunca ficou chateado ou bateu o pé dizendo que queria. Ele sempre se contentou com o mínimo.

VB: Dispensa do Grêmio

Rose: Em 2011, ele foi dispensado do Grêmio e um amigo arrumou para ele jogar no Caxias. Me mudei para lá, para ficar perto dele. Às vezes, nem o dinheiro da passagem para ir à minha casa ele tinha. O clube dava uma ajuda de R$ 150,00 mensais, e ele tinha o dentista para pagar. No entanto, a base do clube acabou terminando por não ter estrutura e ele teve que sair.

VB: Mais uma chance

Rose: Em 2012, ele foi para Itajaí para jogar no Marcílio Dias. Lá, eu nunca pude acompanhá-lo. Cada vez que eu falava em ir, ele me barrava. Eu dizia: “Mas por que você não quer que eu vá ver onde você mora?”, e ele respondia: “Se você vier aqui, vai me levar embora, não vai me deixar ficar aqui, tenho certeza”. Toda semana eu enviava dinheiro para ele comer, a última refeição era às 18h, ia para a escola à noite e voltava às 23h com fome. Então, ele e os meninos compravam bolacha recheada, sanduíche e suco, que colocavam em uma bombona de água que tinha no quarto.

VB: O primeiro jogo no principal e a ida para o Atlético-MG

Rose: As coisas eram assim até ele fazer o primeiro jogo na equipe principal do Marcílio Dias. Foi aí que um empresário quis levá-lo para fazer um teste no Atlético-MG. Na mesma semana, ele foi para Belo Horizonte e não voltou mais.

Na parede, a camisa da partida disputada entre o Marcílio Dias e o E.C. Juventude em 01/09/2013. Abaixo e à esquerda, a escalação original do time, na qual Leonan apareceu pela primeira vez como titular (Foto: Acervo Pessoal)

VAVEL Brasil: A chegada à Cidade do Galo

Rose: No Galo, ele começou a ter uma vida melhor. Em menos de um mês, fui conhecer a Cidade do Galo. Fiquei muito feliz com a recepção de todos. Ele já havia entrosado com todo mundo, todos brincavam como se fizesse bastante tempo que ele estivesse lá. A adaptação ao clube foi muito fácil, mas a caminhada competitiva foi bastante trabalhosa. Às vezes, ele balançava a cabeça dizendo que estava cansado. Eu dizia: “Calma filho, a tua hora vai chegar”, e ele me respondia: “Quando? Estou cansado de esperar...”.

Mesmo distante fisicamente, mas em contato com ele todos os dias conversando, querendo saber como estavam as coisas e pedindo a Deus para que ele continuasse firme e forte, pois desde que ele saiu de casa sempre disse a ele que eu queria, sim, que se tornasse um jogador de futebol. Porque era o sonho dele e estava lutando para que isso se concretizasse. Mas, acima de tudo, eu queria que ele fosse um grande homem.

VB: A realização de um sonho

Rose: Como mãe, posso dizer que meu sonho está realizado. Os meus ensinamentos e o mundo junto com as dificuldades e o sofrimento fizeram dele um grande homem, justo, com caráter e muita personalidade, digno de tudo o que está vivendo. Como jogador, no domingo, realizei meu outro sonho, que era vê-lo estrear pelo profissional. Foram dez anos de luta esperando por isso, de agora em diante vou considerar tudo o que acontecer como conquista e glória do Senhor. Sei que ele é talentoso e terá um futuro promissor; está apenas começando a colher os frutos plantados.

Rose e Leonan

VB: A saudade

Rose: É muito grande. Fazem quase nove meses que não o vejo, é um preço muito alto a se pagar, mas temos focado no único objetivo, que é o melhor para ele. Sei que logo vamos nos ver e que tudo poderá ser diferente um dia. Espero que depois de dez anos o próximo aniversário a gente consiga passar juntos, para que eu diga a ele o quanto o amo. Ele é o meu guerreiro, exemplo de superação.


Desde o fim de 2013, o lateral-esquerdo reside e treina na Cidade do Galo, centro de treinamento do Atlético-MG. O vínculo entre o alvinegro e Leonan está previsto até dezembro de 2017. Na base do clube, o atleta disputou diversos títulos e marcou gols importantes pela categoria júnior. Com a base, ele viajou por todo o Brasil para disputar Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro. Internacionalmente, o lateral integrou as equipes que disputaram os torneios Spax Cup, Ennepetal e Terborg, os dois últimos mais expressivos.

Leonan na Spax Cup
(Foto: Acervo Pessoal)

Mesmo com uma trajetória vitoriosa e muitas medalhas conquistadas, o caminho trilhado por Leonan até a estreia no profissional do Atlético-MG foi longo e muito difícil. Ele é muito religioso e sempre usou a fé para se fortalecer. O lateral-esquerdo sempre teve muito apoio e fez amigos em todos os lugares por onde passou. “Muitas pessoas o ajudaram até aqui”, disse Rose, mãe de Leonan, em entrevista à VAVEL Brasil.

O lateral fez parte do elenco de 2014 que disputou a Spax Cup. Yago e Uilson integram o profissional junto com Leonan atualmente (Foto: Acervo Pessoal)

No ano passado, o lateral se lesionou em um treino sofrendo uma pancada e rompendo o ligamento cruzado anterior do joelho. Seis meses após a lesão, ele entrou em fase final de recuperação e adquiriu confiança para o retorno. Ele foi um dos principais destaques do time júnior do alvinegro em 2015, mesmo perdendo a fase final de temporada após a lesão. Ele não poderia mais atuar pela categoria de base do time, por completar a idade limite neste ano. A promoção ao time profissional era questão de tempo.


Leonan combina com Thalis uma cobrança de falta. (Acervo Pessoal)

Em 2015, Leonan participou de: 
26 jogos, sendo eles:
16 vitórias, 4 empates e 5 derrotas.
Marcou 6 gols, sendo:
1 pênalti, 3 gols normais e 2 gols de falta.

Competições disputadas:
Copa São Paulo de Futebol Júnior, Torneio de Terborg, Ennepetal, Campeonato Brasileiro e Campeonato Mineiro.


Então vieram as dificuldades. O time profissional contava com os laterais-esquerdos Douglas Santos (titular na época) e os reservas Patric e Mansur. Neste meio-tempo, o alvinegro emprestou Mansur para o Sport do Recife, contratou Fábio Santos e aos poucos Douglas Santos estava iniciando as tratativas para negociar com times do exterior. Após os Jogos Olímpicos Rio 2016, Douglas se transferiu para o Hamburgo e então Fábio Santos assumiu a titularidade da posição. Desta forma, Leonan se tornou o reserva direto da posição.

No último domingo (23), Leonan jogou pela primeira vez no time profissional do Atlético, meses após ter o ciclo nas categorias de base encerrado. Com boa atuação, iniciou como titular e se mostrou seguro e confiante para substituir Fábio Santos quando necessário. Existe um mito que jogadores provenientes de categorias de base geralmente não conseguem lidar com a pressão da estreia e acabam cometendo erros. Não foi o caso de Leonan. Com caraterística ofensiva, o lateral-esquerdo “gastou” todo o seu futebol e mostrou que merece as oportunidades que vem conquistando.

Momento em que Leonan é substituído por Fábio Santos e sai de campo aplaudido pela torcida (Foto: Pedro Prado/VAVEL Brasil)

O técnico Marcelo Oliveira elogiou o garoto em coletiva de imprensa concedida após a vitória do alvinegro no domingo. Fábio Santos, dono da posição em que Leonan joga não poupou elogios e tem conversado muito com o garoto para tranquilizá-lo e orientá-lo ainda mais.

O garoto gosta mais da parte ofensiva, procurando sempre chegar à linha de fundo, trabalhando a bola. A jovem promessa alvinegra não é lateral-esquerdo de origem. Ele começou como meia-atacante, jogando pelo lado esquerdo. Depois foi recuando e acabou ficando como lateral, se destacando no Atlético-MG pela bola parada, marcando gols de falta pelo time júnior. Leonan afirma que a marcação é complicada, sendo a primeira função de um lateral. Ele procura desenvolver ainda mais a marcação porque no ataque consegue se desenvolver melhor.

Leonan se espelha no ex-lateral Roberto Carlos, um dos maiores da história da posição e também em Marcelo, do Real Madrid. Com relação a Douglas e Fábio Santos, o jovem se identifica mais com o primeiro, que tem um estilo de jogo mais parecido, ofensivo. Sobre Fábio Santos, o jovem comentou que é muito bom passar o tempo perto dele, observando. A relação com Marcelo Oliveira é muito boa, o técnico alvinegro tem passado confiança a ele, que acredita nesta como fator importante para quem está começando.

Leonan e Jesiel aproveitam a folga no Clube Labareda, do Atlético-MG
(Foto: Acervo Pessoal)

Ele tem muitos amigos no time, seja das categorias de base ou profissional. O lateral tem um bom relacionamento com os atletas, mas Jesiel é o primeiro nome que ele cita ao responder sobre os parceiros de time. Nas concentrações, dividem quarto e fora do ambiente esportivo têm uma boa convivência. O goleiro Uilson também é próximo do lateral-esquerdo, ambos conversam bastante quando estão no banco de reservas das partidas. O meia Thalis, do time júnior, também é um grande amigo do lateral, além de Yago, Lorran e o zagueiro Gabriel.


Foto: Divulgação/Atlético-MG
Foto: Divulgação/Atlético-MG

Ficha técnica

Nome: Leonan José Valandro Gomes
Nascimento: 28/10/1995 (21 anos)
Altura/peso: 1,74cm / 64kg
Data de estreia no profissional: 23 de outubro de 2016, no triunfo sobre o Figueirense, partida válida pela 32ª rodada do Campeonato Brasileiro.
No clube desde: final de 2013.

VAVEL Logo
Sobre o autor
Pedro Prado / Charley Moreira
Comunicação esportiva || Assessoria de Imprensa e Mídias Sociais || Contato: [email protected]