O Cruzeiro foi da glória a um mar de indefinições em uma semana. Depois de conquistar a Copa do Brasil diante do Flamengo, o que se esperava do restante da temporada celeste era certa tranquilidade pela vaga já garantida na Libertadores do ano que vem. No entanto, o que se viu e se vê até agora são capítulos de um aquecido bastidor político, cuja trama está apenas começando.

Após a eleição de Wágner Pires de Sá para a presidência do clube, a saída de Bruno Vicintin da vice-presidência de futebol, o rompimento de Gilvan de Pinho Tavares com o candidato eleito que ele mesmo apoiou e o ainda anúncio do desligamento do gerente de futebol, Tinga, as incertezas seguem na Toca da Raposa. Uma delas, por exemplo, tange a permanência de Klauss Câmara no cargo de diretor de futebol do clube.

Bruno Vicintin não é mais vice-presidente de futebol do Cruzeiro

Itair Machado no departamento de futebol do Cruzeiro racha aliança entre Gilvan e Wagner

Segue a debandada: Tinga anuncia saída do cargo de gerente de futebol do Cruzeiro

Em contato com a VAVEL Brasil, o profissional, que está participando de um evento em Londres, afirmou que ainda não foi procurado pela nova diretoria celeste para acertar sua manutenção. Klauss era um dos parceiros fiéis no departamento de futebol da Raposa de Bruno Vicintin, que deixou o clube esta semana pela possibilidade da admissão de Itair Machado, que vai mesmo ser concretizada.

"Não fui procurado, nem conversei com ninguém. É precipitado da minha parte qualquer tipo de posicionamento, porque eu não conversei com ninguém. Formamos uma equipe e acreditamos que a gente poderia ter sucesso diante do cenário que encontramos. O Cruzeiro vinha de dois anos negativos, brigando para não cair, e chegamos para fazer com que o Cruzeiro voltasse ao seu lugar", afirmou Klauss Câmara.

Vicintin, Klauss, Tinga e Mano Menezes: manutenção do diretor e do treinador em seus cargos ainda é dúvida (Foto: Washington Alves/Light Press/Cruzeiro)

Natureza política dos clubes

Um turbilhão de fatos agitou a Toca esta semana, o que não deve acabar tão cedo. Uma debandada de profissionais tem sido vista pelos lados da equipe, todas no âmbito político. No entanto, se a glória na Copa do Brasil foi alcançada no último dia 27, deve-se ao atual departamento de futebol celeste, que aos poucos está sendo desfeito. Questionado se está surpreso com a avalanche de acontecimentos pela qual a Raposa está passando, Klauss afirmou que questões assim pertencem a uma característica inerente à natureza das agremiações.

"A constituição dos clubes no Brasil, desde a sua origem, é política. Os fatores que competem aos aspectos políticos estão sempre inerentes, não tem como fugir. Tudo isso não pode ser encarado como uma surpresa, porque é o futebol. Isso não é exclusivo do Cruzeiro. Quando tem transição e mudança de gestão, acaba sofrendo isso. Claro, tudo foi muito rápido, e coincidiu do título ser nos dias que antecederam a eleição", enfatizou.

Vínculo com Bruno Vicintin

Klauss retornará ao Brasil no começo da próxima semana para, a partir disso, decidir seu futuro com a nova composição da presidência do Cruzeiro. Dentro da Raposa, esteve muito ligado a Bruno Vicintin, Tinga e Pedro Moreira (supervisor de futebol), integrando o que Vicintin outrora pontuou como "sua equipe", da qual não abriria mão. 

Bruno e Tinga já anunciaram suas saídas (no caso do último, terminará 2017 no cargo). Pedro e Klauss, porém, seguem como indefinições. Para o atual diretor de futebol da Raposa, o fato de Vicintin ter deixado o Cruzeiro não significa também a sua saída. Klauss reiterou que, na semana que vem, vai ouvir a proposta de Wágner.

"Vicintin era o nosso líder, o cabeça da nossa equipe, sem dúvida. Ele que montou essa equipe. Eu espero chegar ao Brasil e ser procurado para poder saber se contam ou não comigo. E, se porventura contam, em qual cenário, com quais pessoas. Preciso entender para avaliar. Mas, esse momento é o momento de seguir trabalhando concentrado em blindar a equipe, porque a gente tem como responsabilidade fazer com que o futebol do Cruzeiro seja forte", observou.

Bruno Vicintin, Klauss Câmara e Tinga atuaram muito próximos em 2017 (Foto: Cristiane Mattos/Light Press/Cruzeiro)

Nesta semana, um áudio de Vicintin foi vazado, no qual ele comenta sobre sua saída do clube. Dentre outras ponderações, o ex-presidente de futebol da Raposa comentou sobre Itair Machado, homem forte do futebol do Cruzeiro a partir de 2018 e que vai assumir justamente o cargo deixado por Bruno.

Até a eleição, o Itair jurava de pé junto que não gostaria de trabalhar com o futebol nunca mais na vida. O Gilvan e o Lemos falavam que não aceitavam de jeito nenhum que tirassem o Guilherme Mendes. Um dia depois da eleição, quando eu vi que começou esse sururu todo, eu liguei para o Gilvan e para o Wagner e combinei de conversar. Até porque quando o Wagner tinha me convidado, ele tinha dito que não mudaria nada do futebol, em caso de vitória da chapa", disse Bruno Vicintin no áudio.

"Quando liguei para o Gilvan, eu disse para encontrarmos e marcarmos para resolver essa porra, porque se não ia ficar criando especulação e eu não queria isso para mim. Chegando lá, a conversa foi a seguinte: ‘Eu quero que o Itair vá para o futebol, mas quero que trabalhe com você’. Eu falei para o Wagner que entendi que o Itair era da confiança dele, que tinha investido dinheiro na campanha dele, e que não era isso que tinha sido falado antes da campanha. Porém, que eu tinha minha equipe que era o Klauss, o Tinga, o Guilherme e o Pedro e que, para eu trabalhar, teria que ficar com essa equipe”, completou.

Itair Machado vai assumir a vice-presidência de futebol do Cruzeiro (Foto: Reprodução/Twitter)

Blindar o futebol

O Cruzeiro joga contra a Ponte Preta neste sábado (7), pelo Brasileirão, mas pouco se falou sobre o jogo em si. O aspecto concernente ao que gira dentro das quatro linhas foi, de certa forma, negligenciado em função dos acontecimentos dos bastidores. Para Klauss, a sua função, bem como a de Tinga, foi blindar a equipe durante o processo eleitoral na Raposa, que deu início a tudo isso.

"Minha principal missão durante o processo de eleição no Cruzeiro, ao lado do Tinga, foi blindar o futebol, não permitir que aspectos da política interferissem dentro do campo. Nossa missão até o fim da temporada é continuar fazendo isso, até porque nós temos um elenco que foi agora reconhecido a nível nacional com essa conquista que precisa fortalecer para a disputa da Libertadores de 2018, nossa grande competição", pontuou.

Mas, por onde anda Klauss?

Em meio à ebulição de fatos no Cruzeiro, Klauss Câmara está participando de um evento em Londres, na Inglaterra, pertencente à Aspire Academy - instituição dedicada à captação e ao desenvolvimento de jovens prodígios do futebol mundial. No evento, Klauss é o único dirigente brasileiro dentre os palestrantes.

"O Cruzeiro é minha primeira grande experiência no profissional, e graças a Deus já cheguei com chave de ouro. Mas, sobre o tema que vou falar, que é identificação do talento, acredito que vem pela expertise de outros trabalhos, principalmente no desenvolvimento e captação de jogadores. Vou participar de um workshop sobre isso, com profissionais de vários clubes do mundo", comentou Klauss.

Além do diretor da Raposa, os outros brasileiros no evento são o fisiologista André Montanholi, do Atlético-PR, e Jorge Andrade, gerente executivo da base do Internacional.