Matilde Fidalgo nasceu na capital de Portugal, Lisboa onde viveu a maior parte da sua vida antes de se mudar para o Brasil por uns tempos. Ela revela que, a sua paixão pelo exporte começou muito cedo, “não tinha idade racional para perceber como é que comecei.”

“Eu fui criada só com rapazes, e eu sempre fiz brincadeiras dos rapazes, e dessas brincadeiras era o futebol.

“Portanto comecei a jogar futebol em casa com os meus irmãos, por aí com dois, três anos.”

Na partida, Fidalgo integrou-se na equipa do colégio onde só atuavam rapazes, no entretanto quando a equipa tornou-se conhecida e sólida aos seus 11 anos, foi interrompida por causa de ela ter de se mudar para o Brasil.

É certo que, com aquela idade a diferença física não era muito grande que “não se justificava uma rapariga não poder jogar com rapazes.”

“Eu acho que em termos de competitividade foi ótimo para mim ter isso.”

Ela lembra que naquela época não haviam jogadoras a jogar com rapazes, sendo que ela era a única, “eu nunca joguei contra nenhuma rapariga.” Agora ao comparar desde quando ela voltou do Brasil ainda adolescente, aos 16 anos teve a oportunidade de se juntar numa equipa de raparigas do Futebol Benfica, graças ao seu treinador do colégio, o Professor Quim.

Após o seu retorno à Portugal, o Professor Quim disse-lhe: “tu precisas estar a jogar futebol com mulheres porque tu não podes estar a competir com os rapazes.”

Fidalgo recordou que na altura quando ainda era jovem, não havia formação em Portugal, e apesar de já não ser essa a realidade de hoje, ela considera que a formação é muito importante para o desenvolvimento de uma jogadora que está no princípio da sua carreira.

“Não só no desenvolvimento nas características dentro de campo, mas também na forma como molda a nossa perceção hierática de uma equipa, eu acho que isso me ajudou muito.

 “Ter tudo muito bem definido na minha cabeça o lugar do jogador, do capitão, do treinador, dos diretores e acho que me ajudou muito.”

Além do futebol, também há outras coisas que o esporte oferece, tal como amizades que leva para a vida e chegar a ter oportunidade de atuar por um clube como o Manchester City.

Para atras deixou o Sporting e o Sporting Clube de Braga onde jogou por apenas uma época em cada clube.

A jogadora do City admitiu que quando o Sporting entrou em contacto, “fiquei um bocado relutante,” mas que decidiu dar o seu primeiro passo a nível profissional, atuando na primeira equipa pelas Leoninas.

No entretanto, a equipa Lisboeta queria estender o contracto por mais um ano, só que o SC Braga adquiriu os serviços da internacional Portuguesa.

“Na altura, acabei por não chegar a um acordo com o Sporting porque eu queria ficar só um ano para poder tentar vir no ano que vim e o Sporting queria um contracto mais longo – acabei por ir para o Braga que foi uma experiencia que adorei."

Uma época recheada de positivismos onde os Bracarenses conquistaram a Supertaça e o campeonato nacional. Decididamente a assinar pelo clube minhoto por mais uma época, Fidalgo disse que não sabia que havia um interesse por parte do clube inglês, Manchester City. Só que o seu interesse de vir jogar para fora, permaneceu.

“No final da época, já inclinada para assinar novamente com o Braga, que foram campeão e preparavam a pré-epoca antes dos outros clubes porque ia fazer o play-off da Liga dos Campeões e estavam a tentar fechar o plantel.

Por instantes a jogadora de 25 anos, quase que assinava novamente com o Braga, só que sem imaginar, o inesperado aconteceu.

“O clube teve comportamento exemplar comigo e eu retribui da mesma forma e já estava quase a assinar, o meu agente ligou-me e disse segunda-feira damos uma resposta. Nós íamos ter folga na terça e eu disse, podemos esticar até quarta? Porque até lá se ninguém entrar em contacto nós assinamos com o Braga e terça-feira ao final do dia ele disse, o City entrou em contacto comigo, estão interessados e obviamente eu também estava interessada em vir.”

A sua decisão em assinar pelo clube inglês esteve principalmente relacionadas com o facto de ser uma liga muito mais competitiva do que a Portuguesa. A qualidade da equipa e das instalações do clube também levaram a sua decisão ser ainda mais fácil.

A nível individual, reconheceu que seria um lugar em que lhe ia permitir evoluir mais.

“Estou inserida no meio em que a dificuldade é maior do que aquela que eu já encontrei até agora mas que me vai permitir evoluir. Eu quis vir porque sabia que aqui era um espaço que iria ser testada e que ia estar a trabalhar com colegas de excelente qualidade a competir a um nível altíssimo e portanto evoluir.”

Com a transição de campeonato e país, Fidalgo revelou que ainda esta por se habituar a algumas mudanças, o tempo mais chuvoso e escuro, o jantar das 18:30 e por aí fora.

“O frio para mim é o pior,” começou por contar.

“Houve uma altura em no final de Dezembro, as três da tarde já estava escuro, eu estava quase a deprimir, faz muita diferença.

“A alimentação é um bocado diferente, as pessoas são um bocado mais reservadas até quebrar uma certa barreira, os horários também são um bocado diferentes, quando estamos em estagio jantamos as 18:30 da tarde, para mim isso é um lanche. Quando eu digo que janto as 20:30-21:00, as pessoas olham pra mim e dizem que isso é o horário que estão a ir deitar-se.

“Mas eu fiquei surpreendida pela positiva. A cidade é mais interessante e mais animada do que aquilo que eu imaginava.”

Quando questionada sobre uma possível influencia do seu primo, Bernardo Silva, jogador do Manchester City ter a ajudado a tomar uma decisão acerca de se mudar, Fidalgo reiterou que “não sabia que era prima dele até uns anos atrás.”

“Ele é uma pessoa muito simpática e acessível mas na altura eu falei com a mãe do Bernardo.

Após a proposta do City, Fidalgo quis saber mais acerca da abordagem do clube, e conhecendo a mãe de Bernardo, ela disse que a tranquilizou nesse sentido.

“Antes de fazer uma proposta quiseram falar comigo por vídeo chamada e ela disse que são pessoas muito corretas na forma como abordam os jogadores e as jogadoras também e foi me tranquilizando.”

A mudança para um novo clube e uma liga muito mais competitiva, irá ajudar a jogadora Portuguesa, apesar de ainda não ter somado muitos minutos pelo clube esta temporada, Fidalgo já reconhece que no campeonato da Women’s Super League, não há muito tempo para reagir.

“Há menos tempo pra pensar, menos tempo pra agir, e é uma adaptação que tenho de fazer.”

Mesmo assim, ela está confiante que, ao treinar e compartilhar balneário com pessoas de igual nível, irá beneficiar ela de se integrar e adaptar-se bem nos gigantes do City que seguem em primeiro lugar do campeonato.

“Eu sou bastante positiva, eu acho sempre que vou conseguir e eu continuo a achar que vou conseguir ter o meu lugar mais sólido aqui mas não estava a espera que me custasse tanto.

Pensar que ao chegar iria ter um lugar sólido no onze, mexeu um bocado com a jogadora.

“Obviamente influencia um bocado, uma pessoa chega não joga e depois acha que vai conseguindo minutos e depois as vezes há assim uns altos e baixos e psicologicamente nem sempre é fácil mas acho que isso também faz parte do aprendizado.”

Para além de rezar antes de qualquer jogo, gosta muito de não ficar independente de superstições e por isso gosta de a quebra-las.

“Rezo sempre no balneário quando estou a me concentrar e quando jogo de inicio normalmente, dentro de campo também rezo. De vez em quando penso “ah vou entrar com o pé direito” mas são superstições que eu gosto de quebrar de vez em quando para não sentir que estou independente delas. Há dias em que eu digo não, hoje eu vou quebrar isto pra não ficar agarrada a essas superstições mas rezar tenho sempre.”

Por último, deixou uma forte mensagem a todas as jovens raparigas que têm a ambição de seguir carreira no futebol:

“Joguem. Eu acho que não há motivo nenhum para as pessoas sentirem que o futebol não é para raparigas, já conseguimos quebrar tantas barreiras, aproveitem. Eu faço parte da geração que esta a viver a mudança, não sou da geração que chegou e era tudo normal mas é muito bom fazer parte desta mudança e eu espero que as pessoas mais novas que querem começar, que aproveitem este embalo e esta onda.

“Pratiquem e procurem estar em ambientes competitivos porque isso vai permitir que evoluem muito mais, se uma pessoa tem muita capacidade, muito potencial mas não tem equipa, joguem com os rapazes, porque não?

“Não se prendam no medo de jogar.”

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