Famosa pela tradição de revelar craques do futebol mundial, a Holanda se vê em uma montanha-russa de desempenho ao longo dos últimos sete anos. A Laranja atingiu um ponto baixo na última terça-feira (10), quando não conseguiu se classificar para a Copa do Mundo em 2018, terminando em terceiro lugar com os mesmos números de pontos da Suécia, mas perdendo no critério de desempate.

Vice-campeã em 2010, na África do Sul, e terceiro lugar em 2014, a        Laranja fica fora de sua sétima copa. Somente uma goleada de sete gols de diferença para empatar no número de pontos, mas superar a Suécia em saldo de gols marcados teria sido suficiente para salvá-los. A situação dos holandeses só não era mais simples, pois a Suécia construiu um resultado de 8 a 0 contra Luxemburgo antes do confronto direto com a Holanda.

Em toda a sua campanha em eliminatórias, a Holanda conseguiu construir placares elásticos apenas três vezes. A goleada mais recente ocorreu em 2013, quando venceram a Hungria por 8 a 1.

Além da não classificação para a Copa do Mundo, o procedente holandês se arrasta desde a não classificação para a Eurocopa em 2016, onde o time sequer passou da fase qualificatórias para a competição, culminando na demissão de Guus Hiddink e vendo o pouco experiente Danny Blind assumir a bomba-relógio de instabilidade que a Holanda apresentava desde 2014. A seleção apresentava um futebol pouco criativo e vistoso, características que marcara gerações, haviam se esvaído por conta da idade em que seus craques atingiam, junto com a falta de novas revelações de peso.

A pressa é inimiga da perfeição

Após estrear nas eliminatórias com duas derrotas e apenas uma vitória, a situação de Blind ficou insustentável. Os dirigentes correram à procura de um técnico para assumir durante a pausa em que os holandeses disputaram uma série de amistosos. Quem assumisse, teria a difícil missão de brigar pela classificação na repescagem, visto que a seleção francesa se via em um bom momento e a Suécia fazia uma campanha impecável, ocupando a segunda posição.

Depois de indecisões sobre quem assumiria, Dick Advocaat foi escolhido como a bola da vez para conseguir resultados a curto prazo, assumindo somente na quinta rodada das Eliminatórias, contra Luxemburgo e sem ter a opção de fazer a sua primeira convocação, visto que Danny Blind já havia feito a escolha de jogadores, fazendo com que Advocaat pegasse um trabalho inacabado e com poucos resultados positivos.

Técnico holandês chegou com a difícil missão de dar continuidade ao trabalho de Blind e classificar a Holanda para a Copa do Mundo(Foto: VI-Images/Getty Images Sport)
Técnico holandês chegou na metade das eliminatórias com a difícil missão de classificar a Holanda (Foto: VI-Images/Getty Images)

Em seu primeiro jogo, o técnico mais velho a comandar a Laranja venceu Luxemburgo por expressivos 5 a 0. Tal resultado amenizou a pressão, dando a terceira colocação no Grupo A, apenas 3 pontos atrás dos suecos, que se mantinham embalados depois de vencerem a França na mesma rodada.

Na rodada seguinte, já com seus próprios convocados, Advocaat e seus comandados tinham a difícil missão de baterem os líderes do grupo, o que não aconteceu. A Holanda foi goleada por 4 a 0 no estádio Saint-Denis, na França. O peso de não ir à Copa começou a recair sobre os ombros de Dick Advocaat, que apesar da goleada contra Luxemburgo, via sua equipe com dificuldades para produzir jogadas ofensivas e deficiências na defesa, não só no jogo contra os franceses em especial, mas na campanha que tinha como destino a Copa do Mundo.

Mesmo aos trancos e barrancos, o técnico da Orange tinha dificuldades em fazer suas convocações. Visto que muitos jogadores dessa geração holandesa são reservas em seus respectivos clubes, ou simplesmente não atuam em ligas que competem em alto nível do futebol europeu.

Um exemplo que demonstra a falta de opções para relacionar jogadores, foi na convocação de Ryan Babel, atacante que não defendia a seleção desde 2011, além de ter o fator de lesões contra os holandeses, quando o meio-campista Kevin Strootman se lesionou e deixou a delegação, obrigando Advocaat improvisar o defensor Daley Blind como volante em seu confronto decisivo contra a Suécia. Outro fator que se explica a dificuldade em bater de frente com seleções tradicionais, está pela idade de seus craques, que não são mais como anos atrás.

Crise não só na seleção

A Holanda não deixava de ir a uma Copa desde 2002, e ao longo dos anos se firmou como uma seleção forte do futebol mundial, com Robin Van Persie, Arjen Robben, Van der Sar e Sneijder, agora se vê em declínio sem perspectivas positivas para o futuro de curto prazo. O futebol holandês, como um todo, passa por dificuldades em revelar craques de nível mundial como os citados acima.

O próprio Ajax, que é um celeiro para bons jogadores, não é mais o mesmo de anos atrás, embora tenha chegado à fina da Uefa Europa League de 2016/17, carece na revelação de atletas holandeses de alto nível, além disso, o time holandês não conseguiu se classificar para a Champions League deste ano, caindo nos playoffs da competição para o Nice (FRA).

A partir desta eliminação, o plano da seleção holandesa é de reconstrução. Dick Advocaat deve ficar  até o final do ano para comandar a equipe em alguns amistosos. Especula-se que planejam agendar confrontos contra Alemanha e Inglaterra até o final de 2017.

A Laranja Mecânica, desde que terminou na terceira posição na Copa de 2014, acumula 34 partidas, com 15 vitórias, 14 derrotas e quatro empates, tendo aproveitamento de 49,5%. Além do histórico de confrontos, vale ressaltar que durante o período dos últimos 3 anos, a Orange trocou o seu comando técnico por quatro vezes.

A perna esquerda não salvou a Holanda

Um dos grandes nomes da seleção, Arjen Robben bem que tentou comandar o ataque com a sua perigosa perna esquerda, mas de nada adiantou. Autor de 6 gols em 7 jogos nas Eliminatórias, dois deles marcados na vitória por 2 a 0 sobre a Suécia, na última rodada da fase classificatória.

Aplaudido de pé pela torcida, Robben marcou os dois gols que deram a vitória sobre a Suécia (Foto: Getty Images Sport/VI-Images)
Aplaudido de pé pela torcida, Robben marcou os dois gols que deram a vitória sobre a Suécia (Foto: VI-Images/Getty Images)

Mesmo aos seus 33 anos, o atacante do Bayern de Munique chamou toda a sua responsabilidade durante os jogos. Embora o problema da idade acabasse atrapalhando a intensidade de suas jogadas pela ponta-direita, Robben compensava com liderança tentando orientar a jovem seleção, que não conseguia acompanhar o ritmo do camisa 11. O capitão não atuará mais pela Laranja após a não-classificação para a Copa do Mundo, sendo um dos últimos craques de uma geração que a torcida holandesa teve o prazer de assistir.

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Caio Pavoski
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