Fiel torcida corinthiana, após muita expectativa, ansiedade e dúvidas, você pode, enfim, soltar o grito de campeão. Hexacampeão! O Corinthians, que conquistou o Brasil em 1990, em 1998, 1999, 2005 e 2011, volta a ser o maior do país uma campanha impressionante, irretocável e muito acima dos rivais.

Em um Brasileirão com muitos erros de arbitragem (alguns favorecendo e outros prejudicando o Timão), ficou comum falar que o campeonato "estava manchado". Mas como o próprio presidente corinthiano disse, está manchado de preto e branco. Uma mancha de superação, de suor, de empenho e de muita qualidade.

Entretanto, quem pega a tabela e olha os números, pensa que o Corinthians sobrou de forma total por todo o ano. Mas não foi bem isso. O time passou por altos e baixos, instabilidade dentro e fora de campo, mudanças na equipe e problemas financeiros. Só que a Fiel abraçou o time como sempre faz, contou com o maior treinador de sua história no banco de reservas, uma dupla de meias que dividem o prêmio de melhor do campeonato e nomes pontuais na campanha para manter o alvinegro no topo da tabela.

A desconfiança das cinco primeiras rodadas

O começo de temporada do Corinthians foi uma mistura de euforia e decepção. Tudo porque o Timão foi massacrante no Paulistão, atropelando os adversarios, rodando o elenco e mostrando um futebol sensacional, com muita ofensividade e variação de jogadas. Mas na semifinal, em plena Arena Corinthians, o seu maior rival despachou o alvinegro. Nas penalidades, o Palmeiras foi mais feliz e eliminou os donos da casa. Logo em seguida, duas derrotas para o Guarani, do Paraguai, tiraram o sonho do Timão em busca do Bi da Libertadores.

Neste momento, todos os problemas possíveis caíram sobre o Pq. São Jorge. Sem dinheiro, salários atrasados, Guerrero e Emerson Sheik, ídolos da torcida, saindo do clube, outras saídas de jogadores do elenco, propostas para jogadores-chave... Um mar de problemas tiravam o sono do corinthiano. Houveram pessoas que colocaram o time como candidato ao rebaixamento.

A estreia dava uma dimensão do problema. Em Cuiabá, o Timão enfrentou o atual campeão Cruzeiro e venceu com gol de Romero, numa assistência de Edilson. Tendo de pagar um mando de campo, a primeira partida em casa foi para Araraquara, onde um chute de Fábio Santos desviou no rosto de Mendoza e entrou nas redes da Chapecoense. A série perfeita se encerrou quando o Timão foi ao Maracanã encarar o Fluminense, na partida que ficou marcada como a última de Paolo Guerrero com a camisa alvinegra. Neste jogo, o peruano perdeu um gol impressionante.

O time era todo remendado. Parecia que a Fiel estava revivendo aquela época de empates e vitórias magras e sofridas. Tite era questionado sobre seu "ano sabático" de estudos. E ficou ainda pior quando recebeu o Palmeiras em Itaquera. Com uma derrota por 2 a 0, protestos da torcida já se faziam presente. Principalmente com a diretoria, em busca do pagamento dos salários dos jogadores. Na quinta rodada, um lampejo de futebol surgiu, mas graças à um começo sonolento, a equipe apanhou do Grêmio, em sua casa, por 3 a 1.

Esses dois últimos resultados marcaram a campanha do time de Tite. Contra o Verdão, a única derrota em casa. Já contra o tricolor do Sul, a pior derrota dentre as quatro que tiveram.

A reconstrução paciente

Sob pressão, o Corinthians foi à Joinville e voltou a vencer sob duras penas. Jádson começou a mostrar seu poder decisão ao dar a vitória fora de casa e ao ser importante no difícil duelo contra o Internacional, na arena alvinegra. A vitória de virada na tarde de sábado reacendeu alguma esperança no time.

A rodada seguinte tinha mais um clássico. O caldeirão da Vila Belmiro e um gol do artilheiro Ricardo Oliveira balançaram o Timão. Mas essa derrota, a terceira em oito rodadas, marcou o início de uma arrancada histórica. Sabedor dos problemas, sem reclamar deles e garantido com o elenco fixo, Tite tratou de trabalhar. Confiou em Vágner Love, tirou Ralf da equipe, promoveu Bruno Henrique como volante, colocou Jádson na direita, com Elias e Renato Augusto pelo meio, e Malcom na esquerda, na linha de quatro meias responsáveis pela armação, marcação e chegada na área.

A base do time do campeão era montada ali. Com duas vitórias em casa, contra Figueirense e Ponte Preta, o time ainda sofria do modo brigado e magro com que vencia. Mas os pontos, naquele momento, era mais importante do que a forma com que vencia. E enfrentando o Goiás, fora de casa, o time foi até melhor, mas surgiu um problema que só foi resolvido na reta final. O desperdício de gol. Love perdia gols com a mesma frequência com que a equipe criava.

O difícil duelo contra, na época, sensação do campeonato, Atlético PR, criou maturidade no time. Com o retorno de Elias, vindo da Seleção Brasileira, o Timão venceu em casa e já ocupava o G4 da tabela. E poderia sonhar mais.

O divisor de águas no campeonato

Sem um futebol convincente, tanto dentro quanto fora de casa, o Corinthians precisava de uma resposta. E a injeção de ânimo veio em uma partida especial. No Maracanã, o alvinegro não sabia o que era vencer há anos. O Flamengo tinha tirado Emerson Sheik e Guerrero dos paulistas e o encontro das duas maiores equipes tinham contornos especiais. Só que Elias e Jádson brilharam e o Timão aplicou um sonoro 3 a 0 para mostrar que o time brigaria sim na parte de cima da tabela.

Em terceiro, com o mesmo número de pontos do vice e quatro atrás do líder, o Corinthians recebeu em sua casa, o líder Atlético MG. Em um dos melhores jogos do ano, as duas equipes trocaram ataques, os goleiros trabalharam muito, mas Malcom colocou o alvinegro paulista na cola dos mineiros. A vitória só não foi melhor porque na rodada seguinte um vacilo que parecia sumido, reapareceu.

No Couto Pereira, o Timão abriu o placar e se retrancou completamente durante toda a partida. Mas aos 46 minutos do segundo tempo, o empate veio e tirou a chance do alvinegro se igualar ao Galo na ponta. Esse gol tirou, também, a invecibilidade de quase um mês sem levar gol.

Na rodada seguinte, a obrigação da vitória era clara. Contra o lanterna Vasco da Gama, a Fiel lotou sua arena e o time venceu sem sustos por 3 a 0. O problema novamente era em Vágner Love, que seguia mal tecnicamente e mais atrapalhava do que ajudava. Esse jogo foi o início da fase de um garoto, que ficava no banco.

Luciano e a contribuição pontual

Era decidido que Love seria barrado. Sem contratar, sem dinheiro e sem tempo, Tite teria de buscar alguém em seu elenco. E esse alguém atendia pelo nome de Luciano. O garoto voltou do Pan-Americano com muita moral. Artilheiro e medalha de ouro, chegava como esperança. Mais maduro, menos marrento e com uma humildade maior do que a do ano passado, Tite deu uma oportunidade entre os 11 iniciais. E logo contra o São Paulo, de Juan Carlos Osório, no Morumbi.

E Luciano começou a brilhar. Foi dele o gol que abriu o placar, mas o time se retrancou novamente, perdeu muitos contra-ataques e deixou o rival vivo. Numa falha de Cássio, Luis Fabiano empatou e, no lance final, o começo de uma enorme discussão apareceu. A arbitragem. Em chute de Michel Bastos, Uendel cortou debaixo do gol com o braço esquerdo. O juíz só deu escanteio.

A penúltima rodada do turno era contra o surpreendente e ótimo Sport. Naquele que foi, dito por muitos, como o melhor jogo do campeonato, as emoções não acabaram. Luciano novamente foi importante, Hernane Brocador voltou à marcar, o jogo era sensacional em 3 a 3, até mais um lance polêmico. Após cruzamento da esquerda, a zaga nordestina afastou com um carrinho bloqueado num toque de mão claro. Jádson bateu e aliviou a pressão. Ajudado por uma derrota do Grêmio, o Corinthians assumiu a ponta para nunca mais deixá-la.

O título simbólico do primeiro turno veio de forma dramática. O Timão foi à Ressacada e venceu o Avaí novamente com Luciano sendo protagonista. Com dois golaços, o jovem deu a vitória ao alvinegro, mas Cássio fez sua parte ao operar milagres e segurar a liderança.

Sequência difícil e bom futebol

O começo do returno trouxo consigo um desfalque sentido. Luciano estava fora da temporada após lesão no joelho em partida contra o Santos pela Copa do Brasil. O barrado Vágner Love estava de volta e era, novamente, a esperança da Fiel.

No início da segunda fase, o camisa 99 e Jádson brilharam e o Timão despachou o Cruzeiro. Era o princípio de uma fase difícil na tabela. Era a fase em que o alvinegro mais perdeu pontos no campeonato e o jogo seguinte era na tão temida Arena Condá, em Chapecó.

Aquele medo da Fiel em ver sua equipe sempre recuado fora de casa era terminado neste duelo. Com um início arrasador, com Love, Elias e Renato Augusto inspirados, o Corinthians amassou a Chapecoense e seguia firme no topo. A torcida era total empolgação. O time jogava muito bem, era vistoso e tinha em seu meio campo, a principal força, com a dupla Renádson (Renato Augusto e Jadson).

A partida seguinte era especial. Aniversário de 105 anos, estreia da linda camisa laranja (em homenagem ao terrão da base corinthiana) e a Fiel numa festa impressionante. Tudo conspirou a favor. Até para o menino Marciel, vindo da base, estreiando como titular, que abriu o marcador com um belo gol. Em outra polêmica, o inoperante Fluminense chegou ao empate com um gol muito mal anulado pela arbitragem. No final, Ralf deu a tranquilidade ao time que viu a diferença aumentar ao ver o rival Galo perder em casa para o xará paranaense.

Os sete pontos de vantagem foram diminuídos após um jogo espetacular no Allianz Parque. Após anos de marasmo, Corinthians e Palmeiras fizeram uma partida à altura da rivalidade. Um 3 a 3 para encher de orgulho seus torcedores e mostrar a força corinthiana fora de casa, que se mantinha forte. Em 5 pontos, mais uma vez o Timão tinha um adversário díficil. Em casa, encarou o forte Grêmio naquele que foi um dos duelos mais táticos do campeonato. Renato Augusto e Jádson brilharam mais uma vez e o Timão evitou a derrota e o empate fez a vantagem cair para apenas três pontos, restanto o confronto direto.

Tropeço para acordar e aumentar o futebol do time

A recuperação foi imediata. Na estréia da equipe durante o horário das 11 da manhã, o Corinthians passou o caminhão no Joinville e aumentou a vantagem após o Atlético MG empatar o clássico contra o Cruzeiro. O respiro foi ainda maior após o Timão ver a sequência impressionante de quase um turno inteiro sem perder.

Desde a derrota para o Santos, na oitava rodada, o Corinthians não sabia o que era ser derrotado. Mas perto de completar 19 rodadas, o alvinegro sucumbiu ao sofrer a virada para o Internacional, no Beira-Rio, em jogo marcado pela falha de Edílson no lance do gol final. A derrota não não foi pior porque o Galo foi goleado pelo Santos por 4 a 0. O mesmo Peixe que seria o rival da rodada seguinte. Sob um calor danado, a manhã de domingo reservava o primeiro clássico. O Timão tinha sido eliminado pelo rival na Copa Brasil e não ganhava um clássico fazia um tempo. Mas, em uma das melhores atuações do time de Tite, a Fiel explodiu e viu Jádson decidir com dois gols e não tomar conhecimento do Santos. A vantagem seguia em cinco pontos.

Meio de campo decisivo e domínio fora de casa

A sequência corinthiana mostrava dois jogos fora de casa que eram perigosos demais para a tabela alvinegra. Contra o Figueirense, uma atuação exemplar da equipe. Os 3 a 1 foram poucos perto do tanto de gols que o time perdeu. No mesmo dia, o Galo vacilou e a vantagem foi à 7 pontos. Só que o Corinthians devolveu as esperanças na rodada seguinte, quando foi à Campinas e contou com a estrela de Tite para colocar Rodriguinho e vê-lo empatar o duelo em 2 a 2. O Atlético tinha vencido e a vantagem era novamente de 5 pontos.

Após longa pausa para as Eliminatórias da Seleção, o Corinthians retornou ao torneio com a pressão de se ver apenas 2 pontos à frente do segundo colocado. Com a Fiel em peso, o meio campo brilhou, o Timão não deu chances para a zebra e venceu o Goiás por 3 a 0. A briga para tirar o título seria maior do que se previa.

A rodada que decidiu o título

O final era próximo e Corinthians e Atlético estavam separados por 5 pontos, restando o jogo entre eles. Na 31ª rodada, os dois times jogaram fora de casa. Seria a definição do que cada equipe realmente tinham a oferecer. E o brilho coletivo corinthiano sobrou.

Com atuação excelente de Renato Augusto e Vágner Love, o Timão goleou o Atlético PR em plena Arena da Baixada. Cada jogador marcou dois e o placar de 4 a 1 foi o mesmo do duelo do rival. Na Ilha do Retiro, o Galo entrou pressionado por se ver 8 pontos atrás. E não teve reação. O time levou uma surra sem dó do Sport e os 4 a 1 foram impiedosos com as pretensões do time mineiro. O hexa corinthiano era questão de tempo.

A rodada seguinte se desenhou do mesmo jeito. Jogando mais cedo, o Timão teve o tão aguardado encontro contra Paolo Guerrero. Em uma partida tensa, nervosa e com muitos erros, a Arena Corinthians viu seu recorde batido e explodir com Vágner Love marcando o único gol. Até o jogo do Atlético, a vantagem era de 11 pontos.

Mas a cena não se repetiu. A Ponte Preta até teve a chance de matar o duelo e o campeonato, mas Victor teve atuação divina e salvou o 2 a 1, mantendo as esperanças do Galo.

Corinthians, o virtual campeão

Finalmente havia chegado o dia. Líder x vice-líder. Caldeirão do Horto. Pressão, cusparada em Tite, fogos, medo, guerra... O clima era de final! Era a chance do Galo trazer a vantagem para 5 pontos, enquanto o Timão queria decidir o título ali. E a partida foi sensacional.

As duas equipes não tiveram medo de atacar, pressionaram, dividiram melhores momentos, mas o Corinthians tinha o controle do jogo. Enquanto os mineiros apostavam na bola aérea, os paulistas buscavam as jogadas na base do toque, tabelas e triangulações. Foi assim que o melhor meio campo do Brasil decidiu o duelo.

Primeiro, Jádson cruzou na medida para Malcom deslocar Victor. A ansiedade de quem marcaria primeiro acabou e, com muita tranquilidade, foi dominando ainda mais o jogo. Jádson e Rodriguinho tabelaram de forma linda. O camisa 10 rolou pra Vágner Love e o artilheiro decidiu novamente com um belo gol.

E para matar o campeonato, outro golaço! Agora, Renato Augusto e Love tabelaram como quiseram e o camisa 8 cruzou no segundo pau para o lado esquerdo e Lucca, num lindo voleio, fez a Fiel gritar "É campeão" em pleno Independência. A taça era questão de tempo.

Campeonato manchado... Com o sexto título corinthiano

Com quatro rodadas de antecipação, o time de Tite poderia ser campeão. Bastava vencer o Coritiba em casa e torcer por um tropeço do Galo contra o Figueirense, fora. Jogando um dia antes, o alvinegro entrou num misto de oba-oba com excesso de confiança e não repetiu as atuações passadas. Ainda assim, o novo talismã Lucca entrou e garantiu uma difícil viória diante do Coxa, jogando a pressão para o outro lado.

No domingo, o time paulista se viu campeão por vários momentos, já que o Figueira perdia gols inacreditáveis. Quando todos se preparavam para comemorar do sofá, Dátolo adiou a conquista por mais 10 dias. Muitos comemoraram, já que a vitória do Galo fazia os dois times atuarem juntos na próxima rodada e o Corinthians podendo ser campeão no campo.

O destino, senhor do tempo

E a rodada final reservou um clássico quente. Vasco e Corinthians fariam o jogo que poderia decidir o título no caldeirão de São Januário, onde nunca tinha visto um clube dar a volta olímpica. Pois o mesmo time que perdeu o Mundial de 2000 e praticamente rebaixou o Timão em 2007, seria o rival da possível rodada derradeira.

Várias eram as chances do hexa. Uma derrota do Atlético já bastaria. Resultados iguais, também. Mas a vitória era o objetivo. Vingar o acontecido de oito anos atrás, aliada ao troféu nacional, fez o alvinegro de Parque São Jorge atuar com a faca entre os dentes. E tudo deu certo. Agora, de fato e de direito, sem quem possa impedir, o Brasil é preto é branco mais uma vez. A loucura do bando tomou conta e ainda afundou o rival carioca de vez para a Série B. Festa total com um gosto de vingança, que apenas o tempo pode dar.

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Sobre o autor
Diego Luz
De video game à política. Lendo tudo,ouvindo bastante e vivendo com base naquilo que acho certo. Muito prazer.