Quase sete meses após se despedir do Botafogo, João Paulo está prestes a começar a temporada 2020-21 da Major League Soccer (MLS) pelo Seattle Sounders. Emprestado até o fim de 2020, com opção de compra, o jogador deixou em território brasileiro o carinho do torcedor alvinegro para aceitar um novo desafio em solos norte-americanos. 

Ao todo, foram 119 jogos em três temporadas pelo Botafogo, entre os anos de 2017 e 2019. Lembrado pela raça e entrega em campo, João Paulo foi titular e protagonista também fora de campo pelo Glorioso. Junto com Joel Carli e Gabriel, liderou o movimento de jogadores, em 2019, que mediou com a diretoria as pendências salariais do elenco. 

Aos 29 anos, o meia enfrenta a pandemia do novo coronavírus em um dos epicentros da doença e viu o período de paralisação interromper o bom início da passagem pelo Sounders. Nos quatro jogos em que atuou, antes da pandemia, João Paulo marcou duas vezes e deu uma assistência. Prestes a retornar aos gramados, o jogador falou com exclusividade à VAVEL Brasil sobre o atual momento e as memórias com a camisa alvinegra. 

Como foi e está sendo seu enfrentamento com a família dessa pandemia? 

Chato, como para todas as pessoas. Tenho duas crianças pequenas e ficar um tempo restrito, sem sair de casa, sem poder fazer exercícios ao ar livre, é difícil. Ainda mais quando você está mudando de cidade. Novos costumes, outra língua... Não foi fácil, ainda não tá sendo, a gente tá tentando se ambientar com todas as mudanças. Mas em questão de tempo a gente vai estar acostumado e aproveitado a vida aqui. 

Faça uma avaliação do futebol nos Estados Unidos e trace algumas diferenças para o futebol brasileiro. 

Já notei que é um jogo mais de transição. São jogadores com um porte físico mais avantajado, jogadores mais altos e mais fortes. Eles gostam de jogar com muita transição, com força. No Brasil, se vê jogos com mais posse de bola, jogadores com características mais técnicas e aqui não se vê tanto. Agora isso tá mudando, mas ainda precisa melhorar a questão da defesa. Por jogar de uma forma mais aberta, acaba que os jogos têm placares mais elásticos. Quem tá perdendo se expõe muito. 

Fale um pouco sobre o elenco e as pretensões do Seattle Sounders para a temporada. 

É o atual campeão da liga. Então, por isso, já tem uma pressão grande pra ter um bom desempenho novamente. Hoje a gente se encontra em quinto na conferência. A cobrança é para chegar nos play-offs novamente e brigar pelo título. É um grupo bom, com jogadores experientes, com uma mescla de jogadores novos. Atletas da América do Sul, mas também com passagens pela Europa e jogadores americanos, que são muito bons. 

"Minha ligação ainda é muito forte com o Botafogo"

Como está o contato com o torcedor aí nos Estados Unidos? Ainda recebe mensagens e o carinho da torcida do Botafogo? 

Com certeza, minha ligação ainda é muito forte com o Botafogo. Foram três anos intensos. Com anos bons, outros nem tanto, mas pude entregar bastante dentro de campo pela equipe, pelo clube. Então, ficou o carinho, que é das duas partes. Eu também procuro, sempre que posso, demonstrar isso por redes sociais. Retribuir um pouco desse carinho que eles me mandam. 

Você tem acompanhado o Botafogo daí? 

Acompanho. Ontem, por exemplo, assisti o jogo contra o Atlético-MG (em referência a vitória por 2 a 1, no último dia 19 de agosto). Sempre que eu posso, eu acompanho. Tô sempre torcendo pelo clube. 

O que está achando das contratações de impacto que o clube vem fazendo, com Honda e Kalou? 

Acho positivo. São jogadores que, pelo histórico, falam por si só, com uma bagagem muito grande. É uma coisa que eu sempre dizia enquanto eu estava no Botafogo. Que o clube precisava se reestruturar, dar um passo adiante, ter mais força para brigar com outras equipes. Espero que eles consigam dar esse passo como um todo, não só dentro de campo. 

"Muita gente desacreditou de mim, achavam que eu não ia voltar a jogar"

Olhando para trás, qual momento você considera mais marcante com a camisa do Botafogo? 

Eu posso citar dois. Em 2017, um grande ano para o clube. A gente tinha um time que era desacreditado, ninguém falava muito da gente e tivemos um grande ano, sendo semifinalistas na Copa do Brasil e sendo eliminados pelo Grêmio nas quartas da Libertadores, que foi o campeão. E depois, após a minha lesão, a minha volta em 2019. Apesar de ter sido muito difícil, também foi muito marcante porque muita gente desacreditou de mim, achavam que eu não ia voltar a jogar. E eu consegui dar uma resposta muito boa. Eu pude ajudar bastante a equipe. 

A touca você não chegou a usar mais por aí, certo João? (risos) 

Ainda não e espero não usar, sendo honesto (risos). Até hoje o pessoal brinca. Foi uma marca que ficou em 2017. Mas chega de lesão, de machucado. Tenho pontos e cicatrizes o suficiente. Já tá bom demais. (risos

Você agora é companheiro de clube do Lodeiro, outro jogador com boa passagem pelo Botafogo. Vocês já conversaram sobre o clube? Ele te perguntou algo a respeito? 

A gente fala sempre. Ele pergunta bastante como está o momento atual do clube, questões de bastidores que tive acesso. O filho dele torce muito pelo Botafogo, já o vi com a camisa do Botafogo por aqui. Então, ele tem essa ligação ainda com o Botafogo. Criou um vínculo forte com o clube. 

"A nossa maior vontade sempre foi a de fazer um Botafogo melhor e mais forte"

Você foi um dos líderes do elenco em um momento conturbado do clube. Fale um pouco sobre esse momento e como lidou com isso. 

Não digo que foi um momento novo, pois já lidei com dificuldade em outros clubes, mas nunca sendo uma das lideranças. Era eu e Carli brigando ali, ele não tinha muita companhia. Partiu mais dele me colocar junto para poder ter essas conversas e ir atrás dos interesses do grupo, mas sempre deixando o Botafogo na frente de todos os assuntos. A nossa maior vontade sempre foi a de fazer um Botafogo melhor e mais forte. A gente sabe de todas as dificuldades, financeiras e de estrutura que o clube tá tentando se renovar. Então, era mais na questão de brigar pelos nossos direitos, mas também no sentido de tentar ajudar e chegar num ponto que todo mundo fosse em um só sentido para fazer o Botafogo crescer. 

Está acompanhando daí o andamento das questões da “S/A”? Acredita que essa mudança condiz com o que vocês queriam para o clube? 

Eu não sei exatamente como isso vai ser feito. O que eu posso dizer é que tem que ser feito algo. Não é só injetar dinheiro e achar que tudo se resolve. Além do dinheiro, precisa profissionalizar todas as áreas. Esse é o fator principal para fazer um Botafogo melhor. Sendo assim, as coisas vão caminhar melhor para o clube. Vai ter a base mais forte para aguentar tudo que o futebol requer. 

Contrato se encerrando no fim do ano com o clube americano. A torcida do Botafogo pode ficar ansiosa pela sua volta? 

Talvez se eu tivesse jogado mais, se fosse um ano normal, saberia. Mas como a gente está vivendo uma coisa louca, a gente não sabe exatamente o que vai acontecer. Pra ser bem sincero, eu não sei nem o que vai ser na próxima semana. Eu prefiro aguardar. Acho que nesses próximos jogos muita coisa vai ser dita e eles vão chegar a uma resposta, se eu continuo ou não. Caso eu não permaneça, 2021 de volta para o Botafogo.