A partida entre Brasil e Argentina, que aconteceria neste domingo (05), às 16h, foi cancelada. Isso porque houve uma invasão de agentes da Anvisa e da Polícia Federal após quatro jogadores argentinos terem descumprido o protocolo sanitário de entrada no Brasil.

Pouco tempo depois da invasão, os atletas da Argentina se retiraram do gramado na Neo Química Arena, em São Paulo, e recusaram-se a jogar. Como consequência, a Conmebol decidiu pela suspensão da partida.

Protocolo não foi cumprido

Quatro jogadores da seleção da Argentina, a saber: Martinez, Buendia, Lo Celso e Romero descumpriram o protocolo sanitário de entrada no Brasil. Isso, porque devido a uma lei de segurança contra a Covid-19, pessoas com passagem por Reino Unido, África do Sul, Irlanda do Norte e Índia estão impedidas de ingressar em solo brasileiro. Os quatro atletas, que atuam na Premier League, teriam mentido ao declararem que não tiveram passagem pelo Reino Unido nos últimos 14 dias.

Neste domingo (5), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) comunicou que realizou uma reunião com as autoridades em saúde e confirmou, após consulta dos passaportes dos jogadores, que eles haviam descumprido as regras para entrada de viajantes no Brasil. Sendo assim, eles deveriam ser deportados e enviados de volta para a Argentina.

Segundo informações da "TNT Sports", ainda antes do confronto, a Associação do Futebol Argentino (AFA) comunicou que a "partida será disputada com todos os jogadores ou a Argentina não jogará".

Foto: Lucas Figueiredo / CBF
Foto: Lucas Figueiredo / CBF

Jogadores em campo e invasão

Mesmo com o comunicado da Anvisa, os argentinos preferiram arriscar e deixaram a concentração no hotel onde estavam hospedados junto dos quatro integrantes proibidos: Martinez, Buendia, Lo Celso e Romero, e foram em direção à Neo Química Arena. Três deles, inclusive, foram escalados como titulares para o jogo: Martínez, Lo Celso e Romero.

A bola rolou normalmente, como se nada estivesse acontecendo, até que aos seis minutos da primeira etapa, agentes da Anvisa juntamente com a Polícia Federal invadiram o campo para retirar os jogadores argentinos de campo. De acordo com o protocolo, eles não poderiam ter entrado no Brasil, não deveriam ter saído do hotel onde estavam hospedados, e sequer poderiam estar em campo.

Após muita confusão em campo, os demais jogadores da Argentina resolveram deixar o gramado recusando-se a continuar a partida. Horas depois, a Conmebol decidiu cancelar o confronto.

Versão da Anvisa

Durante a transmissão, enquanto a partida seguia paralisada, o Diretor presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, falou ao vivo pela televisão com a TV Globo, sobre a situação: 

"São quatro jogadores. Eles, ao chegarem em território nacional, apresentam a declaração de saúde do viajante. Neste documento não falava que eles passaram por um dos três países que estão restritos, justamente para a contenção da pandemia. Mas depois foi constatado que eles passaram pelo Reino Unido".

"Eu não tenho conhecimento da lei desportiva, não posso opinar nisso. O que sei do aspecto sanitário é que esses quatro jogadores precisam ser deportados do Brasil, serão obviamente autuados e multados. Esses quatro estão descumprindo o regulamento sanitário brasileiro e quem tem a atribuição de punir e zelar somos nós", completou.

Exatamente às 16h58, a Conmebol emitiu um comunicado oficial, através de suas contas nas redes sociais, informando que a partida estava suspensa. Confira:

"Por decisão do árbitro da partida, a partida organizada pela FIFA entre Brasil e Argentina pelas Eliminatórias da Copa do Mundo está suspensa.

O árbitro e o comissário de jogo enviarão um relatório ao Comitê Disciplinar da FIFA, que determinará as etapas a serem seguidas. Esses procedimentos obedecem estritamente aos regulamentos atuais.

As eliminatórias da Copa do Mundo são uma competição da FIFA. Todas as decisões relativas à sua organização e desenvolvimento são da competência exclusiva daquela instituição."

Foto: Lucas Figueiredo / CBF

Juiz publica súmula; decisão cabe à FIFA

Como informado, em nota oficial, pela Conmebol, os próximos passos cabem à Fifa quanto à decisão para a partida. A entidade destacou que o "árbitro e o comissário de jogo enviarão um relatório ao Comitê Disciplinar da FIFA, que determinará as etapas a serem seguidas", e comunicou que "todas as decisões relativas às Eliminatórias são de competência exclusiva da Fifa".

Na súmula após a partida, o árbitro informou que a paralisação do jogo se deu pela invasão de agentes da Anvisa e da Polícia Federal no gramado de jogo, mas em nenhum momento citou a decisão dos jogadores argentinos em abandonar o campo de jogo e recusarem-se a disputar a partida. 

Não é possível afirmar se haverá uma nova data para a realização dos jogos ou sobre uma possível punição tanto para Argentina quanto para a Seleção brasileira. Até o momento de publicação desta matéria não houve um posicionamento oficial da FIFA sobre os próximos passos. 

Técnico da Argentina lamenta

Lionel Scaloni, técnico da Argentina, lamentou o cancelamento da partida e a interrupção do jogo contra o Brasil:

"Eu fico muito triste e não busco nenhum culpado. Se passou ou não passou algo, não era o momento para fazer essa intervenção. Tinha que ter sido uma festa para todos. E eu, como técnico, tenho que defender meus jogadores. Em nenhum momento nos notificaram que (os quatro jogadores) não podiam jogar a partida. Queríamos disputar o encontro, e os jogadores do Brasil também."

CBF emite nota oficial

Após a decisão de cancelamento do confronto entre Brasil e Argentina, a CBF emitiu uma nota lamentando os fatos e reforçando a defesa dos rígidos protocolos de saúde e segurança contra a Covid-19. 

"A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) lamenta profundamente os fatos ocorridos e que acabaram por provocar a suspensão da partida entre Brasil e Argentina, válida pelas Eliminatórias da Copa do Mundo FIFA Catar 2022.

A CBF defende a implementação dos mais rigorosos protocolos sanitários e os cumpre na sua integralidade. Porém ressalta que ficou absolutamente surpresa com o momento em que a ação da Agência Nacional da Vigilância Sanitária ocorreu, com a partida já tendo sido iniciada, visto que a Anvisa poderia ter exercido sua atividade de forma muito mais adequada nos vários momentos e dias anteriores ao jogo.

A CBF destaca ainda que em nenhum momento, por meio do Presidente interino, Ednaldo Rodrigues, ou de seus dirigentes, interferiu em qualquer ponto relativo ao protocolo sanitário estabelecido pelas autoridades brasileiras para a entrada de pessoas no país. O papel da CBF foi sempre na tentativa de promover o entendimento entre as entidades envolvidas para que os protocolos sanitários pudessem ser cumpridos a contento e o jogo fosse realizado.

A CBF reitera sua decepção com os acontecimentos e aguarda a decisão da CONMEBOL e da FIFA em relação à partida."