Visibilidade. Talvez essa seja a palavra que mais se enquadre àquilo que as mulheres envolvidas com o esporte gostariam de ter. No caso do futebol, modalidade dominada por homens e masculina por tradição, a tarefa se torna ainda mais cruel, por uma persistente resistência à presença feminina. Nos últimos dias, no entanto, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) deu passos importantes para aumentar a visibilidade da mulher dentro da modalidade.

A entidade anunciou a admissão de Emily Lima para o cargo de treinadora da seleção brasileira feminina de futebol. Aos 36 anos e com um trabalho recente frente o São José, de São Paulo, a profissional chega para assumir um papel sem precedentes, ao passo que é a primeira mulher a assumir o comando da seleção. Além disso, a CBF também anunciou melhorias para as próximas edições do Campeonato Brasileiro feminino, com a realização de primeira e segunda divisões e maior investimento financeiro em 2017.

Ainda que projetadas essas mudanças no panorama da modalidade no Brasil, a questão que envolve o espaço feminino no futebol é ainda complexa e demanda atenção. Para além dos campos, a mulher que decide trabalhar com quaisquer cargos dentro do futebol hoje, decide também por uma luta contra o preconceito, o machismo e, muitas vezes, desconfiança, na incansável busca pelo seu espaço.

Por conta dessas mulheres que não “deixam a bola cair” e nem “desistem do lance”, a VAVEL Brasil conversou com atletas, uma árbitra, uma jornalista e uma torcedora, para dissecar o espaço delas no futebol. Tudo isso com o amparo de uma das principais pesquisadoras da temática Mulher e Futebol na contemporaneidade.

Silvana Vilodre Goellner, professora e pesquisadora

Fotomontagem: Rodrigo Rodrigues/VAVEL Brasil

Há mais de 20 anos trabalhando com mulheres envolvidas no meio esportivo, Silvana Vilodre Goellner é professora da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e já orientou inúmeros projetos acadêmicos com temáticas relacionadas ao futebol jogado por mulheres. Em 2014, ela propôs uma exposição em Porto Alegre/RS sobre “As mulheres no país da Copa do Mundo de 2014”, evento que aumentou a visibilidade da história do sexo feminino no esporte. Também integrou recentemente uma comissão na CBF para discutir o futebol feminino no Brasil.

À reportagem, Silvana discutiu sobre o lugar da mulher no esporte mais popular do planeta. “O espaço delas [mulheres] é aquém daquilo que elas fazem. Elas são muitas, elas jogam, elas se dedicam. Só que a mídia concede pouquíssimo espaço, os clubes não investem no futebol de mulheres e a educação física escolar tem uma segregação por gênero que muitas vezes, no futebol, não é recomendado, não é incentivado para as meninas”, analisou a pesquisadora.

Silvana acredita que falta incentivo ao futebol feminino no Brasil (Foto: Isabelly Morais/VAVEL Brasil)
Silvana acredita que falta incentivo ao futebol feminino no Brasil (Foto: Isabelly Morais/VAVEL Brasil)

Ela citou um exemplo que ocorre em escolas de todo o país, para reforçar sua ideia. “As quadras são dos meninos, e não das meninas; elas têm que negociar para conseguirem jogar no local. Ou eles estão na quadra e elas ficam em um local improvisado. Então, tem uma generificação enorme no futebol em todas as dimensões: lazer, escolar e rendimento”, disse.

Silvana acredita que a estrutura é o ponto essencial para as mulheres ganharem mais visibilidade na mídia. “Contratos permanentes, carteira assinada, plano de saúde. Porque o futebol de mulheres vive sazonal”, pontuou.

Silvana
Para Silvana, a linguagem da sociedade é sexista          
(Foto: Matheus Adler/VAVEL Brasil)         

Por fim, Silvana ressaltou a forma machista como a sociedade reforça, mesmo que inconscientemente, o estereótipo de que o sexo masculino é padrão de excelência e referência na modalidade.

A linguagem é sexista. Quando eu digo que a Marta é um Pelé de saia, eu afirmo que a referência é o Pelé. Ela é a Marta a partir de uma referência do Pelé. Ou quando eu quero dizer para um menino que não joga da mesma forma, eu falo que joga ‘como uma moça’, ‘como uma menina’. Isso quer dizer que a menina não sabe jogar futebol. ‘Você corre como uma menina’. O que é ‘correr como uma menina’? A menina não sabe correr? Então são essas as questões que vão produzindo essas representações do que é de menino e o que é de menina”, findou.

América-MG, equipe de futebol feminino profissional

Com a derrota para a Alemanha na Copa do Mundo Fifa 2014, por 7 a 1, e as rigorosas análises que a modalidade passou a sofrer em território brasileiro, a ideia de que o Brasil é o país do futebol começou a ser reconsiderada e perdeu força. Porém, não era preciso que os alemães efetivassem a goleada, para que essa noção, que passa por uma construção histórica, se mostrasse falha em um ponto: com tão poucos investimentos na profissionalização do futebol feminino, o Brasil se apresenta como o país do futebol de quem?

Uma prova disso é o que acontece em Minas Gerais, onde existe apenas uma única equipe profissional de futebol feminino, o América. A lateral-direita do time Patrícia Ferreira comentou esse cenário que as mulheres enfrentam. “Hoje em dia é gritante a diferença de oportunidades entre o futebol feminino e o masculino. Para as mulheres, são muito poucas. Se olhar em Minas Gerais, por exemplo, só o América é profissional”, destacou Patrícia.

Aos 33 anos, Patrícia é a atleta mais experiente do grupo (Foto: Mourão Panda)
Aos 33 anos, Patrícia é a atleta mais experiente do grupo (Foto: Mourão Panda)

De acordo com a atleta, são necessárias mudanças de comportamento por parte de torcedores e, principalmente, gestores, que precisam encarar o futebol de mulheres de uma outra maneira. Algo que, segunda ela, já vem acontecendo de forma sutil.

Precisa mudar primeiro a mentalidade das pessoas, porque ainda existe muito preconceito, tanto de quem está dentro do futebol, quanto de torcedores. Na Olimpíada, muita gente foi ao estádio para ver o Brasil, então acho que as pessoas estão começando a mudar, a ver o futebol feminino de uma outra forma”, disse a lateral.

As poucas investidas no futebol feminino no Brasil afetam seu desenvolvimento e, consequentemente, o apoio a promessas. Nesse sentido, a atacante americana Kamila Chaves apontou que uma outra barreira para o futebol feminino é a falta de empresários que queiram apostar nas meninas, principalmente por muitas equipes não terem categorias de base. Ela ainda comentou o desejo de ver os outros grandes clubes da capital mineira firmarem parcerias ou tomarem iniciativas, como fez o América.

É muito difícil ter uma equipe profissional de futebol feminino, e a gente está muito feliz por ser reconhecida em vários lugares. Têm atletas aqui que estão pela primeira vez no profissional e em uma equipe de nome, como o América. Nossa esperança é que outros times de Belo Horizonte, como Cruzeiro e Atlético, possam investir também, para dar mais oportunidade a outras meninas que jogam aqui em Minas Gerais”, afirmou Kamila.

Entre 2009 e 2010, Kamila jogou pela seleção brasileira sub-17 (Foto: Giazi Cavalcante)
Entre 2009 e 2010, Kamila jogou pela seleção brasileira sub-17 (Foto: Giazi Cavalcante)

Os campos de futebol são muitas vezes desleais: mulheres não têm o mesmo espaço que os homens. Kamila relatou que quando era mais nova, jogava em uma equipe de meninos porque não tinha escolinha para meninas. Em um campeonato que disputou com sua equipe, enfrentou uma situação de desrespeito e preconceito.

Fui jogar uma final de campeonato contra uns meninos de society do Cruzeiro, e um deles disse que nosso time era uma piada porque tinha uma menina. Disse que não ganharíamos, que eu era ruim e ia fazer o time passar vergonha. Aquilo me machucou bastante. Acabou o primeiro tempo, e fiquei bem triste, mas na volta pro segundo, fiz dois gols e nós ganhamos”, contou a atacante.

Em conversa com a VAVEL, o treinador do América, Victor Alberice, destacou que mesmo atrás de muitos países como Suécia, Estados Unidos e Alemanha, o futebol feminino brasileiro deu uma melhora nos últimos três anos. Contribuíram para isso, segundo o comandante alviverde, algumas mudanças da CBF, como a criação de um Campeonato Brasileiro com um formato maior em 2014, além de demandas à pedido da Fifa. Mesmo com esse pequeno salto, Victor alertou que ainda está longe do esperado.

O cenário do feminino no Brasil é incerto, muito ruim, mas nunca foi tão bom. É uma dicotomia, de ainda ser ruim, mas ainda assim o melhor momento do futebol feminino na história do Brasil”, opinou o treinador.

Antes de comandar o América, Victor estava à frente da equipe sub-15 do Democrata, de Sete Lagoas/MG (Foto: Arquivo pessoal)
Antes de comandar o América, Victor estava à frente da equipe sub-15 do Democrata, de Sete Lagoas/MG (Foto: Arquivo Pessoal)

Victor também comentou a decisão da Conmebol (Confederação Sulamericana de Futebol) em relação à nova cláusula que denota a obrigatoriedade de equipes que queiram disputar a Libertadores masculina possuírem uma associação com um time feminino ou até mesmo um time próprio.

A maioria das equipes de futebol feminino no Brasil é amadora, pouquíssimos clubes têm contratos vinculados à CBF. Seria uma decisão meio obrigatória num primeiro momento, onde os clubes só fariam porque é obrigatório, mas, por outro lado, se não tivesse essa obrigatoriedade, eles não criariam”, comentou Victor, lembrando que essa medida da Conmebol começa a valer a partir de 2019.

Equipe do América-MG, primeira profissional do estado de Minas Gerais (Foto: Divulgação/América-MG)
Equipe do América-MG, primeira profissional do estado de Minas Gerais (Foto: Divulgação/América-MG)

O surgimento da equipe feminina do América se deu através da ex-jogadora Barbara Fonseca. Ela era gestora do Santa Cruz, em Belo Horizonte, sendo a equipe amadora. Com o acesso do time à Copa do Brasil e ao Campeonato Brasileiro de 2015, Bárbara buscou incentivos e verbas para montar a equipe para as disputas. Ela então criou um projeto e apresentou ao Cruzeiro, ao Atlético-MG e ao América, e somente o Coelho aceitou, fazendo a associação em 2015.

No Santa Cruz, as meninas não eram profissionais, não recebiam salários e não tinham dias e horários certos para os treinos. Com a união ao América, elas têm os direitos trabalhistas assegurados, como salário fixo e carteira de trabalho assinada, FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e contrato firmado. Além disso, as americanas (um plantel de 29 atletas) treinam todos os dias no período da noite no Estádio Mário Ferreira Guimarães, o “Baleião”, por conta de uma parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte.

No último domingo (13), a equipe do América venceu o Ipatinga por 1 a 0, repetindo o placar do primeiro jogo fora de casa, e conquistou o Campeonato Mineiro Feminino.

Fernanda Nândrea, árbitra da CBF

A regra é simples: se a arbitragem agradou a um lado, certamente desagradou ao outro. Em meio a isso, árbitros centrais e assistentes precisam lidar, muitas vezes, com contestações ao seu trabalho. No entanto, mais ainda que conviver com críticas às suas decisões, as mulheres que decidem seguir na arbitragem enfrentam por vezes preconceitos só por serem mulheres.

Fernanda Nândrea é árbitra assistente há cinco anos e pertence aos quadros da FMF (Federação Mineira de Futebol) e da CBF. A profissional destacou que mesmo muitos julgamentos serem direcionados tantos aos homens quanto às mulheres na arbitragem, há casos em que o erro em uma decisão pode ser tratado de forma ainda mais rigorosa se tiver vindo de uma mulher. Como se o sexo pesasse na crítica.

Torcedores não têm paciência nem com mulher nem com homem. Se é um erro ou se não favorece seu time, ele perde a paciência. Isso é cultural aqui no Brasil. Só que pela sociedade ainda machista, mesmo que seja o mesmo erro, ele ainda é maior no caso da mulher. Se ela errou, é tachada de certas coisas que os homens não. Se for mulher, é porque ela não entende futebol, tinha que estar na cozinha, lavando roupa. Isso vai muito pela cultura”, analisou Fernanda.

Fernanda Nândrea, no jogo entre Cruzeiro e Guarani, pelo Campeonato Mineiro de 2016 (Foto: Osmar Ladeia)
Fernanda Nândrea, no jogo entre Cruzeiro e Guarani, pelo Campeonato Mineiro de 2016 (Foto: Osmar Ladeia)

Com a discordância e a oposição às suas decisões em um território permeado pela paixão, é justamente esse caráter passional que muitas vezes impede que análises frias e racionais sejam feitas por parte de torcedores. Mas não são só das arquibancadas que as árbitras podem encontrar resistência.

Nunca fui hostilizada, mas já ouvi várias vezes frases de preconceito, principalmente de torcedores, porque não existe nenhuma punição contra eles. Já ouvi de membros de comissão técnica, de alguns que não estavam presentes em súmula, e por eu não conhecer as comissões técnicas das equipes, não tinha como identificar para punir de alguma forma. Já teve uma situação dentro da própria equipe de arbitragem, mas isso foi mais no início da carreira”, relembrou a árbitra assistente.

Fernanda foi assistente do jogo entre Atlético-MG e Figueirense, pela Copa do Brasil sub-20 de 2015 (Foto: Anderson Magalhães)
Fernanda foi assistente do jogo entre Atlético-MG e Figueirense, pela Copa do Brasil sub-20 de 2015 (Foto: Anderson Magalhães)

O panorama que as mulheres enfrentam na arbitragem hoje, do ponto de vista das suas perspectivas, passam por chances mais claras de ascensão para as assistentes, no que diz respeito a atuar em jogos mais visíveis, como os masculinos da Copa do Brasil ou da Série A do Campeonato Brasileiro. Isso porque árbitras centrais não apitam jogos assim, mas assistentes já atuam. Segundo Fernanda, não é possível afirmar que essa questão influencie as mulheres em geral a seguir na assistência, mas que no caso dela, sim.

Não sei exatamente se isso influencia a escolha da carreira de árbitra assistente ou central. No meu caso, foi. Além disso, pela característica da minha personalidade mesmo. No início, eu não me sentia corajosa o suficiente para trabalhar como central, talvez por timidez. Já hoje em dia, eu teria mais coragem para tomar decisões e apitaria como central. A assistência te deixa mais tranquila em relação a isso. Em questões de crescimento, pelo menos para mim, foi um fator importante para decidir continuar como assistente”, contou a árbitra.

Ao lado de Leandro Salvador (dir), Fernanda Nândrea (esq) foi bandeirinha da goleada da equipe sub-17 do Cruzeiro sobre o Democrata, de Sete Lagoas/MG, por 6 a 1, pela Taça BH (Foto: Divulgação/FMF)
Ao lado de Leandro Salvador (dir), Fernanda Nândrea (esq) foi bandeirinha da goleada da equipe sub-17 do Cruzeiro sobre o Democrata, de Sete Lagoas/MG, por 6 a 1, pela Taça BH (Foto: Divulgação/FMF)

Fernanda pertence ao quadro masculino tanto da FMF quanto da CBF, estando apta a atuar então em jogos masculinos de quaisquer divisões do Brasileirão e do Campeonato Mineiro, além da Copa do Brasil. Para isso, participou de testes físicos com índices masculinos. Os testes das federações e confederação funcionam como manutenção da permanência no quadro ou acesso a categorias mais altas.

Se a mulher quiser atuar em campeonatos maiores tem que ter um índice masculino. Mas isso é uma escolha dela. Se ela quiser, ela pode. Ele é difícil, é masculino, e se já tem que ser complicado para os homens, acaba sendo também para as mulheres”, completou Fernanda.

Jamille Bullé, jornalista do Esporte Interativo

Conviver com comentários machistas no mercado de trabalho não é uma situação surpreendente na vida da mulher. Em algumas profissões, então, elas precisam ser muito pacientes, tendo que suportar certos ataques masculinos. No jornalismo esportivo a situação não é diferente.

A repórter Jamille Bullé, que escreve para o blog “Lugar de mulher é no esporte” do Esporte Interativo, conversou com a equipe da VAVEL Brasil e destacou os estereótipos escancarados no ramo esportivo do jornalismo. Ela lamentou o fato de as mulheres precisarem passar por constantes testes a fim de provarem que podem trabalhar na área.

Sempre duvidam das mulheres quando elas dizem que querem jornalismo esportivo. Nosso esforço é duas, três, quatro vezes maior que o dos homens, porque as pessoas não acreditam que sejamos capazes. Um dos maiores desafios é vencer essa desconfiança, ter que provar a todo momento que somos capazes e preparadas para trabalharmos com isso. Cada dia é uma batalha”, observou.

Jamille já passou por situação constragedora dentro do ambiente de trabalho (Foto: Arquivo Pessoal)

Rótulos preconceituosos contra a presença feminina no jornalismo esportivo não são novidade para ninguém. Mas se engana quem acha que os comentários vêm somente dos torcedores. Às vezes, até um companheiro de redação pode alimentar o estereótipo.

Uma vez, no trabalho, um colega perguntou para os outros colegas quem era melhor: Rogério Ceni ou Marcos. Ele foi perguntando para todos na ordem dos lugares na redação e, quando chegou minha vez, ele me ‘pulou’ e perguntou para o rapaz que estava ao meu lado. Para piorar, quando chegou a vez de uma outra mulher da redação, ele também não perguntou a ela, e seguiu perguntando para o próximo homem”, contou.

Futebol feminino - Além do papel da mulher no jornalismo esportivo, Jamille comentou acerca das mudanças no Campeonato Brasileiro feminino promovidas pela CBF. Para a jornalista, as modificações podem ajudar a dar mais visibilidade ao futebol jogado por mulheres.

São medidas que podem ajudar a modalidade a ser mais incentivada e receber mais visibilidade. O campeonato vai contar com mais equipes participando e os incentivos financeiros prometidos pela entidade são a possibilidade de times de poucos recursos poderem participar e desenvolver atletas. A imprensa também tem um papel muito importante em divulgar o assunto. Esses passos são pequenos, mas muito importantes para que a modalidade cresça e seja vista”, salientou.

Luhana Baldan, torcedora do Atlético-PR

Ir ao estádio apoiar o Atlético-PR é rotina na vida de Luhana Baldan. Torcedora fanática do Furacão, a estudante de Direito da PUC-PR sempre que pode marca território nas arquibancadas da Arena da Baixada para empurrar seu time do coração à vitória. Porém, mesmo admitindo ser bem conhecida e respeitada pelos torcedores, ela já sofreu com comentários preconceituosos.

Já tive problemas fora do estádio, como, por exemplo, na partida contra o Santos, em 2013. Como a Arena estava em reforma para a Copa de 2014, estávamos jogando na Vila Capanema. Eu tinha aula e fui para a faculdade. Depois peguei um taxi em frente à PUC-PR e pedi para o taxista me levar à Vila. Ele me perguntou o que iria fazer no estádio, e respondi que iria assistir ao jogo do Atlético.  O taxista ficou indignado e me repreendeu. Disse que não era lugar de mulher e que, se eu fosse mulher ou filha dele, ele nunca me deixaria ir, porque era ridículo mulher indo torcer no estádio. Minha resposta foi que não tinha perguntado a opinião dele e que, graças a Deus, ele não era nada meu”, contou.

Apoio fora de casa também vale: Luhana nas arquibancadas do Couto Pereira, estádio do Coritiba, na final do Campeonato Paranaense de 2016 (Foto: Giuliano Gomes)
Apoio fora de casa também vale: Luhana nas arquibancadas do Couto Pereira, estádio do Coritiba, na final do Campeonato Paranaense de 2016 (Foto: Giuliano Gomes)

Efusiva e constante na Arena da Baixada, Luhana não baixa a bola quando um homem quer rebaixá-la ou menosprezá-la. “Acho que devido a forma que eu sempre me imponho, principalmente, com relação ao futebol, não dá brechas para passar por muitas coisas. Mas já ouvi na rua que lugar de mulher é na cozinha; que mulher não entende de futebol; ‘vai lavar uma louça’”, disse.

Vira e mexe Luhana aparece na Arena da Baixada para torcer pelo Furacão (Foto: Emanoel J. R. Santos)
Vira e mexe Luhana aparece na Arena da Baixada para torcer pelo Furacão (Foto: Emanoel J. R. Santos)

A estudante, uma verdadeira apaixonada por futebol, não esconde a alegria ao comentar sobre o apreço dos torcedores rubro-negros por ela. “Dentro do estádio, eu nunca tive problemas. Pelo contrário, sempre sou muito respeitada. A grande maioria dos torcedores me conhece de todos os jogos, sabem que me exalto, e sempre respeitam. Dizem que incorporo o espírito da equipe”, afirmou. “É bem legal quando nem eles sabem o que está rolando e vêm perguntar para mim quando tem jogo”, ressaltou Luhana.

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