Crítica: Mulher Maravilha
Foto: divulgação do filme Mulher Maravilha

Após os desastres “Batman vs Superman” e “Esquadrão Suicida”, a DC Comics mostra todo seu potencial e eleva o nível em roteiro, produção e argumento com “Mulher Maravilha”.

No final de 2015, quando foi anunciado o início das filmagens e seleção dos atores, muitas críticas já surgiram sobre a escolha de Gal Gadot para protagonista.

A atriz israelense de 32 anos que interpretou Gisele em Velozes e Furiosos 4 foi criticada por não ter o perfil que alguns fãs esperavam para a personagem, porém, não deixou a desejar na atuação.

A questão é que a Mulher Maravilha de Gal, já havia roubado a cena em “Batman vs Superman”. Nessa aparição, foi retratada uma Diana mais madura e menos ingênua, diferente da do filme recém lançado, que revisita suas origens. 

Inteligência emocional, habilidade e força. Essa é a Mulher Maravilha em sua essência, que foi absolutamente respeitada e bem construída  no tão esperado filme solo.

Nascida e criada na Ilha de Themyscira, a princesa, até então, só vivia na companhia de amazonas e em meio a natureza. Porém, após salvar o espião inglês Steve Trevor (Chris Pine) de um afogamento, encontra-se disposta a conhecer a civilização para ajudar a combater o exército alemão na primeira guerra mundial.

Logo que chega à Londres, o lado ingênuo e curioso de Diana diante de uma sociedade com hábitos diferentes dos dela é muito bem explorado. Através de perguntas como "o que é isso?" tratando-se de um sorvete, e o estranhamento ao ver as pessoas cobrindo tanto o corpo por causa do inverno é criado um ar de descontração.

Esse ar de leveza dá ao filme uma dinamicidade e faz-se muito necessário e bem trabalhado, principalmente levando em conta a fama da DC de produzir filmes com aspecto mais sombrio, que podem se tornar bastante cansativo (vide "Batman vs Superman).

É bastante interessante notar também como o machismo é retratado de forma sutil e real, principalmente através dos generais ingleses, que não a ouvem, ou dão espaço de fala por ser mulher.

Eles a interrompem, duvidam de sua palavra e menosprezam sua capacidade intelectual e física. Por conta disso, em diversos momentos ela é obrigada a “provar” suas habilidades para ganhar alguma credibilidade entre eles, e isso, infelizmente, é uma situação diária na vida de muitas mulheres.

Ainda falando de machismo, uma situação, particularmente, me incomodou bastante: No auge de sua batalha e busca por forças internas para continuar combatendo Ares, é a lembrança do amor de um homem que a faz seguir em frente.

Está claro durante a história toda que Diana conhecia o amor muito antes de Steve aparecer. Ela foi criada em uma sociedade em que respeito, justiça, e o amor ao próximo foram ensinados em sua essência, mas no final, todo o significado de amor pra ela se resumiu a uma lembrança de amor romântico (???). Poderia ter sido melhor.

Foi desperdiçada uma ótima chance de mostrar que a vida de uma mulher não gira em torno de romance, muito menos de homens.

Apesar desse desfecho (talvez mal interpretado por mim, ou mesmo mal elaborado), a história é muito bem feita, principalmente quando se trata de vilões.

A personagem Doutora Veneno (Elena Anaya) foi explorada somente o suficiente para não ganhar o tom de vilã principal.

Em muitos momentos do filme é possível ter absoluta certeza de que Ludendorff (Danny Huston), é Ares, pois o vilão faz referências à mitologia quando conversa com Diana e até chega a enfrenta-la, porém, morre muito facilmente, e é somente nesse momento que fica claro que ele não é quem ela procurava. Isso se deve a uma catarse muito bem elaborada que logo dá início a outra, onde surge quem ela procurava: Sir Patrick Morgan (David Thewlis), ou melhor, Ares.

Enquanto tudo acontecia e Diana estava focada em encontrar o deus da guerra, ele estava sabiamente velado em um defensor da paz no conselho de guerra: o próprio Sir Patrick. 

Mais uma vez, a produtora se mostrou extremamente competente no desenvolvimento de vilões e construção sólida dos personagens.

Por fim, a direção de Patty Jenkins mostra-se irretocável e certamente bastante necessária para que o filme tivesse esse aspecto de empoderamento feminino. Diferentemente de "Esquadrão Suicida", não houve sexualização de nenhuma personagem (o que deveria ser uma regra, não exceção).

Além disso, a fotografia é perfeita e equilibrada diante dos tons cinzentos, obscuros e misteriosos que permeiam o universo dos filmes da DC Comics.

De uma forma geral, o filme é, na minha opinião, o melhor já lançado pela produtora.

Nota 5/5

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