A Fiel torcida corinthiana está em festa. O retorno de Tite ao comando do Corinthians trouxe o sexto título do Campeonato Brasileiro ao time de Parque São Jorge. Uma campanha irretocável, com a melhor pontuação da história dos pontos corridos com 20 equipes, além de dominar a seleção do campeonato e ter os melhores números nas estatísticas.

Tendo a base mantida do ano passado, o Timão manteve a força defensiva, consagrou a dupla Jádson e Renato Augusto no meio campo e melhorou de forma significativa no ataque, mesmo perdendo importantes nomes no setor, como Emerson Sheik e Paolo Guerrero. As baixas no elenco fizeram parte da torcida desacreditar em algo maior para esse ano, mas Tite preferiu trabalhar, ao invés de reclamar.

Só que nem tudo foram flores nesta campanha corinthiana. O início da temporada mostrava um Timão massacrante naquilo que entrava para disputar. Com Paulista, Libertadores, Copa do Brasil e Brasileiro por disputar, apenas o torneio de pontos corridos deu certo. As saídas de jogadores, a enorme crise financeira que o clube passou e os fracassos nos mata-matas, trouxeram muita desconfiança no time de Tite. Uma lição que todos dentro da equipe precisam aprender para aperfeiçoar os próximos anos.

Atrasos de salários e forte crise financeira

É impressionante a forma como os clubes brasileiros são administrados. A pindaíba em que todos os times vivem são a representação da péssima maneira como são presididos. Times gigantes do nosso futebol vivem à mingua, além de serem barrigas de aluguel para empresários, desde jovens promessas nas categorias de base à jogadores que saem e não dão um real de lucro ao time.

Neste ano, dois dos maiores times do país sofreram com isso. O São Paulo viveu, talvez, seu pior ano em décadas, podendo até quebrar financeiramente. Já o Corinthians, viveu à beira de um verdadeiro desmanche de seu elenco, ao ter salários atrasados, direitos de imagem de muitos jogadores, em até 10 meses. Coisa absurda.

E a crise corinthiana apareceu exatamente na pior parte possível. Em meio à fase decisiva do Paulistão e da Libertadores, especulações sobre jogadores, atrasos e problemas financeiros causaram muita dor de cabeça para a diretoria, que prometia resolver, mas não tinha como. Toda a esperança construída no começo do ano era ruída em semanas, graças à péssima gestão da diretoria.

Sem a receita da Arena para usar, já que todo o dinheiro que a casa alvinegra gera, fica para pagar a construção, o Corinthians precisou recorrer à empréstimos e o uso do marketing do clube. Inexplicavelmente, a empresa que gere o sistema de sócio-torcedor do clube, leva metade da renda. Um absurdo. Diretores garantem que o contrato será refeito, ainda mais agora que o clube se aproxima da primeira posição no Brasil.

Aos poucos, tudo foi se acertando. Altos salários do time se foram, pagamentos foram feitos e renovações aconteceram. Além disso, a nova cota de TV ajudou a sanar alguns problemas, além do Timão ter novos patrocinadores.

Vendas, saídas e novelas

O 2015 corinthiano parecia promissor. Com Tite, a base do ano passado e muitos jogadores que o técnico conhecia, as chances de algo bom sair eram altas. A fase de classificação do Paulista e a Pré-Libertadores, ressaltou a nova faceta de Tite, mais ofensivo e mantendo um padrão, tanto dentro, quanto fora de casa.

Mesclando titulares e reservas no estadual e sobrando no torneio continental, o Corinthians era sinônimo de futebol bonito. Capitaneado por Paolo Guerrero, e ajudado pelo retorno de Emerson Sheik, o time encantava e a Fiel cresceu em expectativa. Mas, de repente, tudo virou. Grandes estrelas e referências dentro do grupo eram especulados fora do time e novelas intermináveis aconteciam para renovação de contrato, como no caso do peruano. A falta de dinheiro, os salários atrasados, as eliminações nos campeonatos, trouxeram um turbilhão de notícias, a ponto de Renato Augusto chamar Tite para uma conversa e saber qual seria o time para o Brasileiro, porque ele queria saber qual o time o Corinthians teria e onde ele iria brigar.

No final das contas, importantes nomes se foram, outros escaparam por pouco e alguns apenas tiveram seus nomes especulados. Os titulares Fábio Santos, Emerson Sheik e Paolo Guerrero se foram. Com contratos acabando no semestre final, nenhum deles ficaram, mas o caso do camisa 9 é, até hoje, motivo de polêmica. Isso porque ele repetia que estava próximo de renovar e não jogaria em outro time do Brasil. Mas se transferiu ao Flamengo, junto com Sheik. Já Petros e Mendoza, opções mas que eram constatemente titulares, também se foram e Tite foi obrigado à usar a base, já que não tinha dinheiro para contratar e as opções de mercado eram poucas.

As peças de dentro do próprio elenco foram usadas e o treinador se calou, trabalhou muito para fazer de uma equipe desacreditada, a mais vitoriosa dos pontos corridos, detentora de números impressionantes.

Traumas no mata-mata ajudam no Brasileiro

Sabedor daquilo que disputaria, o time corinthiano foi preparado cedo para a pressão. Isso porque, novamente, encararia uma preliminar na Libertadores, a mesma fase em que o clube decepcionou em 2011, quando perdeu para o Tolima e foi ausência cedo na competição. Por isso, uma preparação especial e um atropelo pra cima do Once Caldas.

Mesclando Libertadores e Paulista, o time sobrava, mas, como num castelo de baralho, um problema trouxe outro. Primeiro, a falta de dinheiro, ocasionando atrasos de salários, fazendo o time perder rendimento. Essa baixa produção desencadeou a saída nas semifinais do Paulista, nos pênaltis, para o maior rival Palmeiras. Na mesma semana, duas derrotas para um desconhecido Guarani do Paraguai. O nervosismo que o time demonstrou no jogo da volta, com a Arena Corinthians lotada, era o sinal de que a equipe estava abalada emocionalmente. A força da equipe nas fases classificatórias eram diminuídas drasticamente quando entrava uma decisão no caminho corinthiano.

Disputando, então, o Brasileiro, o time começou instável, mas adquiriu uma enorme sequência positiva de quase um turno sem derrotas, deixando a equipe na ponta da tabela. Líder, a equipe alvinegra se via num dilema. Arrisco o campeonato para disputar a Copa do Brasil ou largo mão da segunda mais importante competição nacional para focar apenas no Brasileiro?

Sem dar a resposta completa, o Timão encarou o Santos nas oitavas de final. Na Vila, o jovem Luciano, que estava brilhando, se machucou gravemente e isso acendeu ainda mais o alerta. Tite, então, viu sua equipe diminuir o ritmo e ser eliminada com duas derrotas. O terceiro fracasso em mata-mata. Com o caminho livre para descansar seus jogadores e trabalhar o elenco, o Corinthians se tornou hexacampeão com muitas sobras e justamente levantou a taça. Mas Tite e seus comandados precisam dar uma resposta convincente nesses torneios pontuais. O alvinegro tem falhado quando a pressão por resultado aumenta.

Melhor jogador

Renato Augusto, meia

A briga entre Renato Augusto e Jádson foi enorme. Enquant um marcou 12 gols e foi o maior assistente do campeonato, Renato foi o maestro que conduziu o time.

Inteligente táticamente, habilidoso, forte no físico, organizador no meio campo e presente tanto no ataque, quanto na defesa, o camisa 8 regeu o Corinthians durante o ano. Especulado para uma saída ao Flamengo, ele ficou e foi coroado com várias premiações de melhor jogador da posição e até do torneio. Ele mesmo tem dito que 2015 foi seu melhor ano, além de ter sido a temporada com maior número de partidas.

Pior jogador

Cristian, volante

Um dos maiores salários do elenco, Cristian retornou após anos de futebol europeu. Um dos melhores da equipe entre 2008 e 2009, era criado enorme expectativa sobre sua volta, agora com um time mais forte e mais organizado.

Só que o volante foi uma enorme decepção. Várias lesões, poucas partidas e atuações fracas, mesmo quando entrava. Foi preterido muitas vezes por Rodriguinho e até mesmo garotos da base. Nem mesmo nas rodadas finais do campeonato, quando a equipe já era campeã, Cristian se destacou.

A torcida tem notado seu péssimo desempenho e 2016 promete ser ainda pior para o jogador.

Revelação

Guilherme Arana, lateral

Cria do terrão, Arana não estava nos planos de Tite no começo da temporada, mas a sorte sorriu para o menino de apenas 18 anos. Com a saída do titular e um dos líderes do elenco, Fábio Santos, a vaga no setor ficou para Uendel, reserva imediato. Só que o novo jogador inicial se machucou algumas vezes e Guilherme precisou ser chamado às pressas para jogar. Já emprestado ao Atlético PR, ele voltou e logo era titular de Tite.

Um dos primeiros jogos, Arana falhou feio. Contra o Sport, o time vencia fácil, mas ele recuou mal e deu o gol de salvação aos nordestinos. Mas sua redenção foi nos minutos finais, com a jogada que originou o pênalti decisivo.

Além disso, o garoto mostrou enorme qualidade ofensiva, certos erros defensivos, mas natural pela idade. Ousado, habilidoso e veloz, deixou sua marca exatamente em um dos mais quentes jogos do mundo. Palmeiras x Corinthians jogavam no Allianz Parque, o verde abriu o placar em um gol que teve Guilherme como protagonista, após desviar cruzamento de Lucas. Mas poucos minutos depois, Arana estava de frente à Fernando Prass, para apenas deslocar e empatar o jogo com muita frieza. Nem em jogos decisivos, como contra o Atlético MG, no Independência, o menino sentiu, sendo a principal revelação da equipe em 2015.

Melhor jogo

Atlético MG 0 x 3 Corinthians

A final que o Galo queria para reviver o campeonato. Isso porque o Timão liderava com cinco pontos de vantagem e apenas um empate bastava para deixar o time muito próximo do sexto título. Mas nem o mais otimista corinthiano esperava tanta soberania.

Em um Horto lotado, a pressão era enorme. Mas o Corinthians jogava da sua maneira. Com a bola no chão, aproximação e triangulação, os paulistas criavam mais perigo e só eram incomodados nas bolas aéreas.

Na segunda etapa, o show. Uma atução quase perfeita. Primeiro, Malcom marcou de cabeça, após cruzamento preciso de Jádson. pouco depois, linda tabela entre Jádson e Rodriguinho. O camisa 10 rolou pra Vágner Love fintar Edcarlos e fuzilar as redes para ampliar. E o golpe de misericórdia veio com uma pintura de Lucca, após Love e Renato tabelarem e o talismã mandar de voleio para fechar o massacre.

O pior jogo

Corinthians 0 x 2 Palmeiras

Vivendo em meio à crise forte que o Timão passou, após elminações em Paulista e Libertadores, o alvinegro recebeu o maior rival em sua arena. Mas a bagunça que o time vivia foi refletida em campo, com jogadores passivos, nervosos e sem acertar quase nada na partida. O resultado foi a única derrota em casa na competição. Rafael Marques e Zé Roberto, ambos de cabeça, marcaram.