A trajetória é semelhante à de muitos que mantêm o sonho de 9 entre 10 crianças no Brasil: ser jogador de futebol. Começo no futsal, transição para o campo, estruturas precárias, mudanças de clube, problemas com empresário. Apesar da pouca idade, Jeferson Tavares já viveu um pouco de tudo que cerca o mundo dos atletas profissionais.

Natural de Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, Jeferson entrou para o futsal do Canto do Rio – famoso clube da cidade – aos 7 anos. Por lá ficou até os 10, quando migrou para o campo, em uma escolinha perto de sua casa. Essa experiência ampliou seu interesse pelo futebol, e fez surgir o desejo de alcançar o sucesso no esporte.

Não demorou para aparecer a primeira oportunidade em um time de maior exposição. No Profute Futebol Clube, da cidade de São Gonçalo, vizinha de Niterói, Jeferson se destacou em campeonatos da região, acumulando títulos e prêmios individuais que o credenciavam como um autêntico camisa 10, número que sempre usou na carreira. “Às vezes tentavam me colocar na lateral, mas nunca deu muito certo”, conta o atleta que nasceu com a vocação para o meio-campo.

Em um processo natural de evolução, o jogador deixou o Profute para defender as cores do tradicional Bangu, já na categoria sub-15. Era um novo estágio se iniciando. Jogar por um clube centenário, e enfrentar outros igualmente importantes, é uma vitrine indispensável para qualquer um do ramo. Assim como mudar de ares para uma agremiação em notável crescimento.

A agremiação em questão era o Duque de Caxias. O clube conquistou um meteórico acesso para a Série B do Brasileirão de 2009 e começou a ter destaque dentro do Campeonato Carioca. Jeferson disputou o Estadual sub-17, mas também recebeu oportunidades no sub-20, última degrau antes de chegar aos profissionais. No entanto, estabilidade é uma palavra que não costuma existir no dicionário de quem busca o sucesso no Brasil.

A possibilidade de atuar na Copa Promissão, torneio internacional sub-17 realizado em São Paulo – um dos mais importantes da categoria -, levou o meia ao Ipatinga. Apesar da visibilidade, a passagem pela equipe mineira não deu muito certo e o jovem logo retornou à cidade de Duque de Caxias, dessa vez para o Duquecaxiense Futebol Clube, da Série C do Campeonato Carioca. Duas competições foram necessárias para o niteroiense receber uma proposta do Grêmio Atlético Osoriense, do Rio Grande do Sul.

O jogador chegou à conclusão de que uma transferência para o futebol gaúcho representaria uma guinada na carreira. “A estrutura não era isso tudo, mas seria uma vitrine grande jogar o Gauchão sub-20”, confessa. E lá foi Jeferson, então com 18 anos, novamente para longe da família. A idade inferior à dos demais atletas do time de juniores não foi empecilho para conseguir rapidamente a titularidade. Igualmente rápido foi o interesse do Internacional em contar com o futebol do meia, que já havia sendo monitorado durante o campeonato.

Quando GAO e Inter se enfrentaram, o Colorado levou a melhor, só que mais relevante ainda foi obter a prova final de que o jogador do adversário deveria ser contratado. Após passar por sete clubes em cerca de dez anos, Jeferson finalmente chegava a um dos considerados 12 grandes do Brasil. Depois de se submeter a testes físicos e técnicos, o atleta foi aprovado e assinou seu primeiro contrato profissional, válido por seis meses.

Contrato profissional de Jeferson com o Internacional
Contrato profissional de Jeferson com o Internacional

Acompanhado à exposição de atuar em um gigante está o assédio de empresários. Era o pai de Jeferson, Jorge Tavares, quem cuidava de sua carreira até os dois primeiros meses em Porto Alegre, quando surgiu a proposta de Carlos Henrique Brasil para representar o meia. O agente já empresariava Matheus Oliveira, companheiro de equipe e amigo de Jeferson, fator essencial para agilizar as negociações e o contrato entre empresário e jogador ser assinado.

Poucas conversas foram necessárias para o jovem depositar total confiança em Carlos Henrique. Prova disso é que o momento da assinatura foi o único em que ambos se encontraram pessoalmente. Todos os demais contatos foram feitos via telefone ou WhatsApp. “Ele era do tipo que fazia várias promessas, perguntava se eu queria ir para a Argentina, para o Chile. Até a China ele cogitou. Também demonstrava preocupação com meu bem-estar, em épocas difíceis me dava chuteira ou roupa para amenizar a situação”, revela Jeferson. Mesmo diante de contrato em vigência com o Internacional, o meia foi encaminhado para testes em diversos clubes da Região Sul, e os fazia sem grandes questionamentos.

O plantel jovem do Inter, à epoca, contava com nomes como Alisson, William, Artur e Andrigo, todos peças-chave no grupo de Argel Fucks em 2016. E, mesmo com a concorrência pesada, o niteroiense chegou a integrar o elenco profissional. No final do acordo com o Colorado, Jeferson foi chamado pelo coordenador da equipe e recebeu a notícia de que o vínculo não seria prorrogado. Como todo salário recebido era imediatamente enviado aos seus pais, o atleta viveu um drama após a dispensa. Sem dinheiro para retornar à cidade natal, e sem obter retorno nas conversas com o empresário, contou com a boa vontade de amigos para ter onde se alojar.

Insatisfeito com a inércia de Carlos Henrique, Jorge Tavares resolveu agir por conta própria e acertou a ida do filho para o Aimoré, também integrante da elite do futebol gaúcho. A passagem pelo Inter, por si só, deixou os dirigentes do Índio Capilé sem muitas dúvidas. Porém, o vínculo de Jeferson se encerrou junto com o Campeonato Gaúcho Sub-20 de 2015, dado o fato de o clube de São Leopoldo não disputar mais nada durante o ano. À essa altura, já não havia mais contrato com o empresário.

Jeferson, à esquerda, em partida contra seu ex-clube (Foto: divulgação/Fotomais)
Jeferson, à esquerda, em partida contra seu ex-clube (Foto: Divulgação/Fotomais)

Carlos Henrique Brasil alega jamais ter havido problemas na relação com o jogador e pondera questões específicas: “Nunca nos desentendemos, a recisão aconteceu por uma decisão pessoal dele. É um bom garoto que às vezes perde o foco ao se deixar influenciar por opiniões externas, então acaba ficando nervoso. Mas é um ótimo jogador”, contextualiza.

De volta ao Rio de Janeiro, não tardou para outro time entrar no currículo do atleta. A permanência no Volta Redonda também tinha prazo de validade de apenas um campeonato, desta vez o Torneio Octávio Pinto Guimarães (OPG), tradicional competição do calendário de juniores do futebol carioca.

Dentro de campo, o jogador se define como um meio-campo habilidoso e passador que não titubeia quando o jogo lhe oferece chances, e aponta quem é a referência no seu estilo: “Eu gosto de arrancar, driblar e colocar os companheiros na cara do gol, mas, quando abre para mim, não tem perna ruim (risos). Apesar de ser fã do Cristiano Ronaldo, tento me inspirar muito no Iniesta, até por atuar como um falso lento”, avalia.

Sem clube no momento, Jeferson aprimora as partes física e técnica em treinos na praia, e deixa para a Ethos Sports – empresa com quem assinou recentemente – a incumbência de planejar seus próximos passos. Para fechar o acordo, o jovem de 19 anos conversou exaustivamente com família e membros da agência para se assegurar de que haveria total transparência nas negociações e, assim, evitar transtornos futuros. Este é o episódio mais recente da movimentada vida profissional de Jeferson. As diversas mudanças e as estradas tortuosas já perpassadas podem sugerir outra coisa de uma carreira que está apenas começando.

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