
Repleta de momentos e conquistas históricas, a grande saga do Grêmio em sua existência tem auge no ano de 1983. Quatro número que quando postos juntos trazem lembranças da alma copeira, de onde toda a identidade do campeão de mata-matas começou a ser criada.
De regulamento diferente dos atuais, a Copa Libertadores tinha 21 equipes disputando o título. Estas dividiam-se em cinco grupos de quatro times, onde apenas um de cada chave passaria para a fase semifinal.
Por ser o campeão da Libertadores de 1982, o Peñarol já estava automaticamente classificado à fase semifinal, onde seis equipes formavam dois grupos de três times cada, e o vencedor de cada grupo seria finalista da competição.
Em uma campanha formidável onde saiu vitorioso de sete dos 10 jogos da competição, perdendo apenas um, o Grêmio chegou à final. Com menos da metade de jogos disputados, o Carbonero também classificou-se e seria o adversário do Tricolor. Este, invicto até ali.
De León falha e Grêmio empata no Uruguai
Sentindo a força pulsante do Estádio Centenário com público de 70 mil pessoas, o Peñarol começou a partida tentando ir para cima do Grêmio, mas sentindo a forte resistência do time montado por Valdir Espinosa.

O juiz pedia calma ao zagueiro Hugo de León e ao atacante Morena, do time da casa, por estarem em todo momento dividindo com força e falando no ouvido do outro. O jogo era tão tenso que até mesmo o árbitro lesionou-se e precisou ser substituído.
Mesmo empolgada, a torcida local seria a primeira a lamentar. Aos 15', Tarciso cobrou escanteio e Tita subiu mais alto que o goleiro Gustavo Fernández, desviando para o fundo do gol.

Desesperado e sentindo o apoio do torcedor aurinegro, o Peñarol conseguiu chegar ao gol de empate 20 minutos depois. Um cruzamento na área teve desvio de Hugo de León, que acabou mandando a bola logo no pé de Morena. Seu desafeto empatou e deu números finais ao jogo, que não teve muitas emoções na segunda etapa.
César sai do banco e decide a Libertadores
Na primeira final de Libertadores da história do Estádio Olímpico, o Grêmio recebeu o favorito Peñarol sabendo que só precisava da vitória para levantar a taça pela primeira vez em sua história, logo na frente de 73.093 pessoas.
Sem sentir a pressão, o Tricolor controlava as ações da partida. Renato Gaúcho aproveitou uma saída de bola errada no tiro de meta e cruzou na área. O zagueiro uruguaio rosqueou a bola para trás e Tarciso chegou como uma flecha, cabeceando por cima da meta com apenas cinco miinutos de jogo.
E a partir de um escanteio, saiu o primeiro gol. A bola foi cobrada por Renato, e De León chutou alto, para cima e torto. O volante dos visitantes afastou, mas apenas pôde ver a bola voltar em um lindo lançamento para Osvaldo, que cruzou rasteiro para Caio empurrar para o gol.
O Olímpico pulsou e levou o Grêmio para o ataque nos lances seguintes. Renato e Tarciso fintavam os laterais do time uruguaio, que apenas na força paravam as jogadas. Portaluppi foi quem mais apanhou, e irritava-se com a defesa do Peñarol. Já no segundo tempo, em um lance de ataque de Ramos, ele deu um carrinho violento e saiu apenas com o cartão amarelo.
A segunda etapa era de pressão do time uruguaio, que cavou uma falta lateral e no cruzamento, teve o atacante Morena cabeceando para o fundo do gol e empatando a final aos 25'.
Crescendo muito na partida, os visitantes conseguiram bela chance poucos minutos depois, com Morena saindo na cara de Mazarópi. O goleiro do Grêmio fechou o ângulo e fez uma defesa sensacional. E assim como a defesa de Marcelo Grohe contra o Barcelona, o goleiro também teve a satisfação de ver, apenas um minuto depois, o segundo gol do Tricolor: Renato Gaúcho peneirou e cruzou para César, que recém havia entrado no jogo, mergulhar de peixinho e fazer.
Nos minutos seguintes, o Carbonero tentava pressionar, mas era engolido pela defesa do Imortal, que ainda armava contra ataques. Nenhuma grande chance apareceu, e aos 42', em outra falta no meio de campo, Renato e Ramos se estapearam, e o juiz expulsou ambos, quatro minutos antes de apitar para o final do jogo, consagrando o título do Grêmio.

A torcida explodiu em emoção e pôde sentir a emoção de levantar a Copa Libertadores. E quem sentiu mais do que isso mais do que ninguém foi o capitão Hugo de León, que protagonizou uma das mais históricas e marcantes cenas da América, erguendo a taça com sangue em seu rosto.

A razão do sangramento, ao contrário do que muitos pensam, não foi a pancadaria dentro de campo, mas sim a base da taça, que continha um prego solto. Mesmo assim, a imagem contribui até hoje para a fama de "Imortal" e de um time guerreiro, que mais adiante conquistaria o título mundial.
