Sempre é bom relembrar a trajetória de um craque. Gols marcantes, passagens de sucesso ou de fracasso, fase áurea, lesões, retorno, fim da carreira e o pós-profissão, todos esses períodos, passados com sucesso, constroem uma figura idolatrada em algumas torcidas. Por isso, a VAVEL Brasil traz de volta à tona alguns grandes jogadores que pisaram os gramados do país do futebol. Agora, é hora do maior atleta de uma posição da história flamenguista.

José Leandro de Souza Ferreira é imortalizado o maior lateral direito do Clube de Regatas do Flamengo. Durante 1978 até 1990 defendeu o Rubro-negro, único clube em que atuou como jogador de futebol. Considerado como o jogador mais habilidoso da posição, Leandro ostenta a marca de 415 jogos no clube, o título Mundial e a Copa Libertadores de 1981, além de três títulos brasileiros e inúmeros estaduais.

Natural de São Gonçalo (Rio de Janeiro), Leandro nasceu 17 de março de 1959, e de início não tinha intenções de ser jogador de futebol. Migrando para a região metropolitana do Rio em 1976, por acaso teve seu destino cruzado com o Flamengo durante uma viagem ao bairro do Leblon, quando havia descido de ônibus em frente à Gávea, junto de seu primo.

Flamenguista fanático e torcedor de arquibancada junto de seu pai, Leandro já era matriculado em um curso pré-vestibular de Educação Física, mas naquele dia em que esteve pela Zona Sul do Rio, foi influenciado pelo familiar a fazer o teste no clube, onde seria aprovado após duas avaliações. Segundo o ex-jogador, seu primo disse: "Já que estamos aqui, porquê você não se matricula e faz o teste?". Com apenas dois dias de testes, Leandro foi aprovado no Flamengo.

Carreira de um único clube e naquela Seleção de 1982

De 1976 até 1978 Leandro jogou nas divisões de base do clube rubro-negro. Comandado por Américo Faria, Leandro junto de Andrade, Mozer, Raul, Vitor e outras grandes revelações do Flamengo naquele período, se juntaram à Zico, Júnior, Tita e Adílio, também crias da base, na formação do elenco mais vitorioso do país nos anos 80.

Eleito o melhor da partida em sua estreia profissional, contra a Sociedade Esportiva Palmeiras, em 1978, no Maracanã, no jogo que acabou empatado por 1 a 1, Leandro despertou a atenção da torcida e de seu treinador Joubert.

Habilidoso e inteligente taticamente, era questão de tempo Leandro dominar a posição. Mesmo com uma lesão no joelho oriundo de seus tempos de infância em Cabo Frio, e que atrapalharia sua ascensão com uma operação aos 20 anos. Cobiçado por grandes clubes, como o Internacional de Porto Alegre, Leandro permaneceu no Flamengo, e mesmo sem integrar o elenco campeão nacional de 1980 por estar sem contrato, o lateral se acertou fisicamente ao fim daquele ano e retornaria à posição para fazer história.

Campeão estadual, da Copa Libertadores e do Mundial Interclubes em 1981, naquela vitória soberana sobre o Liverpool Football Club, Leandro já era absoluto na lateral e um dos destaques do time. Multicampeão, participou da Copa do Mundo de 1982, um ano após ser a grande revelação nacional para a imprensa brasileira.

Elenco flamenguista com a taça do Mundial de 1981 (Foto: Reprodução / Arquivo Flamengo)
Elenco flamenguista com a taça do Mundial de 1981 (Foto: Reprodução / Arquivo Flamengo)

Deslocado inúmeras vezes ao meio-campo, Leandro novamente foi campeão, porém do Campeonato Brasileiro em 1982 também. Em atuação impecável na final contra o Grêmio daquela edição, Leandro soube no mesmo dia de sua convocação para a Copa do Mundo, na Espanha, na Seleção Brasileira de Telê Santana.

Apesar de vivenciar um difícil ano de 1983, Leandro, sob comando de Carlos Alberto Torres, novamente foi campeão brasileiro, com direito a gol na decisão. Naquela temporada, o jogador sofreu uma lesão no início do ano, que o tirou por cinco meses dos gramados. Com alguns problemas pessoais, Leandro passou por um divórcio e brigas familiares, ocasionando em sua dispensa da Seleção Brasileira para a Copa América daquele ano. Mas dois anos depois, em 1985, o jogador que até cogitava aposentadoria precoce, foi levado por Zagallo à zaga, junto de Mozer. Versátil ao extremo, foi o melhor zagueiro daquele ano no Brasileirão, e mesmo com limitações físicas por conta do seu joelho.

Seleção Brasileira na Copa de 1982 (da esquerda para a direita): Waldir Perez, Leandro, Oscar, Falcão, Luizinho, Junior. Embaixo: Sócrates, Cerezo, Serginho, Zico, Eder (Foto: Getty Images)
Seleção Brasileira na Copa de 1982 (da esquerda para a direita): Waldir Perez, Leandro, Oscar, Falcão, Luizinho, Junior. Embaixo: Sócrates, Cerezo, Serginho, Zico, Eder (Foto: Getty Images)

Dedicando seus últimos anos profissionais somente ao Flamengo, renunciou sua convocação para a Seleção na Copa de 1986 por problemas com Telê, foi campeão brasileiro pelo Rubro-Negro em 1987 em sua última temporada livre das lesões. Sem espaço nos anos seguintes, pouco atuava. Leandro ainda guardou forças para a despedida de Zico, em 1990. Um ano depois decidiu pendurar suas chuteiras aos 31 anos. Longe da grande mídia, voltou a Cabo Frio para viver com sua família, e oportunamente aparece em jogos do clube no Maracanã e em eventos na Gávea. Em uma homenagem na sede do clube, chorou ao cantar o hino rubro-negro junto de seus antigos colegas de equipe.

Reconhecimento

Leandro é o 15º jogador que mais defendeu a camisa do Flamengo. Considerado o melhor lateral direito da história do clube e um dos mais habilidosos da sua posição, incluindo o status de melhor driblador do elenco da Seleção Brasileira de 1982. O "peixe frito" é famoso por sua paixão pelo Rubro-Negro mesmo após o fim da sua carreira como jogador.

Em março de 2019, Leandro foi eternizado na Gávea com um busto no hall da sede social do clube. Ainda no mesmo ano, o jogador esteve presente e participou do lançamento do uniforme Rubro-Negro, que curiosamente foi campeão brasileiro e da Libertadores naquela temporada.

Com 14 gols marcados como jogador profissional, Leandro foi Bola de Prata duas vezes, em 1982 como lateral direito e 1985, como zagueiro.  Versátil e líder nato, o peixe frito já jogou decisões pelo Fla em ao menos três posições diferentes incluindo também o meio-campo. Segundo o ex-jogador, seus gols mais importantes pelo clube foram os dois na decisão contra o Santos, em 1983 (3x0) e o gol contra o Fluminense no triangular final do carioca dois anos mais tarde (1x1).

Curiosidades

Enquanto jovem, Leandro se proibia em Cabo Frio, de usar sua perna direita para finalizar ou trocar passes enquanto jogava futebol com amigos. Considerado acima da média desde aquele período pelos colegas, era uma forma de o jogador manter o equilíbrio das partidas em seu bairro.

Durante a final de 1982 contra o Grêmio, Leandro chegou a bater boca com Raul, pois o lateral queria o passe no tiro de meta, porém o goleiro argumentava que a marcação gremista o pressionaria caso tocasse. De tanto pedir, a bola foi passada para ele, e em poucos segundos, peixe frito chapelou seu adversário e iniciou com genialidade a jogada do segundo gol Rubro-Negro partindo de sua área. Na volta do lance, o mesmo retrucou Raul: "Velho, eu jogo para caramba!".

Leandro homenageado na Gávea. (Foto: Marcelo Côrtes/ C.R. Flamengo)
Leandro homenageado na Gávea. (Foto: Marcelo Côrtes / Flamengo)

Com sua carreira encurtada por problemas no joelho, em 1985 Leandro foi transferido para a zaga. Seu sucessor seria Jorginho, contratado junto ao América para a posição. Ao lado de Mozer, formou a melhor zaga daquela temporada, e ainda seria campeão nacional dois anos depois. 

Em 1980, Leandro por pouco não foi emprestado pelo Fla ao Inter. O jogador na época foi para o sul, mas a bateria de exames descartou sua contratação no Colorado. De volta ao Rio, perdeu o Brasileirão daquele ano por estar sem contrato. Pouco depois, teria seu vínculo novamente comprometido com o time da Gávea.

Titular da seleção brasileira, Leandro recusou jogar a Copa de 1986 por divergências com Telê Santana. Considerado difícil de relacionamento, o treinador da amarelinha teria ficado furioso com o lateral e Renato Gaúcho, que tinham virado a noite em um bar. Na ocasião, apenas Renato foi desconvocado, o que era injusto para o peixe frito. Três anos antes, Leandro foi dispensado da Copa América por problemas pessoais, pois encarava um difícil divórcio e rinchas na família. 

Aposentando-se em 1990, Leandro chegou a dizer em 2014 à rádio Bradesco Esportes FM, que não teve um jogo de despedida pelo Flamengo. Ídolo do clube, o ex-jogador lamentou ter saído à francesa, por problemas de lesão, e que se houvesse jogo de despedida, independente do ano, seria a concretização da sua aposentadoria, pois era de seu desejo jogar apenas no time do coração.

Títulos mais importantes

  • Mundial Interclubes (1981)
  • Copa Libertadores (1981)
  • Campeonato Brasileiro (1982, 1983 e 1987)
  • Campeonatos Carioca (1978, 1979-1º, 1979-2º, 1981 e 1986)
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