Sempre é bom relembrar a trajetória de um craque. Gols marcantes, passagens de sucesso ou de fracasso, fase áurea, lesões, retorno, fim da carreira e o pós-profissão, todos esses períodos, passados com sucesso, constroem uma figura idolatrada em algumas torcidas. Por isso, a VAVEL Brasil traz de volta à tona alguns grandes jogadores que pisaram os gramados do país do futebol. Agora, é a vez de um tal "Fenômeno". Você o conhece?

Mesclada de personalidade e controversas aos pontos de vistas de críticos, a peculiar bagagem de Ronaldo Fenômeno no futebol questiona qualquer ‘regra’ que se costuma escutar para o sucesso e prestígio de ídolo no esporte. Marcando presença entre rivais por duas ocasiões e tornando discutível seu histórico de títulos em equipes, o bi-campeão mundial pela seleção e revolucionário à moda masculina, entrou para a história como um dos maiores atacantes já tidos.

Três vezes melhor do mundo (1996, 1997 e 2002) e finalista em outras duas oportunidades, foi o mais jovem a conquistar tal feito, quando tinha apenas 20 anos no Barcelona.

Brilhante e ousada trajetória

Ronaldo Luís Nazário de Lima é natural de Bento Ribeiro, cidade do Rio de Janeiro. Do subúrbio, iniciou sua caminhada ao estrelato pelo São Cristóvão, clube da capital carioca que o revelou. Em 1993, aos 17 anos, chegou a custo zero ao Cruzeiro Esporte Clube e, a partir dali, não só o Brasil, mas o mundo foi convidado a conhecer suas versáteis qualidades que iam do drible e velocidade à finalização, justamente em uma posição (atacante) que se limitava, muitas vezes, ao bom poder de concretizar — sobretudo, numa época futebolística adepta ao conservadorismo de cada posição. Em cenário nacional, conquistou seu primeiro título de expressão, a Copa do Brasil de 1993, e o Campeonato Mineiro de 1994, com atuações impressionantes para tão pouca idade.

Ronaldo na base do Cruzeiro (Foto: Reprodução/Cruzeiro)
Ronaldo na base do Cruzeiro (Foto: Reprodução/Cruzeiro)

Mesmo em 1994, ainda menino, ele se internacionalizava, ao receber sua primeira oportunidade em território europeu, quando o PSV Eindhoven o contratou, à época, por volta de 6 milhões de euros — o maior valor pago a um jogador brasileiro pelo exterior até então. Tratava-se de alguém que chegava à Holanda sem sofrer com a adaptação, pois marcou 57 gols em 59 jogos disputados, sem ao menos ter completado 18 anos. Ganhou uma Copa da Holanda e manteve-se a um nível elevado de média de gols, até que o Fútbol Club Barcelona o contratou na janela do meio da temporada de 1996. Consolidado em termos de qualidade e com título de Copa do Mundo (1994) em sua bagagem — falaremos de Seleção Brasileira mais tarde —, chegou a um dos melhores times do mundo, conciliando-se, por fim, à sua qualidade e competitividade. Conquistou a Copa do Rei, Supercopa da Espanha e Supercopa da Europa, ficando no Barça por duas temporadas.

Não apenas isso, foi por lá eleito o melhor de seu trabalho em âmbito mundial por duas vezes consecutivas: Ronaldo foi premiado como o melhor jogador de futebol do mundo, pela Fifa, em 1996 e 1997.

Chegaria à Inter de Milão no mesmo ano em que levou a ‘Bola de Ouro’ por último (1997). Na equipe italiana, esteve no maior período de sua carreira, de 1997 a 2002, e adquiriu a Copa da Uefa em seu currículo. Também foi em Milão que recebeu o apelido de ‘Fenômeno’, que o acompanharia para o restante de sua vida. Um dos poucos elementos lastimáveis de sua caminhada fenomenal se deu inicialmente na própria Inter: as lesões. Tratou-se de sua primeira grave lesão no joelho direito, em 1999, que viria a se repetir no ano seguinte, em 2000.

Ronaldo e a Bola de Ouro, vencida em 1997 pelo brasileiro (Foto: Reprodução/Inter de Milão)
Ronaldo e a Bola de Ouro, vencida em 1997 pelo brasileiro (Foto: Reprodução/Inter de Milão)

Mais tarde, o ‘Fenômeno’ voltaria à Espanha para atuar no rival do Barça, por onde criou identificação: colocaria os pés na capital espanhola para jogar no Real Madrid Club de Fútbol, em 2002, e, a esta altura, tratava-se de um dos maiores da atualidade, senão aquele contemporâneo mais respeitado, de um currículo invejável, sobretudo na Seleção Brasileira. Pelo Real, agregou o Mundial Interclubes, dois campeonatos espanhóis e sua terceira Bola de Ouro, consagrando-se, àquele momento, ao jogador que mais ganhou o prêmio de melhor do mundo — vale ressaltar que muito se vale de sua atuação antecedida na Inter. Restava-lhe, apenas, de relevante, uma Champions League. Champions esta carecida até o final de sua trajetória, tornando-se, junta às lesões, os pontos baixos de sua carreira, que, convenhamos, nada ofuscam o brilho.

A Bola de Ouro em 2002 (Foto: Reprodução)
A Bola de Ouro em 2002 (Foto: Reprodução)

Ronaldo, então, torna, mais uma vez, clara a sua personalidade e retorna a Milão, no ano de 2007, para atuar pelo arquirrival do clube no qual atuou por mais tempo. Pode-se considerar o AC Milan como sua única passagem sem sucesso, bem ao contrário disso: por decorrência de graves lesões, atuou apenas em 24 jogos, numa caminhada de um ano e meio. Ainda assim, converteu 11 tentos.

Em outra realidade na carreira, mais experiente, distante de seu auge, ele se insere, novamente, ao cenário nacional, pelo Sport Club Corinthians Paulista, em 2009, onde encerraria a carreira. Colecionador de copas nacionais, garantiu outra Copa do Brasil e também o Estadual, quando teve papel importantíssimo ao clube paulista, não só do ponto de vista técnico, mas também ao marketing. A desclassificação do Corinthians nos play-offs da Copa Libertadores da América talvez tenha sido sua última lembrança atrelada ao futebol, quando, assim como a Champions, encerrou a admirável carreira sem triunfar em competições intercontinentais. Se aposentou em 2011.

"Depois de mais uma lesão, eu refleti muito em casa e decidi que era o momento. Que não ia esperar mais e tinha realmente dado o máximo que eu nunca imaginei que poderia chegar. É muito duro abandonar o que te deixa feliz, tem tanto amor e poderia seguir porque mentalmente e psicologicamente ainda quero muito. Mas também tenho que assumir algumas derrotas. Eu perdi para o meu corpo", revelou Ronaldo.

Mais que futebol: Ronaldo e Seleção Brasileira

Ronaldo na final da Copa do Mundo 2002 contra a Alemanha (Foto: Reprodução/Fifa)
Ronaldo na final da Copa do Mundo 2002 contra a Alemanha (Foto: Reprodução/Fifa)

Enquanto traçava linda trajetória nos clubes os quais defendia, a verdadeira camisa que Ronaldo Fenômeno ficava à vontade e depositava toda sua qualidade dentro das quatro linhas, era a ‘amarelinha’ — em tempos onde o país parava para assistir a Seleção Brasileira.

Estabelecendo um paralelo junto às equipes nas quais foram descritas sua caminhada, vale retornar ao princípio e contar de quando fez parte de importante convocação e tornou-se campeão do mundo, em 1994, com apenas 17 anos. Ronaldo, é verdade, compôs o grupo e não teve ativa participação no êxito. Isto se tardaria em 8 anos. Antes, conquistaria a Copa América em 1997 e 1999 — este último sendo artilheiro ao lado de Rivaldo, marcando 5 gols.

Em 2002, Ronaldo, que já havia demonstrado tamanha personalidade ao trocar de equipes rivais, comprova, de novo, ser alguém que se afasta da comodidade e traz à tona sua imagem como forma de impacto cultural e social; é o esporte como sendo vinculado a outros campos da sociedade, a partir de personagens com moral e prestígios para tais.

Diante da temporada de maior representatividade individual e poder de influência, tornou-se também campeão da Copa do Mundo, em efetividade que se ilustra na artilharia do torneio — oito gols. É a partir destes feitos, que o concretizava a cada gol, a cada brilhante atuação, a cada classificação àquela copa, que o status de ídolo — antes muito atrelada apenas aos fãs que sabiam de sua trajetória nas equipes — obteve dimensão massiva. A Copa do Mundo de 2006 foi a sua quarta na carreira. De fato, não a conquistou, mas foi crucial para completar 15 gols — contando todas suas participações —, e colocá-lo, então, como o maior artilheiro da competição — mais tarde, na Copa de 2014, Miroslav Klose o ultrapassaria. 

À época, os atletas preocupavam-se unicamente em jogar bola. A vaidade atrelada à estética passava distante de seus ideais. Não se via jogadores caricatos ou chamativos visualmente, mas comprometidos ao ato de jogar, e, diante de tal cenário, que Ronaldo Fenômeno inovou, no entanto, sem deixar de lado o comprometimento: nada desviava a sua atenção — críticas tão constantes à seleção hoje.

Seu penteado ‘cascão’ virou febre entre o povo brasileiro. Ronaldo, ali, alcançava tamanha dimensão que ultrapassara limites desportivos e sucumbia-se ao valor social. Homens de todas as idades imitavam seu penteado. O craque, celebridade, influenciador por consequência de seu brilho e mérito, convidou a população à desconstrução de jogadores tradicionalistas visualmente e ousados em campo. Ronaldo podia e fez acontecer: entregou futebol, entretenimento, carisma, entre outras virtudes. Mas não a partir de uma equipe, e sim em condição de defensor de sua nação.

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